sábado, 16 de junho de 2007

Bloomsday 2007

21:00 hs

E chego em casa. E em meio a cotoveladas e um comentário lindo do meu pai sobre o Segovia tocando Bach ( que postei aqui), a descoberta de que estamos em pleno Bloomsday.
Não li jornais, não sabia de nada, na verdade, nem sabia que estava tendo fashion week na cidade, ia saber do bloomsday? Não sei a data de cor, é claro. Mal sei a data do meu próprio nascimento, vou lá saber qual foi o dia em que o Joyce finalmente saiu com a Nora?

E, via o biscoito sempre fino
designorei e desembestei um pouco , fiquei sabendo que dia era hoje e fui parar no blog Odisseia 2005
E olha como foi, e está sendo ainda, o sábado e a madrugada de domingo desse lugar, desse blog que aliás chama-se Odisséia: das oito da manhã do dia 16 às duas da manhã do dia 17 saem posts que acompanham o dia de Stephen Dedalus e Leopold Bloom por Dublin. Não contente, o Leandro Oliveira ainda faz mais posts sobre a obra, dando dicas de leitura, indicando outros links, mostrando um caminho possível de travessia dessa Odisséia. Ou seja, ano que vem, quem puder, pode ficar em casa, andando pela Dublin virtual, com excelente guia.

Fiquei besta.
E sabem o que eu fiz?
Eu ri.
Eu ri e pensei: e tem gente que ainda acha o Jack Bauer o gostosão da hora...
E depois ri mais, ao lembrar de tantas resenhas falando do caráter revolucionário da série 24 horas. Tanta coisa em um dia, vários ângulos... ai, ai... quanta pobreza.
E eu ri, um pouco triste, porque bacana mesmo é beber cerveja pelo Ulysses. E começou a me dar quase uma nostalgia de uma época onde havia de fato irrupções nas formas possíveis de arte, quando os processos eram sobre pornografia, onde havia pareceres bem escritos, feitos por juízes cultos... ôpa! outros nem tanto, calma lá... e logo lembrei que isso é besteira, romantismo besta que fica querendo sempre viver outros tempos já passados. O livro está aqui, eu tenho.

Lembrei que nunca li.

22:00 hs

O Idelber havia explicado já qual era história mesmo. Havia até o link do Ulysses for dummies, que eu talvez devesse ter consultado antes de escrever esse post. De qualquer jeito, a história parecia simples. Simplíssima.
Ou nem tanto. Continuei percorrendo os blogs.

Tinha o lance do paralelo com o Ulisses e sua Odisséia. Sorri confiante: esse eu conheço. Já li e reli, até contei um negócio sobre minha história com esse livro, aqui. Entretanto, minha confiança se desvaneceu nuns três toques do mouse... eu lá sei a ordem dos episódios toda de cor? E quem era a Nausicaa mesmo?
ai...
E tinha o lance dos trocadilhos, montes deles. Das brincadeiras com as palavras, as citações...
Claro, parei de sorrir.
Pensei: fudeu. Esquece.
Meu Ulysses vai continuar bem ali, ao lado do Homem sem qualidades, que o Milton mandou que eu lesse de camisola abotoada e sentada na escrivaninha ( nos comentários desse post aqui) . Quando eu tiver uns oitenta anos, se ainda tiver viva, vou lá e leio os dois de uma vez.

Mas... ( e tudo na vida tem um porém, e assim justifico o período iniciado com uma adversativa, ou não justifico, mas pelo menos me declaro consciente do mal gosto da escrita), mas...

tinha também um chamativo, um estímulo para a leitura.
um grande chamativo. Fora todas as lôas e a própria existência do Bloomsday, e tal.
Fora o fato de que todo mundo aproveita esse dia para beber cerveja.

Tinha mais uma coisa.
Que eu lembrei.

As tais cem páginas finais, o tal do monólogo da Molly Bloom.
Cem páginas de um período só, sem pontos finais ( lenda ou realidade?) .

A curiosidade é maior que o desânimo.


23:00 hs

Vou à estante, lá está ele, o livro, sempre, provocador. Abro as páginas, a lombada já está gasta, noto. Tantas vezes aberto, nenhuma vez lido. Coitado.

Enfim, livro no colo, checo: não sei se são cem páginas, mas que não parece haver nem um pontinho final em toda a parte final do livro não parece mesmo. Nem parágrafos, um jorro. Que coisa. Preciso mostrar para os meus alunos... e mais: o conteúdo. Ah, o conteúdo!

