sábado, 4 de agosto de 2007

leituras de férias

Então as férias acabam. Acontece. Duas vezes por ano.


e nas férias, li.
escrevi menos que o programado, mas li um tanto. As leituras mais esdrúxulas e desconexas, sem método e sem lógica, li porque sim. É engraçado verificar os caminhos dos livros. Vamos a ele, tentarei retraçá-lo.

No começo das férias estava naquele mood Ulysses do James Joyce.
Grande confissão do ano: ainda não foi dessa vez. Talvez ano que vem, talvez vire até um ritual, todo ano tento, algum ano desses consigo. Talvez deva tentar em português. E aí fui à livraria. Oitenta reais.
Voltei, as mãos vazias, fui visitar a minha velha e boa estante.

Resolvi ler o Ligações Perigosas, para ver como se construía um romance epistolar ( tão lindo o nome desse gênero!!) e também interessada na sacanagem. E os filmes... Os filmes, porque além do do Stephen Frears, com os excelentes Glenn Close, John Malkovich e a Michelle Pfeiffer, há uma outra adaptação para o cinema que é boa também. Uma adaptação bem teenager, com cara de MTV, e beeemm legal. Pois bem, li o livro com os filmes na cabeça e talvez por isso não me empolguei muito. Foi daquelas leituras que ocorrem meio forçadas, pois deixar os livros pela metade me parece bem ruim.


Depois, ainda no clima "olê olê", como dizia meu pai, peguei para ler O Amante, da Marguerite Duras. Bonito, o livro. Um tom memorialístico, onde a autora pretende buscar, em seu rosto de quinze anos, os traços que hoje habitam seu rosto de mulher madura. E retraça sua sensualidade e iniciação sexual com um amante mais velho, em Saigon. Há no livro um clima sensual melancólico, bacana, a leitura.






Aí em meio ao trânsito insano dessa cidade lembrei do Cortázar entrei numa fase Cortázar. Eu adoro os contos do Cortázar. Para mim ele é um dos grandes, dos maiores contistas desse mundo, e o coloco ali bem ali ao lado inclusive do Tchekhov. Reli meus contos preferidos de Alguém que anda por aí, De todos os fogos, o fogo, e li primeira vez Histórias de Cronópios e Famas. Sou um cronópio e nunca ninguém me descreveu tão bem na vida.



El canto de los Cronopios


Cuando los cronopios cantan sus canciones preferidas, se entusiasman de tal manera que con frecuencia se dejan atropellar por camiones y ciclistas, se caen por la ventana, y pierden lo que llevaban en los bolsillos y hasta la cuenta de los días.
Cuando un cronopio canta, las esperanzas y los famas acuden a escucharlo aunque no comprenden mucho su arrebato y en general se muestran algo escandalizados. En medio del corro el cronopio levanta sus bracitos como si sostuviera el sol, como si el cielo fuera una bandeja y el sol la cabeza del Bautista, de modo que la canción del cronopio es Salomé desnuda danzando para los famas y las esperanzas que están ahí boquiabiertos y preguntándose si el señor cura, si las conveniencias. Pero como en el fondo son buenos (los famas son buenos y las esperanzas bobas), acaban aplaudiendo al cronopio, que se recobra sobresaltado, mira en torno y se pone también a aplaudir, pobrecito.







Então, também, como ninguém é de ferro e para tornar também mais praticável ainda o clima olê olê fui ler o As Mulheres Francesas não engordam.
Sim, não há título mais prepotente, mas o livro, olha só, é escrito pela diretora num sei o quê da Veuve Cliquot. A mulher janta ou almoça fora 300 vezes por ano, sempre refeições completas, entrada , prato principal e sobremesa, ( no mínimo) e vinho ou champanhe. E não engorda. Sim, também quero, a mulher é minha ídola.

