“Para o acontecimento mais banal virar uma aventura, é preciso começar a contá-lo”. ”
Roquentin, no romance de Sartre A Náusea.
Então ontem, sexta feira, acordei pela primeira vez ás onze da manhã. Estava tendo muita dificuldade para dormir, ontem pela primeira vez dormi tranquila e até tarde. Acordei e me assustei com o adiantado da hora: sorri feliz. Acordei e decidi que viveria um dia inteiro, um dia a ser narrado:
Café da manhã:
Frutas, mamão.
Na tigela, cereal com uma colher de linhaça. Um bom queijo branco, peito de peru, um pão integral feito por uma amiga. Café preto. Leite para o cereal.
Coloquei a minha louça mais colorida, a minha toalha de mesa mais colorida. O dia estava lindo. Lavei a louça, lavei o rosto e tomei meu café da manhã devagar, sem pressa alguma, ouvindo música e sentindo, com os olhos, o olfato, o tato, aos poucos, o sabor de cada coisa.
enquanto comia, via a minha sala e a cidade de São paulo, que da minha casa, é assim:
Meu café da manhã durou uma hora. Era uma da tarde, quando terminei. Sexta feira. A vida é boa.
Li. Fui ler e reparei nas leituras bandeirosas que ando lendo. de Dezembro para cá, li:
A sonata a Kreutzer, de Tolstói:
Tête a tête, sobre a História de Simone de Beauvoir e Sartre:
Sexus, de Henry Miller:
e Risíveis Amores, de Milan Kundera.
Ri, enquanto lia, e terminava o maravilhoso livro do Kundera, li deitada na rede, o melhor lugar de leitura que há no mundo.
Depois, fui arrumar minha biblioteca. Os livros estavam todos empilhados, jogados na estante sem ordem nem cuidado.
arrumar minha estante, a estante dos meus livros, significou rever minha vida inteira. Isso acontece, com qualquer leitor compulsivo: os livros nos narram.
Amanhã, conto como foi a arrumação e mostro como ficou.
No final do dia, choveu em São Paulo:
e a chuva refrescou, lavou e limpou a cidade e a lulu inteira.
Ao final: cinema, cerveja, kebab e o conforto e felicidade que é ter amigos.
Não canso de repetir, não canso de assombrar-me.
Um dia simples.
Um dia de aventura.
Um dia a ser contado.
Super lindo um dia assim.
ResponderExcluirMe deu vontade de chorar.
Beijinhos
gostei da idéia de ler na rede!
ResponderExcluir:)
bjos
oi LULU.
ResponderExcluirmee desculpe a indiscrição, mas parece que eu leio duas LUlus.
a de antes toda frenética , agitada, no ritmo de SP. a de agora calma, tranqüila, no ritmo do seu novo café da manhã.
por mim, leio essas duas tranqüilamente.
abs
Querida Lulu,
ResponderExcluiraposto que seu amigo também achou a maior felicidade contar com uma amiga como vc, numa noite como aquela, bebendo aquela (para ele) impressionante e perigosa quantidade de cervejas.
Beijos, S.
Além disso: essa foto de S. Paulo na iminência da tempestade está maravilhosa. É incrível aquela muralha de edifícios escuros, ao fundo, como se fosse uma serra, meio misturando a natureza e a construção civil, mas de um jeito bem sombrio...
ResponderExcluirOutro beijo amigo, S.
Sonata a Kreutzer deve ser disparado o Tólstoi mais fraco. É o pior da amargura, do reacionarismo e da misoginia do seu final de vida.
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