segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

"Eu do lado certo"

No sexto ano ( antiga quinta série) inicio o trabalho de redação pedindo que escrevam um texto intitulado: Eu ao contrário.

É assim: eles têm que escrever sobre si, mas descrevendo-se ao contrário do que são. Devem falar daquilo que gostam, que odeiam, de suas personalidades, comidas prediletas, família, corpo... sempre ao contrário. É bem divertido e desmonta o que seria uma auto-descrição banal e já solidificada que cada um de nós tem sobre si mesmo. Eles se divertem contando como são velhos, os meninos falando que são meninas, as meninas faladno que são meninos, contando como amam comer jiló com beterraba, como odeiam pizza e ver tevê e assim por diante...
Ao me entregar o texto, um deles perguntou:
- E quando você vai nos pedir para entregar uma redação falando do "Eu do lado certo? "
- "Eu do lado certo? " - perguntei, sem entender muito.
- É, ué... Já escrevi sobre o "eu ao contrário", agora queria escrever sobre "eu do lado certo", ué...


E nas redações um menino escreveu que amava viver. Achei que havia se atrapalhado, muitos se atrapalham e acabam falando de si " do lado certo" ao invés de falar de si ao contrário. Chamei o moleque:
- aqui, onde você colocou que amava viver... é isso mesmo ou você ama viver de verdade e se enganou?
- Não. - me disse o menino, impassível, do alto do seu metro de altura - eu odeio viver.
- É mesmo? - perguntei, procurando fazer um ar tão indiferente quanto o dele ( quando aparecem essas coisas a gente tem que prestar atenção mas, ao mesmo tempo, não dar muita bola nem se mostrar muito impressionado) - então, você não gosta de viver...
- É. - respondeu-me, lacônico - Inclusive, eu sempre como maionese em excesso que é para apressar a minha morte.
- Tá, só para saber. - respondi, e o menino que come maionese em excesso para apressar a sua morte voltou a sua mesa, e foi passar a limpo sua bela redação.

12 comentários:

  1. Do jeito que a coisa emabananou para o meu lado nesses últimos dois dias, Luana, acho que vou correr para o supermercado amanhã, isso sim. Grande garoto!
    Beijo,
    Patrícia.

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  2. Lulu,

    Vc pode perguntar a ele se tem alguma marca especifica pra apressar o processo? Só pros dias baixo astral eu comer um pouco a mais...

    beijo
    miranda

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  3. Puxa, coitado. Chama a psicóloga!

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  4. hahahahaha, essa foi a maneira mais original que eu já vi de alguém apressar a morte... eles são muito criativos. mas será que é só discurso 'emo' ou o moleque tem questões em casa que precisam ser pensadas?

    bjs

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  5. Mas justo maionese? Com tantas batatas rufles e congêneres, que acompanhados de refrigerantes e outros complementos costumam ser mais letais... Esse garoto precisa ver mais televisão.

    Gostaria que LULU visitasse o blogdonanl.blogspot.com para "palpitar" sobre BANDEIROLA.

    Um grande abraço e a admiração de sempre.

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  6. Lu... to precisando comer mais por q não obtive resultado!rsrs
    Adorei!
    bjs

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  7. Não vou conseguir parar de ler! Sério!

    Tb já ouvi menino falar de morte com a mesma naturalidade que o menino da maionese. Fiquei atônita pensando no que aprendi (mesmo que não tenham dito com as exatas palavras): "da morte a gente não fala, nem por medo nem por vontade". Ele quebrou minha regra e eu tive que me quebrar um pouco.

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  8. Carla,
    é muito, muito importante poder falar da morte. Porque pela palavra, todo o terror diminui um pouco, e não há monstro maior que aquele que permanece escondido dentro do armário. Um conto do qual sempre me lembro é o Peru de natal, do mário de andrade. É um conto sobre como a fala pode trazer alguma leveza aos tabus.
    um beijo!
    Lulu

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  9. Lu, fiquei arrepiada, tenho um aluno assim e na minha cabeça chamo ele de nuvem.Porque ele me lembra das histórias da turma da Mônica, quando o personagem andava com uma nuvem negra na cabeça?
    Tenho pena de meninos nuvem.

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  10. Lu, o conto do peru de Natal me emocionava tanto..

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  11. adorei seu blog estou fazendo um sobre novidades e fofocas e coisas estranhas que acontecem comigo ja que eu vim da franca para o brasil se quiser visiitar meu blog pesquise no google Suzane llynier.

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  12. botei o endereco errado http://suzanellynier.blogspot.com/
    e o email
    suzanellynier@gmail.com

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