O Idelber havia confirmado: sim. Pornográfico. A mulher tá falando de sexo.
Puta estímulo.

( ok, concedo: esse negócio de conviver demais com adolescentes positivamente está me fazendo mal... ao invés deles começarem a pensar que nem eu, sou eu que cada vez mais penso como eles... ai, ai... ) .

Continuei xeretando. Fui ler as palavras finais, já que não tinha nem parágrafo nem frases finais.
E li. Olha só ( e peço desculpas pela versão em inglês) :

"(...) and then I asked him with my eyes to ask again yes and then he asked me would I yes to say yes my mountain flower and first I put my arms around him yes and drew him down to me so he could feel my breasts all perfume yes and his heart was going like mad and yes I said yes I will Yes"


24:00hs

lindo.
lindo um livro terminar com a palavra Sim, naquela situação, da boca de uma personagem feminina.
Achei bacana mesmo. E ainda reparei que não só não tinha pontos finais como também não tinha pontos nenhuns. Geeenteeee....

E... sabem? eu gosto mesmo do outro Ulisses, o da Odisséia.

E começou a me dar uma vontade de ler o livro.

de trás para frente, confesso.

Comecei a ler de trás para frente, porque queria saber o que vinha antes do tal do Yes final, e antes, e antes. Contive-me, já que sou uma mulher disciplinada ( risos) .

Respeitemos o desejo do autor, se ele organizou e se deu ao trabalho de dispor as palavras numa determinada ordem é porque talvez ficasse feliz se as lêssemos assim. Respeitemos.

Enquanto voltava para a primeira página do livrão que tinha no colo, lembrei de mais um estímulo:

tinham falado que era um livro legal.

isso é algo que se deve respeitar, quando vem da boca de gente que a gente sabe que é de confiança.

Há dois livros legais com fama de herméticos e difíceis que tornaram-se dois dos grandes livros da minha vida: Grande Sertão Veredas e Crime e Castigo. Morria de preconceito, com os dois. E comigo: me achava incapaz de gostar de livros assim. Vou contar um segredo: para além de qualquer metafísica, esses dois aí são, antes de tudo, livros legais prá caramba. Um, estilo bangue bangue; outro, de tribunal. Basta um pouco de interesse, alguma disciplina inicial, e entrega. Uma certa disposição de enfrentamento, de mergulho no não familiar, e pronto. Trinta páginas e já se está preso, e em contato com o sublime. Esses são dois livros legais, apesar de meio chiques e tudo o mais. Porque não há de haver mais outros?




Então, lembrados os estímulos, o livro já no colo, decidi me despir de preconceitos. Por via das dúvidas, coloquei uma camisola com botões de madrepérola. Sentei. Liguei o abajur potente.

01:00 h

lembrei de quando ganhei o livro. Cada exemplar tem a sua história. Esse também tem a dele.

Sabem, eu tenho o livro em inglês já faz algum tempo, e o levo para as casas pelas quais passo. Trouxe-o para cá. Tenho o livro desde os dezoito anos. Eu fui uma adolescente legal em algumas coisas, insuportável e complicada em muitas outras, e fui muito, muito metida.
E aí pedi de aniversário de dezoito anos Ulysses, e como se não bastasse, falei que leria no original. Acho que não passei da primeira frase. Dã....
E depois que cresci um pouco mais, fiquei com muita vergonha disso, de pedir um livro desses como presente de aniversário de dezoito anos. Eu heim? Coisa insuportável! Depois a vergonha também passou, mas o livro ficou lá, sendo aberto e logo fechado, de tempos em tempos. Eu o levei para lá e para cá. Nunca foi lido.
Agora, aos trinta e um, vou abrir a primeira página mais uma vez. Por motivos mais certos. Não porque seja chique ou importante ou sei lá o quê. Mas porque deve ser legal.

Começou o meu bloomsday, vamos ver. Se o inglês tiver muito complicado ( rá, rá, rá...), peço de aniversário de 32 a versão em português ( hum... já vou pedir...) .




2:00 hs

acho que vou tomar uma Guiness.

e obrigada a todos os dublinenses virtuais.


ps. Nesse momento, uma da manhã, Leandro nos conta que Stephen e Bloom estão indo até um abrigo de cocheiros. Na Odisseia, Ulisses se encontra com Eumeu, logo antes do encontro com Penélope.
sorrio.

começo minha leitura com o dia no fim, às vésperas do encontro.


