quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
então
alguns repararam que andei quieta, quieta, quieta. fechada em copas, como diria Murilo Mendes. E ele dizia mais, dentre todas as coisas que dizia, dizia que devíamos ser contemporâneos de nós mesmos.
Pois bem, estava ficando para trás. Perdendo-me de mim, sabem?
Aí então, corri. Corri, e meio cheia de coragem, meio sem outra solução, mudei muitas coisas da vida. Coisas profundas. Descasei. Fiquei inteira pela metade.
Para os que gostam de mim, estou bem. Fazendo muitas aulas de dança, indo ao cinema, fazendo as coisas de quase sempre, e tudo diferente. Descobrindo que me basto, descobrindo-me. Curtindo. vendo como eu sou.
enquanto isso, nesse período todo o diário da lulu ficou meio órfão, sem pai nem mãe, que a lulu não se encontrava.
E agora não sei ainda.
Acho que vou mudar-me. Ir para outro endereço, em outro lugar. Um ano de diário.
Um blog ( bananésimo ) não gente, quis dizer bacanésimo, juro... , não é mesmo?
Ainda não é tempo de despedida, porque não.
então
por enquanto, só dando notícias. e deixando meu carinho profundo aos que vêm aqui sem ser por engano.
beijos,
até já.
lu.
gente, eu queria fazer um auto-elogio e chamar meu blog de bacanésimo, aí fui lá e escrevi bananésimo. Freud explica,. desculpem-me, beijos a todos,
lululouca.
domingo, 11 de novembro de 2007
então...
Ainda que triste, triste, triste, estava feliz. E sentia uma vertigenzinha, que acompanha o medo, que acompanhava a incerteza, que acompanha o medo, mas que era uma vertigem boa, de estar viva bem viva, correndo o perigo que é estar assim.
Ela ganhava coragem, cada vez mais coragem,
e sentia que era, e é, e será. Inteira. A cada vez, quantas vezes fossem.
terça-feira, 6 de novembro de 2007
domingo, 4 de novembro de 2007
Carta de uma aluna
Os meus alunos não sabem que o blog existe, mal suspeitam que são personagens de posts e centro de discussões, crises, e relatos luluzísticos.
No entanto, a oitava série, a tal dos livros tristes, do Dostoiévski, etc. ( leia aqui) , me convidou para ser a paraninfa deles, na formatura. Fiquei bastante tocada, e resolvi mostrar o blog para essa turma que, afinal de contas, tá saindo do ginásio ( fundamental 2), e foi uma turma que me fez crescer e pensar muito. Eles adoraram, se sentiram chics e bcanas, e são mesmo.
Uma aluna depois foi pra casa e me escreveu assim:
"Estava eu aqui navegando pela internet, quando me lembrei de seu blog que mal havia visto, fui lá e pelo pouco que li quis comentar, não consegui, tentei mandar como depoimento, só para que você conseguisse ler ao menos, também não consegui, então anexei e estou te mandando como e-mail.
Beijos, ."
Resolvi colocar o e-mail aqui, para falar que é bom, é muito bom fazer algo que dá um sentido para a nossa existência. E que todo mundo fala tão mal da educação, da moçada que tá aí, de sei lá o que, de adolescentes chatos, mas olha só, que besteira. Chove bastante em São Paulo, mas hoje eu estou achando o mundo bonito.
Aqui, a carta que ela me escreveu, como era para ser um comentário pro blog, achei que devia publicá-la aqui:
e, outra aluna, escreveu assim, nos comentários:
Lu, não sei quem escreveu isso, pelo jeito me parece a Ana. Há algum tempo penso e quero te escrever algo que demonstre quão diferente você tornou minha vida. Todos os processos que você me fez passar me fizeram, muito embora de um jeito forçado, amadurecer. E eu sou muito grata por isso, e por todo o resto. Pouquíssimos professores, talvez nenhum, teria entendido, ou sequer ouvido, minhas bobas crises adolescentes em relação aos livros e projetos. Talvez nem acreditado nelas, pensando que seriam apenas uma desculpa para fugir de certas responsabilidades.
Para você, professora, dediquei um poema que você mesma me mandou fazer, dizendo homenagear os mentores que nos guiam por essa vida. Por você, escrevi na ficha de inscrissão pro médio, que queria ser professora porque estes tiveram mais influência sobre mim do que qualquer outra pessoa.
Tenho medo de ter sido mimada demais por você, e nunca mais achar outro mentor que me entenda tão completamente, e me acalme. Porém, levo comigo tudo o que aprendi com você, não só em relação à escola, mas também como pessoa, e tenho a certeza de que isso me ajudará sobre qualquer dificuldade.
Sentirei tua falta, de verdade. Beijo.
sábado, 3 de novembro de 2007
como
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
para a rosa
E eu tenho uma amiga que escreveu anunciando aos amigos um período aí de silêncio que virá, coisas de descompassos, daqueles que nos escapam de tal maneira que somente com ajuda médica/medicinal pode acontecer de haver saída, e forças para procurá-la - coisas de depressão, que é doença séria e grave.
E ao mesmo tempo que me espantava com a generosidade e coragem dessa pessoa, que escreve, avisa, e diz assim: "olha, se preocupem não se procupando, que estou me cuidando mas é assim, preciso de um tempo e sim, não ando mesmo muito bem", respondi logo, e escrevi algo que quero deixar aqui, como uma carta de amor, que vai aliás para todas as minhas amigas, as de antigamente - que andei revendo - e as novas - porque novas amizades se descobrem e constróem, mesmo depois de velha, já passados os trinta anos, olha só....
Então coloco a resposta que escrevi aqui, como um relato de amizade, como uma declaração de amor,
à vida.
a sua presença viva na minha vida é algo tão valioso, mas tão valioso, que nem sei. Você já foi minha mãe, irmã, amiga, professora, e desconfio que até namoramos um pouco.
Brigamos e desbrigamos mas não chegamos a brigar nunca. e nos entendemos de um jeito de mulheres gauche e imperfeitíssimas que somos, desajeitadas, meio gordas, meio lindas, divas até a medula e a última ponta de cabelo, com toda inteligência e loucura. o amor e a amizade ficam, mesmo que em silêncio, continuamos juntas, bem juntas que eu sei, nada dessa besteira de se despedir das amizades que isso não é coisa que se proponha nem que se aceite.
Mas os momentos de silêncio às vezes nos tomam mesmo, eu mesma andei quieta quieta, quase um fio de cabelo.
Sabe o que eu acho? eu que te conheci e te vi inteira, te vi rindo e chorando? Eu acho que teu amor pela vida é maior que a tua doença, e esse amor há de encontrar caminhos.
Eu acho que esse teu coração achou e achará jeitos de continuar pulsando e pulsante. Porque sim, de insistência e teimosisse ( e se essa palavra existisse, era assim que ela se escreveria?) puras mesmo. Porque é assim.
e deixo um poema, do William Blake, traduzido pelo Augusto de Campos. Meu avô tinha esse poema enquadrado na casa dele, e desde pequena o leio, fascinada com a rosa doente.

