Outro dia, conversando com amigos, falávamos sobre filmes tristes. Filmes realmente tristes, que dóem de tão tristes que são, que mal dá vontade de revê-los, embora sejam obras primas. Conversamos, e fiquei pensando...para mim, há três grandes filmes tristes, que entram nessa categoria, sendo que um deles é talvez um dos filmes que mais amo, As noites de Cabíria, do Fellini.
Outros dois granes filmes tristes são Ladrões de Bicicleta, do Vittorio de Sica ( 1948) e Dançando no escuro, de Lars Von Triers.
A tristeza nesses filmes não é uma tristeza curtida, blue, uma tristeza redentora, a tristeza nesses filme é profunda, de um mundo sem justiça e  sem final feliz, onde vivem pessoas profundamente belas que lutam e não desitem de seus projetos, que não desistem, ainda assim, de amar.Também não são filmes que pretendem ser o tal do soco no estômago, que pretendem mostrar a realidade assim como ela é, nada disso. São histórias tristes, de perrsonagens maravilhosos, e, nos três filmes, personagens que, a despeito de tudo, lutam por seus amores , filhos, pela possibilidade de alegria e
conquista. Mesmo sem escapatória, sem redenção final, mesmo os personagens caindo quadro a quadro, findos os créditos, fica um estranhamento diante do mundo, uma raiva das injustiças, mas também algo é preenchido, pois pelos três paira um ar de que nas pequenas pessoas, bem pequenas, bem ferradas, há um mundo inteiro, e que devemos tomar cuidado, pois ele pode ser, e é, destruído a qualquer instante.A vida, em cada um desses filmes, é uma vida que se alimenta de esperança, da mãe em relação ao filho, do pai em relação ao filho,esperança nos homens e no amor, de uma prostituta solitária e maltratada. São personagens em busca de possibilidades de uma vida mais inteira, de construção, em meio a um mundo inóspito.
Ladrões de biclicleta é um filme clássico, do neo realismo italiano. Filmado no pós guerra, mostra um país destruído  e em grandes dificuldades. Um filme sobre pais e filhos, sobre o amor dos pais, e essa relação que se estabelece entre o pai e sua prole, que aliás - tenho a impressão -  não é tão retratada no cinema e nas artes em geral quanto as relações entre mães e filhas. A história se passa logo após a Segunda Grande Guerra, com a Itália destruída e o povo passando necessidade. Ricci (Lamberto Maggiorani) consegue um emprego após muita espera. Só que esse emprego, de colador cartazes na rua, lhe pedia como obrigação uma bicicleta. Ricci e sua mulher Maria (Lianella Carell) conseguem um dinheiro para uma, possibilitando que ele realize o seu trabalho, aquela bicileta representa a possibilidade de comida na mesa, de recuperação da dignidade do pai. O menino Bruno (Enzo Staiola), filho do casal, acompanha todos os passos.  Logo no primeiro dia de trabalho,  a bicicleta é roubada. Pai e filho mergulham pelas ruas da cidade, à procura da bicicleta.Dançando no escuro é outro filme que dói. Um filme que ultrapassa todas as regras de até onde a tragédia pode ir. Quando achamos que Selma, a personagem magnificamente interpretada por Björk não pode se ferrar mais, algo acontece e ela cai mais fundo, até o fim. Nele, as músicas de A noviça rebelde são desconstruídas uma a uma, virando do avesso um musical sobre a liberdade e a união familiar, e virando pelo avesso a própria noção de musical. Selma, que tem uma doença degenerativa e hereditária nos olhos, é roubada também. E como é cruel o roubo daqueles que não têm mais nada. Selma perde o dinheiro duramente economizado para a operação de seu filho, para que seu filho possa enxergar, e então se envolve em uma série de acontecimentos inexoravelmente trágicos. Não há nada de dramalhão na condução do filme, que é árido como são os filmes do diretor, e sustentado por duas magníficas atrizes, Björk e Catherine Deneuve, que emprestam às suas personagens uma força e uma capacidade de esperança comoventes. Uma história de amor de mãe.

Noites de Cabíria é um filme quase patético, a personagem, Cabíria é uma prostituta que não somente acredita nos homens, como também crê no amor e na vida. Isso é o que há em comum nesses três filmes, e que machuca, mas é bonito ao mesmo tempo. Sempre, até o fim, há o amor pela vida, apesar dela mesma.
Cabíria é constantemente enganada, ludibriada, humilhada, esquecida - faz tudo, absolutamente tudo pelos homens que crê que ficarão com ela.
Também perde tudo, também se ferra, mas ao final ainda guarda um sorriso e, sem nada, dança no meio da rua.
Fellini, sobre o filme, escreveu o seguinte texto, que encontrei na revista Contracampo e cito em parte aqui:
(...)
