segunda-feira, 25 de junho de 2007

"Para não falar de todas essas mulheres"

O Milton Ribeiro um dia escreveu mais uma história de homens e mulheres, de casais, paixões, atrações, desencontros, essas coisas. Quem o lê sabe como são tocantes - às vezes engraçadas, às vezes melancólicas, sempre bem escritas, bem construídas, sempre tocantes - essas histórias que o Milton escreve. E histórias bem escritas pegam a gente de jeito.

O Valter Ferraz foi pêgo, enlaçado e tomado pelo conto que o Milton escreveu. Um conto sobre uma Luana e um Juliano ( e eu ainda mato essas Luanas todas que andam por aí, vilipendiando um nome tão belo, tão poético... :-) ). Um conto sobre um fora. "Para não falar de todas essas mulheres". E o Valter se emocionou, e foi impelido a continuar o conto, a vida das personagens não poderia parar ali, os caminhos continuavam. Continuaram, aqui.

E fez-se o convite, ainda aberto, para que continuássemos, e escrevêssemos uma espécie de obra coletiva, onde os capítulos fossem dispostos e expostos a cada segunda, pelos meandros da blogosfera. Mas as palavras têm seu ritmo e vontade própria, e escrevemos ao mesmo tempo a continuação a partir do caminho do Valter. Eu, Adelaide Amorim, e se bobear, muita gente mais.

Não ia postar a minha agora, as Luanas e Julianos tomam caminhos diferentes em cada continuação, e isso quebraria o enredo da história. Mas o Valter falou que eu postasse. E eu fiquei pensando que fica até legal, comparar. Como a história continua, por cada mão. Quais destinos damos e demos aos personagens.

E o conto se bifurca, como num jardim borgeano. Ou não. Torna-se um conto só, multifacetado. Vai saber...
E não são sempre assim os caminhos, daqui, de lá e da literatura?
Então, aqui vai a minha parte sobre essas mulheres.

Para acompanhar, não deixe de ler primeiro o conto do Milton. Depois a continuação do Valter. Aqui está a minha, que continua a do Valter. E aqui uma outra possibilidade, no umbigo do sonho ( que nome lindo para um blog, não?) . Deu para entender, né?






Será que ele lhe era insuportável? Sim, era.
E que idéia, convidá-la para sair, daquele jeito, ali, na fila do buffet. Era melhor ser o mais direta possível nessas horas, porque senão os caras não entendem, e grudam. Deixar tudo claro de uma vez por todas, com simpatia: um cinema, ok; mais que isso, não, já aviso logo de cara que é para não criar expectativa. E a cara que ele fez? Cara de cão sem dono – pior, cão abandonado pelo dono, no meio da chuva, no dia de natal. Vai ficar com essa cara? Ele nem respondeu... dava logo para ver que ele queria uma História. De amor, sessão da tarde, pipoca, essas chatices de menino. Ah... mas como são tolos esses moleques. Imagina se ela ia se apaixonar por um menino como ele? Tenha dó! E além disso ele não tirava os olhos do decote dela, nunca, jamais. Parecia falar com o pingente que caía entre os seios, não com ela, Luana. Não fora para aquilo que ela tinha feito a cirurgia nos seios, não... queria coisas melhores, e haveria de ter. Havia prometido a si mesma: chega de sair com moleques. E respirava aliviada, queria grandes histórias, com Homens Interessantes.

Queria um homem mais velho, que lhe soubesse tocar, grisalho, as mãos calejadas, o coração calejado, que pagasse a conta e abrisse a porta do carro, lhe ensinasse sobre a vida e vinhos e tomasse as decisões. Que soubesse ouvir e falar, tivesse casa, dinheiro, carro. Que lhe contasse histórias de longe e de perto, de outros lugares, que soubesse línguas e fosse educado. Queria uma voz rouca, uma vida já construída, um porto seguro, um olhar cansado e sábio, vivido. Nada dessas besteirinhas apaixonadas de alguém que tem ainda cara de menino. Um Juliano... Nada de dedicação sem fim, de carinho, de ficar olhando enquanto ela dormisse. Queria uma certa indiferença e uma certa malícia, uma certa autoridade de homem mais velho. Sem essa de gente que fica sonhando acordada, olhando olhando, que perde a fala e mal sabe fazer um convite decente. Queria que lhe agarrassem, que lhe arrebatassem, que viessem e dissessem: vem, é por aqui. E a deixassem sem fôlego.

Melhor ser direta nessas horas. Falar logo de uma vez: só saio com homens mais velhos. E ele amuou que parecia que ia derreter por baixo da mesa. Havia até gente reparando, ela notou. E depois, sim, ela falara sem parar, porque o cão abandonado e sem dono era cada vez mais insuportável.

Pô, nunca teve um convite recusado na vida? Ele murchara, foi minguando, não conversava mais com ninguém, até olharam feio para ela. E ela tinha culpa? O olhar dele quase batia no chão, e ele nem quis sair depois com a turma. Ficou sozinho, ela reparou, e tinha como não reparar?

