quinta-feira, 1 de novembro de 2007

para a rosa

... e depois de um tempo quieta, bem quieta, devagar quase parando por aqui, pensando mesmo em até fechar as portinhas, falar adeus, tchau e bênção e comentar como foi bom enquanto durou que fosse infinito enquanto durasse e coisa assim, eis que nessa manhã de quinta acordo com vontade de escrever. Algo vai bem. Que bom.

E eu tenho uma amiga que escreveu anunciando aos amigos um período aí de silêncio que virá, coisas de descompassos, daqueles que nos escapam de tal maneira que somente com ajuda médica/medicinal pode acontecer de haver saída, e forças para procurá-la - coisas de depressão, que é doença séria e grave.

E ao mesmo tempo que me espantava com a generosidade e coragem dessa pessoa, que escreve, avisa, e diz assim: "olha, se preocupem não se procupando, que estou me cuidando mas é assim, preciso de um tempo e sim, não ando mesmo muito bem", respondi logo, e escrevi algo que quero deixar aqui, como uma carta de amor, que vai aliás para todas as minhas amigas, as de antigamente - que andei revendo - e as novas - porque novas amizades se descobrem e constróem, mesmo depois de velha, já passados os trinta anos, olha só....


Então coloco a resposta que escrevi aqui, como um relato de amizade, como uma declaração de amor,
à vida.



a sua presença viva na minha vida é algo tão valioso, mas tão valioso, que nem sei. Você já foi minha mãe, irmã, amiga, professora, e desconfio que até namoramos um pouco.
Brigamos e desbrigamos mas não chegamos a brigar nunca. e nos entendemos de um jeito de mulheres gauche e imperfeitíssimas que somos, desajeitadas, meio gordas, meio lindas, divas até a medula e a última ponta de cabelo, com toda inteligência e loucura. o amor e a amizade ficam, mesmo que em silêncio, continuamos juntas, bem juntas que eu sei, nada dessa besteira de se despedir das amizades que isso não é coisa que se proponha nem que se aceite.

Mas os momentos de silêncio às vezes nos tomam mesmo, eu mesma andei quieta quieta, quase um fio de cabelo.
Sabe o que eu acho? eu que te conheci e te vi inteira, te vi rindo e chorando? Eu acho que teu amor pela vida é maior que a tua doença, e esse amor há de encontrar caminhos.
Eu acho que esse teu coração achou e achará jeitos de continuar pulsando e pulsante. Porque sim, de insistência e teimosisse ( e se essa palavra existisse, era assim que ela se escreveria?) puras mesmo.
Porque é assim.


e deixo um poema, do William Blake, traduzido pelo Augusto de Campos. Meu avô tinha esse poema enquadrado na casa dele, e desde pequena o leio, fascinada com a rosa doente.







A rosa doente

William Blake

Ó Rosa, estás doente!
Um verme pela treva
Voa invisivelmente
O vento que uiva o leva
Ao velado veludo
Do fundo do teu centro:
Seu escuro amor mudo
Te rói desde dentro.

Tradução: Augusto de Campos




The sick rose

O Rose, thou art sick!
The invisible worm
That flies in the night,
In the howling storm,

Has found out thy bed
Of crimson joy,
And his dark secret love
Does thy life destroy.

William Blake

5 comentários:

  1. Amiga, que bom que voltou a escrever por aqui! Bjs.

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  2. A tua sensibilidasde é tanta, que até dói.

    Amigos (as) são a coisa mais importante que temos na vida. Escrevi sobre isso dia desses no meu canto e agora vejo você falar sobre o tema de forma tão bela...

    Sou seu fã!

    Beijo,
    miranda

    P.S Se você parar de escrever, vou ficar orfão dos seus escritos, será muito, muito triste.

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  3. Há pouquíssimo tempo te conheço e já gosto tanto dos seus escritos, que sinto uma saudade doída de vir aqui e não te ler. Obrigada por ter voltado. Torço para que sua amiga melhore. Meu carinho...

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  4. Disse bem quem disse que dói.
    mas há dores bonitas (só hoje, lendo este presente, pensei num absurdo desse) e isso pode não ser absurdo.
    'Teimosisse' é muito lindo.
    Aliás sempre quis dizer que se o mundo fosse inventariado por você seria imperativo.
    Você impera. Sempre.
    E se eu ainda me colocar de pé (o que - penso - é possivel, mas agora penso que não) em muito terá sido por causa de você:
    Thou art my diva!
    a diva de todos nós.

    Sim, você é demasiado além do humana , mas a aluna disse tudo o que se quer sempre dizer. De você.
    De mim não sei, mas você é linda quanto as que mais o sejam. E amada também.
    Acabo de ver.

    Por favor, preciso do seu endereço.

    Com um beijo,
    Margot

    (P.S Fascínio tenho eu
    Por falsas louras/
    (aí, a negra lingerie)/
    Com sardas
    Sobrancelha feita a lápis
    E perfume da Coty...

    Aldir(Le) Blanc y Jean (Le) Bosc
    Não esqueça: seu endereço.

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  5. Lulu,
    Terminei a leitura muito emocionado. Pela beleza do texto e significado. A amizade pode ser muesmo muito bonita. Embora conheça a nossa Rosa há pouco tempo, guardo por ela um grande carinho. Ando realmente preocupado pelo que possa estar sofrendo, sentindo. Sei, e espero com toda a minha vontade, que esse silêncio será breve, muito breve. Até por sabermos que a Rosa é do bem querer.
    Grande beijo

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