Inspirada por um post do Rafael Galvão e outro do Alex, sobre a leitura na escola e os livros infanto-juvenis, decidi escrever um texto sobre o que penso sobre tudo isso, que acabou se transformando em uma espécie de manifesto, pelos direitos dos alunos leitores e não leitores. Ficou um texto longo, bastante pessoal, que publicarei aqui aos poucos, um por dia, em meio ao dia a dia do Diário da Lulu.
No total, os direitos são esses ( basta clicar em cada um que o post aparece) :
1)O aluno não precisa gostar do livro lido.
Inclusive, é livre para odiá-lo.
2)Ao aluno deve ser oferecido sempre o que há de melhor na literatura universal, passando por todos os gêneros.
3)A literatura não é objeto santificado, sagrado nem de culto máximo.
4)Livros inteligentes devem ser tratados com inteligência.
5)Se o aluno não lê nada, mas nada mesmo, é porque, provavelmente, não sabe ler.
6)Os alunos têm direito a excelentes bibliotecas e a livros baratos.
7)Os alunos têm direito a professores ultra bem remunerados e com tempo para dedicarem-se a eles.
3)A literatura não é objeto santificado, sagrado nem de culto máximo.
Literatura é mais uma das coisas que existem no mundo. Pronto. Eu gosto de literatura mas odeio, com todas as minhas forças, esportes coletivos, fico nervosa até hoje, nem sei o que é o tal do espírito esportivo. Isso não me faz um ser nem melhor nem pior que minha amiga que ganhava todas as competições de vôlei da escola, somos apenas diferentes.
Tudo bem, não gostar de ler. Fica parecendo que quem gosta de ler é um ser superior, inteligente, iniciado, sensível. Vamos com calma. Pela dessacralização da literatura.
Mais: literatura boa não é literatura chata e difícil. Ler é, sobretudo, bacana, divertido, emocionante, gostoso. É simples, é bom, mas não é tudo no mundo. Aqui, eu cito o Alex, que ao falar sobre livros infanto-juvenis, explicou com concisão e estilo o que eu estou tentando falar:
E, por fim, é sempre importante matar esse senso-comum preconceituoso de que leitura é algo inerentemente lindo e que todos devem sempre ler mais e mais e mais. Leitura não faz de ninguém uma pessoa melhor. Leitura é bom pra quem gosta de ler e para quem tem carreiras que dependam de domínio da língua. Dependendo da criança, do seu tipo de inteligência e das suas inclinações, pode ser mais saudável passar seus dias praticando esportes, resolvendo quebra-cabeças, jogando videogames, tocando guitarra, construindo móveis, etc etc, do que passivamente lendo.
Esse mito do valor inerente da leitura só existe porque as pessoas que gostam de ler têm um lobby mais influente do que as pessoas que gostam de passar o dia se bronzeando na praia ou jogando bola em terreno baldio.
E tem mais: os pais (e as mães) atrapalham.
Típica cena de reunião de pais, chega a mãe (como diz o Fernando Sabino numa crônica maravilhosa: “na reunião de pais só havia mães”) e diz, toda brava e preocupada até as entranhas:
- Meu filho não gosta de ler...Não sei mais o que fazer... obrigo, tiro do vídeo game, coloco de castigo, e ele continua não gostando de ler...
Calmamente, com minha cara de mais simpática do mundo, pergunto:
- é... um problema isso... ler é tão bom... qual foi o último livro que a senhora leu?
Batata. A pessoa nem lembra... e não há problema, mas os pais forçam a maior barra, muitas vezes com a melhor das intenções, e tornam a leitura um grande dum monstro, sagrado, mas nem por isso menos monstruoso.
Os pais falam mal de livros que o filho tá amando, censuram leituras (como assim minha filha vai ler Edgar Allan Poe? E os pesadelos? Ela é muito nova para ler sobre cadáveres... Como assim meu filho vai ler Tolkien? Essa porcaria? Ele tem que ler literatura brasileira... e assim por diante...ou.."Nossa filho, cê tá lendo essa porcaria? pára de perder tempo com quadrinhos..."), e se desesperam e descabelam porque o filho não lê.
E depois não deixam os moleques brincar com o livro, o objeto livro. Que façam castelos, muralhas, que brinquem com os livros. Que folheiem livros enormes, sublinhem, desenhem entre as páginas, amassem, levem para a praia, para a banheira, que leiam muito gibi, que o livro faça parte do cotidiano da casal. Que passem noites inteiras lendo, que descubram a biblioteca perto de casa. Que desmistifiquem o objeto livro, porque ler para ser educado é um porre.
Ele tá coberto de razão, não se esqueçam, as crianças são extremamente inteligentes.
sensacional.
ResponderExcluirque tal fazer uma cartilha depois, uma capinha bem bonita... e vender no blog?
:>)
Foda. Concordo. Porra, se as coisas são inalcançáveis, já se criam trocentas barreiras! Eu amo ler, amo homens que lêem, blah blah. O Alex gosta de pé. Eu gosto de livro e homens que gostam de livro. k
ResponderExcluirLu, vc acredita que até agora não achei cogumelos legais?
ResponderExcluirTenho fofocas da vida real pra contar e dois posts em gestação. Mas vou ter que reler um livro pra um e pensar muito pro outro. Só que tô sem tempo. Ai.
Enquanto isso, vcs ficam com os posts do jeito que estão.
Lembra daquela história da pessoa ("pessoa") que foi grossa? Então. Suicídio social. Depois eu conto. Mas morreu. Encontrei Jesus!
