sexta-feira, 20 de abril de 2007

as crianças

E para encerrar a saga acampamento chega de falar de mim, falemos das crianças.

Eu nunca mais vou achar que sofro nessa vida porque ninguém sofre mais que uma garota de 13 anos. É impossível sofrer mais que uma garota de treze anos, elas ganham da Xispita, a garotinha órfã que passava no SBT quando eu era criança e ficou na minha cabeça desde então como o parâmetro de todo o sofrimento possível.

As garotas de treze anos basicamente choram, gritam, têm ataques de riso e falam. De vez em quando elas respiram, nos intervalos, mas só nos intervalos. Meninos, eu vi. É fato. Uma coisa impressionante. Elas ficam amigas e inimigas mortais umas das outras em questão se segundos. O mundo acaba e se remonta diariamente, várias vezes por dia. Chega a ser bonito até. E se abraçam, beijam, mordem (sim, se mordem. A moda agora é dar mordidas nas amigas até ficar roxo. Pois é...) e querem conversar conversas sérias, o tempo inteiro, sobre garotos, sobre a vida, sobre amizade, estilos, família, pais e mães.

E os meninos, enquanto isso?

Aos meninos não resta alternativas a não ser admirá-las de longe. Não têm a menor chance, por mais legais e bacanas que sejam. As garotas de treze anos se apaixonam pelo monitor do acampamento, pelo irmão mais velho do amigo, pelo DJ da festa... difícil o menino da mesma classe, desengonçado, cheio de espinhas, todo torto como são os meninos de treze anos, ter alguma chance.

Então os meninos, enquanto as meninas choram, gritam, falam e têm ataques de riso, os meninos vão jogar futebol, e brincar. As meninas brincam também, mas tentam disfarçar um pouco.

No Ensino Médio isso muda, os meninos aí crescem dezesseis centímetros por mês e alguns conseguem até ficar interessantes.

Mas até a oitava série... sem chance....

E à noite tem discoteca. Nada de bailinho nem de música lenta. Achei chato isso, era emocionante dançar Dire Straits com o menino que ia lá te pedir pra dançar com ele. Aquele friozinho na barriga, o medo de tomar chá de cadeira. Já tomei chá de cadeira, uma vez, na terceira série. Foi horrível. Mesmo assim, traumatizada e tudo, sou a favor das músicas lentas, mas ninguém quer nem ouvir falar no assunto.

De qualquer maneira, as meninas vão dançar e os meninos... jogar bola.

Recusei um convite legal prum jogo de pingue pongue porque sou da turma que vai dançar também. É engraçada a dança das meninas, ficam de lado, colocam a mão no rosto, e rebolam, rebolam, rebolam. Todo mundo shaking on it, babe. Os meninos da sétima e da oitava nem se aproximam.

Lá pelas tantas, quatro garotos corajosos da sexta série aparecem para dançar também. Gostam de dançar e não tão nem aí. Ficam dançando, na deles, rindo e se divertindo. Adoro meninos que gostam de dançar. Meu marido diz que a única razão pela qual um menino ou homem vai para a pista de dança dançar é para tentar beijar na boca, mas é mentira. Tem meninos que gostam genuinamente de dançar, e é lindo ver meninos dançando. E palmas, muitas palmas, pros garotos corajosos que entraram na roda e, simplesmente, se divertiram.

E todo mundo, na verdade, ainda é bem criança. Embora as meninas da sétima, do alto de sua adulteza, viessem me contar:

-Luuu!! Sabia que quando a gente era criança, a gente não achava nenhum menino bonito?

- É?

- É!! A gente falava assim que o único homem bonito do mundo era o nosso pai!

É!! Lu, eu falava assim: “Meu pai é o homem mais liiindo do mundo!!!”

E risos e ataques de risos, de doze anos de idade.

- Luuu!! Quais meninos você acha bonitos? Luuu!! Quem você acha que devia namorar com quem? Luuu! A Gabi brigou comigo......Luuu, o Teco é insuportável....ele é legal, mas ele é insuportável!! Luuu....

Eu também achava meu pai o homem mais lindo do mundo. Na verdade, acho isso um pouquinho até hoje, o Bolinha que não me ouça.

E à noite a gente sai do banheiro, perfumada, limpa, banho tomado, cremes passados, camisola rosa, cabelo escovado, e a aluna, do beliche, te olha e fala:

- Nossa Luana !

