Lulu,
Acho que depois de muito tempo lutando contra, estou finalmente vivendo um momento mulherzinha e uma crise... tudo ao mesmo tempo agora. Mas nem tenho coragem ainda de falar isso em voz alta. Só de, às vezes, pensar, assusta.
Estou trabalhando em uma cidade distante de onde meu marido mora... e, pela primeira vez, me ocorre que isso não está certo. Pode parecer loucura, mas antes achava isso completamente normal. Afinal de contas, minha vida profissional está (ou seria melhor dizer, estava) acima de "sentimentalidades". Ou ainda, porque meus comprometimentos sociais deveriam ser prioridade.
Confesso que o marido em questão é um ser de muita paciência, mas esse não é o ponto. O ponto central é que agora estou começando a pensar que esse "estilo de vida" não é o melhor para mim, que a independência toda que criei, tem tido efeito contrário... na verdade o que quero é alguém que cuide com muito carinho de mim – para mim isso é muito mulherzinha... chego a fazer cara feia enquanto escrevo.
Estou pensando em desistir dessa "carreira" distante para ficar em casa, cuidar do marido e quem sabe planejar um bebê. Nunca pensei que isso fosse possível... Claro que pensei em ser mãe... algumas vezes... poucas, é verdade. Mas nunca imaginei desistir de nada para que isso se tornasse possível...
Bom, é isso aí, crise de mulherzinha...
Acho que depois de muito tempo lutando contra, estou finalmente vivendo um momento mulherzinha e uma crise... tudo ao mesmo tempo agora. Mas nem tenho coragem ainda de falar isso em voz alta. Só de, às vezes, pensar, assusta.
Estou trabalhando em uma cidade distante de onde meu marido mora... e, pela primeira vez, me ocorre que isso não está certo. Pode parecer loucura, mas antes achava isso completamente normal. Afinal de contas, minha vida profissional está (ou seria melhor dizer, estava) acima de "sentimentalidades". Ou ainda, porque meus comprometimentos sociais deveriam ser prioridade.
Confesso que o marido em questão é um ser de muita paciência, mas esse não é o ponto. O ponto central é que agora estou começando a pensar que esse "estilo de vida" não é o melhor para mim, que a independência toda que criei, tem tido efeito contrário... na verdade o que quero é alguém que cuide com muito carinho de mim – para mim isso é muito mulherzinha... chego a fazer cara feia enquanto escrevo.
Estou pensando em desistir dessa "carreira" distante para ficar em casa, cuidar do marido e quem sabe planejar um bebê. Nunca pensei que isso fosse possível... Claro que pensei em ser mãe... algumas vezes... poucas, é verdade. Mas nunca imaginei desistir de nada para que isso se tornasse possível...
Bom, é isso aí, crise de mulherzinha...
Minha querida amiga,
Fiquei pensando, pensando e pensando sobre o seu e-mail. Minha primeira reação foi: essa não é uma crise Mulherzinha. Essa é uma crise universal, que hominhos e mulherzinhas todos têm, a alguma altura da vida, ou mesmo um monte de vezes. A crise do “e aí”? Quais são as minhas prioridades?
Minha carreira, minhas lutas sociais e crenças, meus filhos e minha casa, meu divertimento enquanto dure, minha saúde, meu amor, meus amores, meus prazeres... E aí são feitas escolhas, para o bem ou para o mal, algumas dessas prioridades são às vezes irreconciliáveis...
Para mim, não há escolhas mais certas que outras. A mulher não tem que casar e ser mãe para se realizar, o homem pode virar um dono de casa e cuidar dos filhos e passar a roupa esperando a mulher chegar do trabalho, o outro se realiza passando 20 horas no laboratório, a outra publicando vinte artigos por ano, ele e ela namorando sem parar, sei lá. Quer dizer, fico achando que o bom da nossa geração é que os papéis estão mais abertos, fico achando que a gente tem mais liberdade de escolhas, para nos construirmos e construirmos nossas vidas, independente do gênero ao qual pertencemos. Por isso pensei: essa não é uma crise mulherzinha, essa é uma crise de vida, que homens e mulheres têm, ué.
