sábado, 31 de março de 2007

ciúmes

- você não sabe que....?
- sei.
- e você não sente que...
- sinto.
- então?
- é que eu não agüento me sentir coadjuvante.

Cadê?

aquela música que você sabe que precisa ouvir, mas não lembra qual, esqueceu o nome, não sabe bem o ritmo, mas sabe que tá ali, para ser ouvida por você, na hora certa, que era agora. Você não acha. Cadê?

Aquele livro perfeito para esse momento agora, que você não sabe em que língua foi escrito, quantas páginas tem, qual o assunto. Mas é o livro perfeito, para o agora, e você sabe que existe, aquele que vai te fazer chorar e rir, mas não acha, não lembra, não sabe direito, cadê.

Aquela palavra ideal para expressar tudo o que você tá sentindo. Como é que se diz?... você estala os dedos, procura, tentar achar, coça a testa. Diz... é assim como... fica entre o .... é tipo quando... e a palavra não vem e fica parecendo um vazio dentro de você, porque você sente, agora bem agora, algo que não sabe como é que chama.

Cadê?

sexta-feira, 30 de março de 2007

A consciência de zeno


e para não dizerem que só de carne se faz meu espírito....

Estou lendo A consciência de Zeno, do Italo Svevo. O Milton Ribeiro me falou que é tudo que se pode esperar de um livro. Eu digo que é mais. É um assombro e, o que é melhor ainda, é um assombro divertido, divertidíssimo. O Zeno entrou já para minha galeria de melhor personagem dos últimos tempos. Daqueles meio sem caráter, eternamente no último cigarro, que diz assim, por exemplo, sobre o cigarro:

"Creio que o cigarro quando se trata do último, revela muito mais sabor. Os outros têm, sem dúvida, seu gosto espeial, porém menos intenso. O último deriva seu sabor do sentimento de vitória sobre nós mesmos e da esperança de um futuro de força e de saúde. Os outros têm sua importância porque, acendendo-os, afirmamos nossa liberdade e o futuro de força e de saúde permanece, embora um pouco mais distanciado."


ou...

"A doença é uma convicção. E eu nasci com essa convicção. "

ou ainda, falando sobre o casamento:

" acho que consituiu para ela surpresa agradável constatar que depois do nosso casamento jamais lamentei a perda de minha liberdade, preocupado que estava em lamentar outras coisas."





e é tão bem escrito. A certa hora, você se depara com uma frase dessa:

" E olhou em torno como se buscasse fora de si o que em seu interior não chegava a apreender. "
uma coisa.

Não há nada com um personagem bem construído. É tão difícil construir personagens, a maioria das gentes faz arremedos de si mesmo, eu mesma inclusa nisso. Todos meus personagens são mais ou menos eu, ou partes de mim, ou que eu gostaria de ser, sei lá. Eles não têm vida própria, não me descobrem, não os descubro. Queria um dia escrever sobre um completo desconhecido de mim, alguém que eu nem entendesse direito. Aí ia ser legal de verdade. Por enquanto fico comigo.

E com o Zeno e sua consciência honestíssima, que impressiona até o último fio de cabelo.
Se você está á procura de um livro, vai lá e arruma esse. Uma delícia, um presente que vc se dá.

rosbife

Sim, caros amigos e amigas, na cozinha da lulu entra, de vez em quando, um bifão.

Não sou hiper carnívora, mas me acabo num bichinho bem feito. Não todo dia, fico um pouco enjoada e acho carne meio pesado. E há um lado de mim que, sim, fica com um pouco de pena dos bichinhos escravizados e hormonizados e submetidos a sei lá que tratamentos cruéis para meu prazer e satisfação. Sinto culpa. Simpatizo com as vacas, condôo-me ( ???) pelo bois. Com frangos meu problema é maior ainda. Li uma vez uma porcaria de uma reportagem sobre as indústrias produtoras de ovos e pronto, foi o suficiente. Agora só compro ovo com certificado de galinha feliz. Sério, vem escrito na caixa assim: esses ovos nasceram de galinhas felizes e realizadas.
Tá, num vem escrito exatamente assim, essa é minha interpretação, concedo. Mas vem escrito que as galinhas pelo menos foram criadas soltas e alimentadas com comida de galinha.Uma vida feliz, o que mais uma galinha pode querer?


Bom, o fato é que ontem compramos, temperamos, preparamos e comemos o pedaço dum boi. Um contrafilé. Se ele, o boi, foi feliz em sua vida, não sei. Ontem, nós fomos.

Vamos à receita.

Em primeiro lugar você abstrai, pára de se preocupar com a felicidade do boi alheio e vai lá no supermercado ou no açougue e acha um belo pedaço de carne.
Se você não quer trabalho e quer todas as garantias de que a coisa vai mesmo dar certo, compra um pedação de filé mignon. Mas é caro e também não é tão saboroso, para falar a verdade. Filé mignon é, basicamente uma carne molinha, mas sem graça. Falta-lhe o sabor e o interesse de uma carne que teve que trabalhar na vida.

Dá certo se comprar uma maminha. Compramos um contra filé, mas aí você tem que ter paciência para limpar o bicho, tirar todos os nervinhos e gordurinhas que vir pela frente. Fica ótimo um rosbife com contra. Tem gente que só usa lagarto, não entendo. Carne mais sem graça, sô... esquece o lagarto.


Comprada e limpada a carne, você faz uma mistura com mostarda, azeite, sal, pimenta do reino. E deixa a carninha descansando lá dentro.

Momento sinta o clima da minha cozinha....

Momento olha prá ver como é que fica.


E como você sabe que o tempero é bom? Você lembra da linda da Nigella, coloca o dedo ( no tempero, não na carne) e experimenta, usando todo o seu charme. Tem que tá gostoso.


Aí você deixa o bicho descansando por um tempo. Tipo uma hora, acho. Não precisa deixá-lo ali para sempre, imerso em seu banho de temperos, prá sempre. É só para pegar o gosto, uma hora é mais que suficiente.

Aí... se você tiver uma panela de ferro esmaltado laranja maravilhosa que você ganhou de casamento dos seus amigos queridos, você a retira do armário. Senão, pega uma panela aí qualquer mesmo. Se tiver fundo grosso ótimo, mas senão tiver, dá certo também. Não tão certo, mas dá certo.

E dá-lhe azeite. Um dedo de azeite na panela, não pode economizar no azeite, feche o os olhos e vire a garrafa.
E esquente o azeite.



esquentado o azeite, joga a carne lá. E ouça o barulho delicioso de um corpo frio jogado no azeite quente ( pronto, já me empolguei agora.. quem mandou comer carne? ) .

E vai fofocar um pouco com seus amigos, e serve mais uma taça de vinho prá todo mundo que a essa altura o papo já engrenou, as pessoas chegaram e todo mundo comenta pasmado o lance lá do Henry Sobel. Ah.. ele vai alegar cleptomania, tipo a Winona Rider. Não.... Disse o outro. Cleptomania é uma doença que só dá em mulheres. O QUÊ?? pularam todas as mulheres!! Seu racista! Digo, machista!! Mas é... segundo ele, na época da Winona, quando não se falava em outra coisa, falou-se isso, que cleptomania é uma doença que só dá em mulheres. Será?
Quem tiver informações a esse respeito, pode mandar pro diário da lulu. E já criaramo movimento free henry sobel, com direito a camiseta e tudo!! hahahaha.


Bom, nesse momento, a carne já deve estar boa para ser virada. Não pode esquecer. Mesmo que estejam contando que o rabino Sobel foi preso porque roubou quatro gravatas, não pode esquecer da carne.