Achei isso legal.

boa noite, e um beijo a todos.

depois eu conto se rolou. :-)

Imagem retirada daqui.

16 comentários:

  1. Você tá falando da Odisséia?

    Porque eu fui procurar na Odisséia aqui de casa e não tem 100 páginas sem ponto e tal...

    Mas pode ser que tenha pq eu tô ainda meio grogue...

    Sexta e sábado fazendo quentão, caldo, cricri, cachorro quente e outras guloseimas pra vender na barraquinha de São João da faculdade e depois vendendo até altas horas da madrugada...

    E eu lá, só pensando no tanto de coisa pra estudar e fazer em casa...

    Mas que nada.

    Abração!

    Janaína.

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  2. Janaína querida,

    hahahahahaha!!!

    eu escrevi o post bêbada de sono, vc leu bêbada de festa!

    vixi!!!

    :-)

    beijões.

    Lu.

    mas desculpa a hiper confusão do post. Um treco tão enorme e nem fica claro do que eu tô falando! é do Ulisses do James Joyce, mas que parece que tem tudo a ver com o da Odisséia. Enfim...
    te adoro!!!!

    Lu,

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  3. Lulu,

    Tenho que confessar um crime. Nunca consegui ler Crime e Castigo. Já tentei muitas vezes. Não sei o que é que dá em mim. Já li outras obras tão herméticas ou mais. Já encarei muita pedreira e, normalmente, extraio um imenso prazer com essas leituras. Mas tenho um certo travamento com Crime e Castigo. Tentei muitas vezes, em diversas fases da minha vida. Na maioria das vezes travava na primeira página. A última vez foi há um mês, em que atingi a marca de 4 capítulos. Mas desisti. Ficava olhando outros livros na estante que olhavam suplicantes pra mim e sucumbi à tentação de desistir mais uma vez.

    Confessei o crime. Qual será meu castigo?

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  4. Ahhhhhhhhhhhhhhhhh bom.

    Eu não li a Odisséia não, meu marido já leu e ele não lembrava de uma parte assim...

    Aí eu disse: Será que não tem um livro chamado Ulisses?

    Aí eu li denovo o post e não falava nada, aí eu pensei: "Talvez seja na Iliada"

    Aí meu marido, que já leu tudo que é livro que eu nunca li e tenho que ler, disse que não, pq ele já tinha lido a Iliada e blá, blá blá...


    Aí eu parei de pensar pq tava com sono...tanto quentão que eu tomei...tanto bêbado besta que ficou enchendo o saco, tanta dor nas costas...mas o pior não foi isso.

    O pior é ter que ouvir mísicas assim:

    "Aaaaaaaaaaaaiiiiiii, tapinha na bundinha, vaaai! Eu sou sua cachorra, vaaaai!"

    Ou então:

    "Conheci uma gringa que bebia todas e ficava doidinha, ela dançava muito, rebolava até o chão! Ela dizia I LOVE YOU, ela era muito doida" É no risca faca que te conheci, é no risca faca que me apaixonei"

    E ainda:

    "Ela é minha patricinha, ela fica doidinha quando bebe e dança de tudo, rebola e me deixa doido! Patricinha eu gosto muito de vc, mas eu só vou ficar contigo se vc parar de beber, de beber, de beber"


    Pra ver o quanto eles são contraditórios...(fora calipso e as outras merdas do funck).

    Fico pensando o que aconteceu com as festas juninas. Pq hoje em dia não parece existir mais festas tradicionais, com suas músicas tradiconais e tal. É tudo um disfarce, eles colocam um gaiteiro no começo e uma quadrilha e depois o funk e o dance rola solto...

    Fazem um show de uma hora com uma banda de rock e depois é só tunts tunts (barulhinho de música eletrônica).

    Mas o verdadeiro crime é fazer uma festa chamada "Rocknejo"...deve ser o Bruno e marrone tocando uma versão de algum sucesso do rock internacional...

    Mas, como vivemos num mundo capitalista, a festa foi ótima: conseguimos 1400 reais de lucro.

    E assim caminha a humanidade...

    Pronto: desabafei.

    Abraçãozão!

    Janaína!