A rosa doente
William Blake
Ó Rosa, estás doente!
Um verme pela treva
Voa invisivelmente
O vento que uiva o leva
Ao velado veludo
Do fundo do teu centro:
Seu escuro amor mudo
Te rói desde dentro.
Tradução: Augusto de Campos
The sick rose
O Rose, thou art sick!
The invisible worm
That flies in the night,
In the howling storm,
Has found out thy bed
Of crimson joy,
And his dark secret love
Does thy life destroy.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
lulu na mostra
Presta um pouco mais de atenção e repara mais ainda: olha... hoje vai passar o filme do David Lynch! Lulu, inocente de quase tudo nessa vida, repara que a sessão é meio dia. Olha seu relógio, são dez e meia. Oba! pensa lulu - dá tempo...
lulu chega com uma hora de antecedência, toda contenta da vida.
Puxa, tá cheio... Cheio? Uma fila atravessava o conjunto nacional e saía para a rua. Todos os modernetes de São Paulo pareciam haver acordado cedo naquele sábado. Lulu entra na fila. Fica na fila. Uma hora de fila. Os ingressos esgotaram antes, bem antes, da vez da lulu.
Lulu não desiste. Pega seu jornalzinho e resolve ir ao Frei Caneca, tem um monte de filme passando lá, vambora ver algum filme iraniano com legendas em aramaico.
No caminho, lulu passa pelo Espaço Unibanco. O lugar não abriu ainda, tem fila na porta. Uma fila modesta, mas existente. "Vocês tão nessa fila para quê? " - "Para comporar ingressos para a mostra, ué..." - diz uma senhora de oclinhos de aros grossos e vermelhos, com um certo ar de despreZo na voz. Será que para ver a mostra precisa usar oclinhos de aros grossos e coloridos? Lulu está cada vez pensando mais, mas guarda para si a pergunta e continua a bater papo: " Sei... e você vai ver o quê?" Um filme sobre o vocalista do Joy Division. Oba, pensa lulu. Legal, vambora. Que horas começa? Uma e meia? Não... diz a mulher, já quase sem paciência com tanta desinformação. A sessão é às dez da noite. Nooossaaaa!! Diz a lulu. E você já está aqui? Vida difícil essa de cinéfila, né? A mulher olha para cima e suspira. Lulu vai embora, rumo ao shopping Frei Caneca.
O Shopping tava fechado mas lulu já sabia que aquilo não queria dizer coisa alguma. Fez o ar mais intelectual que sabia fazer e falou ao segurança: Vou à mostra. Esqueci meus oclinhos em casa.
O moço deixou a lulu passar. Engano bem.
Chegando lá... adivinhem: fila. Mais modernos. Mais gente, todos com os guias da mostra em mãos, fazendo planos alucinados: "pego o filme da uma da tarde, depois vou para o filme das três, depois entro no das cinco e ainda termino o dia, às nove da noite, com o filme siberiano que parece ser o máximo!" Lulu, meio assustada, começa a entrar no clima. Pega um guia, começa a fazer contas. Um filme só passa a parecer pouco. Imagina! Liga pra casa: "ficarei o dia inteiro no cinema. Adeus."
Escolhe dois filmes estranhos, de nomes estranhos, cineastas desconhecidos. Lá fora tava o maior calor, lulu saíra de shortinhos. Começa a sentir frio. Fome. A fila não anda.
Finalmente lulu chega ao caixa, pede os ingressos para os dois filmes que resolvera ver. Só dois? Pergunta o caixa. Lulu fica sem jeito... é, moço... fico assim.. meio cansada... Cabisbaixa, lulu vai ao café comer algo. Uma média e um pedaço de bolo de iogurte por favor. Pois não moça, são dez reais. O quê? Quanto tá a média? Quatro reais, o pedaço de bolo custa seis... Esquece, moça. Obrigada. Lulu sai do shopping e vai ao boteco da esquina. Gasta três reais.
Lulu vê o filme - médio. Lulu diverte-se com a briga que ocorre na fileira ao lado pois alguém está - inadivertidamente- comendo pipoca. Onde já se viu? Tisc, tisc, tisc...
Lulu encontra gentes, conversa sobre a fotografia, o roteiro, o enredo. Começa a ficar meio cheia.
Liga pra casa. Uns amigos ligaram, querendo fazer algo. Amigos legais... Lulu quase congelara no cinema.
Vai para casa, e combina de ver, com os amigos, um filme do circuito comercial. Fomos, conversamos, não pegamos fila, a sala tava vazia, jantamos depois, uma delícia.
Sei não, mas acho que a lulu desistiu desse negócio de mostra.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Verdades à mesa do bar
Chegamos lá pelas seis da tarde, duas da manhã ainda estávamos por ali, e nesse momento começaram a aparecer as Grandes Filosofias da Vida, aquelas Verdades que surgem à mesa do bar, depois que a coluna das bolachas de chopp consumidas já está vergonhosamente grande e chega até a esconder o copo, sempre cheio, que vem atrás...
Uma amiga virou séria para outra amiga, que está prestes a montar casa, reformar, juntar os trapos e as vidas:
- Cuidado! Não fique brava se ele não sabe nada sobre azulejos... não fique brava se ele não está nem aí para os azulejos...
A amiga replicou:
-Imagina, ele até falou que se não precisasse quebrar, bastava a gent pintar os azulejos e pronto! ficava como novo! - as mulheres da mesa suspiraram, olharam paa cima, havia uma cumplicidade no ar... o horror, o horror... esse homens, que não sabem nada da importância dos azulejos...
Foi então que a amiga, séria e compenetrada, falou uma das grandes frases da noite, que calou todas nós:
- Gente!! A vida não é feita de azulejos...
Mais tarde, outra estava contando como se sentia quando alguém a categorizava de acordo com a família ou a classe social a que pertencia. Uma vez um cara até perguntou para ela se ela existia mesmo, pois só tinha lido sobre essas famílias em livros. Um saco, de fato. Foi então que outra lembrou de um dos maiores elogios que recebeu na vida, quando um cara a olhou, ficou em silêncio, e depois perguntou - meio atônito, meio besta:
- Você existe?
Conclusão.. tudo depende do contexto.
Outra grande sabedoria.
A mesa estava cheia de mulheres, como já deu para perceber, contra uma minoria de homens que de vez em quando conseguiam falar alguma coisa. Uma das nossas amigas é daquelas mulheres lindas e proud of it, que não tem nenhuma vergonha de expor e mostrar todas as suas qualidades e atributos, dados pela natureza ou conquistados na vida. Uma outra amiga falou assim:
- A Maria ( os nomes dessa resportagem foram todos mudados para manter a privacidade dos envolvidos) é assim: quando a gente a vê pela primeira vez, a gente pensa: Nossa, como ela tem coragem? ( comentando as roupas e o estilo) Depois de conversar dez minutos com ela, pensamos assim: Nossa.. por que é que EU não tenho coragem?
Maravilhosas, as minhas amigas.
Depos falávamos de ex, dos exes, e das exas de cada um. Há essa mania de referir-se aos ex como falecidos, falecidas. No entanto, um deles tinha um apartamento. Verdade absoluta da noite:
- Se tem apartamento, não é falecido.
E por fim, a maior de todas, mais bela e indiscutível:
- O problema de sexo por torpedo é que dá tendinite.
é isso. Tim tim.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
ensinar ou apender
"Ficamos muito, e durante muito tempo, preocupados com o ensinar.
A nossa tarefa é outra.
Nossa tarefa é propiciar ao nosso aluno oportunidades planejadas que favoreçam o desenvolvimento de capacidades, habilidades e atitudes que o transformem num cidadão.
Esta dimensão, a dimensão política do nosso fazer deve ser resgatada para justificarmos a nossa presença como categoria profissional.
Favorecer a transformação de crianças egocênricas em cidadãos é a função social que nos distingue das demais e da qual não podemos abrir mão sob pena de continuarmos sendo uma corporação anacrônica de doadores de aula, substituíveis por qualquer tio de plantão.
Uma vez, um velho rabino disse que os professores começam ensinando o que não sabem, depois de algum tempo ensinam o que já aprenderam, depois de mais algum tempo ensinam o que é importante e só depois de muito tempo percebem que sua tarefa não é a de ensinar mas a de criar condições para que os alunos aprendam.
Era sábio o velho rabino"
( Extraído do texto "Avaliação" do professor Mauricio Mogilnik)
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
rápidas impressões sob o signo da outubrite
Queria falar sobre Orgulho e Preconceito, da Jane Austen, que estou terminando de ler com a sétima série. Segundo um dos alunos: um livro chato sobre um monte de gente desocupada que só pensa em casamento.
A classe está dividida. Uns amam o livro, outros odeiam, até aí, nada de novo sob o sol, nada que fira o meu orgulho.
Alguns preconceitos meus, inclusive, foram solapados rapidamente. Confesso que escolhi esse livro pensando em duas coisas: na história da procura por livros felizes e nas meninas.
