quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Três tigres tristes

( continuação acerca do pedido por livros alegres - ler post: professora, queremos livros felizes)

na sala de aula...

Esse negócio de ser professor, professora, pode ser muito legal e também pode ser um inferno.
Quando andei melancólica, semana passada, entrei na classe sem pique, sem pisar firme, um pouco distraída, um pouco desatenta. Sabem o que acontece? as classes crescem, os alunos se multiplicam e vc sai devorada, uma manada passa sobre você que mal se recupera e já tem que entrar na classe seguinte. Os meninos atropelam. A sala de aula demanda cem por cento de atenção e empenho, não dá para estar na frente da lousa pela metade, distraído, sem convicção. Não dá, simplesmente porque se vc piscar, três papéis amassados voam em sua direção, dois meninos começam a brigar, um terceiro a chorar, e outro se distrai tanto que até esquece que tá na sala de aula, uma menina lixa as unhas enquant outro grupinho fofoca. E eu aprendi já a separar a professora da pessoa, e não fico mais em crise de segurança se a aula não dá certo, mas é chato, é claro que é - todo professor é meio vaidoso, de preferência a gente gostaria de ser ouvido, né?

A atenção tem que ser full time, ficamos de pé, tomamos decisões morais e éticas o tempo inteiro. Viro árbitro de coisas sobre as quais nem tenho muita certeza, as aulas têm que ser preparadas, os trabalhos corrigidos com critérios e justiça. Não tem nada de abstrato no trabalho do professor, e a gente vê coisas acontecendo, boas ou ruins. Se enxerga pelos olhos dos alunos, que por sua vez se enxergam através dos nossos olhos.
E como todo bom professor é também ao mesmo tempo bem cabotino e exibido ( no mínimo, gostamos de ouvir nossa própria voz) é legal saber ou achar que fazemos parte da vida das pessoas, eu fico achando que posso até fazer algumas transformaçõezinhas, ajudar, dar segurança, proporcionar descobertas, imprimir alguma marca positiva da minha passagem pela vida deles e delas. Além disso, quando o cansaço não é grande demais, dar aulas é bem divertido, capaz até de alguns momentos serem inclusive tocantes.


ouvir os alunos...


Então, quando os alunos vêm com alguma reclamação, ou demanda, eu ouço. Não tenho paciência para ouvir reclamações de pais ( escuto, mas não ouço) , mas as dos alunos eu ouço. Às vezes são reclamações sem sentido, frutos de malandragem ou uma certa preguiça, fruto de um medo de falhar, de falta de empenho; reclamações pelo mínimo esforço, pedidos de exceções, rever prazos, dar segunda chace, rever a nota, menos lição de casa, a gente sabe e lembra. Essas eu faço o maior esforço para ignorar, vez por outra cedo, mas só tenho a crescer se ceder cada vez menos e me tornar cada vez mais exigente.

Outras vezes os alunos vêm dizer coisas que talvez façam sentido.

Como contei, os alunos da oitava série ( quinze, dezesseis anos) vieram me falar que a literatura que lemos no curso de português é muito deprimente. Que o curso de português é meio deprimente, que é difícil.
Que é muito duro ler um livro triste atrás do outro.
Outros acham simplesmente chato, esse povo que só quer falar de angústia e de como o mundo é ruim.

Um deles falou:


- eu não aguento mais esse negócio de anti-heróis! Por que vc não dá um livro sobre pessoas felizes e bem realizadas e bem resolvidas?

Eu adorei, e na hora respondi:

- Porque pessoas felizes e bem realizadas e em harmonia com o mundo não vão escrever literatura. Para quê? se estão felizes e realizadas e de bem com o mundo?

e falei mais:

- A arte é expressão da vida, gente, do mundo. Vamos combinar que ele não tem sido assim, dos melhores. Os temas da literatura no século XX e mesmo no XIX são mesmo a solidão, a falta de sentido, a crueldade e a violência, o desencontro, a procura do eu, a desigualdade social, as injustiças do mundo, sei lá.
São difíceis os grandes livros solares, iluminados, para cima.