O lance, o grande e verdadeiro lance, é você colocar o fogo o mais alto possível. O negócio todo tem que acontecer em altíssimas temperaturas. Não pode ser morno, não pode ser mais ou menos, tem que ser radical. Daí a preferência por uma panela que aguente o tranco.Quanto tempo fica? Hum... tem que dar tempo da outra amiga contar também da viagem que fez, de todos falarem mal, mas realmente mal, muito mal, de alguém, e de abrir mais uma garrafa de vinho. Uma meia hora. Tem que ver, a carne não pode passar, não pode ficar dura, não pode cozinhar. Se o azeite não estiver fervendo o tempo inteiro, a carne cozinha, e aí fica uma droga, adeus rosbife. Muita atenção.
E a grandeza do robife acontece quando o entorno do bicho fica crocante e o de dentro fica mal passado, ambos saborosos. Tira, corta um pedacinho, e vê. A carne não precisa ir berrando pro prato de tão crua, mas também não pode morrer de tão bem passada.



e aí você serve. Com mostarda, chutney, se tiver alguma, salada, sei lá. Servimos com arroz selvagem ( hahahahaha!! adoro esses nomes!!! o que vem a ser um arroz selvagem???). E aí vai lá e abre mais uma garrafa, que ninguém é de ferro.

e tim tim.
e pruma boa receita de sobremesa, vão lá no pensar enlouquece ler o receita de petit gateau, tá hilária, nada como uma receita bem escrita e bem humorada.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Atreve-te

Nada como uma senhorita intelectual com um belo abdominal. (hihihih....)

...
E escutei hoje de manhã, no blog da maravilhosa da rititi, e comecei a dançar e pronto. Que delícia dançar de manhã, no meio do escritório.
Então fica assim, sem leituras e sem ais.....

Hoje,
dancemos.

Abandonemos nossa cara enciclopédica e vamo ´bora pro mundo.

Porque hoje tá uma quinta com cara de sábado. E ás vezes o mundo até parece no lugar.

E que nos atrevamos, cada vez mais.

aumenta o som, e uma bela quinta feira de sábado para todos vocês.
:)


quarta-feira, 28 de março de 2007

"começando a ler"

E o Biajoni publicou dois posts sobre o tema leituras na escola e primeiras leituras. Ambos excelentes, como pelo visto parece ser tudo o que o cara faz. Aliás ele escreveu um novo romance que é uma coisa de tão bom. Aguardem.

O primeiro, especificamente sobre leituras na escola, traz mais idéias bem boas sobre o assunto e cita especificamente e hiper lisonjeiramente essa lulu aqui . Que ficou toda contente e toda honrada, obrigada Bia. E ainda por cima nesse o Bia fala de um dos meus livros preferidos que eu nunca largava quando tinha uns treze anos: O Guia Mochileiro das galáxias. Indicação de leitura sensacional, me deu saudades e talvez O homem sem qualidades fique mais prá frente ainda...

O outro post, começando a ler, faz um relato hiper gostoso e detalhado das primeiras leituras do Biajoni, uma delícia, histórias legais.

Vão lá.

Aliás, o Marcos VP escreveu também sobre suas primeiras leituras, está nos comentários (qeu valem muito a pena ser lidos, todos) do post sobre livros sugeridos. Visitem!!

terça-feira, 27 de março de 2007

truques de beleza: a verdadeira verdade


Ser bonita, bonita mesmo, indiscutivelmente bonita, dói. Requer esforço, disciplina e força de vontade. Pra mim, pelo menos, dói, não em termos de alma, tô falando em termos físicos mesmo.

Eu acho que eu sou horrorosa e bela. Às vezes eu tô horrorosa, feia de doer e assustar, às vezes eu tô bela, linda assim como uma deusa, e a conjunção de fatores que levam a esses resultados é algo misterioso, porque não tem a ver com quilos a mais ou a menos, nem com novos cortes de cabelo, nem com espinhas que apareceram ou não. Estar num dia bonita e no dia seguinte horrorosa é quase um fator místico, que não sei explicar direito. É claro que tem a ver com estar bem, feliz, desencanada, descansada, animada, sei lá, ou não; mas para mim esse fica sendo um dos grandes mistérios do mundo.

Mas não é disso que eu tô falando, nem estou falando de charme, nem de sex appeal, nem de atrabilidade, se é que essa palavra existe. A mulher ou o homem podem ser lindos e repelentes, cúmulos da sem gracisse, não tô falando de nada disso.

Tô falando de ser linda assim de sair sempre bem na foto ( o que , repito, não significa ser feliz, nem bem resolvida, nem atraente), e as pessoas olharem e falarem assim: nossa, que linda. Isso, pelo menos prá mim, dá trabalho, muito. É uma eterna conquista, uma batalha diária, na maioria das vezes empatada ou perdida, acho, e hoje, com a pele inteira ardendo, vou desabafar. E contar, a todos, a verdadeira verdade sobre esse esforço, porque também me enche aquelas mulheres maravilhosas que falam que não fazem nada, absolutamente nada, para ficarem assim... tomam só água. Sei. Depois dos trinta? sei....

A mim, quinzenalmente me arrancam os pêlos com cera fria. Todos os pêlos. Há uma verdadeira busca persecutória pelo meu corpo inteiro à procura de pêlos sobrantes. Do rosto, das axilas (porque eu não tenho sovaco, já disse), das pernas, até da bunda meus pêlos já foram arrancados. Fecho os olhos e me entrego, porque mulher com pêlo nas pernas não dá, e o modelo Claudia Ohana mata atlântica de beleza já era, vamos combinar. Então é bom, e a gente se sente ótima depois. Mas dói. Dói prá burro. E alguns dias depois, como se não fosse suficiente, as porras dos pêlos crescem cada um de um jeito, cada um numa hora... e todos, indefectivelmente, teimam em crescer, sempre, de novo... ( ah.. pelo subsídio governamental da depilação à laser!!)

Depois, ali no mesmo salão, te arrancam as carnes e peles sobrantes de todos os dedos, te móem as cutículas de todas as unhas, te raspam os pés, te pintam as unhas que, invariavelmente, ao menos no meu caso, acabam borrando na primeira marcha trocada. Eu não faço, mas se ainda queremos brilhos e luzes no cabelo, ainda ficam três horas te puxando, e pintando, e fazendo da sua cabeleira uma visão digna dos mais horrorosos filmes de espanto e terror. Depois fica lindo, mas o processo é um saco. Não há revista Caras que amenize.

Também tenho que prestar sempre atenção em cada taco de comida que coloco prá dentro, contar os copos de bebida, ficar contando. A vida se torna um eterno cálculo, energia ingerida, energia gasta, um eterno balanço onde, no meu caso, o que foi ingerido sempre ganha daquilo que foi gasto... Uma tristeza....

Numa festa, mal olho o que é servido e logo uma tabela interna de calorias e fibras e porcentagem de gorduras já começa a operar. Eu, que amo comer e beber, bem e muito, acho uma chatice sem fim, mas num tem jeito, é assim que é, e tome inveja daquelas e daqueles que de fato comem de tudo e muito e não engordam. E daquelas mulheres que se contentam com uma saladinha, e ainda falam: "ah.. pra mim tá bom". prá mim não. raramente uma saladinha prá mim basta. Buááááá.

Ginástica, uma rotina diária, claro ( sim, caras leitoras e leitores, comprei meus tênis e virei a lulu malhadora) . Pesinhos e bicicleta e alongamento e ai que delícia mas cansa, e o corpo às vezes dói e às vezes parece que mal há forças para se sustentar a si mesma, quanto mais puxar o ferro de um aparelho que se assemelha àqueles instrumentos medievais de tortura mas que vão, sim!, deixar minha bunda um espetáculo. Sim, eu sei... Há a endorfina, a adrenalina, e putaquepariumina que fazem dos exercícios uma delícia e tal, mas vamos combinar, às vezes enche. E hoje é meu dia de desabafo. Depois escrevo um post falando como tudo isso é na verdade uma delícia.

