terça-feira, 7 de agosto de 2007

Cronópios, famas e Brigitte

Que os meus leitores são o que há de melhor nesse blog não há a menor dúvida. E de vez em quando, escrevem tão bem, mas tão bem e com tanta generosidade que eu fico até envergonhada, querendo que todos pulem logo os posts e leiam somente os comentários, bem mais interessantes.
Leiam por exemplo os comentários a respeito das leituras de férias - e verão que não exagero.

E a Brigitte escreveu algo sobre essa história de cronópios e famas, de ser cronópio ou fama, que vale a pena ser reproduzido aqui, em separadinho, e talvez até discutido.

Quem não conhece pode ir correndo ler as Histórias de cronópios e famas do Julio Cortázar. Até outro dia eu não conhecia, é lindo ( aqui, o texto na íntegra, em espanhol). E os cronópios levam um tipo de existência no mundo, as famas outro, há também as esperanças, que não ficaram tão famosas quanto seus pares. As histórias de uns e de outros são lindas, e cada um leva um certo tipo de existência no mundo, por exemplo, sobre as viagens e o comportamento em viagens, cada um se comporta assim:

Viajes


Cuando los famas salen de viaje, sus costumbres al pernoctar en una ciudad son las siguientes: Un fama va al hotel y averigua cautelosamente los precios, la calidad de las sábanas y el color de las alfombras. El segundo se traslada a la comisaría y labra un acta declarando los muebles e inmuebles de los tres, así como el inventario del contenido de sus valijas. El tercer fama va al hospital y copia las listas de los médicos de guardia y sus especialidades.

Terminadas estas diligencias, los viajeros se reunen en la plaza mayor de la ciudad, se comunican sus observaciones, y entran en el café a beber un aperitivo. Pero antes se toman de las manos y danzan en ronda. Esta danza recibe el nombre de "Alegría de los famas".

Cuando los cronopios van de viaje, encuentran los hoteles llenos, los trenes ya se han marchado, llueve a gritos, y los taxis no quieren llevarlos o les cobran precios altísimos. Los cronopios no se desaniman porque creen firmemente que estas cosas les ocurren a todos, y a la hora de dormir se dicen unos a otros: "La hermosa ciudad, la hermosísima ciudad". Y sueñan toda la noche que en la ciudad hay grandes fiestas y que ellos están invitados. Al otro día se levantan contentísimos, y así es como viajan los cronopios.

Las esperanzas, sedentarias, se dejan viajar por las cosas y los hombres, y son como las estatuas que hay que ir a verlas porque ellas ni se molestan.

fonte: http://www.juliocortazar.com.ar/obras.htm

Eu, na leitura, logo me identifiquei com um cronópio, o que não é necessariamente bom. Já me meti em um monte de confusão e enrascadas desnecessárias, há um lado bem bem autocentrado nos cronópios que irrita, um certo egoísmo e recusa de submissão a um lado prático da vida. Mas há quase um glamour em ser cronópio, em não planejar uma viagem, não comparar preços, ter a casa em desordem, ter problemas com vizinhos, fazer uma viagem onde tudo dá errado por pura falta de planejamento... essas coisas, fica até um pouco chique ser assim - e parece que nos esquecemos que, ao chegar nos lugares que vão visitar, os famas entrarão num café, tomarão um aperitivo, e antes disso dançarão alegres em roda, na dança que se chama "a alegria dos famas".

E então a Brigite escreveu:

brigitte disse...

Sou fama, fui definida assim por um antigo namorado que se considerava um cronópio, é claro. Naquela época era um horror, eu recebia como um xingamento, e me aborrecia, me enfraquecia pensar que eu era fama. Nós constumávamos viajar bastante juntos, eram grandes aventuras automobilísticas: eu dirigia melhor do que ele, prestava mais atenção ao volante, mais cuidadosa com o velocímetro, a sinalização, afinal, eu era fama. Ele ia lendo o Cortázar no banco do passageiro, ou o Sallinger, dependendo da época da viagem. Ele sempre estava totalmente atrasado para nossas escapadas, eu preparava as malas na véspera, punha o despertador para sair bem cedo antes do trânsito, mas eu era fama, e não adiantava, mas o cronópio que era livre, leve e solto, mandava em tudo, não acordava cedo, não arrumava mala, aliás, não levava mala, e chegávamos sempre tarde, perdíamos um dia do paseio porque este era lema dele: "nada o abala, viaja não leva mala". Foram anos e anos assim, carregando o guarda chuva no porta malas, porque de repente poderia ter uma tempestade na praia, e nós não teríamos como nos proteger... pois eu era fama e não pegava nunca resfriado, e ele hipocondríaco, vivia com síndrome de pânico, insônia e desmaios de ansiedade fazendo tratamentos macrobióticos que não acabavam nunca. Um dia acabou, demorou prá caramba mas consegui me livrar daquele maldito cronópio dentro de mim, e a fama acabou sendo mais feliz, descobriu que tinha também seu lado cronópio, que era preguiçosa, e sabia perder a noção do tempo quando não tinha mais um o cronópio polícia prá dizer "o tempo não existe, quem vai embora não embolora!".

E prá terminar, as mulheres francesas não engordam por causa da bile ácida... são tão chatas, tão secas por dentro que a gordura não quer ficar nelas. Vejam os filmes que estão por aí em cartaz. Coitadas! Imagine se a Nigella escreveria um livro desses.

5 de Agosto de 2007 23:27



perfeito né?



4 comentários:

  1. Ai Lulu, vc poderia ter arrumado um pouquinho meu texto que tem muitas vírgulas (fama comentando!!)
    Eu poderia escrever o livro de auto-ajuda: "Como se livrar de um cronópio tirano em 8 episódios"

    1. cinema, shows e eventos
    2. natal, reveillon e carnaval
    3. viajens a dois
    4. viajens em grupo
    5. visitas aos familiares
    6. almoços e jantares com amigos
    7. pedido de casamento
    8. depósito/defesa de tese


    Que tal? Talvez eu tenha tempo nas próximas férias. Te amo querida!

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  2. mil perdões, já estou até confundindo español com português...viagens, viajes, viagem?!

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  3. Brigitte querida,
    vc pode tudo!

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  4. Meninas, que delícia de desenvolvimento hein. Cheguei aqui procurando algum trecho do Cronópios pra passar pra frente e gostei bastante de sua interpretação, brigitte.

    Faz um bem encontrar letrinhas tão liricamente ordenadas.. ainda mais por uma fama! Catala Trégua Catala!

    ah, essas criaturinhas verdes, úmidas e muito pequenas..

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