sexta-feira, 23 de julho de 2010

medos

Eu tenho uma amiga com quem sempre converso sobre medos, são conversas um pouco assim:

Ele me ligou, que medo.
Não me ligou. Não disse nada. Medo.
Ligou e falou que não pode ficar um segundo sem pensar em mim. Medo. 

Está pintando uma oportunidade de trabalho. Medo.
Estou sem trabalho nenhum, medo.
Estou enjoada do meu trabalho. Medo.
Estável demais.
Instável demais.
 Medo.

Bonita demais naquele dia, todo mundo olhou, medo.
Feia demais, ninguém nem reparou na existência.medo.

Uma pinta na boca, um olho vermelho, uma bola no nariz. Medo.Cãncer, catapora, encefalite, conjuntivite.

Medo de assalto, medo de roubo, medo de um monte de coisa.

 Conversamos que às vezes até sair dá medo, olhar, conversar, estar na rua com gente estranha.

E conversamos que  às vezes dá medo, muito medo mesmo,  fazer exatamente aquilo que a gente gosta, e fazer exatamente aquilo que a gente quer.
E esse medo é o medo a ser mais combatido. 

Morremos de medo, eu e essa minha amiga, e ainda assim, não deixamos de fazer nada. Ou quase nada. Não... mentira.
Eu deixo de fazer algumas coisas, por medo, talvez mais até do que eu perceba. Não me faz a menor falta pular de asa delta ou páraquedas de uma pedra gigante, tenho medo mesmo e é isso aí, posso morrer sem, mas às vezes tenho medo de ser verdadeira comigo mesma, tenho medo de escrever, tenho medo do novo, do encontro, de me perder, tenho medo de mim e de assumir o que sinto.
Essas horas são horas de frio na barriga, e a gente faz a maior força e aguenta.

Ligamos uma para outra,  ligamos  para mais outros amigos que também não têm medo de assumir seus medos.

E nos cuidamos e tomamos coragem, e tomamos aspirina, acupuntura, remedinho, vodka, Tomamos banho, coca cola e chopp, passamos batom,  colocamos salto ou saímos de havaiana mesmo,  vamos para a análise, para a casa da mãe, pro bar, pra rua, pro cinema, saímos de casa.

Nessas horas a gente tenta fazer de tudo para enfrentar os medos.
às vezes  fechamos os olhos e vamos em frente,  de uma vez e com tudo, às vezes saímos de casa  bem devagarinho,  com muita cautela e aos poucos, quase como se não estivéssemos lá. Às vezes deixamos para um pouco mais tarde, o enfrentamento, porque ainda não era a hora.

Mas de qualquer jeito, como eu falo para os meus alunos do sexto ano, é sempre bom, nas noites de mais medo, tomar coragem e olhar logo debaixo da cama e dentro do armário, pois um monstro enfrentado  é geralmente menos assustador que um monstro escondido.

E às vezes esse monstro  pode ser fundamental , porque  era, simplesmente, o desconhecido, o novo e, afinal,  o desejado.

A gente não é daqueles  ou daquelas que não sentem medo de nada, mas temos nossa valentia, até porque desejamos tanto da vida, que precisamos ser muito valentes mesmo. Ficamos até com medo do tamanho da nossa vontade de viver. E a vontade ganha, porque somos a favor dela, e não do medo.

e é pela vontade de viver, e não por medo, que vivemos.
E quando a coragem falha, as amigas estão aí, para lembrar a gente disso.  
ainda bem.

5 comentários:

  1. lendo seu texto tive um daqueles fluxos rápidos de memória, lembrei-me de quando li o livro Inocência do Visconde de Taunay, acho que eu tinha uns 11 ou 12 anos... foi um livro importante na minha vida sobre o qual eu não pensava há muito, muito tempo, vou investigar aqui nos meus antigos arquivos o que pode ter me levado a essa lembrança, e por enquanto te digo que ainda não li os posts anteriores, mas vou ler e comentar. muito bom ter vc de volta. Ana

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  2. Ê Luana, que bom te ler...
    ouvir outras vozes, como as que estão no teu texto, aplacam nosso medo cotidiano...
    "Provisoriamente, não cantaremos o amor...
    cantaremos o medo, nosso pai e nosso companheiro..." - do sábio Drummond...
    abços

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  3. Pode ter certeza que as amigas estarão sempre perto!

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  4. eu tenho os mesmos medos que vc tem!
    e o meu medo maior, alem de ser assaltada, é de ser bv até meus 15 anos!
    bjss..

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