segunda-feira, 25 de junho de 2007

Os tempos

Querido diário,

Hoje é segunda feira e o final de semana foi muito bom. Vou até contar como foi, foi assim:

No sábado acordei e fiz uma caminhada-passeio-antropológico que já se torna tradicional aos sábados: ando a Oscar Freire inteira, do começo ao fim, em direção aos jardins. Chego na Augusta, faço a ginástica, e volto para casa andando também. Deixa eu contar que a Oscar Freire, aos sábados de manhã, ainda mais sábados ensolarados como foi o de anteontem, virou point dos ricos de SP que ainda andam pelas ruas. E é engraçado vê-los, juro.

A caminhada começa pelo que convencionou-se chamar de Baixa Oscar Freire, que é um jeito elegante de se dizer que há a Oscar Freire pobre e a rica. Moro perto da pobre, então começo a caminhada por lá. Atravessa-se a Rebouças e chega-se na Oscar Freire rica. É uma coisa, calçadas alargadas, cachorros e cachorras de toda espécie andando pelas ruas, os donos - inspirados nas grifes e nas roupinhas que seus bichinhos usam - andam para lá e para cá também. Uma fauna, bem divertido. Todo mundo de cabelo liso, as mulheres de cabelo liso e comprido, uma beleza. Passei por ali, de tênis, roupa de ginástica, e cachos. Me sinto quase uma revolucionária. E é impressionante como a paisagem da cidade muda, ao atravessar um quarteirão, uma cidade guetizada. Adoro andar pela cidade.

Vou seguindo a passo rápido, afinal de contas o objetivo é exercitar-me. O bom é que as coisas da vitrine são tão feias mas tão feias que eu nem ligo de uma bota custar 300 reais. Quer dizer, ligo um pouco, mas não me tira o sono nem nada. Faço a tal da ginástica, alongo, e volto caminhando também.

Essa história toda, caminhada, ginástica, caminhada, rende umas três horas de exercício. Chego em casa suada e bem disposta, acordo ele, ainda na cama, me enfio nua debaixo dos lençóis, namoramos. Longamente, sábado de manhã. Já é tarde.

Almoço em família, festa junina na escola, encontramos amigos. Em casa, Os sete samurais, do Akira Kurosawa, e Sete homens e um destino - promessa do próximo post sobre faroeste. Tá foda, confesso. Assisto um pouco. Ele tem que trabalhar. Escrever um artigo. É noite, vou ao cinema.

Aquelas coisas de São Paulo: fila para estacionar o carro, fila para comprar ingresso, fila para entrar na sala de cinema, fila para pegar o carro de volta. Ao final a gente se sente assim quase que uma sobrevivente. Nossa, consegui! Cinema, em pleno sábado à noite.
Mas é sempre bom ir ao cinema. E adoro ir ao cinema sozinha. Sento-me sempre na segunda fileira, ali, o mais perto da tela possível. Sem ninguém na minha frente, melhor ainda, sem ninguém do lado, estou tão perto que as pessoas ali na tela tornam-se todas gigantes. É lindo. A gente se perde de si mesmo, e a tela nos invade.

Escolho os filmes um pouco aleatoriamente, primeiro pelo cinema. Só vou a cinemas de rua, quando vou ao cinema sozinha. Detesto cinema de shopping. Odeio. Não há nada como sair do filme e sentir o ar, a luz, o cheiro e o ambiente da rua, do mundo fora do filme. Esse constraste entre a rua e a sala de cinema faz parte da experiência do cinema, e se perde no shopping.

Acabei vendo um filme dinamarquês, uma história de amor entre duas mulheres, sendo que uma tem pinto. Explico-me: é um ( ou seria uma? ) transexual, prestes a fazer uma operação para virar mulher em termos corporais também. É bonito o filme, bem filmado, excelentes atores e atrizes. E trata a questão do gênero, e do sexo, e da diferença absoluta que há entre as duas coisas, de maneira delicada e sem levantar bandeiras. Uma história de amor e de encontros, tratada com delicadeza. O povo que estav aao meu lado na fila odiou, saiu xingando. Eu gostei.

Volto para casa. Escrevo minha parte do conto que o Valter me convidou a escrever ( quem quiser entrar, ainda dá tempo! Trata-se de uma ciranda de escrita, uma coisa bacana que ele inventou. Leia mais, aqui).

Domingo de manhã, é dia de tomar café da manhã na rua, ali na lanchonete que parece uma padaria, perto de casa. Compramos a Falha, o Estado... uma melancolia. Carta Capital, e Revista Gula, porque ninguém é de ferro. Deixa eu explicar que é uma lanchonete charmosa, sentamos na calçada, umsuco d maracujá com laranja e um dos melhores pães de queijo da cidade.