E a pele. Ah... os mistérios da cútis. ... Minha pele é ruim, uma bosta, sempre foi. E dá-lhe cremes, e peelings que me queimam e me deixam vermelha e ardendo e descascando por dois ou três dias seguidos. E dá-lhe lavar os rosto três vezes ao dia, e depois da festa, trôpega e tonta, tirar todo o rímel e o blush ( ui, que antiquado foi falar blush) , força de vontade para passar hidratante, todos os dias, antes de ir dormir... Sim, é gostoso, nada como uma pele macia, mas que atire a primeira pedra quem nunca quis mandar a hidratação para a pqp e sentiu vontade de abraçar e louvar a secura, ou os cravos, ou dizer em voz alta e brado retumbante: QUE VENHAM AS TOXINAS!!

Sem falar na limpeza de pele, quando uma mulher invariavelmente sádica, se compraz em, depois de uma máscara gelada, outra que te puxa os ossos, outra que te raspa inteira e outra que te faz suar, esmagar todos os cantos mais recônditos do seu rosto até que deles saia o último cravo maldito. E você, por sua vez, sai dali... vermelha, marcada, inchada... e agradecida.

E os cuidados com o cabelo... Penteá-los, amarrá-los, secá-los, alisá-los, encaracorá-los, lavá-los, limpá-los, pintá-los, despintá-los, cortá-los, deixá-los soltos ao léu... Mil gestos, mil preocupações. E eles te desobedecem, e seguem um princípio bem parecido com aquele da beleza: tem dias que você não faz nada, e eles estão lindos. Outros dias, mesmo depois de fazer de tudo, e eu digo absolutamente tudo, inclusive ficar com uma touca quente de bolinhas vermelhas por meia hora na cabeça, eles se recusam a cooperar. Têm vida própria, os cabelos.


e às vezes sinto como se tudo o que eu fosse fazer pudesse ser usado contra mim. Ah.. você vai dizer que chega?? você vai ligar a tecla do foda-se e ir até o Mac Donald´s???? você sabe o que isso significará para você??? ( e antes que me xinguem e me escrevam como o Mac Donald´s de fato faz mal , aviso que faz acho que um ano que não vou lá. Mas gosto de um mac chedder. Pronto, falei. ) Ou... Você vai mesmo dormir sem tirar a maquiagem??? E os seus poros fechando-se, sufocando, entupindo???? Sim.. refrigerante diet? hahahaha... pobre lulu.. .mal sabe ela que refrigerantes diet também dão celulite...

sim!! falei o nome das ditas... ce-lu-li-te... pronto, morremos todas na praia. Porque do monte de amigas que tenho, duas, acho, não sofrem desse mal. e olha lá. Sei lá... devem os hormônios que colocam no frango, porque não é possível....

E acho que a gente faz tanto tudo isso, todos os dias, todos os meses, todos os anos, que chega uma hora que mal percebe e tudo vira rotina. Espero que chegue logo esse momento para mim. Porque vale a pena, é legal ser linda, o que, me entendam, não significa pesar 45 quilos nem nada disso. Significa tá bem consigo mesma, e se isso significar seguir os ultra padrões impossíveis de capa de revista, tchau. Boa sorte. Para mim tudo isso significa se sentir bem na própria pele, seja lá o que isso for. os tais cuidados e atenções. mas me cuidar, para mim, é uma batalha e um esforço diários. Para mim dói, cansa, custa caro, enche... e cadê minha compressa de água boricada? Porque hoje a porra do peeling tá me comendo a bochecha, juro. Depois que minha pele ficar de bebê vou ficar hiper feliz, vou mesmo, mas hoje é o dia de desabafo, porque ficar linda é trabalhoso. Prá burro.

e atenção, é trabalhoso ficar linda por fora e é trabalhoso ficar linda por dentro. E os dois valem hiper a pena, e são, mesmo, uma delícia. E não há padrões para nada mas sempre se aprimorar requer esforço. E nem sempre é fácil, o prazeroso. Acho que é isso que eu quis dizer. acho.




beijos a todos,
Lulu.



Sobre o tema, se você é novo no diário e gostou, leia também:

um post que dá instruções para meninos perdidos.
e esse, que tenta narrar um momento de crise.

sobre mapa astral, artes divinatórias, resenhas de livros e críticas de filmes

Nâo vou , não leio, não vejo e nem quero saber. E não tem nada a ver com o fato de que às vezes os resenhistas ruins, ou os leitores de mapas e artes divinatórias ( como chama isso? ) ruins irem lá e anunciarem não somente o enredo inteiro como também o fim, do filme, do livro ou da vida. Nesse caso, dá vontade de processar.

O filme é muito bom.Ok. E aí, como não há nada mais o que se falar, o crítico vai lá e conta a historinha da bagaça, entremeada de alguns dados da produção ( quanto custou , o peso da atriz, como foram feitos os cenários ...) e eu pergunto: fora o favor que a pessoa faz de estragar eventuais surpresas e expectativas... e daí??? o que a historinha tem a ver com a qualidade ou não do filme?? A historinha, na maior parte das vezes, inclusive, é o que menos importa, importa, sim, como a historinha é contada. E já que a metáfora é quebrada mesmo, continuo firme nela. Não quero saber se vou namorar três vezes, morrer velha ou nova, ficar rica e famosa ou pobre para sempre. Me irrita saber a historinha de antemão.

Não vou, não leio, não quero saber.

De ver alguns trailers eu até gosto, porque eles contam em tantos detalhes o enredo inteiro do filme que até te dispensam de passar outras duas horas na cadeira do cinema assistindo o filme em si.

Aí vocês vão dizer... mas há aqueles bons críticos, que iluminam a obra, fazem reflexões em cima dela, não contam o enredo mas analisam aspectos importantes para a melhor compreensão da obra, é bacana lê-los. Sim, depois que já tiver lido o livro ou visto o filme, aí leio. Mesmo, com todo prazer.

Ou... mas às vezes é legal, saber quais são assim as linhas mestras que te regem nesse momento, saber suas propensões, sei lá o quê... Não. Eu nem acredito, mas isso é o que menos importa. Não quero saber nada a priori. Não quero.

Mas se a historinha nem importa... e daí que você sabe o que vai acontecer? Todo mundo sabe de cor e salteado o que vai acontecer com o Ulisses, e daí? ninguém deixa de ler a Odisséia por causa disso... Concordo. Mas saber o que os grandes críticos já interpretaram, disseram, falaram, antes mesmo de ler a Odisséia pela primeira vez.... vai me influenciar.

Porque, confesso, eu sou uma pessoa extremamente influenciável.
por isso que não posso ver essas coisas....

segunda-feira, 26 de março de 2007

ser cuidada

Ser cuidada é uma delícia! Pode ser até falha de caráter, mas eu adoro ser cuidada e não tenho o menor problema com isso. Se quiserem me preparar o jantar, me dar banho, fazer massagem e me pôr para dormir, aceito de bom grado ( claro que o verbo na terceira pessoa do plural na frase acima não traduz um sujeito assim tão indeterminado, néah?).



Outro dia meu pneu furou e eu nem pisquei: a maior aventura foi chegar ao posto de gasolina e, uma vez lá, soltar meu moooçooo.... meu pneu furoouuu... o sr troca para mim???? Sim, meninas, nem tentei trocar a joça do pneu sozinha. Tenho absoluta certeza e profunda convicção de que, no dia em que tentar usar o tal do macaco, o carro cairá inteiro em cima de mim. Eu sei, pressinto, sei.
E que nomes têm esses negócios?? Pior ainda foi quando tive que parar na frente de um ponto de táxi perguntando se alguém podia fazer uma chupeta porque minha bateria tinha acabado. Ruborizei até as orelhas.







