domingo, 11 de novembro de 2007
então...
Ainda que triste, triste, triste, estava feliz. E sentia uma vertigenzinha, que acompanha o medo, que acompanhava a incerteza, que acompanha o medo, mas que era uma vertigem boa, de estar viva bem viva, correndo o perigo que é estar assim.
Ela ganhava coragem, cada vez mais coragem,
e sentia que era, e é, e será. Inteira. A cada vez, quantas vezes fossem.
terça-feira, 6 de novembro de 2007
domingo, 4 de novembro de 2007
Carta de uma aluna
Os meus alunos não sabem que o blog existe, mal suspeitam que são personagens de posts e centro de discussões, crises, e relatos luluzísticos.
No entanto, a oitava série, a tal dos livros tristes, do Dostoiévski, etc. ( leia aqui) , me convidou para ser a paraninfa deles, na formatura. Fiquei bastante tocada, e resolvi mostrar o blog para essa turma que, afinal de contas, tá saindo do ginásio ( fundamental 2), e foi uma turma que me fez crescer e pensar muito. Eles adoraram, se sentiram chics e bcanas, e são mesmo.
Uma aluna depois foi pra casa e me escreveu assim:
"Estava eu aqui navegando pela internet, quando me lembrei de seu blog que mal havia visto, fui lá e pelo pouco que li quis comentar, não consegui, tentei mandar como depoimento, só para que você conseguisse ler ao menos, também não consegui, então anexei e estou te mandando como e-mail.
Beijos, ."
Resolvi colocar o e-mail aqui, para falar que é bom, é muito bom fazer algo que dá um sentido para a nossa existência. E que todo mundo fala tão mal da educação, da moçada que tá aí, de sei lá o que, de adolescentes chatos, mas olha só, que besteira. Chove bastante em São Paulo, mas hoje eu estou achando o mundo bonito.
Aqui, a carta que ela me escreveu, como era para ser um comentário pro blog, achei que devia publicá-la aqui:
e, outra aluna, escreveu assim, nos comentários:
Lu, não sei quem escreveu isso, pelo jeito me parece a Ana. Há algum tempo penso e quero te escrever algo que demonstre quão diferente você tornou minha vida. Todos os processos que você me fez passar me fizeram, muito embora de um jeito forçado, amadurecer. E eu sou muito grata por isso, e por todo o resto. Pouquíssimos professores, talvez nenhum, teria entendido, ou sequer ouvido, minhas bobas crises adolescentes em relação aos livros e projetos. Talvez nem acreditado nelas, pensando que seriam apenas uma desculpa para fugir de certas responsabilidades.
Para você, professora, dediquei um poema que você mesma me mandou fazer, dizendo homenagear os mentores que nos guiam por essa vida. Por você, escrevi na ficha de inscrissão pro médio, que queria ser professora porque estes tiveram mais influência sobre mim do que qualquer outra pessoa.
Tenho medo de ter sido mimada demais por você, e nunca mais achar outro mentor que me entenda tão completamente, e me acalme. Porém, levo comigo tudo o que aprendi com você, não só em relação à escola, mas também como pessoa, e tenho a certeza de que isso me ajudará sobre qualquer dificuldade.
Sentirei tua falta, de verdade. Beijo.
sábado, 3 de novembro de 2007
como
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
para a rosa
E eu tenho uma amiga que escreveu anunciando aos amigos um período aí de silêncio que virá, coisas de descompassos, daqueles que nos escapam de tal maneira que somente com ajuda médica/medicinal pode acontecer de haver saída, e forças para procurá-la - coisas de depressão, que é doença séria e grave.
E ao mesmo tempo que me espantava com a generosidade e coragem dessa pessoa, que escreve, avisa, e diz assim: "olha, se preocupem não se procupando, que estou me cuidando mas é assim, preciso de um tempo e sim, não ando mesmo muito bem", respondi logo, e escrevi algo que quero deixar aqui, como uma carta de amor, que vai aliás para todas as minhas amigas, as de antigamente - que andei revendo - e as novas - porque novas amizades se descobrem e constróem, mesmo depois de velha, já passados os trinta anos, olha só....
Então coloco a resposta que escrevi aqui, como um relato de amizade, como uma declaração de amor,
à vida.
a sua presença viva na minha vida é algo tão valioso, mas tão valioso, que nem sei. Você já foi minha mãe, irmã, amiga, professora, e desconfio que até namoramos um pouco.
Brigamos e desbrigamos mas não chegamos a brigar nunca. e nos entendemos de um jeito de mulheres gauche e imperfeitíssimas que somos, desajeitadas, meio gordas, meio lindas, divas até a medula e a última ponta de cabelo, com toda inteligência e loucura. o amor e a amizade ficam, mesmo que em silêncio, continuamos juntas, bem juntas que eu sei, nada dessa besteira de se despedir das amizades que isso não é coisa que se proponha nem que se aceite.
Mas os momentos de silêncio às vezes nos tomam mesmo, eu mesma andei quieta quieta, quase um fio de cabelo.
Sabe o que eu acho? eu que te conheci e te vi inteira, te vi rindo e chorando? Eu acho que teu amor pela vida é maior que a tua doença, e esse amor há de encontrar caminhos.
Eu acho que esse teu coração achou e achará jeitos de continuar pulsando e pulsante. Porque sim, de insistência e teimosisse ( e se essa palavra existisse, era assim que ela se escreveria?) puras mesmo. Porque é assim.
e deixo um poema, do William Blake, traduzido pelo Augusto de Campos. Meu avô tinha esse poema enquadrado na casa dele, e desde pequena o leio, fascinada com a rosa doente.

A rosa doente
William Blake
Ó Rosa, estás doente!
Um verme pela treva
Voa invisivelmente
O vento que uiva o leva
Ao velado veludo
Do fundo do teu centro:
Seu escuro amor mudo
Te rói desde dentro.
Tradução: Augusto de Campos
The sick rose
O Rose, thou art sick!
The invisible worm
That flies in the night,
In the howling storm,
Has found out thy bed
Of crimson joy,
And his dark secret love
Does thy life destroy.