Na sétima série, estamos lendo e escrevendo crônicas. Das grandes, Drummond, Bandeira, Clarice, e do hiper ultra plus ultra do Rubem Braga. Adoro crônicas, depois do Monteiro Lobato, aprendi a gostar de ler lendo crônicas. Sabia o Para gostar de ler de cor, tinha um com uma capa que era um pintinho que é uma das minhas memórias mais queridas.
E a garotada, além de ler, tem que escrever crônicas também. E o exercício para os alunos da sétima, é o grande e dificílimo exercício de olhar para fora.
- Como assim?
- É que para escrever crônicas, pessoal, tem que olhar para o mundo e prestar atenção, nas pequenas coisas, nas pessoas, nos que as pessoas falam e como elas falam. Essa é a lição de casa, olhar para fora.
- Como assim?
- Vocês pegam e vivem, normalmente, como vocês fazem sempre, só que prestando atenção. Peguem até um caderninho, para anotar as coisas que vocês acharem legais. Tem que observar. Os bons escritores são, sobretudo, bons observadores. Vão lá, todo mundo olhando para fora. Aula que vem cês me contam.
- Tá.
Na aula seguinte...
- E aí pessoal?
- Aí nada. ( a classe inteira, parecia ensaiado)
- Como assim e aí nada?
- Aí nada. Num tem nada de interessante que aconteceu comigo.
Comigo também não!
Comigo também não...
Minha vida é uma chatice.
A minha também, a minha também! A minha é mais chata!! Não, a minha é que é!!!! ( balbúrdia total)
A competição foi estabececida e depois de ter ficado absolutamente claro e nítido que ali só havia tédio e sem gracisse e que todos levavam uma vida que era basicamente a mais sem graça de todo o mundo mundial, universo e galáxia, em todos os tempos, pude voltar a falar.
-Não gente, tá errado.
-Errado?
- É.
- Ah, num é nossa culpa que na vida não acontece nada!!!
- Errado. Claro que acontece. Cês acham que acontecer algo é viver um furacão? Ir para Paris? Ser chamada para fazer um filme? Dirigir na fórmula 1?
- éééééé!!!!!!!
- E o encantamento com o mundo?
- Quê?
- O encantamento com o mundo, gente. Cês tão muito blazês. Uns chatos.
- Blazês? Que qué isso? ( entre si: Ela chamou a gente de chatos? )
- Blazê é esse povo que fica fazendo tipo e acha tudo sem graça. Eu, heim? Outro dia, tava conversando com um amigo que falou que num se impressionava nem se perturbava com nada. Que a pessoa podia chegar para ele e falar que tinha transado com um macaco e ele num ia ficar impressionado.
- Transar com um macaco!! hahahahaa (os meninos). Creeeeedooooo (as meninas) .
- E eu falei assim para ele: eu heim? já pensou, num se impressionar com nada na vida? Que coisa mais chata... E ele me explicou melhor: não... eu não me impressiono, mas me comovo. Me comovo com o mundo, com a pequenas coisas do mundo, com as pessoas, os pequenos acontecimentos mais simples. E eu fiquei aliviada, porque esse amigo é muito legal, e eu sabia que era assim. Todo mundo a nossa volta é muito mais interessante que os grandes acontecimentos, gente. Basta vocês observarem. Vocês não precisam contar coisas impressionantes, essas geralmente são as mais sem graça, basta contar coisas. A vida é uma maravilha não no atacado, no atacado é uma porcaria, é no varejo que é legal.
- Hum?
- Se você for ver assim a soma de todas as coisas, acho que o saldo é mais negativo que positivo, assim, no mundo... mas no dia a dia, acontecem várias coisas legais, ou comoventes, ou mesmo ruins, pequenas e grandes, às vezes, mas que fazem desse negócio que é viver uma coisa legal. Não são os grandes acontecimentos, gente, não é o dia do casamento, é todos os dias do viver junto.
- Hum????
e uma menina levanta a mão:
- Professora, essa aula tá meio EMO!!! ( riso geral)
- Tá, me calo. Conta, o que você fez ontem?
- Nada ué...
- Não, alguma coisa você fez.
- Eu briguei com a minha irmãzinha.
- e aí?
- Aí a gente tava brigando e eu falei que a culpa era dela. E ela falou: a culpa num é minha, a culpa é da minha tatatatatatatatataravó, que começou tudo e eu vim parar aqui!!
Uma louca, essa minha irmã.
- E você?
- Eu olhei pela janela.
- E aí?
- Aí eu fiquei olhando o prédio da frente. E vi um monte de apartamentos. Um monte mesmo. E me deu um vazio. Sempre me dá um vazio, quando eu olho os apartamentos da frente.
( a amiga:)
- Eu adoro quando me dá um vazio!! me sinto tão bem....
- Ai credo, você é louca né? ( a classe inteira)
Ela responde, jogando os cabelos para trás:
- Ai gente, vocês é que são muito superficiais ( menina adolescendo, eu vivia me saindo com essa também) ... é tão bom o vazio... dá uma paz...
