sexta-feira, 18 de maio de 2007

Lobo solitário








Saiu este mês o último volume da saga do Lobo Solitário, publicada inteira pela editora Panini. É o vigésimo oitavo volume de uma longa e bela história, publicada mês a mês, por 28 meses.

Aqui em casa acompanhamos a história inteira, avidamente. Sim, durante dois anos e pouco o Lobo Solitário e seu filho, Daigoro, fizeram parte da minha vida. Todo início de mês, uma ida à banca, quando o novo número chegava. Abríamos ansiosos, rasgando o plástico com cuidado, afoitos pela leitura.
Uma edição bem cuidada, que respeita o estilo do mangá, tem um glossário cuidadoso, e prefácios explicativos interessantes.
Pelo que sei, é a primeira vez que a história é editada de maneira completa aqui no Brasil.

Um clássico.







Eu, que sou tão inconstante, mantive essa constância na minha vida, temos todos os volumes, mês a mês. Quase um folhetim, acompanhado com choro, angústia e ansiedade.


Sei lá o que aconteceu na minha vida durante esses dois anos e meio, sei mais ou menos, mas sei bem o que aconteceu na vida do lobo solitário, Itto Ogami, e seu filho, Daigoro. Acompanhei de perto, lealmente, vivi junto. Nesse último volume desfiz-me em lágrimas, trata-se de uma das histórias mais lindas que já li. Um épico, trágico e forte, de homens fortes e honrados, cheios de sentimento que precisam ser ocultos e enterrados, com um senso de dever e justiça que paira acima de tudo, disciplinados, inteiros.











A história de um pai e um filho, sozinhos no mundo, párias no Japão Feudal, no período Edo, que escolhem o caminho do Meifumadô - uma espécie de Limbo, não estão nem na vida nem na morte - pois têm uma vingança a cumprir. Como escolheram esse caminho, não temem a morte, e tampouco temem matar. Vivem fora da fronteira, fora do mundo dos vivos, fora da lei, dentro do código de honra dos verdadeiros samurais.





Itto Ogami, o Lobo Solitário, era um Samurai executor oficial do Xogum. Honrado, célebre por uma maestria no manejo da espada. Por intriga política, seu nome é jogado na lama e toda sua família, inclusive sua esposa, é assassinada. Os únicos sobreviventes do massacre: Itto Ogami e seu filho de três anos, Daigoro. Está montado o enredo: Itto Ogami abandona seu posto, deixa de ser um Samurai, torna-se um Ronin, carrega seu filho nas costas e erra pelo Japão. Torna-se um assassino profissional, o melhor que há, e acumula dinheiro para executar sua vingança contra a família mais poderosa do Japão, os Yagyu, liderada pelo velho patriarca, Retsudô Yagyu, responsável pelo massacre.





Pai e filho vivem então um caminho entremeado pela morte e por assassinatos. Itto Ogami torna-se o melhor matador do Japão, abandona seu nome, sua história. Sua origem passa a ser desconhecida, extremamente hábil, cumpre todas as missões a que é designado, sem nunca deixar pistas. Aqueles que o contratam precisam contar a razão do assssinato precisam expor suas fraquezas e segredos que, no entanto, nunca são usados. Assim, cada novo contrato é uma nova história, e as histórias envolvem paixões, vinganças, justiça social, política, honra.


Um clima um pouco parecido com o filme Os Sete Samurais , do Kurosawa - um dois meus filmes preferidos. Costurando os pequenos enredos criados a partir assassinatos que Itto Ogami comete, está o enredo principal: o caminho do pai e do filho rumo à vingança, o crescimento e o endurecimento de Daigoro - que mesmo com três anos, escolhe ficar com o pai e seguir o caminho do pai. A perseguição que ambos sofrem - pois são procurados pelo Xogum e perseguidos pela família Yagyu, e a progressiva aproximação do momento da vingança.


Enquanto esse momento não chega, pai e filho erram pelo Japão, Itto Ogami leva consigo sua espada e um carrinho de madeira, e essa é a figura do assassino, do Lobo Solitário e seu filhote.

Daigoro não conhece uma família convencional, tem alguns momentos de afeto e brincadeiras, mas é, principalmente, um companheiro do pai, dotado do senso de honra de um Samurai, uma criança acostumada com a morte e as despedidas. Uma criança solitária e silencisa, atenta, com olhos de adulto.



Eu nunca li mangás e não sou uma leitora de Mangás. O lobo solitário, de Kazuo Koike e Goseki Kojima é uma obra de arte, não somente pelo enredo da história mas, principalmente, pela beleza e arte da construção narrativa. A história é inteira contada cinematograficamente, os diálogos são econômicos, há sequências inteiras sem letra alguma.
Quadrinhos inteiros somente com desenhos de pés, de uma flor, do vento, do movimento de uma espada. O desenho é construído como se fosse cinema. Cinema dos bons, onde a narrativa acontece por meio das imagens, do movimento da câmera. O foco narrativo centra-se não na fala mas na linguagem própria do cinema - ou dos quadrinhos - ou seja, quem conta a história é o movimento das imagens, aquilo que o enquadramento escolhe mostrar e aquilo que escolhe ocultar, aquilo que escolhe realçar, e assim por diante. Contraposições, detalhes, panorâmicas. Um desenho em movimento, poetico.

Frank Miller, um dos principais quadrinistas da atualidade, enlouqueceu quando deparou-se com o Lobo Solitário, e diz ter aprendido a fazer seus quadrinhos a partir dali. Quentin Tarantino bebe na mesma fonte, muito do estilo de Kill Bill, por exemplo, está aqui.







