Me perguntaram se, afinal, eu era contra ou a favor da ocupação que os alunos e funcionários estão fazendo da Reitoria da USP.
Esse é um tema delicado, o da ocupação, pois ali há grupos distintos, com posições distintas e motivações distintas. Não se trata de um movimento unificado nem centralizado, e isso pode gerar coisas interessantes mas também complicadas, por exemplo a de uma pauta de negociação em eterna expansão.
Eu me posiciono contra os decretos do governo que ameaçam a autonomia orçamentária das universidades estaduais, me posiciono a favor da contratação de mais professores, da reforma e ampliação do CRUSP ( moradia estudantil da USP), da melhora das condições físicas das salas de aula e de muitos dos espaços da USP. Qualquer um que já dependeu dos circulares bissextos que rondam pelo campus se posicionaria também a favor do aumento de ônibus circulares, e é importante sim pensar nos alunos que moram na USP e ficam ali nos finais de semana, por outro lado, sou contra a expansão do prazo de jubilamento, por exemplo.
O principal: há - de fato - o perigo de um processo sistemático de desmantelamento do e intervenção no ensino superior público, por parte do governo paulista atual, que precisa ser combatido.
Quais as melhores formas de realizar esse combate? Não sei, talvez os alunos devesssem sair da reitoria e ocupar outro espaço, sei lá. Mas que a ocupação está tomando um lugar importante na mídia e levantando um debate fundamental, está. Ok, um monte de alunos encarna uma coisa Rosa Luxemburgo, Maio de sessenta e oito, e assim por diante - e isso pode nos soar ultrapassado, romântico, hippie, talvez mesmo coisa de gente desocupada, como vi falarem por aí - mas isso não deslegitima o fato de que é necessário sim chamar atenção sobre o que ocorre na USP e nas outras universidades estaduais paulistas, e sobre uma série de decretos que retiram delas muito da sua autonomia.
Uma parte da minha vida é dedicada ao ensino, outra, à pesquisa. O estudo contínuo é fundamental para a formação de qualquer professor. A USP pode ter mil problemas mas é um centro de excelência, é um lugar de pesquisa e produção acadêmica de altíssima qualidade, é um espaço onde ainda pode haver debates intelectuais. A USP deve se fortalecer, crescer mais ainda, abrir-se mais e mais para a sociedade, aumentar suas vagas, aumentar suas cotas, aumentar o salário de seus professores, as suas salas de aula, os seus espaços de moradia estudantil. Aumentos quantitativos e também qualitativos, notem bem.
E a produção científica, intelectual, o estudo e a pesquisa são base para o desenvolvimento da nossa sociedade, isso é um clichê, eu sei, mas o fato é que parte esmagadora dessa produção é feita nas universidades públicas brasileiras. E o cientista, o pesquisador, tem que ter liberdade e autonomia de gerência de seus recursos, de orientação de suas pesquisas. São raras - e muito louváveis e algumas inclusive de excelência, também - as universidades particulares brasileiras que incentivam a pesquisa, que fazem contratos onde o professor não é horista, que investem em bibliotecas, laboratórios e assim por diante.
O papel de uma universidade não é somente o de dar diplomas. É muito maior, é fundamental na formação de um contingente crítico, que possa pensar sobre o mundo, que possa atuar na sociedade de modo a modificá-la, que possa produzir cultura e conhecimento, contra a barbárie, a escassez de pensamento, a alienação, a dependência, de maneira utônoma e séria.
E talvez venham me falar que a USP tem mil problemas, que ali há professores picaretas, que está tudo decadente, que a universidade parou no tempo, que é elitista, sei lá mais o quê. Sim, a USP tem mil problemas, e todo esse processo está talvez ajudando a enxergar alguns deles. Não joguemos o bebê junto com a água suja.
Eu me posiciono a favor do ensino público superior, eu me posiciono a favor da USP.
Esse é um tema delicado, o da ocupação, pois ali há grupos distintos, com posições distintas e motivações distintas. Não se trata de um movimento unificado nem centralizado, e isso pode gerar coisas interessantes mas também complicadas, por exemplo a de uma pauta de negociação em eterna expansão.
Eu me posiciono contra os decretos do governo que ameaçam a autonomia orçamentária das universidades estaduais, me posiciono a favor da contratação de mais professores, da reforma e ampliação do CRUSP ( moradia estudantil da USP), da melhora das condições físicas das salas de aula e de muitos dos espaços da USP. Qualquer um que já dependeu dos circulares bissextos que rondam pelo campus se posicionaria também a favor do aumento de ônibus circulares, e é importante sim pensar nos alunos que moram na USP e ficam ali nos finais de semana, por outro lado, sou contra a expansão do prazo de jubilamento, por exemplo.