Em casa, Chet Baker e Dave Brubeck na vitrola e lemos mais, e mais. Domingo é dia de ler o jornal inteiro e conversar sobre as notícias. Um uísque, cozinhamos, almoçamos nós dois. Um macarrão com tomates, meia garrafa de vinho.
Vejo mais um pedaço dos filmes. Tá fogo falar sobre eles.

Vamos andar? Andamos até a Livraria Cultura, a nova. E conversamos, conversamos, e andamos. Ele, em ritmo de passeio, eu, trotando atrás dele. Chegamos. Não conhecia. Rende um post específico. Já digo que não gostei, e tem mais: achei que tem pouco livro, para o tamanho da coisa. Tava lotado. Mas encontramos amigos, e pronto. Uma hora de bate papo... Acho o Ulisses em português. Sabem quanto custa? Oitenta e três reais. Sim. Oitenta e três reais. Três Ulisses dão uma bota da Oscar Freire. Mas a bota tá na Oscar freire e é feita de couro, costurada a mão, e tal. O livro é um livro. Quem compra livro, para ler mesmo, quem vai à livraria sem ser para tomar café, não tem dinheiro! Muito caro livro nesse país. Muito caro. Depois reclama-se que ninguém lê. Depressão. Isso sim me tira o sono. O livro fica lá.

Andamos de volta para casa, mais uma hora de passeio, com fome, mas como é difícil achar um lugar barato e bom em SP para se comer. Quase impossível. Paramos ali na lanchonete na esquina de casa mesmo. Sim, onde tomamos café da manhã. Ali é quase nossa segunda casa, confesso. Comemos comida: bife, arroz, farofa, salada... Eu comecei a querer calcular as calorias ingeridas em relação às calorias gastas, mas parei rapidamente com isso, juro.
Mais conversas, mais um pouco de filmes. Hora de dormir.
E colocar o despertador para seis da manhã de segunda, pois as cem provas e trabalhos e etc continuam intactos. Pois é, a professora aqui anda totalmente sem saco...

Um beijo grande a todos,
Lulu.

Hum.. você é novo por aqui? Leia também!
Sobre a Oscar Freire, aqui.
Sobre o Ulisses, aqui.

10 comentários:

  1. Lulu,

    Concordo com você totalmente. Não gsotei da nova Cultura foi claramente feita pra impressionar e impressiona, mas a mim ao menos impressiona pelos motivos errados. Como uma livraria pode ter tão pouco livro?rsrs Caso classico de forma se sobrepondo ao conteudo.

    Seu final de semana é meu sonho de consumo a muito tempo sabia? Passear calmamente pela Oscar Freire... Putz eu ficaria feliz com um passeio a pé no Sábado cedo mesmo se fosse na Marginal Pinheiros... Meu Sábado foi andar em circulos por um estande de vendas. E namorar na cama então? Sem pressa, Putz! que delicia! Uma boa semana pra você e obrigado per suas belas palavras e especialmente pelo "Davi".

    P.S Agora falando em cidae dividida por guetos, você precisava ir em um plantão de vendas como foi o meu no Sábado.. As pessoas enloqueceram de vez...Perderam a noção do valor do dinheiro.

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  2. Luana,
    gostei muito de "ver" no teu final de semana. Legal. O importante(eu acho) que estava ao lado de quem se ama. Aí tudo fica mais fácil ser suportado. Até as loucuras de uma bota por 300 paus.
    Namorar na cama, comer na padaria, enfim, coisa de uma S.Paulo doida. Estou mudando de volta para essa loucura. Você precisava passear um domingo pela manhã no Capão Redondo(brincadeirinha, não te recomendo não), mas foi lá que passei a maior parte da minha vida. E os carinhas saem de lá para aterrorizar nos jardins. Vida loka.
    Querida, obrigado pelo link. E bota o conto no ar, o calendário já foi pro beleléu mesmo.
    Beijo, menina

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  3. Valter,
    o conto tá aí! :-)!
    Beijo em vc. Sei que vc está voltando para essa loucura daqui. Mas também sei que ao lado de muitos amores, então fica tudo bem mesmo.
    Lulu.