E eu fiquei pensando, pensando, pensando. Fiz enquete com meus amigos e amigas, conversei um monte. Peço a ajuda de vocês. Poucos se lembram de grandes livros alegres.

Continuei pensando.

Talvez coisas que para mim e pros meus amigos faziam sentido na adolescência, um desacordo com o mundo, uma certa procura de si mesmo, uma vontade de superação e mudança, de intensidade, de ir contra a hipocrisia e as injustiças do mundo, de me afundar em crises e tal, talvez não façam mais sentido para essa adolescência.
Talvez não adiante dizer: o mundo é ruim, ninguém ao redor da Macabea prestava mesmo, é assim mesmo. Porque os alunos me perguntam: e daí?
eu sei lá.
Outros falam: eu nem quero saber disso. ué, que diferença vai fazer?
Outros falam: eu não aguento saber disso, é ruim, é uma droga.
Outros, ainda: eu não sei lidar com isso.

Eu, lulu, não sei também.
Leio, me emociono, vou dar aula, escrever, namorar, pensar, escrever, dar mais aulas, viver com ética, me livrar de prisões que me deixam infeliz, escrever, viver com intensidade e verdade.
Minha resposta é essa, a deles não sei qual é.
Não há respostas e isso pode ser uma coisa inclusive bacana dessa geração, não há nenhum caminho pronto, ideológico, político, partidário, o que seja, cada um acaba tendo que achar o seu. E tudo bem, é legal ser feliz, é ótimo, mas é interessante esse negócio de muita negatividade ser meio insurpotável.

E eu fiquei pensando que essa busca da felicidade é bem válida, não é ruim. E que talvez eles sejam a tal geração prozac que não aguenta a dor e tal, mas talvez eles tenham também um pouco de razão.

E fui procurar livros felizes.

Em primeiro lugar uma explicação necessária:
não há uma lista de livros obrigatórios que devem ser dados no fundamental 2 ( ginásio). A gente não sofre nem a pressão do vestibular, então é genial, podemos dar, basicamente, o que quisermos.
A minha opção, construída com total apoio da escola, foi a de oferecer aos alunos uma perspectiva geral dos grandes livros da literatura, para que eles saíssem dali com uma formação cultural e literária sólida, passando por diferentes gêneros, conhecendo autores, percebendo influências, lendo sempre o que há de melhor em cada gênero. Tudo isso está melhor explicado no manifesto pelos direitos dos alunos leitores e não leitores, que escrevi há algum tempo atrás e pode ser lido aqui.

E o curso fica mais ou menos organizado assim:

na quinta eles lêem livros que contam da infância ( geralmente O menino no espelho, do Fernando Sabino) e clássicos de aventuras (As aventuras de Tom Sawyer, A ilha do tesouro, Vinte mil léguas submarinas, Caninos Brancos, sei lá) . Depois lêem livros que criam universos de fantasia ( A história sem fim, por exemplo, ou O Hobbit), e pronto. Discutimos por alto a diferença entre ficção e história, a vida vivida e a vida inventada, vemos a estrutura básica de uma história clássica de aventuras (conflito, enredo, personagens) e trabalhamos descrições, narrativas de aventuras e criação de mundos. Exercitamos a imaginação ( a gente tende a dar pouca importância para a imaginação, mas depois de ler trezentas redações sobre a Jane e o Joe que assaltam bancos e assassinam pessoas com a bazooka xk 307, passa-se a achar que esse é um tema que vale ser explorado).

Na sexta série leio um livro chamado Os amigos ( publicado pela Martins Fontes que aliás talvez seja a editora que tem o melhor acervo nesse sentido, dos chamados livros infanto-juvenis) que trata basicamente de amizade, crescimento, essas coisas. Depois passamos para a fase histórias de detetive, medo, suspense (Agatha Christie, Conan Doyle, Edgar Allan Poe e Maurice Leblanc) . Depois, nesse ano, lerei O fantasma da Canterville, do Oscar Wilde, que parodia histórias de fantasmas.
No final da sexta série eles lêem Capitães da Areia. Aí começamos a discutir a literatura e suas relações com a história e com a sociedade.

