domingo, 30 de setembro de 2007

sobre o fim da novela

Eu não assisti a novela das oito que passa às nove, sempre nesse horário estou ou em reunião da escola ou fazendo minhas aulas de dança ou com amigos, mas na última semana sucumbi e assisti o último capítulo.
Algumas questões me vieram à mente...

1) Ninguém é obrigado a ver vídeo de viagem, batismo, casamento de ninguém... todo mundo sabe que esse vídeos só divertem quem viajou, casou ou batizou seus filhotes. Por que, meu deus, somos obrigados a ver vídeo de confraternização de empresa??? Me expliquem, o quê era aquele showzinho mequetrefe do Milton Nascimento e aquele bando de gente se fingindo de descontraída ao final??? Presisamos mesmo ver todo o staff da novela dando tchauzinho para a câmera? fingindo cantar uma música que não conhece, tentando ignorar a câmera e tal ( era até engraçado)? Se abraçando entre si?
No meu tempo, no final de novela sempre havia um casamento, ou, ok, mesmo um nascimento, a gente chorava, se divertia, via que o mundo era bom e os bons sempre ficavam felizes para sempre no final e pronto. Ninguém submetia à gente a vídeozinho de festinha de final de ano da empresa. Horror, horror...

2) Hilário o diálogo entre o Tony Ramos e a Glória Pires:
O Gilberto Braga deu um jeito do cara descobrir em dois dias que tinha dois filhos e no dia seguinte perder os dois. Um, porque não era dele mesmo; outro, porque morreu, assassinado pelo irmão invejoso, nos braços do pai recém descoberto. Uma coisa assim tragédia grega. Parece que ele foi muito malvado durante a novela inteira, então precisava desse sofrimento final para expiar um pouco suas culpas e poder ter um final feliz com a Glória Pires, até porque afinal com esse casal ninguém mexe, ela já até virou homi por ele e ele até já virou mulher por ela, têm que terminar juntos e felizes. Então bota o homi para sofre um pouco, em fast forward. Aí vem o Tony, com todos os seus pêlos e tal, chorar nos braços da amada: " Eu achei que tinha um filho.. perdi... Descobri que tinha outro.. perdi... Perdi dois filhos, de repente... "
E a Glória, com sua cara de cavalo, consternada e emocionada, anuncia para o maridão: "Mas você tem um filho! Um terceiro!!!Está aqui, dentro de mim!!!"
Geeeeeeeeeeente!! só rindo.

3)Sempre converso com meus alunos sobre finais de trama, especialmente tramas de suspense, assassinatos, etc. É uma arte, construir um bom suspense, muitos personagens têm que ter o famoso motivo e a tal da oportunidade, há que se espalhar umas pistas falsas por aí para confundir o leitor ( ou espectador), um monte de mensagens subliminares e entrelinhas que abrem suspeitas e espaços para teorias e mais teorias. Em novela, bolões são feitos para ver quem adivinha o final, a mídia preenche todo seu espaço com as mesmas reportagens de sempre,"Quem matou..." essas coisas.
O fato é que as peças do jogo devem estar todas na mesa, bom é aquele que consegue ordená-las da maneira correta, e perceber quem verdeiramente é capaz de realizar o assassinato em si. A Agatha Christie arrasa quando, por exemplo, cria uma trama onde, simplesmente, todos os suspeitos são o assassino, e as doze facadas foram dadas por doze pessoas.
O Gilberto Braga quis fazer um final tão surpreendente, mas tão surpreendente, que inventou uma história complicadíssima que eu mesmo não entendi bem.
A Vera Holtz não sabia quem era o pai do seu filho??? Como assim???
Ninguém entendia nada, e o coitado do Wagner Moura, morrendo, teve que desperdiçar todo seu imenso talento tentanado explicar, enquanto morria, uma das histórias mais furadas que já ouvi na vida:
A mulher perdeu o filho na maternidade, resolveu adotar outro, que pegou ali mesmo, no hospital, sem contar para ningupe que itnha perdido o original. O outro, que pelo que entendi ela achava que era um genérico aí qualquer, era o filho do Tony Ramos ( que ele também não sabia que existia, fruto de um caso com um aempregada aí qualquer do passado), herdeiro, herdeiríssimo. Só o irmão malvado sabia disso tudo e é claro que não vai contar nada para ninguém. . Aí o irmão cresce com inveja, o outro cresce traumatizado e confuso achando que é bastardinho, e o irmão malvado , que quer virar o herdeiro ele mesmo, bola um plano que, se eu entendi bem, é assim:
matava o Tony Ramos, aí matava o irmão bastardo herdeiro, aí matava a mãe, aí simulava um atendado contra si próprio para evitar suspeitas e depois acabava rico, herdeiro e feliz.
?????????
Please!!!
Putz! mas e a Thais? ficou faltando uma explicação para o assassinato da Thaís!
Fácil: Flash back. Um belo dia, sabe-se lá porquê, o Wagner Moura decide contar todo seuplano para seu comparsa. Bota a gêmea malvada para ouvir tudo enquanto mijava (e sabe-se lá porque o Wagner Moura resolveu contar tudo para o seu comparsa num belo dia). Como boa malvada quis chantagear, foi muito gananciosa e quis 40 por cento da herança. era muito, adeus irmã gêmea.