-Que foi?

-Que linda !!

E a gente sorri, cobre a menina, passa gelol no joelhinho machucado e dá beijinho de boa noite.

Uma das minhas principais funções era apagar a luz de noite, meia-noite, luz apagada e bocas fechadas. E como eles, os professores de Educação Física, usam a técnica de “nem um minuto parado”, os garotos despencam exaustos, e de fato logo dormem.

Aí estava tudo escuro e uma menina da quinta me chama:

-Lu....

- Oi?

- Vem aaaaaqui....?

- Vou.

Cheguei lá, tateando no escuro.

Ela me chama para mais perto e fala no meu ouvido:

- Será que dá para acender uma luzinha? É que eu tenho medo do escuro.........

E, na porcaria do chalé, não tinha nenhuma porcaria de luzinha nenhuma. Ou se acendia as luzes do quarto inteiro, ou nada feito.

- Hum... como a gente faz?

- é... num sei... as pessoas podem reclamar, né?

- É ... acho que sim... mas eu posso ficar aqui com você de mão dada até você dormir, pode ser?

- tá bom.

(...)

E no jantar, entre os tais cânticos e jogos de ritmos com as mãos... torpedinhos. E o povo se diverte, mandando declaraçõezinhas infames uns para os outros. A melhor de todas:

“Imagine uma ilha.... Na ilha, há um coqueiro....... No coqueiro há um côco... O côco cai....

E aí?

Rola?”

Enfim, isso tudo para dizer que eu mesma recebi um, do menininho da sexta que me acha belíssima, falando que eu era que nem uma rosa. Hihihihihi....

- Professora, o quê você tanto escreve?

- É meu caderninho, eu fico anotando as coisas que vocês dizem, as coisas que acontecem...

- Ah, professora... eu acho que você devia se divertir!! Vir jogar com a gente, fazer esportes...

Era um conselho sério. Eu fiquei com vontade de rir e quis dizer que me divertia assim, escrevendo, mas acatei e fui lá jogar com ele. Foi uma delícia. Me diverti muito.

E... cheguem mais perto, que eu vou falar bem baixinho:

as crianças são maravilhosas, e foi até meio emocionante passar esses três dias com eles e elas.

E nada como, aos trinta, voltar ao lugar de pesadelo dos doze. Sabem, crescer é bão também.


para quem chegou agora...
Acabei de voltar de um acampamento com os alunos, da quinta a oitava série, do colégio onde leciono. Fomos eu, os professores de educação física e a orientadora educacional. Aqui no blog tenho contado de todos os preparativos, dentre eles, arrumar uma fantasia de ídolos da música.
Um amigo meu perguntou e acho importante responder em público: sim, recebo prá isso.

Enfim... fui, sobrevivi e agora tô contando tudo, aos poucos, mas hoje mesmo já encerro o assunto. ;)
beijinhos a todos.
Lulu Lee Gótica Vitoriana ma non troppo.

16 comentários:

  1. lu, eu tenho duas turminhas de adolescentes. e mais quatro na faculdade. e de longe prefiro o povo mais adulto. eu até curto adolescentes e esses draminhas todos e a gente tem um relacionamento legal, mas já tô ficando meio cansada. com o povo lá da universidade dá pra debater, coisa de que tenho sentido falta ultimamente. e eu dei sorte porque todas as minhas quatro turmas lá na UFF são muito boas. e outro dia eu cheguei à uma conclusão meio triste. tenho colegas muito, mas muito talentosos, que conseguem tirar o máximo de alunos de sétima e oitava. acho que isso é um 'dom'... eu olho e fico assim com um pouco de 'invejinha' sabe, hehe, porque pra mim não é tão fácil. vai saber. o fato é que pelo o que você conta, teu trabalho deve ser maravilhoso e os alunos parecem te adorar. acho isso tão gostoso! um bj

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  2. Cris,
    a maioria dos professores acho que prefere alunos mais velhos, porque aí é possível conversar mais a sério, fazer trabalhos e debates profundos e tal. Eu, cada vez mais, gosto de dar aul apara essa faixa etária, quando eles são meio crianças ainda, porque eu me divirto um monte, sinto que aprendo com eles, mas acho que na verdade isso é questão de jeito.
    Meu marido, que é professor também, detesta adolescentes, acha que todos deveriam virar pupa nessa fase e sair do casulo quando já fossem adultos. Ele só quer dar aula pro ensino superior, não tem a menor paciência. Eu achoq ue nem saberia o que falar para alunos de faculdade. Jeitos. Afinidades.