O principal: há - de fato - o perigo de um processo sistemático de desmantelamento do e intervenção no ensino superior público, por parte do governo paulista atual, que precisa ser combatido.
Quais as melhores formas de realizar esse combate? Não sei, talvez os alunos devesssem sair da reitoria e ocupar outro espaço, sei lá. Mas que a ocupação está tomando um lugar importante na mídia e levantando um debate fundamental, está. Ok, um monte de alunos encarna uma coisa Rosa Luxemburgo, Maio de sessenta e oito, e assim por diante - e isso pode nos soar ultrapassado, romântico, hippie, talvez mesmo coisa de gente desocupada, como vi falarem por aí - mas isso não deslegitima o fato de que é necessário sim chamar atenção sobre o que ocorre na USP e nas outras universidades estaduais paulistas, e sobre uma série de decretos que retiram delas muito da sua autonomia.
Uma parte da minha vida é dedicada ao ensino, outra, à pesquisa. O estudo contínuo é fundamental para a formação de qualquer professor. A USP pode ter mil problemas mas é um centro de excelência, é um lugar de pesquisa e produção acadêmica de altíssima qualidade, é um espaço onde ainda pode haver debates intelectuais. A USP deve se fortalecer, crescer mais ainda, abrir-se mais e mais para a sociedade, aumentar suas vagas, aumentar suas cotas, aumentar o salário de seus professores, as suas salas de aula, os seus espaços de moradia estudantil. Aumentos quantitativos e também qualitativos, notem bem.
E a produção científica, intelectual, o estudo e a pesquisa são base para o desenvolvimento da nossa sociedade, isso é um clichê, eu sei, mas o fato é que parte esmagadora dessa produção é feita nas universidades públicas brasileiras. E o cientista, o pesquisador, tem que ter liberdade e autonomia de gerência de seus recursos, de orientação de suas pesquisas. São raras - e muito louváveis e algumas inclusive de excelência, também - as universidades particulares brasileiras que incentivam a pesquisa, que fazem contratos onde o professor não é horista, que investem em bibliotecas, laboratórios e assim por diante.
O papel de uma universidade não é somente o de dar diplomas. É muito maior, é fundamental na formação de um contingente crítico, que possa pensar sobre o mundo, que possa atuar na sociedade de modo a modificá-la, que possa produzir cultura e conhecimento, contra a barbárie, a escassez de pensamento, a alienação, a dependência, de maneira utônoma e séria.
E talvez venham me falar que a USP tem mil problemas, que ali há professores picaretas, que está tudo decadente, que a universidade parou no tempo, que é elitista, sei lá mais o quê. Sim, a USP tem mil problemas, e todo esse processo está talvez ajudando a enxergar alguns deles. Não joguemos o bebê junto com a água suja.
Eu me posiciono a favor do ensino público superior, eu me posiciono a favor da USP.
Eu já disse isso em outros blogs, mas to repetindo: é importante que se manifestem contra o controle da universidade, é importante lutar pela autonomia das universidades públicas.
ResponderExcluirNós que as frequentamos sabemos que há distorções, assim como existem verdadeiras catástrofes dentro das particulares (trabalhando nelas, muitas vezes fico ainda pasma com muita coisa), mas a importância do desenvolvimento da pesquisa e do ensino público tem que ser discutido e defendido.bj.
Lulu,
ResponderExcluirTambém sou absolutamente a favor do ensino público e não só no nível universitário, mas também nos outros níveis. É preocupante perceber o perigo que há, de acontecer, com a universidade pública, o que ocorreu com os ensinos fundamental e médio oferecido pelas escolas estaduais e municipais.
Por outro lado, pelo fato da universidade ser sustentada com dinheiro público, fico questionando se não deveria haver algum tipo mais eficaz de controle, por parte da sociedade, de como esse dinheiro está sendo gerido. Aparentemente, não está sendo feito de forma correta e muito menos democrática. Pelo fato de ter uma filha estudando lá, tenho tomado consciência de que há muita desigualdade na distribuição de recursos e é absolutamente evidente (basta andar por lá) que há escolas beneficiadas em detrimento de outras.
Mas o que me incomoda é justamente uma das coisas que você colocou, ou seja, o lance do elitismo. Uma das poucas certezas que uma pessoa muito pobre ou miserável pode ter, nessa vida, é que um filho seum jamais vai conseguir ingressar na USP ou na UNICAMP. E essa pessoa, quando compra um pacote de feijão ou uma lata de óleo, paga o mesmo valor de ICMS que eu ou você. E é parte deste dinehiro que sustenta a universidade.
