terça-feira, 22 de maio de 2007

Nua de tudo

Então eu fui trabalhar pensando no post que havia escrito sobre como a gente vai ao cabelereiro e fica tirando tudo, o anterior . E comecei a imaginar uma história, que ficou assim:



Ela havia percebido que o grande lance era tirar. Tirar os pêlos da perna, da sobrancelha, as peles dos dedos, tirar as cutículas, o buço, os pêlos das axilas. Entusiasmou-se, resolveu tirar os poros da cara, lixou toda a pele do corpo, esfoliou, fez peeling. Tirou toda a pele velha, tirou as cor dos seus cabelos, tirou os cachos, e tirou a penugem das costas e da barriga também, tirou as rugas e as marcas de expressão. Na onda, resolveu tirar o escuro dos dentes, e já que estava por ali também tirou todos os dentes do ciso. Resolveu tirar de vez as gorduras que insistiam em permanecer e foi tirando, coxas, ancas, barrigas, braços. Tirou uma tatuagem velha, e também a que dizia: "Alê, eu te amo". Descobriu tratamentos que tiravam estrias, marcas e manchas, tirou também. Tirou as sardas que tinha no rosto, tirou as estrias que tinha na perna, tirou parte da bunda e aproveitou para tirar um pouco dos seios também, que sempre os achara exagerados. Soube que dava para tirar uma costela, para ficar com a cintura fina, e tirou, logo duas de uma vez, e arrumou um espartilho moderno, para tirar mais cintura ainda. E repetiu, e tirou, e cada vez tirava mais.
Foi desaparecendo.
Desaparecendo.
Até que tirou a si mesma, que incomodava tanto. Fez PLUFT! E sumiu.

5 comentários:

  1. Oie Lulu
    Bonito conto. Acho que as vezes a gente acaba mudando tanto, a vida, os pêlos, as idéias, que olha no espelho e não se reconhece. Fica algo entre ter se dasaparecido/substituído e dá saudade.
    Obrigado pelo comentário =). O link já tava nos meus favoritos há tempos, mais do que justo estar no blog também.

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  2. Sabe, às vezes, eu fico querendo pegar uma faca e cortar fora todas as gorduras de meu corpo e fico ensaiando, apertando com as mãos o que está sobrando e eu me empolgo tanto que quase acredito que ficarei mais magra só de 'catalogar' minhas gorduras, o tanto que precisaria ou gostaria de tirar...

    Sei lá, fico querendo ser meio Chuck Norris e ter o poder de olhar para minhas gorduras e pelos e vê-los esvaindo-se de medo.

    Abraço.

    Janaína

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  3. Pois é.
    Livrar-se do exterior que incomoda, na maioria das vezes não é difícil.
    Difícil é livrar-se das amarras internas, das imperfeições de caráter, dos grilhões emocionais, dos entraves psicológicos, do "desamor próprio"...
    Acho que o que mais incomoda, na verdade, é o que está no nosso interior. Que é o mais difícil de se enxergar. Ou reconhecer que se enxerga.
    Putz, adorei o seu texto, Lulu!!!!

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  4. mais moderadamente, porém eu me vejo nesse texto... tiraria as banhas, um pouco da coxa, porém, colocaria mais no peito...
    mas não tiraria costela e essas coisas não...aff
    e tatoo com nome dos outros, já nem faz para não se arrepender!
    Até de religião, a pessoa pode mudar, no decorrer da vida... ateu descobre Deus, evangélico vira budista, enfim... acho muito radical..faz outra coisa!
    Mas para quem já fez, ainda bem que surge, cada vez mais, as técnicas, apesar de caras, para remover a fétida! hahaha

    bjs

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  5. eu já cheguei tão perto disso tantas vezes...

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