É sempre difícil remontar justo à fonte da inspiração, mas eu poderia contar a esse propósito como nasceu o fim de Noites de Cabíria. Ele não nasceu apenas como fim, mas também como a idéia geradora de todo o filme. Quando um certo jornal de esquerda me acusou de ter uma atitude evasiva perante a realidade, de nunca sugerir nas minhas histórias uma solução, um ponto de vista preciso, esforcei-me em agir com humildade sem levar em conta a irritação que senti ao ler coisas que realmente não esperava, e disse a mim mesmo: efetivamente, Zavattini e de Sica sugerem a inscrição a um partido, assim como sugerem alguma coisa a seus personagens, dão-lhes uma direção, e isso porque eles têm uma certa fé que eu não tenho, ao menos não num sentido preciso. É por isso que, ao fim de seus filmes, suas histórias e seus personagens satisfazem mais que os meus. Então eu me disse: talvez esses senhores tenham razão. A meus personagens, não termino por dizer ao fim do filme: “Vocês compreenderam direitinho, é preciso comprar tal jornal, ou também é preciso se casar, ou também ir à igreja...”. Não termino por lhes dizer nada.
No fundo, essa é uma                            atitude muito inumana da parte de um autor perante seus                            personagens. Portanto, investindo toda minha boa vontade                            (como se eu tivesse enfim resolvido dizer a meu personagem:                            “Você compreendeu bem, você fará isso ou aquilo”), me                            perguntei: “O que vou lhe dizer?”. E depois de pensar                            sobre isso durante muito tempo, percebi que não saberei                            o que lhe sugerir, porque não sei o que dizer a mim                            mesmo. Assim sendo, aos meus personagens, que são sempre                            tão infelizes, a única coisa que poderei oferecer será                            minha solidariedade: e assim poderei, por exemplo, dizer                            a um deles: “Escuta, não posso te explicar o que não                            sei, mas, em todo caso, te amo o suficiente e te ofereço                            uma serenata”. E assim, para Noites de Cabiria,                            pensei: quero fazer um filme que conte as aventuras                            de uma infeliz que, a despeito de tudo, espera confusamente,                            ingenuamente, por melhores relações entre os homens,                            simplesmente melhores relações; e ao fim do filme quero                            lhe dizer: “Escuta, fiz você passar por todo tipo de                            desgraça, mas você me é tão simpática que quero compor-lhe                            uma pequena serenata”. E depois, sobre essa idéia talvez                            um pouco ingênua, imaginei uma cena. Tratava-se de uma                            mulher, de uma personagem infeliz que, ao fim de uma                            aventura ainda mais terrível que as outras, deveria                            perder de maneira absoluta e definitiva sua confiança                            na humanidade que a rodeava. E então me perguntei: por                            que essa personagem, num dado momento, não pode se convencer                            de que há alguém que lhe diz gentilmente e com simpatia:                            “Você tem razão”? E assim essa personagem se tornou                            Cabiria, e suas aventuras se tornaram aquelas de uma                            prostituta que vive como um pequeno camundongo num meio                            aterrorizante, continuamente esmagada pela realidade,                            mas que atravessa a vida com inocência e aquela misteriosa                            confiança. Ao fim do filme eu a faço encontrar um grupo                            exuberante de pessoas bem jovens, de uma humanidade                            ao limiar da vida, que gentilmente, debochando um pouco                            mas com candura, exprime-lhe sua gratidão cantando uma                            canção. Foi dessa idéia que, finalmente, nasceu todo                            o filme.
Não quero rever Dançando no escuro nem Ladrões de bicicleta. Revejo de vez em quando Npites de Cabiria, porque no final, há uma serenata. São entanto, grandes filmes.
Três filmes tristes. Necessários.em tempo:
E agora, agorinha mesmo, leio nos blogs amigos que Bergman morreu. Ele, autor também de filmes tristes e de sombras.
Foi coincidência, ou não, esse post de hoje.
fica aqui, então, uma serenata,
e o sorriso de Giulietta, Cabíria, para o Bergman.













Lulu ( ou devo chamá-la de Alex ou de Sérgio?).
eu fico sempre super-intrigado com homens que se fazem passar por mulheres assinando blogs como tais. Pq isso se dá? Freud explica?.... lendo seus posts com atenção, eu percebi que vc não pode ser mulher, derrapa justamente nos pontos cruciais do engôdo. Não quero supor que vc seja portuguesa (as mulheres portuguesas na net usam pseudônimos em INGLÊS!!! – viva a língua de Camões!!! - e jamais da vida que poriam um só foto delas num blog, afinal, a famìlia portuguesa ainda continua medieval...) e nem tampouco dessas mulheres complexadas com o aspecto físico delas. Só sobra mesmo o fato de vc ser HOMEM. Depois que vi que vc tem outro blog no qual usa um ou dois nomes masculinos, aí eu cheguei à conclusão que vc nem é mulher e nem portuguesa! (risos)
Mas...explica: pq um homem quer se passar como uma mulher assinando um blog como Lulu ???
29 de Julho de 2007 06:49