A história de um pai e um filho, sozinhos no mundo, assassinos os dois, silenciosos, cúmplices. Daigoro é um dos personagens mais lindos e tristes que já encontrei na vida. O Samurai torna-se um fora da Lei, mas um fora da Lei que se coloca nesse lugar a fim de preservar sua honra, manter o seu caminho, encontrar a morte honrada. Para que esse caminho possa ser cumprido, há um despreendimento absoluto das coisas do mundo, pai e filho não têm amigos, não ficam no mesmo lugar por muito tempo, traçam laços que logo são desfeitos. Daigoro encanta as mulheres, ao longo da história muitas se oferecem para criá-lo, mas o menino está e quer estar ao lado do pai, na fronteira da morte.

Um assassino e uma criança. O lobo e seu filhote. Um épico em quadrinhos, dos bons.
















um ótimo artigo sobre o Lobo solitário, aqui.
Imperdível: Itto Ogami, uma ( ainda mais) bela morte, aqui.

15 comentários:

  1. Por isso que não gosto de gente que se diz muito intelectualizada e simplesmente critica certos gêneros como ruins.

    Mangá, quem diria que numa história com desenhos que lembram Dragonboll surgiria uma história épica e emocionante como vc vislumbrou?

    Sermos abertos, curiosos, exploradores, isso é bom e vc é e passa isso pros seus leitores, por isso merece o tal selo lá do outro post. Ao menos a mim vc tem aberto horizontes quanto a dar aula e leituras e cinema. Bom mesmo.

    Parabéns.


    Abraço.

    Janaína.

    PS: qaundo vi este post grande deu preguiça, mas valeu a pena...deu vontade de ler...

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  2. oi lu
    lobo solitario era colecionado c paixao pelo bravo, amigo do mauro, lembra? ele caçava cada exemplar da edicao americana (q alias o frank miller q 'endossou' nos eua e fez algumas capas, como a q vc postou), lah por 1982. o 'vagabond' eh outra serie de manga de samurai (sobre o 'lendario' musashi), q a conrad estah publicando agora e q eu estou amando. qdo vcs vierem visitar eu mostro! mil beijos e parabens pelo premio!!!
    t

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  3. ops agora q li q vc jah tinha falado isso do frank miller no post. desculpa, como sempre nao leio, soh olho as imagens... do irmaozinho ignorante
    xx
    t

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  4. Lulu, ontem eu estava justamente falando sobre isso com uma amiga: minha total ignorância sobre mangás e minha vontade de conhecer um pouco sobre essa arte (ou gênero de leitura, não sei ao certo...)
    O seu texto me deixou bastante motivada para ler "O Lobo Solitário". Mas parece que cheguei um pouco atrasada pra acompanhar essa saga... ;-)

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  5. bom, eu sou suspeito!
    eu AMO mangá.
    Lobo Solitário eu leio desde a primeira vez que ele começou (e parou) de ser publicado por aqui...anos 80?
    Agora estou apaixonado pelo Osamu Tezuka que é "O" cara.
    É o sujeito que uniu a cultura audiovisual (audio?...sim!) americana com a tradicional e sofisticada cultura visual japonesa e criou a base para o mangá, do jeito que a gente conhece.
    Tem pouca coisa dele publicada no Brasil, e o melhor é a série do Buda, publicada pela Conrad.
    O Tezuka escrevia para crianças, e que imaginação, quantas histórias, quantos mundos em uma pessoa!

    mas enfim...Itto Ogami, o Lobo Solitário é uma obra prima mesmo.

    bjos

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  6. Lu(não sei se você é a Luana Geiger, então chamo-a pelo apelido de todos),
    Sou fã total do Lobo Solitário também, assim como também aguardava este final com expectativa.
    Pra mim, é a maior graphic novel já feita.
    Um grande beijo,
    Fernando Chuí

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  7. Tiago,
    meu adorei essa história do Bravo... não sabia. que maravilha que é esse negócio. A Vagabond não acompanhei... que pena...

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  8. Lua,
    corre atrás, dá para achar, em sebos, sei lá. E apesar da história ter sim uma linearidade, elas também são autônomas, acho que dá para curtir, mesmo de trás para frente...
    aqui nos comentários o povo falou de outros mangás também interessantes!

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  9. Inter, meu querido,
    a única coisa que me revolta nisso tudo é o preço dos bichinhos.. pô, a Conrad é super careira...

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  10. Fernando,

    Eu sou Luana também, maas não a Geiger, a Geiger é minha xará, somos amigas! :-)

    Que lindo que foi o final, né? e que triste....

    Um grande beijo prá vc também,

    Lu.

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  11. Oi, Lulu!
    acabei de ler o último capítulo e ainda estou pasmo. Estou caçando na internet alguém que me explique melhor o que foi aquilo de "meu netinho"... Afinal, Retsudô foi pra vala ou não foi? Ainda devo ler tudo de novo umas cinco vezes até me acalmar...

    Bjão.

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  12. Putesgrila, também tive as mesmas impressões, e o Lobo sem dúvida é o melhor gibi que já li.

    Para contribuir com o teu post: lá no Catatau nos aventuramos a colocar alguns belos momentos, ou mesmo sobre "a vida" (que vc colocou acima), e também sobre Wu Men e Oumi Hakkei, elementos de passagens do gibi.

    Bom, espero que goste da troca de figuras! Gostei muito do blog

    um abraço,

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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