E outro dia ainda, lá no salão de beleza, de repente vi que uma senhora mexia nos meus pés, enquanto outra mexia nas minhas mãos, enquanto outra me trazia água e outro me fazia a sobrancelhas. Sim, caros leitores... quatro pessoas ao redor dessa luluzinha aqui. " Geeenteee! parecendo uma atriz de cinema!!! " foi o meu comentário, enquanto me refestelava mais ainda na já confortável cadeira e folheava minha revista, sem culpa alguma. (tá, foi um pouco estranho, confesso. e é certo que, nesse caso, cada cuidadinho é muito bem paguinho....)

Enfim... é bom ser cuidado, é bom ser cuidada, e cuidar também, e se cuidar.








às vezes, para cuidar, basta prestar atenção. às vezes são requeridas ações.
Se bem que prestar atenção é uma baita de uma ação que infelizmente, suspeito, anda cada vez mais rara, poucos prestam, de fato, atenção na vida, nas pessoas, nas coisas.



Cuidar é estar junto, é o contrário de largar.



Nas escolas, em praticamente qualquer escola, há sempre dois elementos mágicos de cuidado, sempre de plantão em todas as secretarias: o chazinho e o band aid:
- Professora.. com dor de cabeça, enjôo, me sentindo mal, sei lá o quê...
Fácil, mandamos o moleque na secretaria. Ele é ouvido atentamente.
- Toma esse chazinho....
Pronto, cinco minutos de chazinho e cuidado, e ele volta novo.
Tenho uma suspeita que alguns até desenvolvem uma enxaqueca crônica porque viciam no tal do chá.

E quando o menino se corta, se arranha, faz galo, se machuca???
Band-Aid nele!!!!
Vamos combinar? Quanto tempo dura um bandeide no corpo de uma criança? Em cima de um arranhãozinho leve? Uns cinco minutos. Mas as propriedades mágicas do bandeide vão muito além do próprio bandeide.... No próprio nome já diz, é uma ajuda, uma proteção, colocado o bandeide, é só proferir as palavras mágicas: pronto, já passou.... e passa.
É assim quase que um amuleto mágico. Se o bandeide for do Mickey, melhor ainda! A criança olha seu dedo bandeidado, misterioso, um troféu da guerra, e até sorri. Pronto, foi cuidada, passou.



E o cuidado da comida? Se você aparecer doente na minha casa, tenha certeza, te alimentarei como se não houvesse amanhã, e te hidratarei como se estivéssemos em plena travessia do deserto. Juro, sou assim. Aliás, pensando bem, mesmo se vc não estiver doente, lá em casa, eu provavelmente te alimentarei e darei de beber como se não houvesse amanhã... hmm.. é. acho que sim.

Frutinhas, sopas, comida para dar sustança, comida para confortar... Outro dia havia uma amiga aqui, recém-separada, que chorou no meu colo. Alguma hora bate a fome... nessas épocas de regime, só havia salada em casa. Vamos comer uma salada? tá... mas um tá tão minguante, tão sentido... que imediatamente resolvi a situação. Nessa hora, precisamos de carboidratos, muitos. Sim, caros leitores e leitoras, foi pedida uma pizza. Sorvete direto do pote nessas horas também serve, mas é que eu não gosto muito de doce. E mais colo, e piadas, e música, e pronto. A certa altura, estávamos as duas doidas dançando na sala.












Gosto de ser cuidada. Cuidada de ter resposta pros meus e-maisl, de prestarem atenção em mim. Cuidada de me mimarem e brigarem comigo, de me darem cafuné, quando preciso de cafuné, e bronca, quando preciso de bronca. Cuidada de entregar os pontos, chegar em casa depois de um dia inteiro de trabalho e declarar: morri, tchau, e não mexer nem um dedinho. Cuidada pela gata que se esfrega em meus pés quando chego, e se vira de barriga prá cima para receber carinho (pensando bem... eu que cuido dela... mas às vezes, cuidando, a gente se sente cuidada também).
Cuidada de falarem : levanta, quando acho que não dá. De falarem fica aqui, de darem beijinho e prestarem atenção em todos meus suspiros e ais, todos meus arrepios e respostas.

Cuidar é pensar sobre, imaginar, fazer. No dicionário Houaiss, as definições aparecem assim( tirei os exemplos, na esperança dos leitores lerem esse longo post até o fim) :

Acepções

■ verbo
transitivo direto, transitivo indireto e intransitivo
1 meditar com ponderação; cogitar, pensar, ponderar
transitivo indireto
2 reparar, atentar para, prestar atenção em
transitivo direto
3 fazer, realizar (alguma coisa) com atenção
regência múltipla e pronominal
4 supor(-se), julgar(-se)
transitivo indireto
5 preocupar-se com, interessar-se por
transitivo indireto
6 responsabilizar-se por (algo); administrar, tratar, olhar
transitivo indireto
7 tratar (da saúde, do bem-estar etc.) de (pessoa ou animal) ou (da aparência, conservação etc.) de (alguma coisa); tomar conta
7.1 ter muita atenção para consigo mesmo (exterior e/ou interiormente)
8 acautelar-se, prevenir-se

Etimologia
lat. cogìto,as,ávi,átum,áre 'agitar no espírito, remoer no pensamento, pensar, meditar, projetar, preparar'; divg. vulg. de cogitar; ver cuid-; f.hist. sXIV coydar, sXIV cudar, sXIV cujdar, sXV quidar






Cuidar vem de cogitar. é pensar sobre. é poder se colocar no lugar do outro, pensar um instante sobre o outro, se interessar, enfim, pelo outro, e por nós mesmos. É pensar, imaginar, considerar, trabalhar. Ter atenção, dar atenção, se dar atenção.









É bom ser cuidada.
E cuidar também.

domingo, 25 de março de 2007

e...

a tal da Revista Época dessa semana, que estampou na capa uma tal de Mulher Alfa, supostamente a Nova Mulher, com direito a um charutão na boca e tudo...

ai, ai...

fico com o Diário da Lulu, ou melhor, com os leitores e leitoras do Diário da Lulu ( que arrasaram nos comentários do post abaixo), que acho que dá bem mais certo...

Alfa... alfa o escambau!
era só o que faltava... humpf!

sábado, 24 de março de 2007

As mulherzinhas mulherões e os machos sensíveis

(recebi esse e-mail de uma grande amiga minha, para ser publicado aqui no Diário. Com toda honra, publico o e-mail e a resposta que eu escrevi)

Lulu,
Acho que depois de muito tempo lutando contra, estou finalmente vivendo um momento mulherzinha e uma crise... tudo ao mesmo tempo agora. Mas nem tenho coragem ainda de falar isso em voz alta. Só de, às vezes, pensar, assusta.
Estou trabalhando em uma cidade distante de onde meu marido mora... e, pela primeira vez, me ocorre que isso não está certo. Pode parecer loucura, mas antes achava isso completamente normal. Afinal de contas, minha vida profissional está (ou seria melhor dizer, estava) acima de "sentimentalidades". Ou ainda, porque meus comprometimentos sociais deveriam ser prioridade.
Confesso que o marido em questão é um ser de muita paciência, mas esse não é o ponto. O ponto central é que agora estou começando a pensar que esse "estilo de vida" não é o melhor para mim, que a independência toda que criei, tem tido efeito contrário... na verdade o que quero é alguém que cuide com muito carinho de mim – para mim isso é muito mulherzinha... chego a fazer cara feia enquanto escrevo.
Estou pensando em desistir dessa "carreira" distante para ficar em casa, cuidar do marido e quem sabe planejar um bebê. Nunca pensei que isso fosse possível... Claro que pensei em ser mãe... algumas vezes... poucas, é verdade. Mas nunca imaginei desistir de nada para que isso se tornasse possível...
Bom, é isso aí, crise de mulherzinha...