Sim, porque a maioria dos livros clássicos que a gente lê na quinta e na sexta série são livros de aventura com cara de menino. Olhem só: A Ilha do Tesouro, Julio Verne, Edgar Allan Poe... mesmo o do Italo Calvino, O Cavaleiro Inexistente, parece-me ser mais de menino que de menina. Então, decidi dar um romance bem clássico, sobre a vida das pessoas comuns, entretidas, no mais, em casar e também em garantir uma boa renda que lhes permita uma boa sobrevivência.
Para as mulheres, se não há herança em jogo, como acontece com os pobre dos Bennet, a família que protagoniza o romance, resta casar com alguém rico, oras bolas.
Cada livro que leio com meus alunos traz novas discussões.
Por exemplo, quando a gente leu o Cavaleiro Inexistente fiquei uma aula inteira discutindo com uma aluna que estava muito revoltada porque era IMPOSSÍVEL existir um cavaleiro inexistente e que então tudo aquilo era uma bobagem sem fim.
Foi uma discussão linda, sobre justamente o que é, afinal de contas, a literatura.
Na sexta série começamos a ler o que eu chamei de primeiro livro de gente grande deles, Capitães da Areia. É bem engraçado, e depois quero falar mais sobre isso, porque no livro tem um monte de sacanagem. São dois os temas principais que surgem: o da liberdade e o do sexo. Liberdade porque sempre, sempre, tem um ou dois meninos na classe ( e geralmente são meninos) que ficam realmente invejando a vida dos capitães da areia. Que não queriam ir para a escola, que não queriam ter pai e mãe dando bronca, que queriam viver de brisa e assaltos ocasionais, em liberdade. As discussões são sensacionais, principalmente porque o resto da classe geralmente fica hiper revoltado mas quando vai argumentar a favor da escola, por exemplo, fica sem argumentos. Afinal de contas, escola serve prá quê? Discussões e discussões.
E tem o lance do sexo . Logo no início do livro, há uma cena onde um menino bonitão de quinze anos, o Gato, se apaixona pela Dalva, uma prostituta. Faz que faz e ela acaba indo para a cama com ele. Ele, todo rápido, sem jeitos, e ela o inicia nas artes do amor. Há muitas gírias no livro, tive que explicar, por exemplo, o que era tocar uma bronha. Percebi que essa parte tava incomodando todo mundo e resolvi ler em voz alta.
Tá. agora imaginem ler isso em voz alta para uma turma de moleques e molecas de 12 anos.
Pois é.
Uns simplesmente têm ataques de riso compulsivo, acho que é nervoso, não param de rir.
Outros ficam ruborizados, outros ficam me olhando para ver o que eu vou fazer com tudo isso.
Eu falo que eles já são praticamente adultos ( hahahaha) , que já tá na hora de ver tudo isso com maturidade e vou em frente, sem nem piscar, explicando como na hora do sexo é importante prestar atenção no que o outro tá sentindo e fazendo. Pois é... a gente ganha pouco, MESMO.
E tem o Pedro Bala... Uma das minhas alunas mais velhas falou que faz parte do curso de literatura da escola se apaixonar pelo Pedro Bala, o líder dos capitães. Enfim... que delícia que é quando a gente se apaixona por um personagem de algum livro.
Em Orgulho e Precnceito há alguns choques iniciais.
Primeiro: ninguém trabalha nessa joça? Não, ninguém trabalha. Aliás, uma das vergonhas da família dos Bennet é que eles têm dois parentes que ganham seu sustento com o suor do rosto, um é advogado outro, comerciante. Um horror. Trabalhar é coisa de pobre, gente, eu explico. Nobre que é nobre vive de renda, acabou-se.
Como gasta o tempo aquele que vive de renda? Ué... viajando, caçando, indo a bailes, casando, falando dos outros, tendo filhos, casando os filhos, essas coisas...
E as mulheres? às mulheres restava pouco a não ser ser ter um bom dum dote. Não sendo esse o caso, torcer para ser bem linda, costurar, pintar, dançar, tocar piano e saber conversar da melhor maneira possível e torcer para arrumar um belo dum marido. Pronto. Às mães, cabe o maior empenho para que isso ocorra.
Uma bobagem sem fim? Não.
Porque a Jane Austen salva.
Salva como? Sendo extremamente irônica e mordaz em relação a essa sociedade. (E como é difícil explicar e fazer com que os alunos entendam ironia! )
Escrevendo diálogos sensacionais, e criando personagens que são extraordinariamente verossímeis, reais, interessantes e complexos. E no meio disso tudo, há algumas discussões de fato importantes, sobre casamento, amor, a condição da mulher, dinheiro, fofocagem e maledicência, beleza, orgulho e preconceito.
É impressionante como o livro continua atual.
E aqui vai, finalmente, a revelação do meu preconceito que foi desfeito: muitos meninos adoraram o romance. Se acabaram. Foram os primeiros a terminar de ler. Legal né? Achei o máximo. Bobagem a minha achar que esse negócio de namoros e seduções só interessaria às meninas.
Enfim.... mil coisas para contar.
Estou indo para a roça, eu, essa paulistana urbaníssima que achava que goiabada cascão era aquela goiabada que vinha em lata, que vendia no supermercado, com o Cascão ( da Mônica e do cebolinha) na embalagem.
Volto domingo, querendo muito organizar a minha vida para voltar a escrever com mais regularidade por aqui.
Um beijo a todos,
Lulu.
Para quem chegou agora e se interessou sobre esse negócio de aula de literatura para adolescente, passeiem pelo lulu na escola , acho que é o melhor negócio. Mais beijinhos, e bom feriado a todos.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
terça-feira, 2 de outubro de 2007
A gente vai estar te demitindo....
Governador do DF demite o "gerúndio" por decreto
da Folha Online
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), tomou uma decisão que chamou a atenção de quem leu a edição de hoje do "Diário Oficial" do distrito: demitiu o "gerúndio" de todos os órgãos do governo. O decreto com a nova medida também proíbe o uso do gerúndio por desculpa de "ineficiência".
O governador está fora de Brasília e não pôde comentar a nova medida.
O gerúndio é uma das formas nominais do verbo, formada pelo sufixo "ndo" que indica continuidade de uma ação.
Leia a íntegra do decreto:
"Decreto nº 28.314, de 28 de setembro de 2007.
Demite o gerúndio do Distrito Federal, e dá outras providências.
O governador do Distrito Federal, no uso das atribuições que lhe confere o artigo
100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:
Art. 1° - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.
Art. 2° - Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA.
Art. 3° - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 28 de setembro de 2007.
119º da República e 48º de Brasília
JOSÉ ROBERTO ARRUDA"
O Diário da lulu, embora irrite-se profundamente com as Gentes que vão estar fazendo qualquer coisa que seja, sentiu uma certa dó do pobre gerundinho, demitido assim só por ser usado tão vilmente por pessoas de má índole ou pouca sabedoria lingüística que dele se utilizam para justificar sua... hum... ineficiência, ôquei.
Mas... Terá o gerundinho seguro desemprego? Terá ele feito uma poupancinha para os dias difíceis que virão? Como viverá um gerúndio desempregado? Haverá um sistema de recolocação?
De qualquer modo, nos solidarizamos ao gerúndio pois, por mais que a causa nos pareça bastante justa, qualquer espécie de demissão sumária de vocábulos e expressões e qualquer espécie de censura e autoritarismo sobre a linguagem assustam.
Sério.
No entanto, já imagino que o gerundinho demitido já vai estar fazendo um certo escarcéu e vai estar providenciando retaliações e protestos e estará, principalmente, entrando em contato com o Senhor Governador que, por mais tenha razões para suas implicâncias, andou, decididamente, abusando das suas atribuições.
domingo, 30 de setembro de 2007
sobre o fim da novela
Algumas questões me vieram à mente...
1) Ninguém é obrigado a ver vídeo de viagem, batismo, casamento de ninguém... todo mundo sabe que esse vídeos só divertem quem viajou, casou ou batizou seus filhotes. Por que, meu deus, somos obrigados a ver vídeo de confraternização de empresa??? Me expliquem, o quê era aquele showzinho mequetrefe do Milton Nascimento e aquele bando de gente se fingindo de descontraída ao final??? Presisamos mesmo ver todo o staff da novela dando tchauzinho para a câmera? fingindo cantar uma música que não conhece, tentando ignorar a câmera e tal ( era até engraçado)? Se abraçando entre si?
No meu tempo, no final de novela sempre havia um casamento, ou, ok, mesmo um nascimento, a gente chorava, se divertia, via que o mundo era bom e os bons sempre ficavam felizes para sempre no final e pronto. Ninguém submetia à gente a vídeozinho de festinha de final de ano da empresa. Horror, horror...
2) Hilário o diálogo entre o Tony Ramos e a Glória Pires:
