sábado, 19 de janeiro de 2008

Um dia para ser contado

Para o acontecimento mais banal virar uma aventura, é preciso começar a contá-lo”.
Roquentin, no romance de Sartre A Náusea.

Então ontem, sexta feira, acordei pela primeira vez ás onze da manhã. Estava tendo muita dificuldade para dormir, ontem pela primeira vez dormi tranquila e até tarde. Acordei e me assustei com o adiantado da hora: sorri feliz. Acordei e decidi que viveria um dia inteiro, um dia a ser narrado:

Café da manhã:


Frutas, mamão.
Na tigela, cereal com uma colher de linhaça. Um bom queijo branco, peito de peru, um pão integral feito por uma amiga. Café preto. Leite para o cereal.
Coloquei a minha louça mais colorida, a minha toalha de mesa mais colorida. O dia estava lindo. Lavei a louça, lavei o rosto e tomei meu café da manhã devagar, sem pressa alguma, ouvindo música e sentindo, com os olhos, o olfato, o tato, aos poucos, o sabor de cada coisa.

enquanto comia, via a minha sala e a cidade de São paulo, que da minha casa, é assim:

Meu café da manhã durou uma hora. Era uma da tarde, quando terminei. Sexta feira. A vida é boa.

Li. Fui ler e reparei nas leituras bandeirosas que ando lendo. de Dezembro para cá, li:

A sonata a Kreutzer, de Tolstói:


Tête a tête, sobre a História de Simone de Beauvoir e Sartre:


Sexus, de Henry Miller:


e Risíveis Amores, de Milan Kundera.


Ri, enquanto lia, e terminava o maravilhoso livro do Kundera, li deitada na rede, o melhor lugar de leitura que há no mundo.

Depois, fui arrumar minha biblioteca. Os livros estavam todos empilhados, jogados na estante sem ordem nem cuidado.



arrumar minha estante, a estante dos meus livros, significou rever minha vida inteira. Isso acontece, com qualquer leitor compulsivo: os livros nos narram.
Amanhã, conto como foi a arrumação e mostro como ficou.

No final do dia, choveu em São Paulo:


e a chuva refrescou, lavou e limpou a cidade e a lulu inteira.

Ao final: cinema, cerveja, kebab e o conforto e felicidade que é ter amigos.
Não canso de repetir, não canso de assombrar-me.



Um dia simples.

Um dia de aventura.

Um dia a ser contado.

6 comentários:

  1. Super lindo um dia assim.
    Me deu vontade de chorar.
    Beijinhos

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  2. gostei da idéia de ler na rede!
    :)

    bjos

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  3. oi LULU.

    mee desculpe a indiscrição, mas parece que eu leio duas LUlus.

    a de antes toda frenética , agitada, no ritmo de SP. a de agora calma, tranqüila, no ritmo do seu novo café da manhã.

    por mim, leio essas duas tranqüilamente.

    abs

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  4. Querida Lulu,


    aposto que seu amigo também achou a maior felicidade contar com uma amiga como vc, numa noite como aquela, bebendo aquela (para ele) impressionante e perigosa quantidade de cervejas.

    Beijos, S.

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  5. Além disso: essa foto de S. Paulo na iminência da tempestade está maravilhosa. É incrível aquela muralha de edifícios escuros, ao fundo, como se fosse uma serra, meio misturando a natureza e a construção civil, mas de um jeito bem sombrio...

    Outro beijo amigo, S.

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  6. Sonata a Kreutzer deve ser disparado o Tólstoi mais fraco. É o pior da amargura, do reacionarismo e da misoginia do seu final de vida.

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