Na sétima lemos crônicas, para observar a captura do cotidiano. Depois, lemos o Ítalo Calvino, O Cavaleiro Inexistente ( ou o Visconde partido ao meio) . O Ítalo Calvino é um autor mais solar, uma prosa divertida, que também discute o próprio fazer literário, um livro bacana. Resolvi dar Jane Austen, já na procura por livros de tom mais ameno, mas não sei se vai dar certo, eu adoro, mas os meninos talvez morram de tédio no meio do caminho, não sei - vou contando. E depois eles lêem O Apanhador no Campo de Centeio.

Tenho tido muita vontade de incluir no curso O senhor das moscas, lê-lo com a sexta série, talvez, mas é mais um livro triste e terrível. Lindo de morrer, mas terrível. O médico e o monstro também é bacana, há inúmeros livros bacanas, todos meio soturnos, ou tristes, ou terríveis.
Adoraria trabalhar com ficção científica, mas nunca dá tempo. 1984, ou o Eu robô, do Asimov ou ainda Fahrenheit 451, do Bradbury.

Deveria incluir o gênero teatral no curso, mas não sei lidar direito com a leitura de peças de teatro, me perco um pouco, então fica assim mesmo, sem teatro.

E na oitava série eles lêem poemas ( bastante Fernando Pessoa, e uma passada de olhos cronológica pelos grandes poetas da língua portuguesa) e alguns grandes livros de prosa que eu acho que dá para eles lerem. Olhem uma lista inicial que eu fiz:

Ray Bradbury, Fahrenheit 451.

Graciliano Ramos, Vidas Secas/ São Bernardo.

Luís Fernando Veríssimo, O Jardim do Diabo.

Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas ou Dom Casmurro. Contos.

Clarice Lispector, A hora da estrela.

Melville, Bartleby, o escrivão. (e a edição da Cosac desse livro.... Que tal descosturar um livro em classe, todo mundo junto? )

Gabriel Garcia Marques, Crônica de uma morte anunciada/ Doze contos peregrinos/ Cem anos de solidão....

Camus A peste.

Kafka, A metamorfose

Hemingway, O velho e o mar.

Hoffman, O homem de areia.

( e atenção, alguns livros não fazem parte da escola, têm que ser descobertos e lidos sozinhos: On the road, do Jack Kerouak, por exemplo, é um deles. Literatura erótica também, é claro! Fundação, do Asimov, também, assim como Harry Potter e a trilogia do senhor dos anéis)

O que mais? sempre aceito sugestões e adoro histórias de leituras na escola e fora dela, podem me contar, é um presente que vocês me dão.

O fato é que, por exemplo, da lista acima, os mais alegrinhos são o Verissimo e o Garcia Marquez, saindo da sexta série, o Italo Calvino também entra nesse rol, e talvez o Oscar Wilde (não o do retrato de Dorian Gray! outro livro super, mas sombrio à beça), e a Jane Austen. Os outros, todos, são tristes, duros, difíceis. Falam de um mundo desencontrado, de personagens partidas, coisas assim.

E outro dia a Vivien, minha querida Vivien, me perguntou sobre os meus livros preferidos. Os meus livros preferidos, os grandes mesmo, que para mim alcançam uma dimensão sublime, cósmica, sei lá, aqueles que eu levaria para uma ilha, não são apaziguadores. Ana karenina, Grande sertão, veredas, A hora da estrela, Crime e castigo. Colocaria Reinações de Narizinho aí também, esse apazigua, é bacana.
Talvez o Walt Whitman, com seu Folha de relvas, uma grande grande obra, também sublime, bastante solar, fora do signo de saturno, vivaz.

Outros? poucos, mesmo.