Minha querida amiga,

Fiquei pensando, pensando e pensando sobre o seu e-mail. Minha primeira reação foi: essa não é uma crise Mulherzinha. Essa é uma crise universal, que hominhos e mulherzinhas todos têm, a alguma altura da vida, ou mesmo um monte de vezes. A crise do “e aí”? Quais são as minhas prioridades?

Minha carreira, minhas lutas sociais e crenças, meus filhos e minha casa, meu divertimento enquanto dure, minha saúde, meu amor, meus amores, meus prazeres... E aí são feitas escolhas, para o bem ou para o mal, algumas dessas prioridades são às vezes irreconciliáveis...

Para mim, não há escolhas mais certas que outras. A mulher não tem que casar e ser mãe para se realizar, o homem pode virar um dono de casa e cuidar dos filhos e passar a roupa esperando a mulher chegar do trabalho, o outro se realiza passando 20 horas no laboratório, a outra publicando vinte artigos por ano, ele e ela namorando sem parar, sei lá. Quer dizer, fico achando que o bom da nossa geração é que os papéis estão mais abertos, fico achando que a gente tem mais liberdade de escolhas, para nos construirmos e construirmos nossas vidas, independente do gênero ao qual pertencemos. Por isso pensei: essa não é uma crise mulherzinha, essa é uma crise de vida, que homens e mulheres têm, ué.

Mas depois fiquei pensando que há sim uma parcela dessa crise que tem a ver com nossos momentos mulherzinhas/mulheronas. A crise que achar feio, ou meio errado, querer alguém que cuide com muito carinho da gente. Como assim? Não somos independentes? Mulheres fortes, guerreiras, sei lá o quê? Ah, Su... somos sim, mas também queremos deitar a cabeça no colo de alguém e receber cafuné e conselhos e cuidados mil. Mulherões, chefes, intelectuais arrasadoras, tudo, mas pôxa... com direito a gritar de ódio quando a unha recém feita na manicure quebra...

Acho que a geração que lutou por direitos iguais, movimento feminista e tal acabou, por uma série de razões, tendo que abrir mão de muito da sua feminilidade para entrar no mundo dos homens. A nossa geração já não precisa disso. Nossa conquista e luta talvez seja por aí, sermos mulherões, batalhadoras, guerreiras leoas e tudo mais, e mulherzinhas, com nossos sapatinhos, unhas, bolsas, vontade de carinho, colo, necessidade de ajuda. Outro dia um amigo me mostrou a caixa de ferramentas da mãe... todas as ferramentas rosinhas e fofas, juro! Mas a mãe sabia usá-las. E usava, sem depender de ninguém. Achei bacana ( meio gay... rsss... mas bacana ;) ).

Para os homens também há todos esses dilemas. Eles também ficam tendo que achar algum jeito de serem machos sensíveis. Permanecer em certos papéis de homens que a gente gosta sim, e fica até exigindo, e ao mesmo tempo chorar e ver novela com a gente, cozinhar, sentir bastante, sei lá. Abrir ou não a porta do carro? Trocar ou não o pneu? Dividir ou não a conta? Sei lá... São novos papéis, que deixam sim a gente em crise mas a crise é até boa, porque o conteúdo dos papéis não está mais definido a priori. Seja em casais (sejam eles quais forem), seja na vida vivida só.

Em casal, o bom é que nesses novos papéis dá sim para fazer escolhas juntos. Assim: você fica um pouco aqui, trabalhando e estudando, que eu seguro as pontas, e depois eu estudo e você dá mais aulas... Ou... ok... vai passar um ano em Curitiba, a gente agüenta um ano separado, pode ser até bom, mas volta, logo, e na hora dos concursos, eles só podem ser em lugares que sejam bons para nós dois. Ou... olha: fica mais comigo. Ou... quero ficar mais com você, e quem sabe ter filhos, e quem sabe desacelerar um pouco. Ou... a gente passa seis meses do ano juntos, seis meses separado. Sei lá. São acordos, e caminhares juntos, ou sós, mas que devem, sobretudo, fazer a gente feliz e realizado, o máximo que der.

Não há nada, nadica de nada de errado nisso, Su, em sentir vontade e desejo de ficar mais em casa, querer colo, não colocar a carreira – e no seu caso uma luta bem linda por mais justiça social – sempre, em primeiro lugar. A vida é curta, a gente tem que fazer o que o coração manda. Eu acho. E depois, dá pra conciliar as coisas, dividindo, tem que dar. Sermos mulherões e mulherzinhas.

E você sabe, como eu sou a favor das sentimentalidades.

Um beijo bem grande,
Obrigada pelo e-mail,
Sua amiga,
Lulu.

sexta-feira, 23 de março de 2007

sozinho de verdade

lindo post sobre a solidão, (quando fico sozinho de verdade) , do Daniel.

"você é o que você come"

.
- Quem é você ?
- Eu? Sou uma porra aí qualquer...


( adaptação do perfil do orkut de uma querida amiga minha)

quinta-feira, 22 de março de 2007

Maria Antonieta e o tédio do próprio umbigo

Acabei de assistir ao tal do Maria Antonieta da Sofia Coppola.






Já devo começando a dizer que já não gostei do Encontros e desencontros, o filme anterior dela. Sim, eu sei, você provavelmente gostou, um monte de gente gostou, eu não gostei. E tento explicar porquê.

Existe, ao meu ver, uma diferença entre o spleen e a melancolia em relação ao mundo, um certo tédio, uma certa falta de motivo e tesão com a vida, que já foi ultra bem retratada no cinema, por exemplo na Dolce Vita, do Fellini, alguns filmes do Godard, e um monte de outros bons filmes, e simplesmente uma vivência de enfado em relação ao mundo, não importa ele qual seja.

No Encontros e Desencontros, é tematizado esse enfado, esse outro enfado, que não é um enfado de ócio ou da solidão do homem na multidão, mas do enfado do ser humano que simplesmente não consegue mais se comunicar com ninguém, nem ter experiências e zanza daqui para lá achando tudo muito chato e muito sem graça, sem crítica nem distanciamento, sem nada. O outro é um eterno estrangeiro, e todo mundo tem que ser igual a mim, e me achar, senão eu me perco. Ora... poupe-me. No Encontros e desencontros essa espécie de solidão e tédio do mundo são tematizadas, mas de maneira uma rasa, que não convence, junto a uma visão extremamente preconceituosa do Japão, que vira lugar ou da tradição exótica e bela ou do ridículo, onde mesmo uma relação de um possível amor, ou sei lá, se resume a nada. Eu adoro o olhar vazio do Bill Murray, acho sensacional, mas Encontros e desencontros para mim soou falso, uma grande balela que poderia se chamar: como ser extremamente rico e não conseguir nem ao menos comer bem no Japão. Como curtir uma impossibilidade de enxergar o outro e a vida, impossibilidade essa que vem, ao meu ver, de um certo embotamento de sentidos que são, no fundo , extremamente auto-centrados e mesmo auto-condescendentes. Poupem-me, tem um certo tipo de tédio que irrita, e no caso desse filme, esse tédio é retratado sem crítica nem angústia, sem nem uma nota fora do lugar, é o que é, e eu acho chato, mais que chato, irritante.

Há de fato, hoje em dia e talvez sempre, uma necessidade da experiência, da vivência do extraordinário e do intenso, principalmente numas vidas esvaziadas de afeto e experiências humanas de fato, vidas cada vez mais abundantes por aí. Há um certo tédio que, perigosamente, ronda nossas vidas burguesas, do tipo, já vi tudo, já tomei todas, já dei para todo mundo, já rodei o mundo e daí?, ai que vida chata. Me irrita. Me irrita pessoalmente, porque fico achando isso uma grande injustiça mundial ( dá todo o dinheiro e o tempo livre para minzinha, então... e vai lá na fila do banco no meu lugar...) e me irrita em termos sociais e políticos também, porque os sentidos embotados, esse tédio e melancolia em relação ao mundo são, no fundo, profundamente alienados e reacionários. Porque tanto faz, porque todo mundo é desencontrado na vida, todo mundo é sozinho e fora do lugar, então ninguém se comunica e não há nem sociedade nem nada, só indivíduos perdidos por aí. Ora...

