Ontem, na aula de literatura, houve uma espécie de levante. Interessante, o levante.
Reclamaram que a gente lê livros tristes demais e que tudo que a gente lê mostra que o mundo é uma merda, que as pessoas são angustiadas, infelizes, tal.
As três últimas leituras foram; O apanhador no campo de centeio, A hora da estrela, e agora, o Memórias do subsolo ( ver post anterior ) . Dostoiévski foi idéia deles, mas é claro que eles esqueceram. Essa classe também leu Kafka, A metamorfose, leu Hamlet. Lemos Fernando Pessoa e poemas em geral, Manuel Bandeira, Drummond, Murilo Mendes... fiz uma seleção.
Na aula, houve uma espécie de desabafo que foi muito muito interessante:
falaram que os livros que a gente lê em geral dão uma visão muito negativa do mundo e que não apresentam saída. Que falam que o mundo é uma merda e as pessoas imbecis.
Que a gente leu o Apanhador e todo mundo é hipócrita, horrível e o Holden ainda termina num hospital doente.
Que na Hora da estrela, quando a Macabéa tem seu único instante de felicidade na vida, logo depois de consultar a cigana que diz que ela será feliz, ela é atropelada e fica jogada no asfalto, que no livro inteiro ninguém, ninguém presta.
E que é muito difícil ler livros assim.
( uma aluna ficou com lágrimas nos olhos, juro, falou que não há tempo para elaborar, que é um em seguida do outro e que a cada um, ela muda a visão de mundo dela, passa a enxergar as coisas de outro jeito e que tá achando tudo isso uma droga. )
Que o curso de português acaba sendo muito difícil, porque eles escrevem, e lêem, e se expõem e sentem, e é tudo muito triste.
Que eles querem livros alegres.
e felizes.
que não aguentam mais ler livros que dizem que o mundo é ruim e difícil.
(continua... )
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