Mas depois fiquei pensando que há sim uma parcela dessa crise que tem a ver com nossos momentos mulherzinhas/mulheronas. A crise que achar feio, ou meio errado, querer alguém que cuide com muito carinho da gente. Como assim? Não somos independentes? Mulheres fortes, guerreiras, sei lá o quê? Ah, Su... somos sim, mas também queremos deitar a cabeça no colo de alguém e receber cafuné e conselhos e cuidados mil. Mulherões, chefes, intelectuais arrasadoras, tudo, mas pôxa... com direito a gritar de ódio quando a unha recém feita na manicure quebra...
Acho que a geração que lutou por direitos iguais, movimento feminista e tal acabou, por uma série de razões, tendo que abrir mão de muito da sua feminilidade para entrar no mundo dos homens. A nossa geração já não precisa disso. Nossa conquista e luta talvez seja por aí, sermos mulherões, batalhadoras, guerreiras leoas e tudo mais, e mulherzinhas, com nossos sapatinhos, unhas, bolsas, vontade de carinho, colo, necessidade de ajuda. Outro dia um amigo me mostrou a caixa de ferramentas da mãe... todas as ferramentas rosinhas e fofas, juro! Mas a mãe sabia usá-las. E usava, sem depender de ninguém. Achei bacana ( meio gay... rsss... mas bacana ;) ).
Para os homens também há todos esses dilemas. Eles também ficam tendo que achar algum jeito de serem machos sensíveis. Permanecer em certos papéis de homens que a gente gosta sim, e fica até exigindo, e ao mesmo tempo chorar e ver novela com a gente, cozinhar, sentir bastante, sei lá. Abrir ou não a porta do carro? Trocar ou não o pneu? Dividir ou não a conta? Sei lá... São novos papéis, que deixam sim a gente em crise mas a crise é até boa, porque o conteúdo dos papéis não está mais definido a priori. Seja em casais (sejam eles quais forem), seja na vida vivida só.
Em casal, o bom é que nesses novos papéis dá sim para fazer escolhas juntos. Assim: você fica um pouco aqui, trabalhando e estudando, que eu seguro as pontas, e depois eu estudo e você dá mais aulas... Ou... ok... vai passar um ano em Curitiba, a gente agüenta um ano separado, pode ser até bom, mas volta, logo, e na hora dos concursos, eles só podem ser em lugares que sejam bons para nós dois. Ou... olha: fica mais comigo. Ou... quero ficar mais com você, e quem sabe ter filhos, e quem sabe desacelerar um pouco. Ou... a gente passa seis meses do ano juntos, seis meses separado. Sei lá. São acordos, e caminhares juntos, ou sós, mas que devem, sobretudo, fazer a gente feliz e realizado, o máximo que der.
Não há nada, nadica de nada de errado nisso, Su, em sentir vontade e desejo de ficar mais em casa, querer colo, não colocar a carreira – e no seu caso uma luta bem linda por mais justiça social – sempre, em primeiro lugar. A vida é curta, a gente tem que fazer o que o coração manda. Eu acho. E depois, dá pra conciliar as coisas, dividindo, tem que dar. Sermos mulherões e mulherzinhas.
E você sabe, como eu sou a favor das sentimentalidades.
Um beijo bem grande,
Obrigada pelo e-mail,
Sua amiga,
Lulu.
Fiquei pensando, pensando e pensando sobre o seu e-mail. Minha primeira reação foi: essa não é uma crise Mulherzinha. Essa é uma crise universal, que hominhos e mulherzinhas todos têm, a alguma altura da vida, ou mesmo um monte de vezes. A crise do “e aí”? Quais são as minhas prioridades?
Minha carreira, minhas lutas sociais e crenças, meus filhos e minha casa, meu divertimento enquanto dure, minha saúde, meu amor, meus amores, meus prazeres... E aí são feitas escolhas, para o bem ou para o mal, algumas dessas prioridades são às vezes irreconciliáveis...