O Gilberto Braga deu um jeito do cara descobrir em dois dias que tinha dois filhos e no dia seguinte perder os dois. Um, porque não era dele mesmo; outro, porque morreu, assassinado pelo irmão invejoso, nos braços do pai recém descoberto. Uma coisa assim tragédia grega. Parece que ele foi muito malvado durante a novela inteira, então precisava desse sofrimento final para expiar um pouco suas culpas e poder ter um final feliz com a Glória Pires, até porque afinal com esse casal ninguém mexe, ela já até virou homi por ele e ele até já virou mulher por ela, têm que terminar juntos e felizes. Então bota o homi para sofre um pouco, em fast forward. Aí vem o Tony, com todos os seus pêlos e tal, chorar nos braços da amada: " Eu achei que tinha um filho.. perdi... Descobri que tinha outro.. perdi... Perdi dois filhos, de repente... "
E a Glória, com sua cara de cavalo, consternada e emocionada, anuncia para o maridão: "Mas você tem um filho! Um terceiro!!!Está aqui, dentro de mim!!!"
Geeeeeeeeeeente!! só rindo.
3)Sempre converso com meus alunos sobre finais de trama, especialmente tramas de suspense, assassinatos, etc. É uma arte, construir um bom suspense, muitos personagens têm que ter o famoso motivo e a tal da oportunidade, há que se espalhar umas pistas falsas por aí para confundir o leitor ( ou espectador), um monte de mensagens subliminares e entrelinhas que abrem suspeitas e espaços para teorias e mais teorias. Em novela, bolões são feitos para ver quem adivinha o final, a mídia preenche todo seu espaço com as mesmas reportagens de sempre,"Quem matou..." essas coisas.
O fato é que as peças do jogo devem estar todas na mesa, bom é aquele que consegue ordená-las da maneira correta, e perceber quem verdeiramente é capaz de realizar o assassinato em si. A Agatha Christie arrasa quando, por exemplo, cria uma trama onde, simplesmente, todos os suspeitos são o assassino, e as doze facadas foram dadas por doze pessoas.
O Gilberto Braga quis fazer um final tão surpreendente, mas tão surpreendente, que inventou uma história complicadíssima que eu mesmo não entendi bem.
A Vera Holtz não sabia quem era o pai do seu filho??? Como assim???
Ninguém entendia nada, e o coitado do Wagner Moura, morrendo, teve que desperdiçar todo seu imenso talento tentanado explicar, enquanto morria, uma das histórias mais furadas que já ouvi na vida:
A mulher perdeu o filho na maternidade, resolveu adotar outro, que pegou ali mesmo, no hospital, sem contar para ningupe que itnha perdido o original. O outro, que pelo que entendi ela achava que era um genérico aí qualquer, era o filho do Tony Ramos ( que ele também não sabia que existia, fruto de um caso com um aempregada aí qualquer do passado), herdeiro, herdeiríssimo. Só o irmão malvado sabia disso tudo e é claro que não vai contar nada para ninguém. . Aí o irmão cresce com inveja, o outro cresce traumatizado e confuso achando que é bastardinho, e o irmão malvado , que quer virar o herdeiro ele mesmo, bola um plano que, se eu entendi bem, é assim:
matava o Tony Ramos, aí matava o irmão bastardo herdeiro, aí matava a mãe, aí simulava um atendado contra si próprio para evitar suspeitas e depois acabava rico, herdeiro e feliz.
?????????
Please!!!
Putz! mas e a Thais? ficou faltando uma explicação para o assassinato da Thaís!
Fácil: Flash back. Um belo dia, sabe-se lá porquê, o Wagner Moura decide contar todo seuplano para seu comparsa. Bota a gêmea malvada para ouvir tudo enquanto mijava (e sabe-se lá porque o Wagner Moura resolveu contar tudo para o seu comparsa num belo dia). Como boa malvada quis chantagear, foi muito gananciosa e quis 40 por cento da herança. era muito, adeus irmã gêmea.
ô, gente... o Gilberto Braga teve quase um ano para bolar a trama... custava ter pensado num final mais coerente?
Se fosse aluno meu, mandava reescrever tudo, e dava zero no quesito verossimilhança. Toda ficção usa o recurso da coincidência para resolver questões do enredo, isso é ok. Todo mundo se cruza na rua, vai ao mesmo hospital, a mesma delegacia, tudo isso é ok. Mas essa solução abusou de todas as regras de convencimento.
Fica fácil criar um final surpreendente assim, quando vale tudo. Achoq ue o Wagner Moura podia ter contado a seguinte historinha:
na verdade, eu sou um alienígena que veio do planeta Zonskry com a missão de matar todo mundo que, um dia, usasse sapatos brancos. A Thaís, naquela sexta feira, usou sapatos brancos. Mamãe também... o Tony Ramos adora usar sapatos brancos, todos tiveram que ser mortos! Eu odeio sapatos brancos, e no meu planeta há uma previsão de que, um dia, um ser humano do planeta terra que usava sapatos brancos iria ao nosso planeta, tomaria nosso reino e escravizaria todos nós. Não podia deixar que isso acontecesse... por isso matei, ou tentei matar, todo mundo...
4) Decididamente a Alessandra Negrini é linda mas só fica bem em papel ou de engraçadinha ou de mulher malvada, nunca vi heroína mais sem graça, não é à toa que ninguém tava nem aí para o destino dela. E, não custa perguntar... por que ninguém pôs uma amarra nos braços do Fábio Assunção? Nunca vi alguém se mexer tanto e de modo tão exagerado! Começou até a me dar aflição. Fora o lance do biquinho... que biquinho é aquele que o cara fica fazendo toda hora? será que alguém falou algum dia que era sexy?
Mistério...
E um dia alguém será capaz de me explicar qual a graça que há numa perseguição de carro. Não há final de novela, ou filme de ação, que não nos obrigue a assistir entediados um carro perseguindo o outro pelas ruas de alguma cidade. Direito a close no rosto do mocinho e do bandido, direito a passageiro atirando no carro de trás, freadas bruscas, carros de polícia queimando e assim por diante... Uma chatice sem fim. Ok, brincar de carrinho é legal, e explosões e tal são legais, mas... a gente precisa ficar assistindo à brincadeira dos outros? é chaato...
4) Palmas para a Camila Pitanga, que realmente arrasou e tomou a novela para si. O final dela como Monica Veloso foi bacana também, e o Wagner Moura realmente é um grande ator, ele o comparsa dele eram os melhores o tempo inteiro, e não só porque os vilões são mais interessantes, os caras são bons atores, e pronto.
5) Por último... sobre as propagandas... é impressão minha ou estão cada vez piores?
Tenho visto pouca tevê mas, pelo que eu me lembre, no horário nobre da globo, especialmente em fim de novela, passavam as propagandas mais bacanas, caras, emocionantes, engraçadas, criativas. Aquelas que a gente lembra, viram ícones e tal.
Só vi aquelas propagandas trash das casas bahia, supermercados num sei o quê com ofertas de quilo de carne, móveis estofados, e tevê com carrinho e controle remoto. Outras, os caras nem precisam mais se preocupar com texto, inventam alguma palavra ou expressão nova, e ficam repetindo por quinze segundos, para ver se entra nas nossas cabeças. Ou ainda, propagandas de carro e cerveja. Tantos as propagandas de carro como as de cerveja estão cada vez mais parecidas entre si. Carro: o cara - estressado, infeliz, preso pelo horário e pelo trânsito, entra no carro. Imediatamente o cenário muda, começa a tocar alguma musiquinha cool, ele sai do trânsito, vai parar num lugar paradisíaco qualquer, conquista a liberdade e passa a ser dono do seu próprio nariz e mundo, um mundo de horizontes abertos e sem fronteiras. Ops! propaganda de celular também diz isso. Pois é...
E quem aguenta ver um monte de povo feliz em algum boteco, pedindo Aquela cerveja senão a festa, o pagode, o samba, o refrãozinho insuportável - e junto com todos eles, a felicidade - acabam.
A cerveja vem junto com alguma mulher bem linda, que aliás é ignorada porque todo mundo só quer beber.
Enfim, esse foi o resultado de minha semana novelística. Fiquei muito decepcionada, adoro chorar em final de novela, e nesse não teve sequer um casamento decente.
Ficam aqui meus sinceros protestos.
Milton! já corrigi! ;-) O mestre manda, a gente obedece. :-)
sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Meleca acordada.
Depois talvez alguém tenha aocmpanhado minha preocupação maternal com a amizade que meus felinos estabeleceriam ou não entre si. Queria que eles se amassem, se acompanhassem, ficassem amiguinhos.
Um só rugia pro outro, e mostrava as garrinhas.
Lulu ficou aflita, pois é da paz enão exigia menos de seus gatinhos.
Aos poucos, queridos leitores, eles foram se aproximando, com muita cautela e cuidado porque aqui nessa casa ninguém facilita com a palavra amor.
Meleca se aproximando so Sushi:

Resposta do Sushi prá Meleca:

Um dá uma corrida no outro, os dois se enxergam, um dá uma lambidinha no cu do outro, e fica por isso mesmo, sem muita intimidade, sem beijo na boca, nem nada.
No entanto, há uma certa cordialidade, principalmente quando o cansaço é tanto e o edredon, um só.
Aí não há espaços para frescuras.
O sono dos justos:

o Sushi tem o dobro do tamanho da Meleca, se espalha inteiro. A melequinha se enrola como uma bolinha, e apóia sua cabecinha no próprio rabo. A Meleca é auto-suficiente, precisa da gente para ligar o computador pois o lugar preferido dela é em cima do monitor , fornecer comida e água - só. De resto, vem quando quer, e gosta que também qu ejoguemos bolinhas de papel pela sala, ela sai correndo, pega e traz de volta. Acha que é cachorro, essa gata.
A melequinha gosta de estar por perto, mas não é dada a exposições públicas de afeto.
Uma lady, essa meleca.
( Para ver a Melequinha empoleirada no monitor da lulu, clique aqui, no post: sobre o ótimo uso do computador)

Já o Sushi se espalha, e é chegado num colo, vai subindo em cima da gente sem pedir licença, e sem a menor preocupação com preliminares ou conquistas.
Um gato viciado em colo, louco, tarado. Basta a gente se sentar em qualquer lugar e lá vem ele, carregando junto consigo seus quase dez quilos. Vem, se acomoda, dá umas tantas voltas ao redor de si mesmo, e se ajusta, entre as pernas, sobre a barriga, nas coxas mesmo.
Aqui ele , entre as pernas da dona. O cara é, basicamente, um folgado.
Queria treiná-lo para ficar andando sobre as costas da gente, fazendo massagem, mas ainda não consegui.
Enfim... a paz reina na casa da lulu. Melequinha e Sushi convivem em harmonia e é divertido ficar na companhia dos dois.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
gente
Eu gosto de gente que que fala aquilo que pensa, que pensa, e sabe ser sincera. Odeio gente falsa.
Gosto de gente que conta histórias, adoro gente que sabe contar uma história e conta as histórias por inteiro. Tem gente que sempre conta as histórias ou fofocas pela metade, ou que você pergunta: e aí? como foi a festa, e responde: foi boa. Eu gosto de gente que conta como foi a festa, quem estava e quem faltou, o quê se comeu e bebeu, se dançaram ou não, como era a casa e tudo o mais que há para contar. Adoro quem conta a história da vida, conta do término do namoro, conta das suas falhas e conquistas, adoro gente com histórias para contar.
Eu gosto de gente que sabe dar carinho e atenção, embora eu mesma às vezes falte e não dê a atenção devida a muita gente que eu gosto.
Eu gosto de gente que sabe ouvir e presta atenção no que a gente diz, não gosto de gente que quer sempre ser o centro de tudo e só sabe falar de si próprio e se desinteressa por tudo que não lhe diz respeito.
Gosto de gente apaixonada, odeio gente entediada com a vida. Gosto de gente apaixonada e pode ser por qualquer coisa: encanamentos, selos, livros, cavalos, sapatos, o que for. Gosto de ouvir gente apaixonada falando de suas paixões, sério. Gosto de quem se dedica a suas paixões.
Gosto de gente generosa, que gosta de, por exemplo, cozinhar para os amigos enquanto conversa.
Gosto de gente que gosta de comer e beber, desconfio muito de gente que não come nem bebe - a não ser que seja por razões médicas.
Gosto de gente que se entrega, que chora e ri sem vergonha. Gosto de gente que se expõe, sem medo do ridículo.
Gosto de gente que sabe apreciar coisas bacanas, e depois comenta: nossa, como foi bacana. Que lembra da gente quando vê ou vive alguma coisa legal e comenta: nossa, vi isso e lembrei de vc, que sabe agradecer e sabe pedir por favor. Odeio gente mal educada. Gosto de gente que sabe brigar, embora eu mesma não saiba direito.
Gosto de gente ética, odeio os espertalhões, odeio quem fura fila ou engana os outros e ainda se orgulha disso, gosto de quem se preocupa com os outros.
Gosto de gente que aprecia diferenças, que é aberto ao novo e tem coragem e curiosidade de experimentar aquilo que não conhece.
Gosto de quem se apaixona, gosto de quem se perde, gosto de quem sabe rir de si próprio. Gosto de gente que tem coragem de expor suas opiniões e sabe ouvir a dos outros.
Gosto de gente torta, louca, falha. Odeio gente perfeita, que geralmente exibe a própria perfeição como um troféu. Assim: nossa... não preenchi o diário de classe. Não? eu preencho tudo, todos os dias, meu diário é perfeito, como é que vc esquece?
Gosto de quem vive uma vida viva.
São poucos, por isso não gosto de todas as gentes mas há por aí muita gente de quem eu gosto, e é suficiente.
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
lulu de dieta
Segunda e terça passei me recuperando. Ginástica, caminhadas, blablabla...
Ontem, estava determinadíssima. Comi cereal integral, leite desnatado e banana no café da manhã, com direito a linhaça e tudo (sei lá o que linhaça faz, mas já me falaram tanto dela que só de tomar uma colher por dia já me sinto vivendo uns cem anos). Tão saudável que estava, fui caminhando ao trabalho e almocei uma salada verde com croutons. Só. Nem uma quichezinha para acompanhar. Era algo assim inacreditável. Bebi água com gás com uma rodela de limão por favor.
Me senti chiquérrima, num lugarzinho bacana almoçando salada verde, Carrie Bradshaw, aqui vou eu. Não é só vc e suas amiguinhas que ficam comendo saladas e pratos de frutas em lugares badalados enquanto bebem bebidas vermelhas.
Aquele prato de salada ( bastante overrated - ou seja, caro - por sinal) havia me colocado na turma.

Ginástica depois do trabalho, aula de dança, e missoshiro e shimeji de janta, nadica de carboidratos, uma coisa assim... manequim 36. Já estava pensando quanto será que um Manolo Blahnik deve custar ...
Fui dormir, com um pouquito de fome, mas fome é para os fracos.

Acordei, um vazio existencial dentro de mim roncava em altos brados: queremos bons tratos! Sim, acordei faminta, uma fome atávica e antiga.
Peguei o maridón e lá fomos nós para a padaria mais próxima. Ele pediu um mamão e suco. Eu ri:
- moço, quero um misto quente.
- No pão integral? ( aquele garçom estava me provocando)
- Não, pão francês, com miolo.
- Queijo branco? ( era uma verdadeira conspiração)
- Presunto e queijo prato, moço, no pão francês, tradicional. E uma média sem leite por favor (sim, média sem leite. Eu sei... outro post).
Jornal na mesa, sol na rua, meu amor ali na minha frente, tudo estava certo enquanto saboreava

Porque essa lulu aqui will never be hungry again.
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
silêncio
Deixo aqui dois links, um que me emocionou muito, da Marta Bellini, sobre leituras:
Lulu, literatura, lendo...
e outro, um relato chiquérrimo da comemoração do aniversário da lulu, ali, no Tablóide da uol. Sim, lulu também é society!:
Na véspera, uma conclusão: a academia ignora os concursos de miss.
( sim, a professora do colégio que cantou em japonês sou eu... hihihi)
Não percam.
sábado, 15 de setembro de 2007
"professora, puta cara loser, esse Dostoiévski ."

