Every time we say goodbye
por Annie Lennox.
E no Cavaleiro inexistente, do ìtalo Calvino, a um certo momento Agilulfo parte à procura da sua história, à procura da donzela cuja virgindade teria salvo. Se for falsa a história, Agilufo perde seu título de Cavaleiro e todas as suas atribuições, e com a perda daquilo que lhe nomeia, Agilufo deixará de existir naquilo que é, perderá inclusive sua amardura. Agilufo foi desacreditadoo, e parte à procura de seu Nome.
Com ele parte Gurdulu, seu escudeiro - uma espécie de Zelig na literatura - , que tem existência, mas não tem essência, e se confunde com a sopa que toma, as rãs que o rodeiam, a árvore que lhe ladeia.
Agilulfo tem uma existência uniforme, ditada pelas regras do exército e da guerra. Sem contradições, sem oscilações, é ditado pela burocracia, contornado por sua armadura branca, impecável. Não tem existência, mas tem uma absoluta consciência de si- e é essa consciência que é abalada quando sua história é desacreditada. Gurdulu é o exato oposto, tendo existência, não tem consciência de si. Diversos nomes " que delizam nele sem jamais fixar-se", tem também diversos eus, sem ter nenhum. Mimetiza seu redor e acha que até o pé tem vontade e existência própria.
Atrás de Agilufo vai também Bradamante, a cavaleira mulher, que ama o cavaleiro perfeito, o cavaleiro inexistente, o único capaz da absoluta precisão ao atirar uma flecha no alvo:
"Preparem-me tudo, partirei, partirei, não vou ficar aqui nem mais um minuto, ele se foi, o único pelo qual este exército tinha sentido o único que podia dar sentido à minha vida e à minha guerra,e agora não resta nada além de um bando de beócios e violentos, eu incluída, e a vida é um revirar-se entre camas e caixões e só ele sabia a geometria secreta, a ordem, a regra para entender o princípio e o fim!"
E atrás de Bradamante, na Ciranda que é o romance ( e todas as histórias de amor?) parte também Rambaldo, que corria a pé para procurá-la e grita um dos mais lindos gritos de paixão:
"Aonde vai, aonde vai Bradamante? , eis-me aqui, para você, e você vai embora!" com aquela teimosa indignação de quem está apaixonado e quer dizer: "Estou aqui, jovem, pleno de amor, como pode meu amor não agradar-lhe, que deseja essa que não me toma, que não me ama, que mais pode querer além daquilo que sinto poder e dever dar-lhe? " e assim se enfurece e não consegue aceitar e num certo ponto a paixão por ela é também paixão por si próprio, é o apaixonar-se por aquilo que poderiam ser os dois juntos e não são. E nessa fúria Rambaldo corria para sua tenda, preparava cavalos armas alforjes, partia ele também, pois a guerra só é bem combatida onde entre as pontas de lança se dintingue uma boca de mulher, e tudo, as feridas a nuvem de poeira, o odor dos cavalos, só tem sabor a partir daquele sorriso. "
Porque toda vez que a gente se separa ou se vê separado, da pessoa que ama, parece que o mundo se desmonta um pouco.
E porque o apaixonado que fica sozinho nunca entende bem ao certo, ou é tão difícil compreender, porque seu coração está partido.
aviso importante:
Eu, Luana, estou bem, mas hoje - relendo o Italo Calvino - me deu vontade de fazer um post sobre corações partidos, e buscas pelo amor e pelo Nome, História e Existência da gente.
Pois é Lu, eu me pergunto a mesma coisa: amo o meu amado ou amo o que sou e o que somos juntos? Amo a parte (ele) ou amo a soma das partes (nós)? Acho que amo a soma, aliás não a soma, mas o todo, aquele que não é apenas a soma das parte.
ResponderExcluirXi, será que estou "emo" como dizem seus alunos?
O verdadeiro amor acaba nos transformando de diversas formas, então, na minha opinião é impossivel dissociar o que somos com quem amamos do que somos sós, porque do momento que amamos a simbiose entre ambos é total. (ufa!) miranda, o corretor
ResponderExcluirIsto é lindo e triste...
ResponderExcluirEvery time we say goodbye
Cole Porter
We love each other so deeply
That I ask you this, sweetheart
Why should we quarrel ever
Why can't we be enough clever
Never to part
Ev'ry time we say goodbye
I die a little
Ev'ry time we say goodbye
I wonder why a little
Why the gods above me
Who must be in the know
Think so little of me
They allow you to go
When you're near
There's such an air
Of spring about it
I can hear a lark somewhere
Begin to sing about it
There's no love song finer
But how strange the change
From major to minor
Ev'ry time we say goodbye
Ev'ry time we say goodbye
I die a little
Ev'ry time we say goodbye
I wonder why a little
Why the gods above me
Who must be in the know
Think so little of me
They allow you to go
When you're near
There's such an air
Of spring about it
I can hear a lark somewhere
Begin to sing about it
There's no love song finer
But how strange the change
From major to minor
Ev'ry time we say goodbye
Ev'ry single time
We say goodbye
Caki e Miranda,
ResponderExcluirachoq ue é isso mesmo, né? A gente se faz e se monta e se embola mesmo. : -)
um beijo grande.
Clelia,
poi sé... bonito e triste, mas bonito, né?
Cara Lu,
ResponderExcluirHá um CD chamado “Canções, versões” (de Cole Porter & George Gershwin, por Carlos Rennó), que traz, na voz de Cássia Eller, a versão de “Every time we say goodbye”. Tentei ripá-la, pra você ouvir, mas não consegui... Segue, então, por enqto, a letra (imagine-a cantando):
Toda vez que eu digo adeus
Cole Porter (Versão: Carlos Rennó)
Toda vez que eu digo adeus
Eu quase morro
Toda vez que eu digo adeus
Aos deuses eu recorro
Nenhum deus, contudo
Parece me ouvir
Eles vêem tudo
E te deixam partir
Quando estás, há só um ar
De flor em volta
Sabiás, de algum lugar
Cantam o amor em volta
Não há som melhor
Mas seu tom
Maior
Se torna menor
Toda vez que eu digo adeus
bjo,
Clé
Oh Lulu.
ResponderExcluirQue coisa.
Segue então o meu oi diário, em forma de escolha.
Mas, a aminha admiração cresce por você : afinal Italo Calvino, que *todomundo* só conhece a partira das obras escirtas depois que ele moreu?!
Só falta vc me dizer que a sua edição ainda é da Civilização Brasileira:-)
Sei que vc ficará bem.
Um ebijo
meg
Meg,
ResponderExcluireu AMO essa trilogia do Calvino, são para mim os livros mais lindos dele. Mas minha edição é da companhia mesmo, acho que das primeiras,mas da companhia. :-)
Um beijão minha querida amiga.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDepois de largar no meio "Se um viajante numa noite de inverno" e aquele de capa vermelha sobre os clássicos, eu tinha desistido de ler o Calvino.
ResponderExcluirE agora leio esse post. Vou dar mais uma chance pro homem.
Marcio,
ResponderExcluiradorei seu comentário. Tinha adorado os dois!! :-)
Dê sim, mais uma chance, os livros dessa trilogia são os mais legais.