E se no carnaval você foi pelo terceiro dia consecutivo ao cinema, às três da tarde, e assistiu a um filme do Cassavetes fenomenal, e reencontrou, ainda, seu cinema de rua predileto?
Um cinema de rua, como todo cinema devia ser, que é tão legal, mas tão legal, que dentro, tem um bar, que é esse:
e nesse bar, as pessoas podem sentar, tomar um café, beber algo, fumar um cigarro até, e assistir o filme, ali, sentadas em uma das mesas. Sim, fui ao Cinesesc, o cinema mais legal de São Paulo.
É, estava um clima meio assim.
Ou pelo menos eu inventava um clima assim, o que dá quase no mesmo.
E antes de me embalar e ser embalada pela louca da Malde, Uma mulher sob influência, de ficar presa na cadeira, estatelada e tomada pela excelência da interpretação da Gena Rowlands, nesse grande filme, dos mais impressionantes que já vi, sobre a loucura de uma mulher e da família burguesa, do casamento, amizade e tesão, lembrei da minha história nesse cinema, e fiquei lembrando do quanto da minha história se passa nos cinemas da cidade.
Lembrei que quando era criança minha mãe me levava a um cine-clube no bairro do Bixiga, acho que chamava Cineclube Bixiga, e lá eu vi um filme do Charlie Chaplin pela primeira vez. Lembro de ter achado tudo o máximo, a ida ao cinema, um monte de gente vestida de jeitos diferentes, e na entrada, havia uma câmera de filmagem, linda, enorme, mágica, da qual nunca me esqueço. A sala era pequena, a gente ouvia o rodar da fita, era lindo.
Lembrei de um outro lugar, para onde ia primeiro pelas pernas da minha mãe, e depois por pernas próprias, o Cineclube Bijou. Lá eu vi Dersu Usala, um dos filmes mais impressionantes da minha vida, vi ainda criança, e nunca me esqueço.
Lembrei de um primeiro namorico meu, que terminou numa sessão de cinema no cinema Marabá, no Centro. Assistíamos Dança com lobos, eu que ia terminar tudo, estava meio triste, meio incomodada, lembro da tela enorme, das poltronas daquela sala gigantesca, da platéia já quase sem ninguém. Me mexia sem parar, não me achava na poltrona porque não me achava em lugar algum.
E quando estava no colegial, pegava um ônibus para voltar da escola e parava , toda quarta feira, na frente do Belas Artes, via os livros dos sebos, dava um pulo na Livraria Belas Artes, e entrava na sessão, qualquer sessão, era a sessão das quartas feiras, no Belas Artes.
E lembrei do Cinesesc, onde vi Morangos Silvestres, do Bergman. Onde vi Através das Oliveiras, do Kiarostami, onde vi Quanto mais quente melhor pela primeira vez, primeira de inúmeras. E o cinema estava lá, enorme, a tela enorme, como um cinema deve ser. O bar estava lá, e na minha frente o milagre de um grande filme se operava.
E depois, ao sair na rua, o bafo quente do calor paulistano, a cidade voltando ao seu normal, de poulição e gentes, o trânsito, a rua.
O cinema não é o mesmo sem essa experiência da saída para a rua, do choque entre a sala escura e o mundo e o céu, entre os cheiros, os barulhos. Não há nada que me irrite mais do que sair da caixa escura que é a sala do cienma e dar de cara com a caixa iluminada, condicionada, ilhada e mal cheirosa que é a caixa shopping.
Não, ir ao cinema é uma experiência de vida, e não há nada como entrar da rua para a sala de projeção, e depois sair meio tonta de um grande filme, e respirar o ar das ruas. E ver tudo diferente, porque grandes filmes bons, e isso é que são bons filmes bons, fazem a gente ver o mundo de modo diferente.
E as salas de cinema, as poucas sobeviventes que ainda guardam seu espaço nas ruas, cheias de personalidade e estilo, são personagens não só da cidade, mas de nossas vidas também. Viva o cinema, viva o cinema de rua.