"Puta cara loser, esse Dostoiévski, professora!"- falou um aluno. "Sabe... eu acho que eu me identifiquei um pouco com ele... - respondeu outro aluno."
Esse post é continuação dos posts Três tigres tristes
Professora, queremos livros felizes.
Sobre o narrador de Memórias do subsolo, do Dostoiévski, na sala de aula, oitava série:
-Professora, eu ODEIO esse cara, odeio, odeio, odeio. Ele é o maior loser de todos os tempos!
( eu comecei a rir, achei engraçado, e o aluno tem razão: o herói do Memórias do Subsolo é mesmo o maior loser de todos os tempos:

Mas, apesar de tudo, não me trato por uma questão de raiva. Se me dói o fígado, que doa ainda mais."(p.15)
Desempregado aos quarenta anos, por vinte foi um funcionário "maldoso, grosseiro, e encontrava prazer nisso".
"Não consegui chegar a nada, nem mesmo tornar-me mau: nem bom nem canalha nem honrado nem herói nem inseto." (p.17)
Aos quarenta anos, viveu sua vida toda. " Viver além dos quarenta é vulgar, imoral!" Ainda por cima é feio, e nem ao menos tem o consolo da expressão inteligente.
Na primeira parte do livro, dedica-se a falar de si:
"Tenho agora vontade de vos contar, senhores, queirais ouvi-lo ou não, por que não consegui tornar-me sequer um inseto, Vou dizer-vos solenemente que, muitas vezes, quis tornar-me um inseto. Mas nem disso fui digno." (p. 19)
O cara não consegue nem ser um inseto decente. Looooooooooseeeeerrrrrrr. Doeeennnnteeeeee.
O diálogo na sala de aula continuava:
- Puta cara chato, meu! Sério, professora, sabe do que eu acho que esse cara precisava? Precisava ser preso e enrabado por três negões, aí ele ia deixar de frescura.
( risos, são bons, esses meus alunos)
- Sabe quem é esse cara, professora? Você já viu aquele programa, linha direta?
- Já.
- Então, ele é um desses caras que aparecem no linha direta.
- Será? O quê vocês acham, gente?
- Eu acho que não... - falou uma menina, bem tímida mas convicta - porque... sabe? O que é legal nesse cara é que ele tem consciência de como ele é ridículo e patético, ele sabe disso. Ele tem raiva do mundo mas acho que tem raiva principalmente de si. E... sabe? eu acho que eu até me identifiquei em algumas partes do livro... não assim com essa raiva toda que ele tem do mundo, de todo mundo, tal... mas da vergonha que ele sente de si próprio às vezes... da vontade que ele tem de não falar com ninguém e ser grosseiro com todo mundo... De como às vezes ele é superior a todos, e às vezes se sente super inferior.
- Sabe o que eu gostei no livro? - um outro aluno - como ele sempre pensa que deve fazer uma coisa e nunca faz aquilo que pensa que deve fazer. Ele está lá num lugar e pensa: eu preciso dar um soco nesse cara, ou : eu preciso ir embora... mas fica lá, andando de um lado para o outro e não faz nada daquilo que gostaria de fazer, ou que acha que tem que fazer. Eu achei isso muito legal.
- Eu acho que esse livro me ajudou a entender melhor as pessoas...
- Por quê?
- Ah... sei lá... o cara tem coragem de falar um monte de coisa que todo mundo sente um pouquinho mas não tem coragem de confessar, ele vai lá e confessa, sabe?
Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos seus amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio, e, em cada homem honesto, acumula-se um número bastante considerável de coisas no gênero. E acontece até o seguinte: quanto mais honesto é o homem, mais coisas assim ele possui (…)
Agora, quero justamente verificar: é possível ser absolutamente franco, pelo menos consigo mesmo, e não temer a verdade integral?
(p. 52)
Uma menina vira para o outro que disse odiar o cara com todas as forças:
- Você nunca faz uma coisa da qual se arrependeu depois? Ou deixou de fazer por falta de coragem e depois ficou pensando nisso durante dias e dias, e isso virou uma coisa enorme na sua cabeça? Você nunca quis fazer algo e acabou fazendo justamente o contrário? Eu fiquei com um pouco de pena do cara, sabe? mas gostei dele, de uma certa maneira, sei lá.
- Eu não tô gostando do livro porque dá aflição e angústia.
- Eu acho que o cara devia tomar coragem, se matar e deixar a gente em paz.
- Por que alguém vai escrever um livro sobre um cara desses?
Isso que é o mais lindo, gente. Que alguém vá escrever um livro sobre um cara desses. Que alguém vá falar que a razão, o bom senso, a racionalidade não são suficientes para explicar o que é o ser humano. Que o cara, e a gente, tem impulsos auto-destrutivos que todo mundo tem... Que nem sempre a gente age com racionalidade, quem nem sempre dá, e vale a pena, ser um winer na vida. Que tudo isso aliás é meio ridículo, que há o subsolo do humano, e que esse não pode ser negado. Porque todo mundo aqui sabe que a gente tem às vezes prazeres e desejos perversos, ou teve - na infância, sei lá... todo mundo aqui já fez alguma vez alguma coisa muito nada a ver, perigosa ou auto-destrutiva prá caramba, só para flertar com o perigo, para testar limites, sei lá. Pô... Que todo mundo é meio loser mesmo e ainda bem, porque essa figura do cara que sempre consegue tudo aquilo que quer, que sempre faz tudo aquilo que acha que deve fazer, que tá sempre feliz, realizado e se dando bem com todo mundo... Vamos combinar, gente... é um saco. E é falso também... Sabem, esse cara leva ao máximo um lado que todo o mundo tem, vamos chamar de lado loser, para vocês verem o ridículo dessa expressão. Ainda bem que alguém escreveu um romance sobre ele, porque o ser humano não tem controle absoluto sobre si próprio, tem o inconsciente, tem um prazer que a gente sente na dor, tem um monte de coisa... Essa obrigação de ser feliz, de se dar bem em tudo, de conseguir as coisas, é na verdade não só ridícula como muito dura também.
E o pior: ele é um cara que tem a consciência hipertrofiada. Pensou demais, observou demais, refletiu demais. A resposta possível que ele dá para tudo isso, para o ridículo das pessoas que observou, para a hipocrisia do mundo, os bajuladores, etc. é a inércia. Pois para ele não adianta fazer alguma coisa, porque nada do que ele fizer vai mudar ou alterar o estado do mundo e das coisas. Mas isso não impede que ele sinta raiva, muita raiva. O discurso dele é inteiro raivoso, e é bacana um discurso raivoso, o mundo precisa também disso.

Porque na modernidade o mundo não está dado, ele não é harmonioso, não tem um sentido a priori, uma essência que faz com que tudo tenha seu lugar e a vida faça sentido. É a gente que tem que construir o nosso mundo, sabe? Ir juntando as pecinhas partidas, criando nossos sentidos... Para o Lukács, o romance moderno trata justamente dessa construção: o herói do romance moderno tem que construir a si mesmo e ao mundo, criar um sentido para si e para as coisas do mundo. Esse é o grande tema.
O problema é que, para esse autor, essa construção necessariamente está fadada ao fracasso. Porque se o herói se adapta e vence no mundo ele perde algo de si mesmo, da sua verdade. Ele se torna, sei lá, ou um pouco hipócrita, um pouco cínico, sei lá... perde a sua integridade. Isso acontece por exemplo no romance Ilusões Perdidas, do Balzac, que mais tarde vocês deveriam ler. Por outro lado, se o herói mantém sua integridade, ele não cabe no mundo. Aí vira por exemplo um inseto, coitado, como na Metamorfose. Ou mesmo no Apanhador no campo de centeio. O Holden acha todo mundo meio ridículo, meio patético, tem uma consciência e o Holden só se ferra. Tem um amigo meu que inclusive acha que esse romance é reacionário, porque no fundo diz que se você tem essa consciência hipertrofiada e quer ser fiel a si mesmo e aos seus valores, você vai acabar tendo um troço, sendo expulso de todas as escolas, e terminando numa clínica de repouso.