E é sobre isso que versa o Maria Antonieta.


Tudo bem fazer um retrato de época onde aparece uma trilha sonora contemporânea ( que aliás é bem boa), que narra a história do ponto de vista não do povo mas da nobreza ( e nessas horas sente-se até saudades do reacionário, mas bom, do Eric Rohmer) e que centra a narrativa na intimidade das personagens e dá até aquela hiper simplificada nos fatores sociais e talz que movem as histórias das quais essas personagens fazem parte.

O melhor retrato de época que já vi, é o Casanova do Fellini, que é bonito justamente por não procurar ser um retrato de época em termos da precisão estética ( o mar de plástico da cena inicial é um dos mais belos mares já retratados) nem nada, mas que causa uma estranheza na gente, que nos confronta, de fato, com o estranho e causa uma percepção de que sim, trata-se de uma outra época, que visitamos como se fora um país estrangeiro, um outro e diferente de nós, exagerado, estranho, não confortável. Grande filme, belíssimo.

Uma vez, em um simpósio sobre cinema e história, um colega comentava que o extremo oposto nesse sentido são os filmes da Disney. A Pocahontas, o Faraó, o Príncipe do Egito, o Mowgli, falam como a gente, sentem como a gente, amam como a gente, enfim, não fossem os cenários e as roupitchas, seriam e são, perfeitos personagens americanos contemporâneos. E isso é uma anulação completa não somente da História, mas também, o que é mais triste e mais grave, da possibilidade de se ser, de fato, diferente e mesmo da possibilidade de olhar e compreender o outro. Exagero meu? acho que não.

A Maria Antonieta Sofia Coppola é quase uma Paris Hilton, entediada, hedonista ( e é até divertido ficar vendo os sapatinhos que ela escolhe e os docinhos que ela come enquanto se entope de champanha) , que vai para lá e para cá, casada com um moço rico de masculinidade duvidosa, novinha em uma corte, perdida de tudo. Lá pela metade de um filme lento, com imagens bonitinhas que parecem saídas de uma publicidade de shampoo ou perfume, a mocinha boba e ingênua que havia caído na farra, finalmente encontra biblicamente seu marido bobão e transforma-se. E logo vem a maternidade... ah, a maternidade!!! lhe devolve e restaura uma pureza interior, uma beleza até, ela inclusive se veste de maneira mais simples enquanto lê Rousseau nos jardins de sua casinha campestre enquanto come morangos silvestres com sua filhinha... ( juro, e a cena não me pareceu irônica).

A vida continua, ela gasta muito, o maridón insiste em financiar a independência da América e ... de repente, lhe cai na cabeça uma Revolução, saída não se sabe de onde nem por onde, e pronto, the end. A vida vazia da pobre da Antonieta não fica emocionante nem nesse momento, coitada. Haja champã.

Eu curto roupas, curto rock, curto sapatos e decoração, mas posso ter tudo isso em separado, folheando livros, vendo vitrines, revistas especializadas, ouvindo meus cedês. Não preciso me submeter a três horas de falta de enredo sobre o tédio da vida rica para ver tudo isso. E se vocês querem saber, sim, fico achando reacionário e até mesmo perigoso essa total incapacidade de ver o outro, de entender minimamente o que se passa ao redor, de se sair do próprio umbigo e ainda achar que a vida é assim, e nossa... que fascinante.
Os dois filmes da Sofia Coppola que vi, apesar de tão "diferentes" eram bem iguais, e versam ambos sobre esse tédio umbigal.
me irrita.
humpf.

ps. Alex, brigada ( e divina lulu me deixou contenta pro resto da semana) !!!
Seu post sobre o Lost in Translation é lindo. Sem querer, fizemos sim um belo diáologo. Gente, vão todos ver.



dois blogues novos legais

Tem dois blogues novos bem legais por aí, que vocês deviam visitar correndo!

Os dois são de artistas plásticos, e para quem gosta de arte, desenhos e ilustrações, são assim um MUST.

Um, é da minha amiga e xará querida desde os tempo do colégio, a Luana Geiger, que faz umas ilustrações lindas e está publicando-as aqui:

luanailustra.blogspot.com
tem pai que é cego
Luana Geiger.

Outro, do meu irmão querido, que além de ser meu irmão querido, é hiper bom nas coisas que faz, artista plástico da melhor categoria. O blog é cheio de vídeos bacanas e trabalhos impressionantes.
aqui: http://tiagocdc.blogspot.com/

Tiago Carneiro da Cunha
Caveira realista banguela [verde], 2003

Resina de poliuretano [Polyurethane resin]
13 x 12 x 20 cm

quarta-feira, 21 de março de 2007

sentada junto à janela quando a noite chega

Uma mensagem imperial

O imperador - assim consta - enviou a você, o só, o súdito lastimável, a minúscula sombra refugiada na mais remota distância diante do sol imperial, exatamente a você o imperador enviou do leito de morte uma mensagem. Fez o mensageiro se ajoelhar ao pé da cama e segredou-lhe a mensagem no ouvido; estava tão empenhado nela que mandou-o ainda repeti-la no seu próprio ouvido. Com um aceno de cabeça confirmou a exatidão do que tinha sido dito. E perante todos os que assistem à sua morte - todas as paredes que impedem a vista foram derrubadas e nas amplas escadarias que se lançam ao alto os grandes do reino formam um círculo - perante todos eles o imperador despachou o mensageiro. Este se pôs imediatamente em marcha; é um homem robusto, infatigável; estendendo ora um ora outro braço ele abre caminho na multidão; quando encontra resistência aponta para o peito onde está o símbolo do sol; avança fácil como nenhum outro. Mas a multidão é tão grande, suas moradas não têm fim. Fosse um campo livre que se abrisse, como ele voaria! - e certamente você logo ouviria a esplêncida batida dos seus punhos na porta. Ao invés disso, porém, como são vãos os seus esforços; continua sempre forçando a passagem pelos aposentos do palácio mais interno; nunca irá ultrapassá-los; e se o conseguisse nada estaria ganho: teria que percorrer os pátios de ponta a ponta e depois dos pátios o segundo palácio que os circunda; e outra vez escadas e pátios; e novamente um palácio, e assim por diante, durante milênios; e se afinal ele se precipitasse do mais externo dos portões - mas isso não pode acontecer jamais, jamais - só então ele teria diante de si a cidade sede, o centro do mundo, repleto da própria borra amontoada. Aqui ninguém penetra; muito menos com a mensagem de um morto. -
Você no entanto está sentado junto à janela e sonha com ela quando a noite chega.