ô, gente... o Gilberto Braga teve quase um ano para bolar a trama... custava ter pensado num final mais coerente?
Se fosse aluno meu, mandava reescrever tudo, e dava zero no quesito verossimilhança. Toda ficção usa o recurso da coincidência para resolver questões do enredo, isso é ok. Todo mundo se cruza na rua, vai ao mesmo hospital, a mesma delegacia, tudo isso é ok. Mas essa solução abusou de todas as regras de convencimento.
Fica fácil criar um final surpreendente assim, quando vale tudo. Achoq ue o Wagner Moura podia ter contado a seguinte historinha:
na verdade, eu sou um alienígena que veio do planeta Zonskry com a missão de matar todo mundo que, um dia, usasse sapatos brancos. A Thaís, naquela sexta feira, usou sapatos brancos. Mamãe também... o Tony Ramos adora usar sapatos brancos, todos tiveram que ser mortos! Eu odeio sapatos brancos, e no meu planeta há uma previsão de que, um dia, um ser humano do planeta terra que usava sapatos brancos iria ao nosso planeta, tomaria nosso reino e escravizaria todos nós. Não podia deixar que isso acontecesse... por isso matei, ou tentei matar, todo mundo...

4) Decididamente a Alessandra Negrini é linda mas só fica bem em papel ou de engraçadinha ou de mulher malvada, nunca vi heroína mais sem graça, não é à toa que ninguém tava nem aí para o destino dela. E, não custa perguntar... por que ninguém pôs uma amarra nos braços do Fábio Assunção? Nunca vi alguém se mexer tanto e de modo tão exagerado! Começou até a me dar aflição. Fora o lance do biquinho... que biquinho é aquele que o cara fica fazendo toda hora? será que alguém falou algum dia que era sexy?
Mistério...
E um dia alguém será capaz de me explicar qual a graça que há numa perseguição de carro. Não há final de novela, ou filme de ação, que não nos obrigue a assistir entediados um carro perseguindo o outro pelas ruas de alguma cidade. Direito a close no rosto do mocinho e do bandido, direito a passageiro atirando no carro de trás, freadas bruscas, carros de polícia queimando e assim por diante... Uma chatice sem fim. Ok, brincar de carrinho é legal, e explosões e tal são legais, mas... a gente precisa ficar assistindo à brincadeira dos outros? é chaato...

4) Palmas para a Camila Pitanga, que realmente arrasou e tomou a novela para si. O final dela como Monica Veloso foi bacana também, e o Wagner Moura realmente é um grande ator, ele o comparsa dele eram os melhores o tempo inteiro, e não só porque os vilões são mais interessantes, os caras são bons atores, e pronto.


5) Por último... sobre as propagandas... é impressão minha ou estão cada vez piores?
Tenho visto pouca tevê mas, pelo que eu me lembre, no horário nobre da globo, especialmente em fim de novela, passavam as propagandas mais bacanas, caras, emocionantes, engraçadas, criativas. Aquelas que a gente lembra, viram ícones e tal.
Só vi aquelas propagandas trash das casas bahia, supermercados num sei o quê com ofertas de quilo de carne, móveis estofados, e tevê com carrinho e controle remoto. Outras, os caras nem precisam mais se preocupar com texto, inventam alguma palavra ou expressão nova, e ficam repetindo por quinze segundos, para ver se entra nas nossas cabeças. Ou ainda, propagandas de carro e cerveja. Tantos as propagandas de carro como as de cerveja estão cada vez mais parecidas entre si. Carro: o cara - estressado, infeliz, preso pelo horário e pelo trânsito, entra no carro. Imediatamente o cenário muda, começa a tocar alguma musiquinha cool, ele sai do trânsito, vai parar num lugar paradisíaco qualquer, conquista a liberdade e passa a ser dono do seu próprio nariz e mundo, um mundo de horizontes abertos e sem fronteiras. Ops! propaganda de celular também diz isso. Pois é...
E quem aguenta ver um monte de povo feliz em algum boteco, pedindo Aquela cerveja senão a festa, o pagode, o samba, o refrãozinho insuportável - e junto com todos eles, a felicidade - acabam.
A cerveja vem junto com alguma mulher bem linda, que aliás é ignorada porque todo mundo só quer beber.
ai, ai...