Hahahaha, beijo. k
concordo com o Bia, lá em cima!
ResponderExcluiressa série sua está ficando essencial.
do tipo: "aulas introdutórias essenciais para professores que se acham muito espertos."
Eu confesso, meu filho não lê.
ResponderExcluirLê pouquissimo e temas pontuais.
Ele sempre me viu lendo, porque é o que mais faço na vida. O pai tb lê muito. Ganhou livro de banho, de pano, livro de todos os temas. Não teve castigo, não teve premio.
Mas nada funcionou.
Pena.;0(
Bia!!
ResponderExcluirQue legal que vc tá gostando!! hiper ultra bacana, mesmo.
Inter,
meu querido!!!
K!!
a gente anda inalcaável um aprá outra, vamos resolver logo isso, né?
Vivien...
pois é.. filhos de pais leitores e legais que não gostam de ler tá cheio por aí!! será rebeldia?? hihihi... e o pior, é que tudo bem ué!! não?
mil beijos,
Lu.
não tem problema vivien, se os livros estiverem ao alcance da mão em algum momento esse carinho pelos livros que vocês passam vai chegar até ele. pode demorar, pode passar a adolescência, mas algum dia se manifesta, a base está dada.
ResponderExcluireu, quando criança, adorava o "a origem das espécies".
eu sempre tirava ele da estante e pegava, todo solene, abria e "ahn?".
e fechava depois, meio envergonhado, punha no lugar de volta.
pensando bem, esse livro eu até hoje não li.
hehe
Concordo em gênero,número e letra. É muito chato aquele papo de quem acha que ler é índice para identificação de pessoas inteligentes. Certa vez o Ziraldo contou uma história bastante ilustrativa: "Tem gente que gosta de ler e gente que não gosta. Na minha casa, tinha livros e revistas espalhados pelo chão. Eu sempre gostei de ler. Meu irmão, não. Mas ele é um cara super-legal, esclarecido e teve muito sucesso na vida".
ResponderExcluirE esse papo-furado de que quem lê mais escreve melhor... Vamos parar com isso. Sou professor a longa data e já muito o contrário de tudo isso.
Parabéns pelo texto e pela iniciativa. Vou imitar.
E Vivien querida,
ResponderExcluirtenho certeza que um apreço, um respeito pela cultura do livro teu filho tem. Isso é importante, e sempre é transmitido. E o inter, mais uma vez, está comberto de razão.
Um beijo grande,
e obrigada por todas as forças
Lu.
Juvenal!! depois me mostra, tá??escreva sim o seu manifesto, ajude na divulgação deste...
ResponderExcluirum grande abraço, e obrigada,
Luana!
Menina, que maravilha isso! eu sou uma dessas criaturas que foram bombardiadas com idéia de quem só é inteligente e merece ser feliz quem lê, quem passa os dias lendo e se dedicando a literatura, e que o resto era uma idiotice de classe média delirante e burra (pleonasmo isso, né)! Morria de vergonha de ser pêga com uma caras na mão num salão de beleza! Ver televisão e acompanhar uma novela ao invés de estar lendo shakespeare era uma dor e era tão carregada de culpa que tive gastrite! Hoje gosto mais de ler do que no tempo em que eu lia para parecer que era inteligente! hahahhahaha
ResponderExcluirOlá a todos, sou aluno de biblioteconomia da USP, é , aquele pessoal estranho e meio nerd que gosta de livros empoeirados, internet, blogs, podcasts e tal...Bom, Estou tendendo a fazer meu TCC com este tema "Meu Filho não lê". dai aceito sugestoes de literatura. Tenho uma pra voces, o livro chama "Como um romance", do autor Daniel Penac. Este livro praticamente caiu na minha cabeça quando eu estava passando em uma estante de livros de biblioteconomia. Pareceia até estar fora de lugar, mas era ali que ele tinha que estar para eu le-lo, me apaixonar por ele e comprar...Bom, hoje ele está preso lá em casa na estante, só sai para passear quando o empresto para os amigos. Mais dá alguma idéia do que fazer quando seu filho nao le.
ResponderExcluirse quiserem me visitar vou ficar muito feliz:
aqui eu ensino ingles para minha filha Anne e também para o resto do mundo que fala portugues:
http://podaprenderingles.podomatic.com
aqui eu discuto uns babados complicados como: Porque não tem biblioteca na escola publica?
http://rudisantos.podomatic.com.
passa lá...
Olá. Espaço bacana para se discutir a relação da literatura com o homem, com a educação... bem legal! Mas acho que há alguns radicalismos que não valem a pena.
ResponderExcluirDiscordo da fala do Alex (que foi citada aqui no blog), acho que a literatura tem sim o poder de humanizar as pessoas, se isso não for o que mais importa para a literatura. Por que eu leria Machado de Assis? Pra aprender português? Ora, ninguém lê um bom livro para aprender a escrever melhor, isso acontece porque é natural de acontecer. Quando mais se lê, melhor se escreve. Por isso acho que a função da literatura transcende a língua, ela é apenas o meio com que nos deliciamos, desfrutamos... Lemos para encontrar prazer na forma com que o autor escreve, como ele conseguiu falar daquilo eu corroboro mas de forma tão interessante. Isso não sou eu quem diz, mas vários teóricos e não-teóricos. Uma leitura muito válida para esta discussão é um texto de Antonio Candido, Textos de Intervenção, A Literatura e a Formação do Homem. E também outro muito interessante(diria até, importante!): Vários Escritos, O Direito à Literatura. De Antonio Candido também.
Um abraço a todos.