- E você, Lá?
- Eu?
-É. o que aconteceu na sua vida?
- Tem um hominho lá no meu prédio....
- Pronto!! Fala do hominho!!
- Tá louca? Que que eu vou falar do hominho?
- Ué... num sei, mas se você falou que ele existe é porque deve ter alguma coisa.
- Não!! é um hominho, e um dia a gente tava lá, e minha mãe começou a apagar e desligar a luz da sala, tipo para ficar estroboscópica, porque ela é meio louca, a minha mãe.
- Sei.
- E aí, os meninos do apartamento da frente, uns meninos que semrpe tão lá no apartamentos da frente, começaram a apagar e acender a luz deles também.
- E aí? ( todos queriam saber)
- Aí nada, gente. Eles ficaram rindo, e pegaram um papel e escreveram oi, e a louca da Ju gritou oi de volta. e a gente se escondeu e teve um ataque e riso.
- Você ficou meio apaixonada?
- Ai professora, você é louca mesmo, né?
- Hum... acho que sim. mas não por isso.
- ih.... ( todos pareciam suspirar e pensar: essa aula emo vai longe...)
E a garotada, além de ler, tem que escrever crônicas também. E o exercício para os alunos da sétima, é o grande e dificílimo exercício de olhar para fora.
- Como assim?
- É que para escrever crônicas, pessoal, tem que olhar para o mundo e prestar atenção, nas pequenas coisas, nas pessoas, nos que as pessoas falam e como elas falam. Essa é a lição de casa, olhar para fora.
- Como assim?
- Vocês pegam e vivem, normalmente, como vocês fazem sempre, só que prestando atenção. Peguem até um caderninho, para anotar as coisas que vocês acharem legais. Tem que observar. Os bons escritores são, sobretudo, bons observadores. Vão lá, todo mundo olhando para fora. Aula que vem cês me contam.
- Tá.
Na aula seguinte...
- E aí pessoal?
- Aí nada. ( a classe inteira, parecia ensaiado)
- Como assim e aí nada?
- Aí nada. Num tem nada de interessante que aconteceu comigo.
Comigo também não!
Comigo também não...
Minha vida é uma chatice.
A minha também, a minha também! A minha é mais chata!! Não, a minha é que é!!!! ( balbúrdia total)
A competição foi estabececida e depois de ter ficado absolutamente claro e nítido que ali só havia tédio e sem gracisse e que todos levavam uma vida que era basicamente a mais sem graça de todo o mundo mundial, universo e galáxia, em todos os tempos, pude voltar a falar.
-Não gente, tá errado.
-Errado?
- É.
- Ah, num é nossa culpa que na vida não acontece nada!!!
- Errado. Claro que acontece. Cês acham que acontecer algo é viver um furacão? Ir para Paris? Ser chamada para fazer um filme? Dirigir na fórmula 1?
- éééééé!!!!!!!
- E o encantamento com o mundo?
- Quê?
- O encantamento com o mundo, gente. Cês tão muito blazês. Uns chatos.
- Blazês? Que qué isso? ( entre si: Ela chamou a gente de chatos? )
- Blazê é esse povo que fica fazendo tipo e acha tudo sem graça. Eu, heim? Outro dia, tava conversando com um amigo que falou que num se impressionava nem se perturbava com nada. Que a pessoa podia chegar para ele e falar que tinha transado com um macaco e ele num ia ficar impressionado.
- Transar com um macaco!! hahahahaa (os meninos). Creeeeedooooo (as meninas) .
- E eu falei assim para ele: eu heim? já pensou, num se impressionar com nada na vida? Que coisa mais chata... E ele me explicou melhor: não... eu não me impressiono, mas me comovo. Me comovo com o mundo, com a pequenas coisas do mundo, com as pessoas, os pequenos acontecimentos mais simples. E eu fiquei aliviada, porque esse amigo é muito legal, e eu sabia que era assim. Todo mundo a nossa volta é muito mais interessante que os grandes acontecimentos, gente. Basta vocês observarem. Vocês não precisam contar coisas impressionantes, essas geralmente são as mais sem graça, basta contar coisas. A vida é uma maravilha não no atacado, no atacado é uma porcaria, é no varejo que é legal.
- Hum?
- Se você for ver assim a soma de todas as coisas, acho que o saldo é mais negativo que positivo, assim, no mundo... mas no dia a dia, acontecem várias coisas legais, ou comoventes, ou mesmo ruins, pequenas e grandes, às vezes, mas que fazem desse negócio que é viver uma coisa legal. Não são os grandes acontecimentos, gente, não é o dia do casamento, é todos os dias do viver junto.
- Hum????
e uma menina levanta a mão:
- Professora, essa aula tá meio EMO!!! ( riso geral)
- Tá, me calo. Conta, o que você fez ontem?
- Nada ué...
- Não, alguma coisa você fez.
- Eu briguei com a minha irmãzinha.
- e aí?
- Aí a gente tava brigando e eu falei que a culpa era dela. E ela falou: a culpa num é minha, a culpa é da minha tatatatatatatatataravó, que começou tudo e eu vim parar aqui!!