Enfim, esse foi o resultado de minha semana novelística. Fiquei muito decepcionada, adoro chorar em final de novela, e nesse não teve sequer um casamento decente.
Ficam aqui meus sinceros protestos.

Milton! já corrigi! ;-) O mestre manda, a gente obedece. :-)

11 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkk, lulu, adorei! o seu final está, óbvio, infinitamente melhor. todo mundo nessa novela era mala, menos a camila e o wagner, claro. e o autor vai e me mata o cara; coisa mais sem graça...

    off topic: tenho vindo sempre aqui e ficado quietinha. sempre leio você pelo bloglines, mesmo quando a coisa tá apertada. suas histórias com os alunos são sempre as melhores. bjs!

    ResponderExcluir
  2. Concordo com tudo o que vc colocou nesse post... como pode uma novela que teve todos os capitulos otimos no final ser aquela coisa horrível?! Ri muito pra naum chorar! =) Pra chorar já basta minha vida, hehe

    Xeru =*

    ResponderExcluir
  3. Também achei o final ruim. Ele ficou aquém da novela como um todo. Não que ela tenha sido boa, mas foi uma das melhores dos últimos tempos. Eu acho que ela desandou quando incluiram a chave: "quem matou quem". Uma chatice. Eu assisti mesmo para saber qual seria o final do Olavo e da Bebel. E o que foi aquela solução para não separar o casal homossexual? Horrível! Horrível, o discurso de Tony Ramos para eles no qual diz que exige saber dos problemas pessoais dos seus funcionários senão os demitem. Enfim, os autores desandaram mesmo para finalizar a novela. Precisam de mais aulas de literatura! :)

    ResponderExcluir
  4. Lulu,

    Não acompanho novelas também. Há anos desisti delas. Não tenho mais paciência. Irritam-me e não me entretêm. Mas adorei ler suas considerações, mesmo não acompanhando a trama!

    Dê um pulinho no blog do Baptistão, pra ver a ótima caricatura do Wagner Moura & Camila Pitanga qu’ele fez...

    Bjo,
    Ótimo início de semana pra você!
    Clé

    ResponderExcluir
  5. Lulu,

    Desde sempre o que mais me intriga em uma novela, qualquer novela que seja, é o fato de que empresários riquissimos e famosos e poderosos simplesmente não trabalham.

    Eles conseguem gastar todo o tempo deles com suas picuinhas pessoais, vinganças, trapaças e ourrtas maldades além de serem totalmente centralizadores na administração.

    Sendo eles centralizadores e não trabalhando fica a pergunta: Como eles conseguem fazer suas empresas serem lucrativas?

    Mistério...

    P.S O final patético desta novela é bem feito pro Wagner Moura, um cara extremamente talentoso aprender que fazer novela não é com ele!

    ResponderExcluir
  6. Lulu,

    Como a Clélia já falou, nós, há muitos anos, deixamos de ver novelas. Aliás, vemos quase nada na TV aberta. A Clélia gosta das séries americanas e eu gosto dos programas sobre futebol da ESPN. Fora isso, nada. Mas pelo que li neste post, eu deveria ter assistido a essa novela. Se a novela toda foi nesta mesma toada do diálogo entre o Tony Ramos e a Glória Pires, foi uma magnífica obra de realismo fantástico. Parece, aliás, que inaugurou um novo estilo, o ilusionismo fantástico.

    Pelo jeito, esse lance de vídeo de confra de todo o elenco veio substituir as cenas de casamento. Sim, porque na época que eu assistia novelas, todo último capítulo tinha um casamento, às vezes dois. Era pra simbolizar o velho jargão que dizia; “E eles foram felizes para sempre”. É isso mesmo. Na lógica telenovelesca, a felicidade eterna sempre era simbolizada pelo casamento.