Não sei se a matéria da grande literatura é sempre negativa.
Nem sei também o que é esse tal desse sinal negativo. O mundo não tá mesmo bem, pelo contrário, viver é difícil e é muito perigoso, como já dizia o outro. A literatura, a grande literatura, talvez tenha mesmo que ir contra o mundo, mostrando seu avesso, permitindo espaços para a expressão das desigualdades, angústias, sofrimentos, ironias, passagem do tempo, morte, prisões, solidão, subversões, perigos, paixões, sei lá. A matéria da arte talvez não seja mesmo solar, não sei. Será?

Sei que agora me fizeram pensar.
Não tenho respostas.
Se você souber de alguma, me diga.
E se você tiver alguma opinião sobre o assunto, me diga também.

afinal, literatura deprime?
( para ler rindo)


beijos a todos,

lu.



em tempo, permitam-me colocar aqui o que a querida Meg, lá do metrô rosa mais lindo dessas bandas, escreveu para mim:

Sobre tudo que envolve leitura e literatura:este post, meg-avilhoso ao extremo da minha querida (sim, eu sei que ela é querida de todos mas eu vi primeiro, certo?) Lulu:
“Legal…mas tem história?” . Aliás, às vezes penso que só deveria existir um blog (perdão, guys) que era o blog do Lulu. Leiam o blog todo, inteirinho. E isto é pura verdade. O blog da Lulu é uma referência sobre vários assuntos na blogosfera. Imbatível!


Obrigada, Meg.





Post relacionado:
da dor e outras dificuldades.

11 comentários:

  1. Lulu,
    Fiquei emocionado com as suas revelações e não sei bem o que dizer. Talvez os meninos da oitava tenham realmente razão. Será que só existiriam livros tristes? Acho o máximo você dar-lhes Ray Bradbury, Fahrenheit 451. Fiquei entusiasmado em ver que tem gente que conhece esse grande autor. O conto Homem Tatuado (acho que é esse o título, me encantou nessa fase). Será que O Amor nos Tempos do Cólera não seria mais palatável do que Cem Anos de Solidão? É um livro excelente, do mesmo autor, romântico. Existiria ainda romantismo nessa garotada? Ler Graciliano nessa fase não é fácil. Em casa, fomos proibidos. Meu pai, hoje eu penso que com razão, queria que o lêssemos já adultos. Achava que aproveitaríamos mais. Um dos livros que considero mais importantes é Orgulho e Preconceito. Tem coisas divertidas, suspense, é romântico, discute uma série de valores que podem ser abordados em classe, com a vantagem de não ter nada de triste. Outra dúvida que tenho é se deveríamos ficar presos aos clássicos. Existe muita coisa boa sendo escrita, com temática mais moderna e atual, que poderia atrair a garotada. É claro que correríamos o risco de perder um pouco em qualidade, mas o objetivo maior seria sempre o de criar o hábito da leitura, não é. Pronto, me alonguei demais, desculpe-me.
    Beijo

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  2. Querida Lulu,que já nasceu uber...rs
    Eu me lembro de uma palestra do Ignacio de Loyola Brandao em que ele disse que implicava muito com a ideia de um suposto sofrimento inerente ao escritor: disse que essa imagem masoquista não englobava todo mundo,que ele não se identificava com isso.
    Eu acho que o sofrimento produziu e produz belas obras, mas a alegria ( às vezes até a histeria...rs) podem tb produzir.
    Crônica como Luiz Fernando Veríssimo faz, deliciosamente divertidas, não são boa literatura?

    outro ponto: perfeiiiiita sua análise do trabalho do professor: não dá pra ser meia foda, tem que entrar de corpo e alma ou se é destruido, como vc tão bem explicou.

    ah, caracoles. Eu adoro esse brógui.

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  3. Um livro lúdico é feliz? Um pouco, né? Um pouco bastante!; então toma: O Jogo da Amarelinha, de Cortázar.

    Feliz com história e psicologia? Jane Austen.

    Feliz com algum sexo? Orlando de VW.

    Sacanagem de altíssimo nível com gargalhadas? The Professor of Desire (O Professor do ou de Desejo), de Philip Roth.

    Brasileiro com auto-estima? Tenho que pensar.