Um cinema de rua, como todo cinema devia ser, que é tão legal, mas tão legal, que dentro, tem um bar, que é esse:
e nesse bar, as pessoas podem sentar, tomar um café, beber algo, fumar um cigarro até, e assistir o filme, ali, sentadas em uma das mesas. Sim, fui ao Cinesesc, o cinema mais legal de São Paulo.
É, estava um clima meio assim.
Ou pelo menos eu inventava um clima assim, o que dá quase no mesmo.
E antes de me embalar e ser embalada pela louca da Malde, Uma mulher sob influência, de ficar presa na cadeira, estatelada e tomada pela excelência da interpretação da Gena Rowlands, nesse grande filme, dos mais impressionantes que já vi, sobre a loucura de uma mulher e da família burguesa, do casamento, amizade e tesão, lembrei da minha história nesse cinema, e fiquei lembrando do quanto da minha história se passa nos cinemas da cidade.
Lembrei que quando era criança minha mãe me levava a um cine-clube no bairro do Bixiga, acho que chamava Cineclube Bixiga, e lá eu vi um filme do Charlie Chaplin pela primeira vez. Lembro de ter achado tudo o máximo, a ida ao cinema, um monte de gente vestida de jeitos diferentes, e na entrada, havia uma câmera de filmagem, linda, enorme, mágica, da qual nunca me esqueço. A sala era pequena, a gente ouvia o rodar da fita, era lindo.
Lembrei de um outro lugar, para onde ia primeiro pelas pernas da minha mãe, e depois por pernas próprias, o Cineclube Bijou. Lá eu vi Dersu Usala, um dos filmes mais impressionantes da minha vida, vi ainda criança, e nunca me esqueço.
Lembrei de um primeiro namorico meu, que terminou numa sessão de cinema no cinema Marabá, no Centro. Assistíamos Dança com lobos, eu que ia terminar tudo, estava meio triste, meio incomodada, lembro da tela enorme, das poltronas daquela sala gigantesca, da platéia já quase sem ninguém. Me mexia sem parar, não me achava na poltrona porque não me achava em lugar algum.
E quando estava no colegial, pegava um ônibus para voltar da escola e parava , toda quarta feira, na frente do Belas Artes, via os livros dos sebos, dava um pulo na Livraria Belas Artes, e entrava na sessão, qualquer sessão, era a sessão das quartas feiras, no Belas Artes.
E lembrei do Cinesesc, onde vi Morangos Silvestres, do Bergman. Onde vi Através das Oliveiras, do Kiarostami, onde vi Quanto mais quente melhor pela primeira vez, primeira de inúmeras. E o cinema estava lá, enorme, a tela enorme, como um cinema deve ser. O bar estava lá, e na minha frente o milagre de um grande filme se operava.
E depois, ao sair na rua, o bafo quente do calor paulistano, a cidade voltando ao seu normal, de poulição e gentes, o trânsito, a rua.
O cinema não é o mesmo sem essa experiência da saída para a rua, do choque entre a sala escura e o mundo e o céu, entre os cheiros, os barulhos. Não há nada que me irrite mais do que sair da caixa escura que é a sala do cienma e dar de cara com a caixa iluminada, condicionada, ilhada e mal cheirosa que é a caixa shopping.
Não, ir ao cinema é uma experiência de vida, e não há nada como entrar da rua para a sala de projeção, e depois sair meio tonta de um grande filme, e respirar o ar das ruas. E ver tudo diferente, porque grandes filmes bons, e isso é que são bons filmes bons, fazem a gente ver o mundo de modo diferente.
E as salas de cinema, as poucas sobeviventes que ainda guardam seu espaço nas ruas, cheias de personalidade e estilo, são personagens não só da cidade, mas de nossas vidas também. Viva o cinema, viva o cinema de rua.
Pô. Na ex Alemanha Oriental, tem um monte de cinema legal assim, que vc pode sentar e tomar vinho (eu não, claro)enquanto vê o filme. Mas mais em bairros mais punkzinhos. Mas daqui a um tempo, acho que todos vão sumir e sucumbir ao estilo Cinemark de ser.
