quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Virginia. Berlim. Uma experiência.

Diminua as luzes, chame os gatos para perto, um copo, sirva-se de uísque com gelo, coloque o CD, sente-se no sofá. Virgínia. Berlim, uma experiência o novo livro do Luiz Biajoni acabou de chegar pelo correio. Pés descalços, jeans e camiseta. Duas horas livres, e assim a tarde passa.

Um livro curto, 44 páginas para serem lidas de uma vez, um livro precioso.

Narrado na primeira pessoa, um homem, calado, tímido, que trabalha no escritório e evita os happy hours com a turma de lá, os papos sobre a contabilidade e coisas assim. Um homem que nunca havia reparado em Virginia. “E tinha essa garota, chamava Virgínia. Para mim, era como as outras: uma escrituária sem sal. Nem bonita eu a achava. Uma loira pálida, peitos pequenos, bunda caída. Era jovem e tinha um certo frescor, umas sobrancelhas bonitas e arqueadas, inquisidoras. Mas, no geral, era ninguém.”

Pois bem, Virgínia irá virar de ponta cabeça a vida do rapaz. Como toda boa mulher faz, especialmente nos romances noir. Sim, Virginia. Berlim é um romance noir. Um mistério, um corte profundo na solá do pé, que deixa o nosso narrador preso em seu apê por 10 dias.

E faz calor. A pia do banheiro quebra. Ele mal pode andar. Virginia o visita, o beijo molhado de Virginia. Seu pé dói. Não pode beber.

Ouve música, fuma cigarros, pensa em Virgínia, tenta cozinhar, ler, ver tevê.

Outro dia saí com um grupo de amigos homens. Todos apaixonados, meio desorientados, ficaram contando histórias das mulheres que passaram por suas vidas e a de seus amigos. Histórias de paixões destruidoras, as lembranças, histórias de amores perdidos e idos. Era meio intrusa ali na turma, uma saída de trabalho, os amigos se encontraram, fiquei ouvindo. E como é bonita a paixão masculina. A entrega dos meninos, que ficam desorientados, se machucam, se entregam, bobos diante dos corpos e dos jeitos das mulheres. Em meio a isso, a amizade incondicional e livre que só os meninos parecem saber ter. Em meio ao porre, os abraços e declarações. Os meninos, quando bebem muito e estão entre super amigos, em certo momento entram no clima “amor”: os caras se olham e se abraçam como machos e dizem assim: “eu te amo cara! Vc é meu amigão!! Seu filho da puta!” É lindo.

Virgínia. Berlim conta a história de um homem assim. Um cara quieto, que não sabe, ou acha que não sabe, entreter uma mulher, contar histórias engraçadas, essas coisas. Um cara que se acha chato. “Sou sozinho. E calado. Minhas garotas passaram pela minha vida e me deixaram por eu ser soturno – uma me disse; as outras, deduzi.” Mora sozinho, procura fazer sua comida, meio sem grana, apaixonado por música, músicas tristes, aquele rock and roll melancólico, Nick Cave, Lou Reed, Blues... O cara que quer conversar só sobre música e livros, não vai à praia, não tem saco para sair para dançar, não tem a tal da vida ativa que as mulheres parecem querer. O cedê que acompanha o romance é todo com músicas tristes e lindas, por isso a meia luz, o uísque... um romance para se ler só, bem junto ao protagonista.

E não há situação mais vulnerável e ao mesmo tempo claustrofóbica que a desse cara. A dor no pé perpassa todo o romance. O tiozinho da farmácia vira o seu melhor amigo, vem todos os dias, trocar o curativo e contar as histórias de amor e abandono da vizinhança. Outro amigo aparece também, companhia. Nada de ligar para a família, a irmã viria correndo, invadiriam todos os espaços, viriam as reprimendas, “por que você não volta para a faculdade?”, não.

E Virgínia, a dor no pé, a dificuldade de pisar, tomar banho, fazer compras, qualquer coisa fica difícil quando não se pode pisar no chão nem fazer muitos movimentos. O apartamento é o único espaço do romance. Pedir ajuda para os vizinhos. O corte abre, o pé sangra, a pia estoura, a casa fica coberta de água. E as visitas de Virgínia – o namorado médico de Virgínia está fora - Virginia não lhe sai mais da cabeça, o pé dói sem trégua. Antibióticos, dez dias sem beber. O cheiro de Virginia espalhado pela casa. O mistério que é Virginia.

Quem é Virginia? Não sabemos, não interessa. Uma mulher de romance noir, sem história, sem passado e sem futuro, que beija demoradamente e desorienta o rapaz. “Eu era o seu alvo”. Interessa a história que o narrador inventa para Virginia, interessa saber quando ela aparecerá de novo. A espera. Nada pior que a espera em um dia vazio. Ele a chama para conversarem, transam, Virginia não quer conversar. “Temos futuro?”

A espera. A incógnita.

O romance é quase minimalista, pois todos os dados são esses e tudo oque sabemos é o que se passa pela cabeça do protagonista. Não há encontros fortuitos, não há o menor domínio da situação, nem do que acontece dentro nem do que acontece fora do apê. O único elemento que pode trazer surpresa é Virginia, não há nada que o narrador possa fazer, não há saída nem controle. O cara tá ferrado. O cara se apaixona. E com esses poucos elementos, o fazer a barba, mijar, cozinhar, o pão, a vontade de beber, o cigarro tragado, o filme da tevê, os tempos, os minutos, as notícias de fora ganham uma dimensão enorme, o que dá uma beleza ao livro que perscruta os detalhes da vida e pensamentos de um homem comum, apaixonado, preso.

Virginia. Berlim.

Aumentem o som, e leiam o livro. O livro pode ser comprado aqui!!

“Here´s looking at you, kid.”

– um brinde a la Humphrey Bogart – e seu maravilhoso personagem solitário, necessariamente solitário, charmoso e triste - pro grande Bia, e seu romance noir.



ps. os problemas de conexão continuam, parece que é algo a ver com o speedy. Raios. Acabei publicando a resenha sem conseguir lê-la , desculpem-me pelos erros todos...

4 comentários:

  1. Oi. vou procurar ler o livro...onde encontro? qualquer livraria?

    Outra coisa, quando tiver um tempinho, passa no meu cantinho? tem algo sobre a Kelly O. e porque ela é linda...rsrs

    Beijo

    Miranda

    ResponderExcluir
  2. Excelente a sua resenha. Virgínia Berlim é tudo isso e, com o CD, um clima melancólico indescritível. Lindo!

    ResponderExcluir
  3. eu adorei o livro, muito mesmo. é bem desse jeito que você escreveu. todo mundo tinha que conhecer virginia.berlim. bjs

    ResponderExcluir
  4. Luana,
    não lí ainda o Biajoni, a grana não deu. Mas esse mês talvez dê.
    Estou lutando par conseguir publicar o meu.
    Hey, vc anda sumida, né?
    Um beijo

    ResponderExcluir