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  5. Aqui tu podes ler à vontade com cerveja, café, o que quiseres. Dá para ler deitada e pensando vagamente em sexo, dá até para deixar o verbo dar intransitivo, a qualquer momento. É cheio de joguinhos e artimanhas. É um livro culto e malandro, que se enfrenta em qualquer postura ou posição. Esqueça aquela coisa que escrevem os maus leitores, nada de dizer que é livro para quem tem uma ultra-maturidade. É um livro para quem gosta da melhor literatura. Livro humano, com desejos e ações humanas. Com sexo, medo, psicologia e uma linguagem literária belíssima. Se não der para entender algumas partes, elas farão sentido logo ali na frente. Nada de nervos. :¬))

    Com o Musil não. Seriedade aqui! Leia sentada e de batom. Bebida indicada: chá.

    Beijo.

    (escrito de cabo a rabo com um leve sorriso, claro)

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  6. o negócio é o seguinte, 16/06 é aniversário da lia - e se ela fosse hominho, seria luiz ulisses, que eu acho de uma sonoridade incrível.
    :>)
    diga para sua amiga janaína ler esse velho post meu:
    http://www.verbeat.org/blogs/biajoni/arquivos/2005/06/para_neofitos_e.html
    ;>*

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  7. Vou ler Bia, obrigada.

    Janaína.

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  8. Arnaldo,

    sabe? aquele começo do crime e castigo, com o cara suando, tendo delírios, alucinações, passando mal, no quartinho, com febre e pesadelos, é de lascar mesmo. Todo mundo que lê fica meio assim, tem pesadelos, essas coisas. Aqui em casa o Filipe também nunca passou dessa fase.

    seu castigo?

    vejamos...

    fiquei pensando, confesso. No começo pensei em horas num quartinho fechado, ouvindo Evanescence e Enya ... depois achei que não era assim prá tanto. Pode me convidar prum polpetonne no jardim de napoli que já tá valendo!
    ( que tal ? acho que minha carreira como juíza começou e terminou nesses cinco segundos! )
    um beijo bem grande
    Lulu

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  9. Janaina querida.

    Leia o post do Biajoni. :-)

    escuuta! quer dizer que vc também organiza festas, é?

    geeenteee....

    :-) que legal!

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  10. MILTON

    ando me divertindo à beça com suas indicações de como ler. Muito bem, a cerveja está liberada então para o Ulisses. Ainda bem. Ontem fiquei lendo deitada, num aboa. Ufa, quebom.

    Acho que vou me animar para ler o Musil só para ficar ereta na cadeira tomando chá de camisola fechada e de batom. Já tô me sentindo assim uma personagem!

    beijinho.

    BIA!
    Luiz Ulises é bacana. Mas Lia é mais.

    à espera do cotovelo...

    um beijo grande,

    Lulu.

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  11. Na verdade não.

    A barraquinha na Festa de São João da faculdade foi pra arrecadar dinheiro pra formatura (que eu nem vou participar), aí fui ajudar as meninas.

    Abraço.

    PS: Li o texto dele...sacana.
    Eu posso nunca ter lido Joyce (na verdade não tinha visto este nome quando li, leitura rápida, texto grande, sabe comé), mas depois de ter lido um resumo dum livro do Jorge Amado que o Rafael Galvão fez eu fiquei ligada no lance desses caras, sacanear. E como eles fazem isso muito bem fica até melhor do que a realidade ou ficção da obra.

    Abraço.

    Janaína.

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  12. Lulu,

    Um polpetone no Jardim de Napoli, na sua companhia não é castigo. É prêmio.

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  13. lulu, desculpe um comentario tao antipatico. como é que alguem que le tanto, e escreve, como voce, pode nao saber usar uma crase? nao acha que isso pode afastar um possivel leitor?

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  14. Anônimo!
    em meio à cotoveladas, de fato, está errado. Já corrigi, obrigada por ter me alertado, tenho um aaflição de reler meus textos e volta e meia escapam erros de digitação ou não , como esse, feios. Se tivesse colocado em meio às cotoveladas, talvez ok. Sabe, escapou, erros espcapam, não sei se sei usar crase, ou se afasto possível leitores, mas enfim!
    fique à vontade ( certei!) para indicar sempre que houver erros, mais elegante ainda seria fazê-lo por e-mail! um revisor é sempre bem vindo.
    enfim...
    abraço,
    lu.

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  15. lulu, obrigado pela resposta gentil e desculpe mais uma vez o comentario que eu mesmo achei antipatico. nao encontrei na hora o seu email. nao costumo ficar corrigindo os outros, e se o fiz dessa vez foi porque o erro, comum em tantos lugares, me pareceu insolito em alguem que pelo visto gosta tanto de ler e escrever. para terminar, mais importante que acertar as crases é ser gentil e sincera, como voce é. abraço.

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