Ela promete que se vc comprar um quilo de alho poró, cozinhar, comer com azeite e sal e pimenta e ficar bebendo a água do treco, por dois dias, lá se vão dois quilos.
A tonta aqui foi tentar.
O alho poró estragou na geladeira. E olha que eu adoro alho poró.
Mas fora isso o livro tem dicas interessantes, a mais legal delas é a teoria da mulher de que as mulheres francesas não engordam porque comem sem culpa e com prazer e fazem da refeição uma obra de arte e do bem viver. Sentam-se para comer, cada refeição deve durar pelo menos meia hora, sempre há saladas e frutas da estação ou algo assim, sim, vinho, toalha de linho e pratos de porcelana. Enfim, curte-se a comida. Nada de comer de pé, andando, sanduíches, comidas em embalagens plásticas nada disso.
Adorei. Mas se deixar eu comer assim, todos os dias, engordo prá burro, mas enfim...


Aí fui para Belém do Pará.


No aeroporto, comprei três livros prá viagem, porque fico aflita só da perspectiva de viajar e acabarem as leituras. Um amigo havia falado de O Encontro Marcado, do Fernando Sabino, que eu não conhecia, havia lido o que o Polzonoff falara sobre o livro, e esse amigo falou assim que eu TINHA que ler, porque dava aulas para adolescentes e o livro marcava a adolescência e tal. lá fui eu. É bacana , o livro. Bem bacana. Nenhuma obra prima e não sei se pega para os adolescentes de hoje, um tanto culto demais talvez, com referências demais, mas uma leitura gostosa perfeito para aeroportos e coisas assim. E também diz respeito a todo mundo que um dia quis ser escritor, teve bons amigos na adolescência, fez promessas e não as realizou, se sentiu desperdiçado e desperdiçando a vida, caiu, tentou de novo.

No aeroporto resolvi comprar também algum livro de um autor novo brasileiro, e escolhi o que estava mais barato, O Segundo Tempo, do Michel Laub, editado pela Companhia das Letras. Li. Tem uma construção interessante, que mescla o tempo de uma partida de futebol com acontecimentos definidores da vida de um garoto de quinze anos. Comprei também um livro desses de bolso, de um desses autores libertinos franceses do século XVII, chamado O sofá que me pareceu interessante, pois o narrador é um sofá que vê de tudo nessa vida. Não li, comecei a ler e achei chato, larguei e afinal de contas, estava em belém. Na viagem de volta, peguei para ler O plano infinito da Isabel Allende. Tenho uma teoria de que há um tipo de literatura específica para ser lida em aviões. Uma das regras é que não pode ser assim muuuito boa. Outra, que tem que ter enredo. Livros policiais, por exemplo são ótimos. esse da Isabel Allende se encaixa nessa categoria, não de policiais, mas é um livro bom pro avião.

Aí de volta, véspera das voltas às aulas, saí com uma amiga e tomamos todas. Fazia tempo que não bebia assim à sério, já que ando na fase mulheres lulus não engordam.
No dia seguinte, uma das maiores ressacas do universo. Aí fui aqui pra baixo de casa, entrei no sebo e comprei O diabo veste prada. Tipo do livro perfeito para ressaca. Enredo, ciúmes, glamour, roupas, bobeiras. Uma delícia. E foi, passei o dia na cama lendo, deu direitinho, durou omesmo tempo que a ressaca.






Sim, li também os livro do Alex sobre cuba e o do Biajoni, Virginia Berlim , os dois excelentes.
acho que foi isso.
férias é bom assim, leituras sem compromisso, disparatadas, livros bons e livros ruins.
agora, volta às aulas.

8 comentários:

  1. Lulu,
    Apenas para falar sobre os cronopios e o texto que você postou. Cortázar escreve (escrevia) bem demais. É menos festejado do que deveria.
    Grande beijo

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  2. Tu viu que eu postei o mesmo conto no meu blog, né?

    E que eu sou filha de um cruzamento cronópio-fama?

    E que eu sou um cronópio estudando junto com famas?

    No mais, excelentes leituras. Deliciosa explicação.