    Policial de alto nível? Muriel Spark ou alguns Simenon senza Maigret.

    Ah, esse brog é o máximo mesmo.

    Beijo.

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  4. Escutei essa reclamação de seus alunos como um pedido de um norte. Se o mundo e as pessoas são realmente tão ruins, como sobreviver em meio a isso, como manter-se firme para fazer escolhas, como não tornar-se alguém tão cruel como os personagens, mas como não ser tão miserável como tantos outros. No mundo de hoje e de ontem carecemos de bons modelos, de pensar em como vale a pena viver. Você fala em tomadas de decisões éticas todo o tempo em sala de aula, isso é primordial para eles, aprender a respeitar o outro, a acatar regras, e a lidar com a frustração, hoje você é chamada para decidir, amanhã serão eles, você poderia até a começar a treinar isso com eles, jogue a bola pra eles decidirem. Falando em frustração, quando mais jovem, lidava com minhas frustrações devaneando, criava mundos completamente adversos, onde eu era heroína, a princesa mais linda e podia contar sempre com um príncipe com a cara do Luke Skywalker. Talvez seja também essa válvula de escape que estejam pedindo. Um livro que ouço poucos comentários a respeito, mas que me marcou muito foi Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo, que compôs personagens tão humanos, com seus defeitos e fraquezas, mas que aprenderam e amadureceram arriscando e errando, nas suas decisões. Meu norte de como busco ser como pessoa é Olívia, um personagem, muito vivo pra mim. Bom, acho que é isso! Parabéns pela discussão! Adoro ler e pensar com você essas questões! Um beijo!

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  5. LISAYUME,
    pois é, querida. Acho que sim, que eles estão pedindo mesmo um norte. difícil, né?

    LORD,
    vc tem toda razão. Não leio Graciliano com eles, esse sim é terrível mesmo. Fiquei realmente muito tocada por ter te emocionado.

    MILTON,
    adorei suas sugestões!! Agora, Philip Roth é preciso ser descoberto alone, não? hihihi...

    VIVIEN,
    ando pensando um monte sobre tudo isso. Também não tenho nenhum apreço por essa idéia romântica do artista sofredor, eu heim? Sim, o Veríssimo é interessante. Gosto mesmo é do Jardim do Diabo, já leu? é ótimo.

    um beijo a todos,

    Lu.

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  6. Opa!

    Que bom que você pelo menos considerou ficção científica, e Ray Bradbury é de primeira linha. "Eu robô" com as historinhas curtas, e as amarrações lógicas em torno das tais "leis da robótica" é bem interessante também.

    E tem "O Homem do Castelo Alto" de Phillip K. Dick, no terreno aí do universo imaginado, nesse caso o final da década de 60 num mundo onde o Eixo ganhou a segunda guerra mundial ...

    Ah, bom ficava horas aqui puxando brasa pra essa sardinha. A sua seleção é ótima.

    --saff

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  7. Lulu,

    cheguei aqui andando, vagando pelos blogs.
    Adorei seu Blog. Li todos estes livros há duas décadas.... com 52 anos me debato, bato com política...a gente fica amarga...
    Marta Bellini

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  8. Lulu,

    Estive pensando nas mesmas questões, só que no terreno do cinema. Sempre ouço reclamações aqui em casa na hora que trago filmes. Sendo um cara bem humorado, minha namorada sempre implica por trazer só dramas ou clássicos pra casa. Resolvi esta semana mudar um pouco. Só peguei filmes atuais (ação, suspense, terror e comédia). O horror, o horror como diria aquele outro. Sinceramente não dá. O cinema é sombrio. Abs.