Essa foi a aula de ontem. Quis escrevê-la, sem nenhuma obrigação de amparo teórico nem nada, porque muita gente acompanhou e pensou sobre a questão dos livros tristes na literatura. Essa foi a minha resposta, e sabem? eu acho que , ao final, deu certo e valeu a pena a insanidade de ler Dostoiévski com a oitava. Cerca de 70 por cento da classe gostou, e esse tipo de conversa, esse tipo de reflexão são bem importantes, nunca a classe esteve tão em silêncio e concentrada como ontem. Enfim, eu tenho muitos amigos fiéis a si mesmos, que conseguiram, nesse mundo louco e desigual, encontrar caminhos verdadeiros e que lutam sempre para viverem de acordo com suas verdades e desejos. É possível, a medida que fico mais velha, me sinto cada vez mais livre, e traço minha vida para ser cada vez mais verdadeira, e feliz. Acho que dá sim.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Aviso importante
O Diário da Lulu gostaria de informar que sua dona, Lulu, gosta muito de receber mimos, cartas, presentes, declarações e parabéns e que os mesmos podem ser enviados para o e-mail de lulu:
almluana@gmail.com já que o Diário às vezes fica um pouco sem jeito com excessos. A lulu não fica, nunca, portanto ela libera esse espaço aqui também. Para presentes maiores, champanhes, livros, sapatos e coisas assim, é só pedir o endereço que a minha dona infelizmente é meio facinha e certamente libera seu endereço para corrrespondência.
O Diário da lulu agradece àqueles todos que reviram suas páginas diariamente, ele acha isso tudo muito legal.
Sem mais, grato pela atenção de todos,
O Diário da Lulu.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Um dia roubado
Fico feliz ao acordar sem despertador, não muito tarde mas também não cedo demais, por volta das nove horas, que já não são horas de trabalhador, mas também não são horas boêmias.
Fico feliz ao comer frutas, uma tangerina obscenamente laranja, leite e cereais. Fico feliz com uma xícara de café bem quente e fraco, uma xícara inteira, sem açúcar, tomado aos poucos, enquanto a vida é contemplada. Fico feliz ao voltar para a cama, descabelada como uma doida, ainda de camisola rosa, e ler um livro que me faz esquecer do tempo e querer voltar para casa mais cedo para voltar à leitura. Fico feliz ao marcar as páginas em que chorei com duas lagriminhas, achando isso brega à beça mas fazendo mesmo assim, como aprendi com um amigo. Os gatos vêm para a cama, e o mais gordão sobe na minha barriga, machuca um pouco, mas é legal. Fico feliz ao marcar as páginas em que ri, e ao marcar as partes assombrosas de tão bem escritas e construídas. Fico feliz ao perceber que esqueci do almoço, pois o livro inclusive me fez segurar o xixi por mais de meia hora. Como rabanetes com cenoura. Eu adoro rabanetes com cenoura, o doce da cenoura amansando o rabanete picante. Um dos maiores mistérios da minha adolescência ( infância!) era entender como a mãe de Rapunzel pôde ter arriscado tudo por desejos de rabanetes. Pensava assim: impossível. Desejar bolo de chocolate tudo bem, mas mandar o marido invadir a horta da vizinha má por vontade de rabanetes?? Hoje cresci e, se não arriscaria a minha vida ou de meu marido por um rabanete, tenho pelo tubérculo ( e rabanete é tubérculo? ou tubérculo é só batata? ) bastante consideração, e mesmo afeto. Às vezes sou até tomada por desejo de rabanete, e sempre lembro-me da pobre da Rapunzel e suas longas tranças, enquanto mordo o bichinho. Cortei meus super rabanetes, e minhas super cenouras, orgânicas e portanto saborosas, sal, muito sal, sal à beça, e lá fui eu, ler o último capítulo. Feliz. Fico feliz ao tomar um banho longo, esfoliar minha pele, passar cremes, vestir calcinha e sutien combinando e vir aqui escrever, confessar meu delito de um dia roubado para mim. Fico feliz quando a escrita sai. Depois conto o resto.
Um beijo a todos,
Lu.
ps: o achado do dia roubado é de Alexandre Soares Silva; o nome, pois a idéia já é praticada aqui pela luluzinha faz tempo.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
O Samurai, o Cowboy, Hiro e o dilema e o lugar dos heróis.

O Samurai e o Cowboy:
“Sete homens e um destino” é um belo filme de faroeste, refilmagem do belíssimo “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa.
Ainda gostaria de escrever sobre o samurai e o cowboy, já que os filmes de samurai parecem se adaptar perfeitamente ao farwest americano, bastando apenas mudar a paisagem e os figurinos. Além dessa adaptação, há ainda o magnífico Por um punhado de dólares, filmado por Sergio Leone e totalmente baseado em Yojimbo, também do Kurosawa. As duas versões americanas seguem par e passo os originais japoneses. O roteiro é praticamente o mesmo, as personagens são as mesmas, é incrível como dá certo.
Afinal, o que há em comum entre o samurai e o cowboy?
O que está em questão, especialmente em Os setes samurais é a ética e a vida do herói.
Tanto o samurai como o cowboy são exemplares da figura do herói solitário, seu poder à serviço às vezes de um senhor, às vezes da grana, mas sempre guiados por um código de honra rígido dentro de uma vida que cotidianamente depara-se com a morte.

O agricultor e o guerreiro:
A história do filme Os sete samurais é bastante simples: os camponeses de uma aldeiazinha estão sendo explorados por um bando de homens armados que vive da exploração dos camponeses da região. Todo ano, saqueiam as aldeias. Esse fora um ano difícil, não há arroz suficiente para os camponeses, quem dirá para o bando.
A história começa quando o tal bando chega à aldeia e avisa que passará ali no mês da colheita para buscar todo o arroz. Os camponeses são miseráveis e não poderão sobreviver após esse saque. Ficam entre resignar-se, e entregar todo o fruto do seu trabalho ao bando, ou lutar. Logo deparam-se com sua prórpia impotência, são camponeses, seu ofício é o plantio, entendem de terras e sementes, não de armas e espadas. Não sabem lutar.
Resolvem então contratar samurais que lhe ensinem a combater. Têm muito medo e pouca confiança em si mesmos, mas a solução dá uma esprança aos aldeões. Não têm como pagar os serviços de um samurai, mas vão mesmo assim à cidade à procura de ajuda. Na cidade são ridicularizados pro seus modos caipiras, sua fraqueza e pobreza.
Acabam por comover um grande samurai, que consegue convencer outros cinco a ajudar os camponeses na batalha em troca somente de algum arroz. Um homem bêbado que quer ser samurai - mas não é - acompanha o grupo, e acaba conquistando o direito de pertencer ao grupo por mostrar-se honrado e entender os camponeses.
O grupo de sete homens chega à aldeia, que se esconde cheia de medo. Logo há uma aproximação e grande parte do filme gira em torno da vida dos samurais na aldeia. Eles têm um ou dois meses para preparar todos para a guerra. Treinos e estratégias.