Lembrou do collie que tivera na infância, ele tinha uns olhos tristes assim. O collie morreu. E Luana foi ficando com mais raiva. Quanto maior a raiva, mais falava, jogava o cabelo para lá e para cá, como fazia quando ficava nervosa. A turma inteira conversando e o Juliano lá quieto, sorvendo as palavras... Não podia mais ver aquele menino, diria logo no dia seguinte: Juliano, não podemos nem ser amigos. Não aguento essa sua cara de bebê chorão. Não ia conseguir dormir. Não havia jeito. Decidiu ouvir um jazz, tomar um uísque, antes de voltar para casa. Sempre há homens interessantes e mais velhos, nesses buracos onde se ouve jazz.

14 comentários:

  1. Luana,Lulú:
    Menina, bingo!
    Tua introdução ficou dez e só faz realçar o texto que veio a seguir.
    Acho que estamos no bom caminho.
    Não podemos deixar de dizer que o crédito tem que ser dado à LEILA, que foi quem comentou lá no perplexo e propôs a idéia, que eu só fiz aceitar.
    Acho que ganhamos todos.
    Parabéns e vamos esperar pelos demais.
    Um beijo

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  2. Lulu (Luana?!), está ficando cada vez mais gostoso esse jogo de continuar o conto do Milton! Acho que tivemos uma visão bem semelhante da história e da reação de Luana (faltava um olhar feminino!), e só bifurcamos o jardim no fim do texto. Gostei, mesmo. Um beijo.

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  3. Gostei, li todas as partes, em cada blog que indicou.

    Achei interessante a idéia, isso ainda vai dar muito pano pra manga.

    Gosto muito da forma como escreve, não sei explicar, mas gosto.

    Abraço.

    Janaína.

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  4. Oi Lulu
    Primeira vez por aqui, por indicação do Valter, do Perplexo. Vim conferir a tua continuação do conto do Milton. Concordo com a Adelaide, ficou parecido com a continuação que ela deu. Parabéns por ter aceito o desafio. Quero é ver agora como vai se sair o próximo.Eu daqui só me deleitando com os escritos de vocês. Isso ainda vai render muiiiito.
    Beijão

    Leila

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  5. Lulu,

    Vou te confessar uma coisa: Sou seu fã!

    Eu fico imaginando as palavras no mundinho delas e ai chega o anúncio que a Lulu vai escrever...

    Elas devem ficar todas loucas, ouriçadas, querendo ser utilizadas por você... Esta ordenação que você aplica a elas é demais! Parabens.

    E essa ideia de um conto aberto, bifurcado, fantástica! Há se eu tivesse mais coragem...

    Beijo

    Miranda

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  6. Miranda, por quê não tenta?
    Um abraço

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  7. sabe o que eu achei mais legal?
    é que os contos não são excludentes, eles se encaixam perfeitamente um no outro.

    fiquei até tentado a escrever também, hehe

    bjos

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  8. VALTER,
    o qu eue posso dizer?obrigada pelo convite e oportunidade! :-)

    ADELAIDE,
    eu achei incrível como, de início, tomamos caminhos parecidos e demos uma voz semelhante a essa personagem. Sim, me chamo Luana, vai dizer... :-)
    Um beijo,
    Lu.

    JANAÍNA,
    vc ... ah, vc.
    :-)

    LEILA,
    Obrigada pela visita, e sim, esse jogo tá bem divertido! :-)


    AH, MIRANDA!!
    Vai lá... escreve!

    o INTER já se animou. mãos à obra, Daniel! :-)

    Beijos a todos,
    Lulu

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  9. Sra Lulu
    Conheci seu blog através do Eclipse, que costumo ler e gosto muito. Adorei a resenha do Liberty Valance. Estou falando dela no blog que mantenho no site do JORNAL DO BRASIL online, o Santa Bárbara e Rebouças. Acesse http://www.jblog.com.br para ver a home page dos blogs ou http://www.jblog.com.br/gustavoalmeida.php para ir direto no meu.
    Abraços

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  10. Caro Gustavo,
    Fiquei honrada e contente com sua visita, e ainda mais pelo fato de ter gostado mesmo da minha resenha sobre o filme. Muito obrigada! E vc foi bem generoso, ao dar o link para cá, e com as palavras que o acompanharam.
    Muito obrigada!
    Volte mais vezes,
    Lulu.

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  11. Lulu, disse isto à Adelaide e tenho que repetir pra você: que bom que a rede e a blogosfera nos entregam estre mágico presente que é conhecer pessoas cheias de talento e que sabem brincar com palavras nas construções de belos textos. Parabéns pela tua continuação e fico feliz por tê-la conhecido a tempo de resgatar tudo que até agora perdi. Citarei-a na introdução do meu texto de "continuação", que pretendo publicar hoje ou amanhã. Abraço.

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  12. Lulu,
    S� agora descobri seu blog, atrav�s de seu coment�rio l� no Lord. Colocarei um link pra facilitar minha vida. Gostei de seu conto. Voc� deve ter reparado que usei o tique de jogar os cabelos. Vou ficar fregu�s daqui.
    Beij�o

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  13. tenho uma reclamação muito séria a fazer cara Lulu, fiquei muito empolgada para ler este conto, mas... não está disponivel a parte deles!

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