    Putz, e agora fiquei encanadinha... será que esse blog anda meio exibido?
    Bom... de qualquer maneira,a série da saga no acampamento termina aqui.
    Um beijão procê.
    vamos um dia cozinhar juntas e ver as lojinhas estranhas de SP?
    Lu.

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  3. k enciumada diz:

    lu, eu amava as filhas do meu ex. a mais velha está agora com 11. e o que eu mais amo nos homens é o lado menino que eles nunca perdem (uns enveredam pelo lado negro da força - a imaturidade tbem pueril). eu acho que muitas mulheres perdem, sim, o lado criança. esse é meu medo. e não digo isso por feminismo ou machismo. eu já reparei. é muita cobrança em cima de nós. tem que ser magra, bonita, inteligente, interessante, depilada, tomar pílula [ah, a pílula me engordou, doutor, me coloca um diu], malhar, lavar roupa,usar cremes[ah, a pele da mulher cai mais cedo do que a dos homens], comprar roupa, pintar cabelo, fazer as unhas...

    enquanto isso, na sala de justiça, os homens usam ternos lindos, mas que não exigem tanta escolha. ouvi de um amigo meu que está louco com a recente paternidade [e que me mata nos ternos] que, infelizmente, ele não consegue participar sempre de tudo pq ele não amamenta e pq a mãe toma conta mesmo. ele viu como a mulher dele tá sobrecarregada, mas ficou triste por não poder fazer muito mais.

    são só pensamentos de uma pessoa que tem medo de perder esse lado criança. morro de medo.

    e minhas melhores lembranças de amizade e leveza são da época em que eu tinha 13. minha grande amiga -irmã é ainda dessa época.

    bom dia pra todos. tive um sonho lindo. acordei melhor que ontem.

    k

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  4. K,
    K,
    lindo comentário.
    sabe, às vezes tenho inveja dos meninos, eles parecem ser mais leves que a gente.
    E também não queria perder meu lado criança nunca.
    acho que por isso que gosto de ficar perto delas.
    que bom que vc sonhou, e teve um sonho bonito.
    um beijo bem grande e deixa de ser boba.
    Lu.

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  5. Acho um barato as aventuras de Lulu e seus alunos-amigos.
    Trabalho numa área totalmente diferente - minha formação é jurídica, motivo pelo qual tudo aqui, pra mim, é novidade.
    O blog não tá exibido; tá uma delícia de se ler!;-)

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  6. sim, sim, vamos olhar as lojinhas estranhas, oba! k, sem querer meter a minha colher [mas já metendo, hehe], eu vejo esse medo de não querer perder esse lado criança em muitas mulheres. eu confesso que não sou muito boa com crianças, mas adoro adolescentes, principalmente quando estão na idade do meu filho, que tem 16. sei lá, eles ficam mais irônicos, sarcásticos, engraçados, principalmente os meninos [isso é outra coisa, eu prefiro muito mais os meninos, nem sei o que seria da minha vida se engravidasse de novo e tivesse uma menina. bah! dramas...] eu rolo de rir com as histórias do meu filho e dos amigos dele, são todos ótimos. o problema de ser professor dessa galerinha mais nova [não digo esses de 15, 16, mas os mais novinhos mesmo] é que tem que manter a pose, né? eles entram numa de testar você, iih, tanta coisa. eu já cheguei à conclusão de que adolescentes são ótimos, mas não quando você tem que educá-los. eu não quero nunca perder o meu lado adolescente =]

    bjs pra vocês!

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  7. cris, pode meter sim. claro que pode. k

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  8. Eu DETESTO dar aula pra adolescente.
    Detesto o jeito arrogante e a cara de nojo deles, os risos, os sarcasmos e tudo mais.

    Não sei o que fazer com uma criança que me chama de "tia" e fica tentando me abraçar...

    Gosto de dar aula pra adultos.

    Meu marido diz que é porque eu ainda sou adolescente e arrogante, como todo adolescente e que eu não gosto DE criança e sim de SER criança.

    Eu acho que pode ser verdade, acho que aquelas patricinhas loiras, magras e risonhas me lembra muito a adolescente que nunca fui e sempre odiei...morar no sul e ser morena de cabelos encaracolados não é fácil, "Negri, tutti negri!"