ResponderExcluirMEUS MOLESKINES CHEGARAM! k
nossa, lulu, eu também assisti o Dersu Uzala quando era criança, é lindo lindo, agora me bateu uma vontade de rever...vou procurar e se achar vou baixar agora mesmo!
ResponderExcluiraliás você me deu uma ótima idéia agora: lembra daquela festa na casa da Leila (O Porão)? vai rolar outra dia 9, e to montando outro set de Vj, vou usar esse filme!!!
sobre os cinemas de rua, além do Cinsesc (que é Sesc e não vai acabar mesmo, ufa) tem os Espaços Unibanco também...e só tem um jeito de não acabarem: frequentando!
bjos
O CineSesc é mesmo totalmente Edward Hopper. Foi lá que eu vi Asas do Desejo. Três vezes. Seguidas. Sem colírio. Já lancei um livro no saguão do CineSexc. Uma vez. Sem vaselina.
ResponderExcluirHahahahaha, ai, meus deuses. Os meninos estão impossíveis hoje. Lu, depois passa no sofá roxo e pelinhos pra ver o que anda acontecendo. k
ResponderExcluirAh, eu adoro o Cinesesc... lá, pode-se assistir a um bom filme comendo um delicioso quiche e/ou bebendo um drink, sem incomodar o vizinho!
ResponderExcluirO Espaço Unibanco também é tudo de bom... Já tenho até meu ritualzinho: livraria do Espaço - café com mini-pães de queijo (ou aquelas bolachinhas branquinhas com recheio de goiabada) - filme -Pedaço da Pizza (pra debater o filme, claro)...
Lu, esse texto está delicioso.
ResponderExcluirAinda não conheço essa sala, mas com certeza, é algo que PRECISO fazer.bj.
Viva o cinema de rua?
ResponderExcluirV. I. V A!!!
adoro cinema, de qualquer jeito, de qualquer modo... tenho um ritual e tudo! DETESTO chegar atrasada no filme, acho um despautério perder os traillers!
ResponderExcluirIr ao cinema pra mim é sempre como "a rosa púrpura"! A possibilidade de uma nova vida!
Lulu, o texto tá lindo!
beijos e já me espreguiçando no sofá vermelho
Fá, pode até tirar seus sapatinhos lindos!!!
ResponderExcluirDepois vou querer o endereço desse cinema, para quando eu for para Sampa visitar o Rafa.
ResponderExcluirBeijo.
aqui no rio os cinemas de rua estão acabando. em niterói, onde moro, então...nem se fala. aqui os ilustres vereadores queriam "destombar" o prédio do mais antigo cinema de rua pra derrubá-lo e no lugar construir deus sabe o quê. embolsando um dinheirinho antes, claro. nós costumamos ir muito ao circuito estação do outro lado da baía. eu não me importo de pegar uma hora de trânsito pra ver um filme. da última vez que fizemos isso fomos ao paissandu, no flamengo, um cinema enorme, tela idem e uma ante-sala pra fumantes!!! os cineastas do cinema novo se reuniam lá; achei tudo emocionante, fiquei igual a criança. como nem tudo é perfeito, a sala estava quase vazia, os banheiros meio detonados e um cheiro de decadência no ar. espero que algum "iluminado" não resolva transformar o paissandu em mais uma daquelas igrejas barulhentas. da próxima vez que for à sampa, vou procurar o cinesesc. e me lembrarei do seu post. bjs
ResponderExcluirNossa! Agora bateu saudade. Fui muito nesse cinema. Me lembro de ter assistido "A rosa púrpura do Cairo", do Woody Allen nele.
ResponderExcluirBrigadão pela ótima recordação.
a rosa púrpura do cairo é um filme perfeito para ser assistido no cinesesc. lá, os atores podem mesmo sair da tela e aparecer nas nossas vidas. :)
ResponderExcluirPois é! Foi por isso mesmo achei que lembrança mais legal dos vários filmes que assisti lá foi justamente essa. Bom saber que ele continua em funcionamento.
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