O agricultor e o guerreiro.
Ao agricultor cabe cultivar, plantar-se num espaço, ficar ali por um longo período de tempo, colher os frutos, fazer filhos, uma vida no tempo, longa. Ao guerreiro cabe percorrer espaços, onde houver pagamento, onde for chamado, ele vai, e deve estar preparado a todo instante para a morte honrosa, o samurai não pode temer a morte e vive, sob seu código de conduta e honra, uma vida percorrida através de diferentes espaços, no tempo presente, provavelmente curta.
O samurai não tem uma casa, jamais pode ser agricultor, leva consigo tudo o que precisa e não pode apegar-se a ninguém, é um solitário, quase um pária da sociedade, que vive o tempo presente dentro do caminho do bushidô.
Nesse momento de treino os camponeses têm que aprender a ser guerreiros - perder o medo, ganhar postura, prontidão, aprender o manejo das armas - e os sete samurais vivem uma vida de camponeses - plantam, cuidam das crianças, participam do dia-a-dia da aldeia, criam laços, apaixonam-se.
Surgem muitos conflitos, muitos camponeses ficam achando que seria melhor entregar tudo a arriscar perder a vida. Entre os samurais surge até um desejo de abandonar a vida de samurai, construir uma casa, plantar algo, ter família e a vida passa a ter mais valor.
Finalmente, chega o tempo da batalha.
É na guerra (diante da morte) que os propósitos de cada um são testados e que o sentido da vida de cada um ganha força e significado. Aos samurais cabe o sacrifício da própria vida, não por dinheiro mas pela dignidade e possibilidade de manutenção da aldeia e dos agricultores. Eles também ganham dignidade e morrem como heróis, e como heróis são lembrados. Sobre a montanha que ladeia a aldeia, agora segura, repousam suas sepulturas. Suas espadas são suas lápides.
A canção sobre o herói:

Na excelente série Heroes o grande momento que dá dignidade e força ao Hiro ( perfeita encarnação de um herói) é quando seu amigo Endo lhe diz que ele será lembrado, como são lembrados o Super Man, os guerreiros Jedis de Star Wars, o surfista prateado. Hiro é ele mesmo personagem de história em quadrinhos, relatos de sagas heróicas, e vive sua história para fazer juz à história em quadrinhos em que ele é um herói. Vive-a não para ser cantado, mas porque já foi desenhado.
O dilema do herói:

Ao mesmo tempo que amam e querem viver uma vida normal, têm poderes e junto aos poderes vem uma responsabilidade: viver na normalidade significa abrir mão do uso dos poderes, e aí surgem dilemas éticos. Pois a aldeia precisa do herói, o poder do herói pode salvá-la, e herói deve sacrificar-se. É meio triste, a figura do herói.
Há aqueles que usam seus poderes para ganho próprio, e esses são os vilões, fundamentais também. O herói usa seus poderes para ajudar o outro, para o bem comum; os vilões, para obter poder pessoal. Tisc, tisc, tisc...
No caso dos samurais e dos cowboys, o poder está na detenção da força, do gatilho rápido, da espada mortal. Seus vilões também, sejam índios, seja o bando ameaçador, o inimigo também tem poderes, também sabe manejar armas, são quase tão rápidos no gatilho. Em Heroes o poder é fruto de alguma mutação genética.
Enfim, seja qual for seu poder e história, o herói sempre enfrenta esse dilema: deve estar fora da sociedade para protegê-la.



Casa: nenhuma.
Esposa: nenhuma.
Filhos: nenhum.
Perspectivas: zero.
Lugares ao qual se apega: nenhum.
Pessoas que te seguram: nenhuma.
Homens para os quais você dá passagem: nenhum.
Inimigos: nenhum.
- Nenhum inimigo?
- Vivo, nenhum.
Escreva uma canção sobre nós, é o que podemos pedir.
O destino nobre do herói é esse sacrifício, e com a boa morte eles conquistam o direito de ser cantados.

A questão da soberania e o Estado de Exceção:
Giorgio Agamben é um filósofo italiano que escreve sobre a questão da soberania. Ele diz que a Lei se inaugura na força, isto é, para que a lei seja implantada há que haver um dispositivo de força que será usado contra aqueles que a violarem, todos estão submetidos à força da lei, e é assim que a constituição é implantada, e junto com ela, o Estado moderno. Já falei em outra resenha que os filmes de farwest tematizam essa implantação do Estado Americano no ambiente selvagem, desértico e bárbaro ( a barbárie representada pelos índios) que é o far west. Em Heroes há a questão da salvação do mundo, e por mundo entenda-se Nova York. A fronteira do far west é a fronteira da ausência da lei, e por isso ali o cowboy é necessário, por isso os samurais foram necessários. Ainda bem que no caso dos verdadeiros heróis há um código de honra que os faz agir dentro do caminho do bem.
No caso de Estado Soberano já sabemos que não é sempre assim. O que Agambem fala, que é interessante, é que o o Soberano que impõe a lei está fora dela. Ou seja, o Estado pode decretar a qualquer momento um Estado de Exceção que lhe permitirá infringir todas as leis ( torturar, matar, prender, etc... ) Nesse Estado, a vida dos cidadãos perde significado e valor, e transforma-se no que Agamben chama de “vida nua”, uma vida que pode ser matada sem que isso signifique assassinato. O Soberano está fora das leis da sociedade para poder manter a própria sociedade, e isso significa, para Agamben, que a qualquer momento qualquer vida pode deixar de ser uma vida cidadã ( com direitos, deveres) e se tornar uma vida nua.

Na raiz da própria soberania está a violência e a ameaça do seu uso, o farwest é ( ou pode ser) aqui.
Enfim, a figura do herói e seus belos dilemas sempre existiu.
No homem que matou o facínora esse conflito entre a lei e a força também é tematizado (leia a minha resenha sobre o filme aqui, essa é uma espécie de continuação daquela). Os super heróis têm seus códigos, e na ficção, os do bem costumam vencer.
O perigo é quando o soberano, também ele um fora da lei, toma para si decidir o que é a normalidade e quais os riscos que permitem que ele use seu poder de força sem precisar estar dentro da lei. Os produtores de 24 horas dão palestras e aulas para o exército americano. Não é à toa. Na aldeia, a voz da democracia deve vencer, e todos têm seus direitos e deveres, iguais. Quando o soberano resolve virar herói e sacrificar esses direitos, estamos dentro do campo do fascimo, e não dos heróis bacanas do mundo da ficção.
Quando o Estado e suas leis parecem falhar, surge o sentimento de que precisa-se de heróis, e isso é muito, muito perigoso.
posts relacionados:
As cordas de Ulisses
O homem que matou o facínora
Lobo solitário
O universo, os deuses e um homem.
Sobre Giorgio Agamben, o Idelber escreveu esse post aqui, com ótimos links:
Giorgio Agamben.
sábado, 8 de setembro de 2007
Eu converso, tu conversas...

Schmooze: (Verbo) fofocar, jogar conversa fora, trocar idéias. (Substantivo) conversa, bate-papo.
Regras:
1. Se, e somente SE, você receber o “Thinking Blogger Award” ou “The Power of Schmooze Award”, escreva um post indicando 5 (cinco) blogs que tem esse perfil “schmoozed” ou que tenha te “acolhido” nesta filosofia. (Se não entendeu, leia a explicação no parágrafo anterior de novo).
2. Acrescente um link para o post que te indicou e um para o post do Mike ( esse aqui) , para que as pessoas possam identificar a origem deste meme.
Recebi do Milton Ribeiro, o que desde já me fez vaidosa vaidosíssima, já que o Milton prima não somente pelo bom texto, mas também pelo bom gosto.
Muito obrigada, Milton, você nem sabe como ando me debatendo com essas questões de diálogo em minha vidinha.
E agora, blogs que conversam por aí:
O Biajoni, conversa, toma cerveja, bota as filhas para tocar alguma coisa e, se bobear, ainda se emociona e chora.
Quem já teve um prazer de travar uma conversa com a Clélia Riquinho sabe do que eu tô falando. Seu blog, Achados e Guardados, traduz uma sensibilidade para a vida que passa por canções com as quais ela presenteia os amigos e quem vier. Um diálogo cantado, o da Clélia.
Vidas e imagens. Ok, não é um blog que dialoga com outros blogs, mas faz algo tão extraordinário que eu quis colocá-lo aqui. Em meio à cidade de São Paulo, pára, enxerga as pessoas e as escuta, conversa, quer saber da vida da gente que passa e nem reparamos. Não sei se é diálogo, mas é espaço para o outro, digno, atento.
às vezes os outros são puro inferno, mas muitos ( muitos? hum... ) ainda valem a pena.
Obrigada Milton.
Um beijo,
lu.