Isso é muito cruel.
Na minha opinião a ocupação da reitoria passou do limite do aceitavel. Faz tempo. Não se pode tirar ou nem mesmo tentar tirar o direito de quem quer estudar, não se pode depredar o bem público e não pode-se adimitir que uma minoria se posicione como lider da massa estudantil.
ResponderExcluirO governo por outro lado não pode simplesmente querer tutelar a universidade isso é lógico, e deve, sim, melhorar as condições tanto do Crusp quanto do campos como um todo.
A ocupação resolverá realmente algum destes problemas e os outros não mencionados? Não. Criou problemas extras? Sim. Então não posso ficar em cima do muro e pensar que isso possa ser romantico, maio de 68 (tem alguem próximo ao Daniel ali por qualquer angulo que se olhe?)acho que isso tem que ser reduzido ao que relamente é: Um movimento sem liderança efetiva, sem perspectivas claras de copnseguir o que se propos e um tanto midiatico demais. é minha opinião.
Valeu pelo posicionamento... e portanto pela resposta.
ResponderExcluirAbs.
Carlos
Oh Lulu, que dizer, o que falar diante do que vc escreve, e que agora rareando o contato entre nós (too bad!) talvez o que eu quisesse dizer necessitasse do bate pronto, do replay, da pergunta e da objeção, sem espera.
ResponderExcluir---
Conheço tudo isso, conheço o ME (que, entristecidamente, acho que nunca mudará e se repetirá como se houvesse uma necessidade não de inventar a roda, mas - tornar a inventar a mesma roda) pois já fiz parte dele e já estive também, depois, como aliada dele enquanto classe, como professora impedida de dar aulas, que versariam exatamente sobre esse tema; a transmissão de experiência.
Quem não se posicionaria a favor do que vc declara? Que outro statement caberia?
Sabemos, e eu só posso falar aqui, em terreno amigo, que não se está tratando nem do Ensino, nem da Extensão e nem da Pesquisa... do que se trata, na verdade, é daquilo que seu amigo Miranda disse de forma precisa e concisa.
--
Como sabe, minha formação é "defeituosa" e posso lhe mostrar isso: Acha mesmo que esse impasse leva alguém a "pensar o mundo"?
E que "esse processo" como você afirma, está ajudando a se enxergar e a enxergar os mil problemas que toda Universidade tem?
Sobretudo enxergar a si mesma?
Acho que não, mas se me perguntar, como se perguntar a qualquer um dos que escrevem aqui, ou como escreveu o Gianotti há cerca de dois ou três dias, temo que não se saberá responder.
Mas queria que soubesse que a USP não é a minha Universidade, mas vive momentos muito semelhantes ao daquelas em que estudei e onde trabalhei.
Saiba que é muito entritecida que digo "conheço tudo isso" : é a tristeza de quem já viu que, por exemplo, uma ocupação como essa, essvazia , ao invés de enriquecer a comprensão do momento que estão (estamos) vivendo.
E que a chamada "sociedade", a quem - in limine a produção universitária deveria servir, já não mais se identifica e nem reconhece legitimidade na posição dos estudantes, se permanecer mais tempo "nste processo".
Um melancólico e peocupado beijo.
Meg
Meg querida,
ResponderExcluirsabe, é mesmo complicado e chato entar nesse debate sem um tempo decente para se dedicar a ele. Por exemplo, não li o artigo do Gianotti, pelo que ouvi falar, discordo bastante, mas queria ter uma manhã livre para ler e escrever com mais calma sobre tudo isso.
Eu também achei o comentário do Mirando bastante preciso. Gostaria de fazer a ressalva que uma parte grande dos alunos está preocupada em não depredar e cuidar bem do espaço ocupado, mas é claro que depredações ocorrem.
E sim, a pior coisa numa negociação é a intransigência e o não saber o momento de parar. Eu também me preocupo, que o movimento esvazie, que eles estejam a fim de apanhar mesmo e criar um fato político, um monte de coisa..
Agora, que os decretos do Serra são sim preocupantes, e que não vinham sendo seriamente debatidos até que tudo isso começasse, isso é fato. No sabado até a folha fez editorial demandando um posicionamento mais claro do Serra a respeito da sua posição perante as universidades.
Enfim, vejamos se à noite posso escrever mais sobre isso. O fato é que não vejo espaço apra o pensasmento intelectual e para a pesquisa de base fora das universidades...
Um beijo muito grande,
saudosa,
Luana.
Ai, por favor,
ResponderExcluirleia-se Miranda, e não Mirando...
Beijo,
Luana