sábado, 2 de fevereiro de 2008

A história dos meus livros, parte 1



Ali, meus livros da infância, que li e continuo lendo, seja por razões de ofício, seja por prazer mesmo.

O Monteiro Lobato inteiro, usado, mil vezes lido, viajado, levado comigo para todas as casas onde morei. Histórias do mundo inteiro, Harry Potter, os novos livros de criança.

Eu lia Reinações de Narizinho num sítio que meu pai tinha em Campinas. E ali, eu pude fazer uma das coisas mais legais do mundo de se fazer quando se lê literatura:
no sítio do meu pai tinha uma jabuticabeira. Eu, menina, me empoleirava na jabuticabeira, levando coigo meu livro. Abria as páginas bem confortável, e comia jabuticabas, enquanto lia que Narizinho "não fazia outra coisa senão chupar jabuticabas. Volta e meia trepava à árvore, que nem uma macaquinha. Escolhia as mais bonitas, punha-as entre os dentes e tloc! E depois do tloc, uma engolidinha de caldo e pluf! - caroço fora. E tloc, pluf, - tloc, pluf, lá passava o dia inteiro na árvore. " E havia o Rabicó, um leitão muito guloso, que vinha postar-se embaixo da árovre, à espera dos caroços. " Cada vez que soava lá em cima um tloc! seguido de um pluf! ouvia-se cá embaixo um nhoc! do leitão abocanhando qualquer coisa. E a música da jabuticabeira era assim: tloc! pluf! nhoc! - tloc! pluf! nhoc!"

Eu aprendi a comer jabuticabas junto com a Narizinho. Até hoje ouço essa música, mas fico na minha, ouvindo bem baixinho, sem contar par aninguém, lembrando dessa parte feliz da minha infância, quando vvia aquilo que lia nos livros, e ficava torcendo para adormecer ao lado de um riacho e aparecer um prícipe escamado, que cutucasse meu nariz achando muito estranha aquela caverna peluda. E o prícipe escamado me levaria para o Reino das Águas Claras, onde as fadas me fariam o vestido mais lindo e o Dr Caramujo daria uma pílula que faria minha boneca falar sem parar. Fui ali que aprendi a viver aquilo que leio, e que aprendi que as fronteiras entre literatura e vida são bem bem tênues. Ok, podem dizer que sofro de Bovarismo desde então. Aceito o diagnóstico.

Ontem estava lendo o conto O Gato Preto, do Edgar Allan Poe para o sétimo ano ( ex sexta série, depois explico isso ) . Eles têm doze anos, mais ou menos. É um conto muito assustador, narrado em primeira pessoa. O narrador vai contando como a raiva e a maldade vão se apoderando dele de maneira tal que ele, que outrora amava os animais, passa a maltratá-los e espancá-los. A certa altura ele conta como, embriagado, retira um canivete do boso e arranca o olho de seu gato. Nesse momento, um menino, aluno novo, todo pequenininho e assustado, levanta a mão e pergunta:

- É de verdade isso?

Eu respondi:

- Não. É de mentira.

Menti. Há poucas coisas tão verdadeiras no mundo como a boa literatura, a boa ficção.
As crianças sabem disso. Os adultos que são bons leitores sabem disso também.

as fotos... para os curiosos, clicando em cima, elas ampliam e dá para ver meus livros de criança. A segunda está fora de foco, eu sei... mais tarde troco por uma de melhor resolução.

5 comentários:

  1. Lulu, querida, que post lindo! Acho que o diagnóstico serve pra mim também ... Enfim, vamos marcar alguma coisa nesse feriado momesco?

    Beijo,
    Patrícia.

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  2. Morri de saudade da macaquinha que eu tinha igual, não lembro o nome...ai que saudade!!!! hahahaha Conta pra gente como foi o primeiro dia de aula!!!
    Beijo
    Thais - Poa

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  3. Outro dia uma amiga me disse:"mas nós todas quisemos um dia ser a Narizinho,né?".;0)
    To até vendo a cena com seu aluno,bonito,Lulu.
    Fico com saudades dos meus.;0)

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  4. Lulu,
    Lendo seu texto me veio uma idéia: pesquisa tipo o que você estava fazendo, ou onde estava, quando leu Reinações de Narizinho? Foi uma experiência tão importante para quem leu que acretito que a maioria das pessoas irá lembrar. No meu caso, tinha sete anos de idade, estava de cama com uma hepatite que lá me segurou por dois meses. Minha avó que veio do Rio para me visitar começou a ler para mim. Leu uma boa parte e depois largou. Nunca tinha tempo de continuar. A curiosidade me fez seguir sozinho. Foi o primeiro livro que li. Porque será que o porquinho chamava Rabicó?
    Grande beijo

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  5. Que legal... Você tem uma edição antiga de "As Crônicas de Nárnia", em 7 volumes..
    Adoro livros!
    bjs

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