Para mim, não há escolhas mais certas que outras. A mulher não tem que casar e ser mãe para se realizar, o homem pode virar um dono de casa e cuidar dos filhos e passar a roupa esperando a mulher chegar do trabalho, o outro se realiza passando 20 horas no laboratório, a outra publicando vinte artigos por ano, ele e ela namorando sem parar, sei lá. Quer dizer, fico achando que o bom da nossa geração é que os papéis estão mais abertos, fico achando que a gente tem mais liberdade de escolhas, para nos construirmos e construirmos nossas vidas, independente do gênero ao qual pertencemos. Por isso pensei: essa não é uma crise mulherzinha, essa é uma crise de vida, que homens e mulheres têm, ué.
Mas depois fiquei pensando que há sim uma parcela dessa crise que tem a ver com nossos momentos mulherzinhas/mulheronas. A crise que achar feio, ou meio errado, querer alguém que cuide com muito carinho da gente. Como assim? Não somos independentes? Mulheres fortes, guerreiras, sei lá o quê? Ah, Su... somos sim, mas também queremos deitar a cabeça no colo de alguém e receber cafuné e conselhos e cuidados mil. Mulherões, chefes, intelectuais arrasadoras, tudo, mas pôxa... com direito a gritar de ódio quando a unha recém feita na manicure quebra...
Acho que a geração que lutou por direitos iguais, movimento feminista e tal acabou, por uma série de razões, tendo que abrir mão de muito da sua feminilidade para entrar no mundo dos homens. A nossa geração já não precisa disso. Nossa conquista e luta talvez seja por aí, sermos mulherões, batalhadoras, guerreiras leoas e tudo mais, e mulherzinhas, com nossos sapatinhos, unhas, bolsas, vontade de carinho, colo, necessidade de ajuda. Outro dia um amigo me mostrou a caixa de ferramentas da mãe... todas as ferramentas rosinhas e fofas, juro! Mas a mãe sabia usá-las. E usava, sem depender de ninguém. Achei bacana ( meio gay... rsss... mas bacana ;) ).
Para os homens também há todos esses dilemas. Eles também ficam tendo que achar algum jeito de serem machos sensíveis. Permanecer em certos papéis de homens que a gente gosta sim, e fica até exigindo, e ao mesmo tempo chorar e ver novela com a gente, cozinhar, sentir bastante, sei lá. Abrir ou não a porta do carro? Trocar ou não o pneu? Dividir ou não a conta? Sei lá... São novos papéis, que deixam sim a gente em crise mas a crise é até boa, porque o conteúdo dos papéis não está mais definido a priori. Seja em casais (sejam eles quais forem), seja na vida vivida só.
Em casal, o bom é que nesses novos papéis dá sim para fazer escolhas juntos. Assim: você fica um pouco aqui, trabalhando e estudando, que eu seguro as pontas, e depois eu estudo e você dá mais aulas... Ou... ok... vai passar um ano em Curitiba, a gente agüenta um ano separado, pode ser até bom, mas volta, logo, e na hora dos concursos, eles só podem ser em lugares que sejam bons para nós dois. Ou... olha: fica mais comigo. Ou... quero ficar mais com você, e quem sabe ter filhos, e quem sabe desacelerar um pouco. Ou... a gente passa seis meses do ano juntos, seis meses separado. Sei lá. São acordos, e caminhares juntos, ou sós, mas que devem, sobretudo, fazer a gente feliz e realizado, o máximo que der.
Não há nada, nadica de nada de errado nisso, Su, em sentir vontade e desejo de ficar mais em casa, querer colo, não colocar a carreira – e no seu caso uma luta bem linda por mais justiça social – sempre, em primeiro lugar. A vida é curta, a gente tem que fazer o que o coração manda. Eu acho. E depois, dá pra conciliar as coisas, dividindo, tem que dar. Sermos mulherões e mulherzinhas.
E você sabe, como eu sou a favor das sentimentalidades.
Um beijo bem grande,
Obrigada pelo e-mail,
Sua amiga,
Lulu.
Eu enfrentei o dilema de sua amiga exatamente 1 ano atrás quando, ao fim da minha licença maternidade, tomei a difícil decisão de deixar meu emprego de 8 anos numa multinacional. Trabalhava em equipe, já tinha um cargo alto na hierarquia da empresa, mas o lado "mulherzinha" falou mais alto. Virei mãe em tempo integral, sem babá, e apesar das reações de surpresa de todos que me cercam e das dificuldades que enfrentei (e ainda venho enfrentando), estou muito feliz.