Uma louca, essa minha irmã.
- E você?
- Eu olhei pela janela.
- E aí?
- Aí eu fiquei olhando o prédio da frente. E vi um monte de apartamentos. Um monte mesmo. E me deu um vazio. Sempre me dá um vazio, quando eu olho os apartamentos da frente.
( a amiga:)
- Eu adoro quando me dá um vazio!! me sinto tão bem....
- Ai credo, você é louca né? ( a classe inteira)
Ela responde, jogando os cabelos para trás:
- Ai gente, vocês é que são muito superficiais ( menina adolescendo, eu vivia me saindo com essa também) ... é tão bom o vazio... dá uma paz...
- E você, Lá?
- Eu?
-É. o que aconteceu na sua vida?
- Tem um hominho lá no meu prédio....
- Pronto!! Fala do hominho!!
- Tá louca? Que que eu vou falar do hominho?
- Ué... num sei, mas se você falou que ele existe é porque deve ter alguma coisa.
- Não!! é um hominho, e um dia a gente tava lá, e minha mãe começou a apagar e desligar a luz da sala, tipo para ficar estroboscópica, porque ela é meio louca, a minha mãe.
- Sei.
- E aí, os meninos do apartamento da frente, uns meninos que semrpe tão lá no apartamentos da frente, começaram a apagar e acender a luz deles também.
- E aí? ( todos queriam saber)
- Aí nada, gente. Eles ficaram rindo, e pegaram um papel e escreveram oi, e a louca da Ju gritou oi de volta. e a gente se escondeu e teve um ataque e riso.
- Você ficou meio apaixonada?
- Ai professora, você é louca mesmo, né?
- Hum... acho que sim. mas não por isso.
- ih.... ( todos pareciam suspirar e pensar: essa aula emo vai longe...)
ADOREI! Adoro os seus alunos! E que bom que vc está lá dando estes conselhos Luana de ser. MAs explica pra esta tia aqui o que que é EMO?
ResponderExcluirLulu, essa tá boa demais.
ResponderExcluirAula emo, minha querida, foi o melhor...risos...risos...
otimo, otimo: conte mais
.;0)
só pra dizer que passei por aqui, li e gostei =)
ResponderExcluirbeijos
Aleatória: que bom!!
ResponderExcluirGeeenteee... quem se habilita a explicar prá caki o que que é Emo? Vamos lá , leitores queridos, colaborem!!!! :)
Como reconhecer um Emo em poucos passos - guia básico:
ResponderExcluir- franja tapando um dos olhos. O ideal seria que tapasse os dois, mas aí, como eles desviariam dos postes? Se o cabelo é crespo, dê um jeito, fia, mas tem que ser lisão na cara.
- ouvem bandas cujos vocalistas gastam um lápis preto por semana.
- em Brasília, se reúnem na frente de um shopping aqui ao lado - vestidos de preto no calor do cerradão. Sim, fede, tenho certeza. Como são, na maioria das vezes, adolescentes, não têm $ pra lavanderia pra lavar os sobretudos sempre.
- meninas podem escolher usar All Star de cano hiper longo com cadarços coloridos. Pra combinar com as meias listradas.
- mais uma vez: até as EMOs fêmeas sofrem com o cabelo. Como EMO que é EMO só pode sê-lo por não ter problemas reais, EMO genuíno vem do Hemisfério Norte. Daí o cabelo constitui um dos inconvenientes de ser EMO no Brasil.
- diga-lhe que o prédio tá pegando fogo ou que vc ganhou na loteria e a reação vai ser a mesma, ou seja, vai deixar a cabeça pender prum lado e vc não vai ter certeza se a pessoa terminou de morrer ou se só não reagiu.
- sobre o gosto musical, eu passo. O Interaubis sabe. k
Geeente! Tô mais confusa ainda. Ok, pelo que entendi, EMO é um ser meio lento e sem fashion sense, é um punk do serrado. Mas o que me deixa mais intrigada são as referências ao cabelo. Very intersting, crespo porém liso na franja! Alguém tem fotos de tais criaturas? Talvem um emo blog, ou quem sabe um site dedicado ao emo jeito de ser?
ResponderExcluirOk, ok! Eu achei a definição de emo na Wikipedia, e estou FASCINADA! E meio preocupada, ser emotivo é motivo de chacota (ou xoxota?)! É uma tendência mundial da nova geração, eu achei que era algo bem americano mas estou vendo que não. Agente por aqui interage muito com a moçada de 19, 20 anos (nós moramos numa residência de alunos, long story), e tenho vontade de SACUDIR o povo quando eles dão uma de jaded (ou blasé para citar a Lu).
ResponderExcluirA coisa do cabelo foi uma referência aos emos do Hemisfério Sul. Coitados. Dariam a vida pra nunca ficarem carecas e não terem o piku crespo.
ResponderExcluirÉ isso mesmo: jaded. Aquela coisa inerte. O mundo vai acabar mesmo! Agir pra quê? Néam? k