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  3. Sou fama, fui definida assim por um antigo namorado que se considerava um cronópio, é claro. Naquela época era um horror, eu recebia como um xingamento, e me aborrecia, me enfraquecia pensar que eu era fama. Nós constumávamos viajar bastante juntos, eram grandes aventuras automobilísticas: eu dirigia melhor do que ele, prestava mais atenção ao volante, mais cuidadosa com o velocímetro, a sinalização, afinal, eu era fama. Ele ia lendo o Cortázar no banco do passageiro, ou o Sallinger, dependendo da época da viagem. Ele sempre estava totalmente atrasado para nossas escapadas, eu preparava as malas na véspera, punha o despertador para sair bem cedo antes do trânsito, mas eu era fama, e não adiantava., mas o cronópio que era livre, leve e solto, mandava em tudo, não acordava cedo, não arrumava mala, aliás, não levava mala, e chegávamos sempre tarde, perdíamos um dia do paseio porque este era lema dele: "nada o abala, viaja não leva mala". Foram anos e anos assim, carregando o guarda chuva no porta malas, porque de repente poderia ter uma tempestade na praia, e nós não teríamos como nos proteger... pois eu era fama e não pegava nunca resfriado, e ele hipocondríaco, vivia com síndrome de pânico, insônia e desmaios de ansiedade fazendo tratamentos macrobióticos que não acabavam nunca. Um dia acabou, demorou prá caramba mas consegui me livrar daquele maldito cronópio dentro de mim, e a fama acabou sendo mais feliz, descobriu que tinha também seu lado cronópio, que era preguiçosa, e sabia perder a noção do tempo quando não tinha um mais o cronópio polícia prá dizer "o tempo não existe, quem vai embora não embolora!".

    E prá terminar, as mulheres francesas não engordam por causa da bile ácida... são tão chatas, tão secas por dentro que a gordura não quer ficar nelas. Vejam os filmes que estão por aí em cartaz. Coitadas! Imagine se a Nigella escreveria um livro desses.

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  4. Tenho uma versão do Houaiss sobrando lá em casa. Queres que eu te mande? Obs.: perdi teu endereço!

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  5. OK, Lulu, vamos por partes:

    1. Acho que Ulysses está para você como Crime e Castigo está para mim. Mas anotei a sua dica e estou esperando o caixa equilibrar pra comprar a edição com aquela tradução que foi premiada.

    2. Também gostei do termo Epistolar. Bem fálico ele, não é?

    3. Sobre o Ligações perigosas, gosto muito mais do filme do Stephen Frears do que aquele outro, meio adolescente (Segundas intenções). Se bem que descobri muito talento na atriz Reese Whiterspoon em Johnny e June.

    4. Estou enrolando pra ler Cortazar, indeciso entre ler Rayuela na versão original ou traduzido (O Jogo da amarelinha). tenho as duas versões mas não sei se meu espanhol basta para isto.

    5. O livro da Francesa eu dei de presente pra Clélia, pois gostei da proposta da autora. Comer bem, do bom e do melhor e não engordar. Bastando comer com calma, como se cada refeição fosse um evento. Faço isso há mais de 40 anos e você viu o resultado. Não dá certo. Mas o livro é bem gostoso de ler.

    6. Não vejo graça em alho poró. A Clélia adora.

    7. Li "O encontro marcado" quando era adolescente (ou muito jovem). Lembro-me que, na época, gostei muito. Pegava um adolescente daquela época.

    8. Não comprei o Virgínia Berlin do Biajoni. Na verdade, ainda preciso ler o Sexo Anal que eu baixei da Internet, no blog dele.

    De fato, o melhor das férias é poder ler compulsivamente.

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  6. adoro livros também. não li esse do cortazár. e amei o amante. é belíssimo. gosto muito do filme também. beijos, pedrita

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  7. Lord,
    sim Cortazar é o máximo, um contista dos grandes.

    Eva,
    aquele seu texto tá emocionante.

    Milton,
    quero!!! ( te mando o endereço por e-mail!)

    Arnaldo!!
    amei seu comentário, seus comentários! :) obrigada.

    Fabíola,
    argh!!!

    Pedrita,
    um beijo em vc. volte sempre.

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