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  9. O polêmico e, às vezes (leia-se quase sempre), disparatado Diogo Mainardi escreveu um dos melhores textos que li sobre literatura na escola: Os clássicos no chinelo. Ele acusa as escolas de entregar aos adolescentes cheios de espinhas os grandes livros antes do tempo e conseguir fazer com que eles odeiem literatura. E tem razão. Eu sempre comento isso com meus alunos. E por isso e por causa da idade deles eu escolho livros felizes para ler em sala. E falo dos porquês de ler um clássico.
    A coisa é meio assim: seduzo pela delícia, depois mostro os dramas do mundo. Emociono, faço chorar ou arrepiar. Porque ler é um ato HUMANO. Demasiadamente humano. Como o Lord falou, alguns clássicos são para ser lidos na fase adulta, os pais dele tinham razão.
    Os adolescentes geralmente são felizes e eu comecei a ensinar cedo (com 17 anos) e percebi esta angústia deles há 15 anos, porque era a minha também. Eu, simplesmente, odiava a Clarice e todos os seus problemas de mulher de 40. Achava-a mal amada. Torcia o nariz. As mensagemns de esperança eram muito mais interessantes , como Pollyana, O menino do dedo verde ou mesmo o amor triste, mas lindo de morrer do Portuga e de Zezé em Meu pé de laranja-lima. Sabe que eu não fui do tempo do Vicente Celestino, não o ouvira jamais, não conhecia sua voz, sua obra, mas , muitos anos depois, estava no interior da Bahia e ouvi uma radiola cantando numa casa e, imediatamente, eu soube que era o Vicente? E amei aquela música toda porque eu já a amava há muito pelas letras de Vasconcelos e pelos ouvidos de Zezé.
    Um grande (grande em todos os sentidos) livro feliz é O sítio do pica-pau amarelo.
    Sempre fui a Emília - até hoje - que faz-de-conta que quando as coisas não são exatamente como eu quero. Eu posso!

    Escolho contos felizes. De amor, de amizade, de esperança, de beleza, de aventura, de mistério. Polissêmicos. Trato do superficial e depois entro nas entrelinhas com eles. Geralmente, eles se entusiasmam. E as provas sempre têm que ser com textos lindos de morrer, tipo Menino de ilha de Vinícius.

    Acabei de derreter todinha ontem ao ler O conto da ilha desconhecida de Saramago. E é um conto muito lindo. E meus alunos todos, cerca de uns 200, vão ler também.

    Adoro Felicidade Clandestina na sala de aula. Do 'bulling' ou da crueldade ao amante...
    A biblioteca verde de Drummond é um sonho de poema e de amor prla leitura.
    A ilha perdida é uma aventura deliciosa para esta idade. Dois amigos e um chato é uma coisa de maravilha de Stanislaw ponte Preta. Trabalho Ziraldo em qualquer série, até na faculdade, e Ziraldo é um maluquinho feliz.
    Os adolescentes daqui amaram Crônica de uma namorada de Zélia Gattai. Isso ninguém me tira é uma livrinho legal para começar a gostar de ler. Dandara de Janaína Amado é de um erotismo picante para a 8a . Dias Gomes é sensacional em O pagador de Promessas. Adoro os autos de Gil Vicente na sala também. Cinco minutos é levinho... de Alencar. Calvino é fenomenal.

    Quando eu era adolescente, li a coleção da ática inteirinha e Monteiro Lobato também.

    O nosso amor pelos livros acaba contagiando os alunos, mas realmente, crianças e adolescentes não merecem ainda ser moídos pelas mazelas humanas que algumas obras tratam com propriedade indiscutível para nós, adultos. Deixa que o tempo deles da desilusão chegará. Eles ainda querem ser felizes para sempre. Ainda bem. E, se lerem os livros certos, poderão, quando a vida os massacrar, fechar os olhinhos e apertá-los bastante, fazendo de conta que... ainda vale a pena viver.

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  10. Alena,
    puxa.. só posso agradecer.

    muito obrigada, que legal!

    Lu.

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  11. Ah, Fanny and Zooey, do Salinger - acho que eu gostaria de ter lido esse livro na oitava série. O Encontro Marcado, do Sabinão, é solar.
    O Rubem Alves fala umas coisas interessantes sobre essas coisas ("ostra feliz não produz pérola"). Tem um vídeo dele aqui que acho interessante (mas é longo) http://video.google.com/videoplay?docid=-2610779317463747471&q=sempre+um+papo

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