quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O futon, a tevê e o amigo.


Na mudança toda de vida, minha nova casa está com um quarto praticamente vazio.

O quê fazer com um quarto vazio?

Ora... foi a pronta resposta da lulu: uma super sala de tevê e hóspedes, ué! Chiquérrimo, hiper luluzístico, quero a casa sempre cheia, coisa e tal...

Já tinha a tevê, levei-a para o quartinho vazio, coloquei um edredon, e fiz o teste: ficava bacana. Vi que era bom. Improvisei até uma cortina, e boa.

Como sou uma mulher moderna e de bom gosto, logo decidi que, ao invés de um sofá cama horroroso, compraria um futon elegante. Já fiquei hooras imaginando o novo ambiente da casa:



em tempo teria também a jacuzzi e a varanda.

Fui em lojas, pesquisei preços, me assustei um pouco mas era possível dividir, em quantas vezes fossem, sei lá o quê.

Voltei toda contente para casa, e fui contar as novidades para o Alex, via MSN. O Alex, ente outras coisas, está funcionando como meu personal money advisor ( uia! ficou chique isso!) , pois ele já foi muito rico e ficou pobre, e entende tudo de readaptação e organização financeira.

Meu ex ganhava o dobro de mim, e vivíamos os dois com os salários dos dois, e todo mês eu entrava ( muito ) no negativo. Ou seja, mesmo com o orçamento três vezes maior, entrava no negativo. Ok, eram duas pessoas, mas isso não faz taaanta diferença assim, o tipo de vida que levava ia muito além das minhas reais possibilidades financeiras, e a casa que a gente sustentava era essa mesma onde estou agora.

Agora, faz parte do meu processo de crescimento viver com aquilo que eu ganho, e só, e pronto. Recebo uma ajuda dos meus pais para gastos médicos e coisas assim ( eles me ajudam muito) , mas o dia-a-dia terá que ser inteiramente sustentado pelo salário de professora da lulu, e repensado, e mudado.


Meu salário dá para o dia-a-dia, não dá para comprar cedê, devedê, roupas, sapatos, etc. Não dá para jantar fora toda semana, talvez não dê nem para jantar fora. Não dá pra nenhum luxo, mas dá pra ter um dia-a-dia confortável e bacana.

Isso também tem a ver com uma escolha de vida que eu fiz e venho fazendo desde que me conheço por gente: ter uma vida fundamentalmente prazerosa.
Sempre quis trabalhar com algo que realmente gostasse, algo que até desse significado para a existência, que achasse importante e significativo. Nunca me vi num emprego onde estivesse fundamentalmente e unicamente para ganhar dinheiro. Trabalho é sempre chato, e se não precisasse ganhar dinheiro não trabalharia, mas pelo menos, então que faça algo que ache bacana. E eu realmente adoro o que eu faço.
Isso para mim significou a escolha de um trabalho que não dá dinheiro. Nunca me arrependi nem repensei essa escolha.
Outra coisa: não trabalho dois períodos, como quase todo professor faz. Trabalho somente um período (todas as tardes) e por isso tenho tempo para escrever aqui, preparar aulas, corrigir os trabalhos dos alunos e fazer pesquisa acadêmica. Ajuda bastante o fato de eu não ter filhos, é claro. Essa escolha é uma escolha bastante luxuosa.
Trabalho bastante, mas não levo uma vida de exaustão e estress, voltada somente para o trabalho. Fiz isso algum tempo, já dei mais de trinta aulas semanais, trabalhando manhãs e tardes. Não fazia mais nada na vida. Nada. Nem pensar eu pensava. Nunca ganhei tão bem, nunca fui tão infeliz.

Ter tempo para ler, escrever, dançar, andar pela cidade, cozinhar, etc. é mais importante e muito mais valioso do que devedês, cedês, sapatos, carro do ano, casa na praia, celular não sei o quê, jantares não sei onde. Trata-se de uma escolha de vida.

Trabalho no que gosto, e trabalho somente o suficiente para sustentar um dia-a-dia simples.

Escolhi trabalhar de maneira que possa ter tempo livre para minhas produções, para o estudo, para a reflexão, para a arte e para a vida. Escolhi ser meio pobre mesmo.

Aí, o Alex, que também fez essa escolha, como aliás muitos amigos meus fizeram, me lembrou de tudo isso, enquanto eu falava dos incríveis futons que havia visto.

Ele falou uma coisa muito simples: lulu... vc não tem dinheiro para comprar esse futon... Você não pode querer os dois mundos. Ou vive conforme suas escolhas, ou muda de emprego, de vida.
mas, alex... é tão bonitinho... eles fazem em mil vezes, no cartão...
lulu, a regra número um de organização financeira é não parcelar nada. Se vc quer tanto o futon, vc economiza um dinheiro durante algum tempo, vai lá e compra a vista. Não parcela. É isso que quebra a gente.
Mas Alex... eu nunca vou conseguir economizar esse dinheiro todo...
Então vc não pode comprar o futon.
Mas Alex! e minha sala de tevê?
Lulu... vc precisa mesmo de uma sala de tevê?


Pausa.




Seria muito legal ter uma sala de tevê, assim como seria muito legal ter uma tevê de plasma , assim como seria muito legal um monte de coisa. Ninguém discute isso lulu. Mas a pergunta que vc tem que se fazer, nesse momento da sua vida, é: vc precisa mesmo disso?
Isso, lulu, de sair comprando tudo o que a gente acha legal ter, é coisa de rico. Pobre quebra, se viver assim. Sala de tevê com futon é coisa de rico também. Acorda lulu!