Kafka.
trad. Modesto Carone.


terça-feira, 20 de março de 2007

papos insanos

aí, durante o dia de ontem... essamulher insana ouviu alguns papos insanos:

-e aí, cê tá bem?
-Tô... to bem gorda. e bem. bem gorda e bem.
-hahaha... eu também, tô bem gorda e bem.
-que bom!!
-tô parecendo uma vaca.
-uma vaca?
-é, uma vaca leiteira. Cheia de braços, peitos...
(eu imaginei uma vaca, e eu acho vaca um animal bonitinho, olhos doces e vida calma)
-Ah... tem uma coisa legal de ser assim!
-Ah é... ? - disse minha amiga, toda cética - o quê?
-Ah... sei lá! Uma generosidade de carnes.
tinha falado a sério, mas pronto... as duas caíram no riso.

e na escola, um professor contava das suas peripércias em meio a tribunais, professor de filosofia, daqueles barbudos, que usam sandália de couro e tal:
- e aí eu cheguei no tribunal,
-sei.
-vestido assim, de bermuda, sandália e camiseta. As mulheres todas de tailleur ( sei lá como escreve tailleur), os homens todos de terno.
-Putz, e te trataram mal?
-Não... o problema foi que eu fiquei com tesão, porque essas mulheres que usam tailleur para mim são todas pervertidas, sabe?

ai, ai...mais risadas.

e uma conversa escatológica de maridão e mulherzinha (identidades secretas) :
-ai.. eu tô tão contente... a gente anda comendo um monte de fruta, verdura, iogurte, e isso tem me feito tão bem...
-ah ... que bom.
-é! até meu cocozinho, tá saindo tão direitinho, tão bunitinho...na hora certa e tudo...
- É? tá cagando bem aí mulé???
e ela ri, vermelha até as orelhas.

e assim, rindo, um dia que não dava, acaba que dando.
beijos a todos,
Lu.

segunda-feira, 19 de março de 2007

não dá

às vezes acordar, ser, fazer, estar requerem um esforço tão monumental, tão gigantesco, que parece que não dá.

domingo, 18 de março de 2007

o amor em mil tempos

Le Tourbillon De La Vie

Então, nesse domingo chuvoso, embebedemo-nos com uma bela cena de cinema, e que possamos ns divertir e encantar com o turbilhão da vida.


eu sou a Jeanne Moreau, ele, o violonista bonitão narigudo. :)
Jeanne Moreau -Le Tourbillon De La Vie (in Jules et Jim)





E como se nâo bastasse, em outro tempo, outro lugar, aparece a Vanessa Paradis, fazendo uma homenagem à Musa (que lhe deixa no chinelo).
O amor, os amores, em dois três, quatro, mil tempos. Em turbilhões infinitos, e a vida fica sendo bacana.




Cantemos juntos:
Elle avait des bagues à chaque doigt,
Des tas de bracelets autour des poignets,
Et puis elle chantait avec une voix
Qui, sitôt, m'enjôla.

Elle avait des yeux, des yeux d'opale,
Qui me fascinaient, qui me fascinaient.
Y avait l'ovale de son visage pâle
De femme fatale qui m'fut fatale {2x}.

On s'est connus, on s'est reconnus,
On s'est perdus de vue, on s'est r'perdus d'vue
On s'est retrouvés, on s'est réchauffés,
Puis on s'est séparés.

Chacun pour soi est reparti.
Dans l'tourbillon de la vie
Je l'ai revue un soir, hàie, hàie, hàie
Ça fait déjà un fameux bail {2x}.

Au son des banjos je l'ai reconnue.
Ce curieux sourire qui m'avait tant plu.
Sa voix si fatale, son beau visage pâle
M'émurent plus que jamais.

Je me suis soûlé en l'écoutant.
L'alcool fait oublier le temps.
Je me suis réveillé en sentant
Des baisers sur mon front brûlant {2x}.

On s'est connus, on s'est reconnus.
On s'est perdus de vue, on s'est r'perdus de vue
On s'est retrouvés, on s'est séparés.
Dans le tourbillon de la vie.

On a continué à toumer
Tous les deux enlacés
Tous les deux enlacés.
Puis on s'est réchauffés.

Chacun pour soi est reparti.
Dans l'tourbillon de la vie.
Je l'ai revue un soir ah là là
Elle est retombée dans mes bras.

Quand on s'est connus,
Quand on s'est reconnus,
Pourquoi se perdre de vue,
Se reperdre de vue ?

Quand on s'est retrouvés,
Quand on s'est réchauffés,
Pourquoi se séparer ?

Alors tous deux on est repartis
Dans le tourbillon de la vie
On à continué à tourner
Tous les deux enlacés
Tous les deux enlacés.

sexta-feira, 16 de março de 2007

saudades do mundo inteiro

às vezes sinto uma falta do mundo inteiro. Sinto uma vontade de todos os abraços de quem gosto, de falar com todos ao mesmo tempo, de dançar em todas as festas, de abrigar todo mundo, de discutir bem alto e beijar baixinho, de todas as bebedeiras, de todas as risadas, de todos os choros e abraços.
às vezes sinto falta de mim com os outros, ao contrário das vezes em que sinto falta de mim sozinha. às vezes fico querendo todos os amores, e abraços, e encontros, e conversas, e amigas e amigos e todos, aqui, ao lado, ao mesmo tempo, e sinto como se o mundo estivesse longe, longe.


às vezes sinto uma saudade súbita do mundo inteiro, e parece que quase explodo.

um beijo grande a todos vocês aí fora.

Lu.

as cordas de Ulisses

Foi meu pai quem me ensinou, que a gente deve ser esperto como o Ulisses. Uma vez, eu queria fazer uma coisa bem difícil, não lembro mais o que era, regime, mudar de nível na dança, passar no vestibular, sei lá... Não estava conseguindo, e estava hiper chateada com isso. E ele me falou: você precisa das cordas do Ulisses, não pode tentar fazer tudo sozinha, confiando somente na sua vontade.



Foi a augusta Circe quem deu a grande dica para o Ulisses:

"Primeiro, encontrará duas Sereias; elas fascinam todos os homens que se aproximam. Se alguém, por ignorância, se avizinha e escuta a voz das sereias, adeus regresso! não tornará a ver a esposa e os filhos inocentes sentados alegres ao seu lado, porque, com seu canto melodioso, elas o fascinam, sentadas na campina, em meio a montões de ossos de corpos em decomposição, e peles amarfanhadas. Toca para diante; amassa cera doce de mel e veda os ouvidos de seus tripulantes, para que ninguém mais as ouça. Se tu próprio as quiseres ouvir, que eles te amarrem de pés e mãos (...) para te deleitares ouvindo o canto das sereias. Se insistires com teus companheiros para te soltarem, que eles te prendam com laços ainda mais numerosos."
( Homero, Odisséia, canto XII, trad. Jaime Bruna; São Paulo: Cultrix)


O resto da história, todos sabem. Ulisses colocou cera nos ouvidinhos dos seus colegas, mas não em seus próprios, pois sabia que o canto era a oitava maravilha do mundo e queria ouvi-lo. Pediu, no entanto, que o amarrassem bem forte, e que ignorassem seus pedidos e ordens quando ouvisse os cantos. E assim, ele passou ouviu o canto e, amarrado do jeito que estava, resistiu às irresistíveis sereias. E assim ele pôde seguir sua viagem de retorno a sua casa e mulher.

E tem duas ou três coisas legais que eu aprendi com essa história:

A primeira é que não devemos confiar cem por cento e cegamente em nossa racionalidade e força de vontade. Olha só (como dizem os cariocas) o Ulisses sabia que as sereias eram mortais, inclusive, ao lado delas, havia um monte de ossos e peles, claramente daqueles que sucumbiram ao canto. Eu penso assim: ué.. eu sei que esas sereiazinhas aí são assassinas. Eu SEI, portanto não vou me atirar a elas, porque eu não sou boba nem nada, eu heim? , num tem canto de sereia que me faça querer virar um montão de ossos antes da hora. Aí é que está. Somos bobos, ninguém no mundo é tão racional assim, nem tem tanta força de vontade. Eu, por exemplo, sucumbo fácil a uma coxinha de catupiry, o jeito é andar sem dinheiro, ou me afastar para nem sentir o cheiro, ou sei lá o quê. E essa foi a primeira coisa que a Circe ensinou para a Ulisses. É melhor vc se amarrar, antes, se cercar de cuidados, porque a autonomia, a racionalidade, o bom senso e o auto-controle, falham.