    Miranda!
    Acho que eu num vou não num estande de vendas desses aí... A Oscar freire já é suficiente!:-)
    um beijo,
    Lulu

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  4. Lulu, esse teu post me deu uma nostalgia! Morei em SP 3 anos, aproveitei bastante a cidade durante esse período, embora trabalhasse em regime de quase escravidão e vivese na Ponte Aérea. E acho que era quase tua vizinha, morava na Alves Guimarães, perto da escadaria que desce para a Cardeal Arcoverde. Meu programa de sábado de manhã era ir na feirinha da Benedito Calixto, tomava café no Fran's ou na padaria da esquina da Capote Valente com a Teodoro. Que saudade!
    Adorava tb ir ao Espaço Unibanco, andar na Augusta, a Livraria Cultura do Conjunto Nacional que eram 4 na minha época. Ia tb na Livraria da Vila, costumava almoçar de vez em quando no Alternativa, um natural que ficava me frente. Gostava muito de jantar no Spadaccino, um italiano que ficava numa rua proxima dali, acho que a Mourato Coelho...caramba quantas lembranças...posso ficar aqui horas falando - ou melhor escrevendo - sobre isso...
    SP é uma cidade fantástica, eu e meu marido temos muita saudade dos lugares que frequentávamos, mas temos consciência de que a vida, com filho, ainda é mais fácil aqui no Rio, apesar dos pesares.
    Fale mais sobre São Paulo!
    Beijão!

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  5. É pra falar de saudade?

    Então tá:

    Eu tenho saudade de morar numa cidade em que eu ia ao banco e dizia: "a mãe mandou ver o saldo da conta dela" e o cara passava o valor e ainda pedia se ela tava bem.

    Tenho saudade de morar numa cidade em que saíamos o dia todo e deixavámos a porta e as janelas abertas e o rádio ligado e nunca fomos roubados.

    Tenho saudade de andar nas ruas de uma cidade em que todas as pessoas que eu encontrava na rua eu conhecia e desejava "Bom dia".

    Tenho saudade de morar em uma cidade em que se você podia atravessá-la a pé em 20 min.

    Tenho saudade de morar em uma cidade em que eu ia e voltava da escola, desde a primeira até a última série, sozinha, a pé.


    Tenho saudade de morar numa cidade em que se podia fazer sapata na única rua de asfalto da cidade e também jogar caçador e futebol no meio da rua e não ter perigo de vir carro.


    Tenho saudade de, ao terminar Ensino Fundamental, ir procurar emprego nas lojas e não ter porque as vagas eram preenchidas por parentes.

    Tenho saudade de morar em uma cidade em que todos sabiam o que você fazia, quando e porquê.

    Tenho saudade de morar numa cidade em que se você tivesse o cabelo encaracolado como o meu certamente era "negri, tutti negri!" e é claro que como tal provavelmente fosse preguiçosa, relaxada e estas coisas todas.


    Tenho saudade de morar em uma cidade em que o melhor programa do final de semana era ir nos jogos de futebol torcer pro time do namorado e depois tomar um sorvete na única sorveteria da cidade.

    PS: Só pra não ficar dúvidas: eu não sinto saudades de lá. Só na infância, mas não do sul.

    Abraço.

    Janaína.

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  6. Nenhuma discussão Risoto?

    Bah... Gostei não...
    rs...
    (bincadeilinha, julo)

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  7. JANAÌNA e RENATA,

    geeeenteee...

    como que é isso? leitores que emudecem a gente?

    puxa...

    obrigada, mas muito obrigada, por enriquecerem assim desse jeito esse diário dessa luluzinha. pô!

    :-)

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  8. meu querido estranho,

    só tenho a dizer que nessa semana entro em férias, UM MÊS. Inteiro. HAHAHAHAHA!!!
    ;-)

    beijos,
    Lulu.

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  9. Ei Lulu, esta é a primeira vez que entro aqui pra comentar. Já leio o seu blog a uns 5 meses, e ele é simplesmente o meu favorito entre mais ou menos 150! Curto bastante os seus casos no colégio. O post de domingo sobre agarrar a vida (Saul Bellow?) foi sensacional. Juro que suas palavras mudaram completamente o meu domingo. Obrigado. Aqui em BH costumo ir na serra (bairro um pouco distante do meu mas super arborizado e com clima mais frio tbem). Após caminhar por duas horas vou na padaria e faço aquele café da manhã. É isso aí: padaria depois da caminhada sem se preocupar com calorias. É ótimo! bjos. Eduardo.

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  10. Eduardo!
    sabe, eu acho que sou meio repetitiva às vezes nas respostas dos comentários, mas é que sempre me espanta um pouco o fato de eu ter leitores, de interagir com e na vida desses leitores, pô, é legal prá caramba, eu fico super contente de sber que sou lida por vc há cinco meses. Ah... obrigada!
    e.. sabe... essa expressão, de agarrar a vida pelos chifres, eu acho mesmo que tirei de algum lugar, mas não sei de onde...
    sim, e padaria depois da caminhada é mesmo tudo de bom!

    Um abraço grande,

    Lulu.

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