    Pelo jeito, esta novela abusou de dois clichês que eu julgava sepultados. Um deles é o da existência das duas irmãs gêmeas, a boa e a má. Se eu não me engano, essa idéia já foi usada e reusada no passado, não foi? E essa coisa de assassinar alguém e passar a novela toda tentando descobrir o assassino? Isso é típico de novela que não engrena e aí, lança-se mão deste expediente. O problema é que isso não é como as histórias de suspense com assassinatos. E não é, justamente porque, em geral, estes assassinatos não foram previstos pelo autor. O crime surge pra salvar a audiência. E como tem que ser inventado às pressas, o autor nunca tem tempo de inventar quem é o assassino. Simplesmente deixa isso pra depois. E acho que se esquece disso e no ultimo dia, lembra-se que tem que escolher algum. Deve ter sido isso o que aconteceu no caso dessa aí.

    Não sei se eu conseguiria acompanhar novelas novamente. Acho que não. Eu ficaria com uma sensação louca de estar perdendo tempo. É que meu tempo é curto. Tenho que fazer muitas outras coisas que gosto no meu tempo livre do trabalho. Tenho que ler, ouvir música, ir ao cinema, cozinhar, comer, namorar, dormir, tanta coisa. Como é que posso ver novelas?

    Se bem que esta novela até teve seus atrativos. Justamente as duas maiores gostosuras da TV, A Camila Pitanga e a Alessandra Negrini. Nem assim eu me animei.

    ResponderExcluir
  7. Lulu, eu adoro seu blog.
    Mas DETESTO novelas.
    bjs ;-)

    ResponderExcluir
  8. A falta de um casamento decente te perturbou tanto, mas tanto, que teu post tem dois itens de número 3). Isso perturbou minha leitura sobremaneira... Corrija imediatamente, senão não volto mais aqui!

    Luana, meu ódio à TV é tão irracional que nem finais de novela vejo. Mas soube no jornal que alguém tinha matado a A. Negrini. Um absurdo - que desperdício, meu deus! Por que não mataram a René de Vielmond, por exemplo? Ou a Aracy Balabanian? Ou o galã?

    Mais: essa coisa guei de ignorar a mulher bonita e de ficar com a cerveja, não é comigo. Apesar de gaúcho, fico com a mulher sempre.

    Ainda bem que não mataram a Camila.

    Depois deste comentário super útil e que eleva a níveis inesperados a qualidade de teu blog, despeço-me e prometo ser mais sério e conseqüente na próxima.

    Mais uma coisinha que não entendi: a Vera Holtz só sabia que o pai de seu filho usava sapatos brancos? Então seu filho foi concebido num 69? Como pode?

    Bom, melhor ir embora.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  9. Sem comentários...
    me acabei de tanto rir com seu post. Parabéns.

    Ah...os comentaristas também foram hilários.

    Viva o Wagner Moura...que aliás, dá um show no Antônio Fagundes no filme Deus é Brasileiro.

    ResponderExcluir
  10. Lulu, já faz alguns anos que EU NÃO ASSISTO A NOVELAS. E não tenho nem sentido falta nem me arrependido.

    Não vi um dia sequer esta novela 'tropical' (que título mais previsível, mais clichê!). Sua análise é pertinente e juro que acredito nesta sua forma de vê-la ,a novela, porque se eu a tivesse visto, escreveria algo do tipo.

    Perseguição? Assassinato? Quem matou quem? Filho bastardo? Filho trocado? Puta que é amada?

    Enredos sempre iguais... Custava uma coisinha diferente? Vi o filme O crime do Padre Amaro e simplesmente amei a adaptação! Muito boa, nada maniqueísta, nem tudo previsível. Surpreende. E olha que a gente vê o filme conhecendo a história. O vídeo envolveu tanto que cada coisa aconteceu com tanta naturalidade que me deu vontade de bater palmas. Passei-o em todas as minhas turmas.

    ...

    Ai, ai... nem precisa ninguém me dizer que Camila Pitanga salvou a novela juntamente a Wagner Moura. Ambos são excelentes. Pensar nela como Catarina Paraguaçu e como Bebel é realmente fantástico. Vi de relance nos vídeo shows da vida uma ou outra cena. Ela é maravilhosa. Interpreta e convence.

    Salve-se quem puder quando o casal for de novo Tony e Glória. Se fosse eu a autora, fazia-os ao menos se odiarem. Menos "The end". E festinha de bastidores? Ainda bem que não perdi meu tempo.

    ResponderExcluir
  11. Lulu, cruel...cruel....rs
    adorei.
    Eu sou fã de carterinha do Gilberto Braga, acho o cara um dos melhores autores.
    Escrevi algumas vezes sobre o Wagner Moura, porque o cara é um monstro.
    Mas vc catou a veia, né? Suas críticas tem razão e rachei de rir.
    beijos.

    ResponderExcluir