Levei a tevê para o meu quarto, passei a assistir tevê na cama.



Alguns dias depois, aluguei uma série na locadora. Grey´s anatomy. terceira temporada. Inacreditavelmente chata. Chata, chata, chata. Passei um dia inteiro vendo aquela porcaria, um capítulo atrás do outro. Ao final do dia, estava deprimida.
Nos meses em que passei na casa do meu pai, fiquei sem ver tevê. Quase três meses. Sabem o que aconteceu? Li muito.
Eu adoro tevê, mas associo tevê com depressão. Sempre penso que ao invés de ver tevê, poderia estar lendo um livro, indo ao cinema, escrevendo, lendo qualquer coisa. Eu amo tevê, mas tevê não me faz feliz. Pelo contrário. Sou do tipo que, mesmo odiando tudo o que está assisitindo, é capaz de passar o dia na frente da porcaria da tevê. E depois ficar mal.

Então tomei um ato de grande coragem: liguei para o ex, falando que não queria a tevê.

Vou viver sem tevê em casa.

Posso ver devedês no computador, posso ir ao cinema.
Isso aconteceu há alguns dias. Estou lendo mais, escrevendo mais, me mexendo mais. O combinado com ele é que se me der crise de abstinência, eu ligo e ele traz o bicho de volta.

Então, não só não tenho meu quarto de tevê, como também nem tenho mais tevê.

Eu não preciso nem de um, nem de outro. Preciso dum colchonete, para os amigos que vierem se hospedar aqui terem onde dormir. E o quarto virou um lugar onde treino, me alongo e danço. Disso eu preciso.

E isso também é ser livre,

como me ensinou o Alex.

É aprender, de fato, a dar o verdadeiro valor para as coisas que realmente têm valor.

Obrigada, amigo.


Sobre organização monetária, leiam também esse post bacana da Zel:
momento "história verídica"

10 comentários:

  1. Lulu:

    Me apresenta seu amigo??? rsrs Se eu fosse me perguntar se preciso de metada das coisas que compro, eu não compraria nada!!! Agora, a verdade é que não a nada mais incrivel que este negócio de escolher viver a vida de forma prazerosa.

    Beijo
    miranda

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  2. Lu, me permite um palpite? Voce está certíssima!
    O Alex está perfeito no papel de personal-não-sei-oquê.
    Tem horas na vida da gente, que menos é mais.
    Se sobrasse um quarto aqui, eu transformava no meu escritório. Uma mesa, PC e cadeira. Mais nada.
    Fique bem,
    Beijo, menina

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  3. Olha Lu,

    Isso é que podemos chamar de capacidade do ser humano de transformação!

    Amei!
    Parabéns pela não TV (quem dera eu!!) e por valorizar uma vida prazerosa!

    Beijo grande!

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  4. hahahahaha! Me empresta o Alex! Acho que todas as mulheres deveriam ter um amigo assim do lado pra segurar os gastos absurdos e 90% desnecessários que fizemos!!! Adorei! Parabéns pela coragem de colocar fora a tevê...sabemos que só tem porcaria, mas quando tô sozinha gosto de deixá-la ligada no volume baixinho, só pra ter a sensação de casa cheia!!! Ainda chego lá. Beijos e felicidades na nova vida! Thais/ Porto Alegre

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  5. bem vinda ao clube dos sem-tv!

    vivo assim há 5 anos e não faz nenhuma falta...
    minha tv fica na sala ligada apenas no dvd pra testar os dvds que eu autoro.
    ah é, e serve como cd player também.
    :)

    só vejo tv quando vou pro Rio e fico na casa da minha mãe, e daí tudo é novo, é uma delícia.

    bjos & boa adaptação à nova realidade...

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  6. Eu pisei no tomate com essa coisa de grana.Torrei dinheiro esquecendo que sou uma professora,e professora no Brasil uma hora tem emprego, uma hroa não tem, uma hora ganha salário de faxineira...essa merda toda.
    Mas eu to tentando aprender a controlar essa coisa de gastar.
    Principalmente porque não tenho mesmo..ehehheh
    beijos e saudades.

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  7. oi Lulu.

    Viver com menos, sei que sem é impossível,tv é algo que ambiciono, pois não é que sinto o faço o mesmo. SE deixar fico um mês vendo um monte de porcaria d depois vem o martírio.
    é uma luta é uma luta.
    quanto ao cartão pra comprar supérfluo, eu fiz isto e me lamento até hoje com o pagamento dos juros e mais juros.

    abs.

    PS: alguma outra receita de verão?

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  8. Graaaande Alex! Jogamos no mesmo time.

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  9. Léo,
    momento auto-propaganda:
    http://lulu-diariodalulu.blogspot.com/2007/01/tomates-e-pasta-simples-fcil-e-bom.html
    essa receita é ótima e já foi testada por vários amigos.

    Lelé,
    o alex é grande mesmo! e uma pessoa maravilhosa.como vc.

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  10. Lulu,

    Você voltou escrevendo deliciosamente!

    Faz tempo que não sou mais professor e faz tempo que tenho um trabalho bem chato e que me dá um bom dinheiro (essa foi a minha escolha). E apesar disso estou absolutamente quebrado. Vou ter que ficar uns bons tempos sem ir ao Jardim de Napoli.

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