    Sobre deixar de ser criança...acho que buscar isso e buscar nossa essência, nossa pureza que por vezes se perde no tumulto do dia a dia...e eu tento não deixar esse meu lado ir embora...

    Abraço.

    Janaína

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  9. Coitados dos garotos, são uns desprezados. Agora, a garotada da oitava série tem uma chance, de longe, com as meninas da sétima. Diria, os maiores da oitava com as menores da sétima. Às vezes rola...

    Dou aula pra pré-vestibular e acho que essa é uma turma para o professor que ama suas aulas. Pra dar aula pra quinta/oitava séries, tem que amar os alunos...

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  10. a janaína foi ao meu blog, lu!!!! coitada dela.

    eu acho que o que ela, a janaína, falou, pode ter a ver. eu dei aula pra umas patricinhas de 18, 20 anos... a primeira aula foi uma coisa. os meninos todos atentos e as meninas tudo me olhando com cara de nojo.

    mas, como já falei por aqui, essas mesmas meninas acabaram conquistadas por mim. elas falaram hiper bem de mim no orkut. e eu não era boazinha. mas, numa aula de photoshop pra publicidade e jornalismo, sentei com umas no fundo e tirei todos os defeitos das fotos de orkut delas. hahahahh...

    e, sobre manter essência. cara... tem coisas da minha essência que não são compatíveis com vida em sociedade. juro. e a gente tem que trabalhar, tem que se vestir "de acordo" (não sei bem com o quê), tem que isso e aquilo. enfim.

    eu sou muito séria aparentemente. mas, qdo tô só com os que me conhecem de verdade, sou uma criança. depois que perdi o medo das crianças, passei a ser adorada por elas pq eu, imagine, gosto das mesmas coisas, mas dirijo, tenho $, durmo tarde! hahahah... não é legal pacas?

    saudade das filhas do meu ex... :-)

    beijocas. k

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  11. Lulu, ter treze anos é uma lástima...rs...tudo é agora-ou-nunca, tudo é vida-ou-morte, um inferno mesmo.
    Eu tb achava meu pai o homem mais lindo do mundo, em segundo lugar, com larga distãncia, vinha o Elvis...ahhah
    Que delícia os momentos que vc viveu com as crianças, conte mais, conte mais.;0)

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  12. Eu gostei de ler o teu blog K, num sô coitada coisa nenhuma, humpf!

    Eu gosto de brincar com crianças, ainda este ano eu brinquei de barbie e se pegar e tomei banho numa pocinha d'água com duas meninas de 10 e 8 anos...

    Mas dar aula pra criança não tenho paciência...

    Talvez falte maturidade para dar aulas para adolescentes...tenho 22, então, tenho tempo pra amadurecer e tentar não apodrecer..hehe

    Este negócio que falei de buscar a essência e tal é por causa de coisas que aconteceram em minha vida, então não sei se se aplica a todos, mas me sinto assim hoje, buscando ela, dentro de mim, claro.

    Eu dou aula em cursinho pré-vestibular também e adoro minhas turmas da noite, porque são adultos e com eles posso tentar despertar a criança interior deles e posso ser séria ou sarcástica que não vou ferir o ego deles...

    Adolescente não gosta que os tratemos como crianças e nem que sejamos sarcásticos...mas acho que é porque nesta turma da manhã tenho 70 alunos só em uma sala...é dificil atingir a todos, a tarde quando vêm menos alunos a aula é super boa...e quanto ao mutismo deles, tô vendo que é aquela vergonha típica deles de passar vergonha na frente dos outros...uns bobos...

    Janaína

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  13. Lu, adorei as estórias do acampamento. Aborrecentes, ninguém merece. Mas sempre tem pessoas com talento que administram bem o assunto. Vc por exemplo.
    Um beijo grande

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  14. No próximo, quer levar meu filho?? Eu deixo!!! rsrsrsrsrs

    Mas eu não vi fotinha sua com a fantasia...

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  15. Já sei! Sou chata e insistente. Mas eu queria ver....

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  16. Lulu, amei a forma como escrveste a sua aventura na selva...sobreviviste e ainda aprendeste muita coisa...como e dificil ser adolescente em um mundo de adultos (com ceretza ja esquecemos que passamos por isso)...
    Beijinhos carinhosos do outro lado do oceano

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