ResponderExcluirConcordo 100% com o que vc falou. Só que para nós, mulheres que crescemos na era pós-feminismo (no meu caso, filha de mãe que, não diria priorizou a carreira, mas trabalhou pra caramba a vida toda e ainda trabalha), fazer um movimento de mudança como esse é muito complicado.
Renata,
ResponderExcluiré verdade, é complicado mesmo. nossa, como é.
e... puxa, obrigada pelo seu comentário!
l.
o movimento é complicado porque a gente se "liberou" de acordo, ainda, com padrões masculinos. quem disse que trabalhar de sol a sol é sempre a solução? pra algumas é, pra outras não... e o mundo, infelizmente, ainda é machista. uma amiga procuradora do df teve que ouvir do chefe, supostamente bem educado, que ela tava com endometriose, a outra tava grávida... dando a entender que as mulheres são mais fracas, sabe? o mundo ainda é machista. muito. a outra onda ainda vai vir pra equilibrar...
ResponderExcluirpor mais difícil que seja, a solução é sempre individual. sempre.
retificando: ex-amiga
ResponderExcluirVixe, fiquei achando se tinha sido eu que tinha escrito o e-mail... pois se não fui eu, poderia ter sido!
ResponderExcluirPois se nada se resolver na minha vida até o meio do semestre, eu vou virar mulherzona!
heheh
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAmiga da Lu, eu te entendo 100%. Eu quase fundi minha cabeça tentando fazer tudo dar certo ao mesmo tempo. Minha situação é oposta, vivo em NY por que meu marido é daqui, e é uma decisão enorme com muitos prós e muitos contras. Minha saudade do Brasil, amigos e família é um buraco permanete no meu coração. Mas meu coração é grande e tem esta pessoa do meu lado que vale a pena e eu estou muito feliz aqui. Eu ainda me estresso intensamente por que quero minha carreira, meus planos de ter filho, meu plano de morarmos no Brasil, quero que tudo se alinhe perfeitamente. Que todas as respostas se materializem, e no fim depois de ter faniquitos atrás de faniquitos eu percebi. Não tem resposta. Agente é que responde vivendo, sim, graças as nossas mães que ralaram por menos machismo. Mas graças a nós também. No fim cabe agente tomar as decisões e mandar a merda o tem que ser mandado.
ResponderExcluirEsta é uma questão muito interessante. Minha ex-mulher era uma médica bastante conhecida e que viajava muito. Lentamente, fui assumindo um papel de pãe, de que gostava muito. Logo vi que preferia que ela viajasse, que ficava mais feliz quando ela estava em congressos e que a professora da academia era legalzinha. Isto foi acompanhado de um certo ressentimento comigo mesmo de ter-lhe aberto tantos espaços. Bem, hoje ela é minha ex, a professora era uma chata, claro, e fui açambarcado por outra. Mas, uma coisa é certa: só se adquirimos experiências com nossas más escolhas.
ResponderExcluirBem, A Consciência de Zeno é tudo o que se pode desejar de um livro.
Lulu, eu escrevi no meu blog um post sobre este tema: Independencia da Mulher:Opçao ou Obrigaçao!!! Estou 10 anos fora do Brasil, e posso te dizer que nao foi uma escolha facil....mas optei...hoje depois deste tempo nao me arrependo de ter tomado esta decisao...eu me sinto um pouquinho...mulher....mulherzinha e porque nao dizer mulherzona?....Se tiver um tempo va no meu blog e econtraras o post (foi escrito no dia internacional das mulheres)...
ResponderExcluirBeijinhos carinhosos do outro lado do oceano
O que importa, nessa conversa toda é que nos sintamos livres pra fazer essas escolhas, sejam elas certas ou erradas, sejamos homões, hominhos, mulheronas ou mulherzinhas.
ResponderExcluirNão se deve sentir culpa por escolher nenhum desses caminhos e nem mesmo por fazer escolhas erradas.
:-).
ResponderExcluirmeninos e meninas, é complicado, mas é bom, né?