A segunda é que é bom que tenhamos gente ao nosso lado, e é importante a gente pedir para elas cuidarem de nós. O Ulisses é o grande herói, muito bacana, espertíssimo, tudo certo, mas ele nunca ia conseguir voltar para o lado da Penélope sozinho. Ele precisa e precisou de ajuda, e soube pedir ajuda, e soube ouvir. A gente precisa sempre de ajuda em nossos caminhos, de um professor, dos pais, de amigos, do nosso orientador, sei lá. No meu mestrado sofri bem mais que o necessário porque achava que tinha que resolver tudo sozinha e só mostrar meu texto para minha orientadora quando esse já tivesse perfeito. E simplesmente não saía do lugar. Quando comecei a ter coragem de ir conversar com ela, pedir ajuda, combinar prazos, pensar a estrutura do trabalho juntas, tudo caminhou de maneira mais fácil.

A terceira é que dá sim para ouvir o canto das sereias. Quer dizer, não precisamos nos fechar e cercar cem por cento, não ver nem ouvir mais nada, não sentir mais nada, porque tudo nesse mundo é tentação e emoção, tudo é desvio da vontade. Eu, heim? É possível ouvir o canto, sem que se perca e se vire uma montanha de ossos aos pés das belas sereias. Dá até para comer uma coxinha de catupiry, vez ou outra, dá para um monte de coisas, é só se cercar de outros jeitos, se cuidar de outros jeitos, não é preciso virar aquelas pessoas chatas que colocam ceras em seus ouvidos para tudo, e não comem, não bebem, não saem, não curtem, não se permitem prazeres.
Basta que tenhamos algumas cordas, que nos segurem e ajudem.
Essas cordas podem ser o compromisso de ir ao médico uma vez ao mês, se pesar para ver se a dieta anda ok (eu acho a coisa mais difícil do mundo fazer regime sem corda alguma) . Podem ser os famosos prazos que nos obrigam a afinal, terminar aquele artigo ou trabalho há tanto tempo guardado na gaveta. Pode ser o castigo que vamos receber se ficarmos de recuperação, sei lá. A calça que queremos que sirva no encontro marcado pro final de semana. Compromissos que temos com gente que precisa de nós.

Sou hiper e profundamente libertária, e não estou defendendo aqui aprisionamentos de maneira alguma, mas também sou hiper exigente e rigorosa comigo mesma e acho que o episódio das cordas nos ensina algo sobre nossa própria falibilidade, e sabendo dela, às vezes inclusive fica até mais fácil entender e lidar com as coisas que não deram certo ou que não conseguimos.

E não há problemas em ter algumas cordas que nos sustentem e equilibrem, e nos ajudem a chegar em casa, ou simplesmente seguir nosso caminho e desejos mais profundos, sejam eles quais forem.

Porque é assim que termina essa parte da história, passadas as sereias, Ulisses teria que escolher seus caminhos, decidir se ia prum lado ou pro outro. Ele ganhara essa possibilidade, de decisão, escolha, de caminhos abertos, e isso é muito legal.



Há muitas coisas legais que essa historinha nos conta.

O que vocês acham?


***

p.s. Juvenal! Te mandei já um e-mail, mas voltou....

quinta-feira, 15 de março de 2007

cavalgada

Mas para mim linda mesmo é Cavalgada... quando vou parar em karaokês japoneses na Liberdade ( longa história) é ela que eu canto ( sem comentários).
Um amigo querido fez prá mim essa montagem, com pedaços da minha casa. Vão lá ver. Ficou lindo.

Amores desfeitos

Sim, minhas amigas, Lulu, de vez em quando, se acaba no Betão, especialmente nas músicas antigas, antes dele ter virado aquele viúvo apaixonado e especialmente antes de ter virado religioso e tal.

Acho Detalhes a segunda música mais linda do Roberto. A primeira é Cavalgada, depois falo dela. Detalhes é bonita porque é uma música de amor desfeito do ponto de vista de um homem.

O homem falando que não adianta nem tentar, porque detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes pra esquecer... Acho lindo.
E se outro cabeludo aparecer na vida dela, e isso der saudades dele, a culpa é dela. E que delícia duvidar que outro cabeludo, com uma velha calça desbotada, ou coisa assim, possa falar palavras de amor como ele falou um dia. E ele ainda afirma que até os erros do português ruim, até deles, ela sentirá saudades. E ainda avisa para tomar cuidado: não vá dizer meu nome sem querer à pessoa errada. É lindo demais!! Porque até nesse momento, nesse momento, desesperada, tentando até o fim, ela vai lembrar dele. Rá!!! detalhes tão pequenos dos dois, coisas muito grandes para esquecer. Maravilhoso.

A moça devia chegar para ele e responder cantando Olhos nos olhos, do Chico Buarque:
Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando, sem mais, nem por quê
Tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz


Para mim ficaria um diálogo lindo, o eu-lírico homem e a eu-lírico mulher, ambos se recompondo de um grande amor que já foi.

quarta-feira, 14 de março de 2007

mini conto

Tem trinta anos e acordou. Já são seis horas? Pô... perdi Malhação.

O reino do Beleléu

Tem pessoas que conseguem ter sempre só um shampoo, um perfume e um batom no armário. E só compram um novo quando o que têm está acabando, antes de acabar. Eu tenho um monte, metade deles de frascos vazios, uma parte considerável fruto de compras impulsivas de produtos caros que no final eu não gostei, e os bons eu acabo perdendo, ou simplesmente não acho. Onde foi parar meu rímel? Cadê aquele meu batom?

Tem pessoas que usam a caneta bic até acabar. Eu sei, já vi. Meu dia começa com três canetas, uma vermelha, duas azuis, depois eu perco a azul, peço emprestado outra, acho a azul, fiquei com a emprestada, quatro canetas. Depois perco a vermelha, corrijo com azul mesmo, esqueço a azul em algum canto, uso a outra, e à noite não tenho mais caneta nenhuma. Cadê minha caneta?

Desisti do guarda-chuva, tenho uma relação toda especial com a água que cai do céu, me rendo a ela, ela é mais forte que eu, eu me molho, e não adianta. Uma vez comprei um e me prometi nunca tirá-lo de casa. Choveu. Percebi que não havia jeito, tinha que levá-lo comigo, afinal chovia, e é para isso que o bicho foi feito. Levei, era a primeira saída. O danado nunca mais reapareceu.

E entre o saco de roupas sujas e as roupas limpas de volta há um verdadeiro triângulo das bermudas. Meus sutiãs somem inexplicavelmente, aquela saia de que tanto preciso, porque ela, e só ela, ficará boa nesse dia ruim, sempre some também. Não está no varal, não está no cesto, não está em lugar algum. Acho que ela deve namorar o sutiã preferido, um dia descubro onde eles ficam.


Minha bolsa tem um fundo secreto, acessível somente de vez em quando. Uma vez ele se abriu e encontrei o par de brincos que procurava há séculos, duas contas antigas e a tal da quarta caneta, do parágrafo de cima. Fico com a impressão que há partes de mim em tudo quanto é canto, quando percebi, já era. Às vezes elas voltam, às vezes não.


O Reino do Beleléu fica logo aqui em casa, e anda comigo, enquanto passeio pelas ruas. E eu me perco tanto, e sou tão distraída, que um dia eu mesma acabo indo pra lá. Aí tchau, fico eu e os guarda-chuvas, e um monte de canetas, azuis e vermelhas.

segunda-feira, 12 de março de 2007

mas...


a porta tá gasta, mas o chaveiro é minha cara.
















A planta tá meio murcha, mas continua bonita e a toalha é de chita, e linda, e combina.
















A gata não pode ir para cima da mesa mas ela vai, pois a casa, afinal, é dela. E as flores são interessantes demais mas já estão meio murchas, e daí? eu concordo, eu sempre concordo com a gata, mas, pois é ela que sabe viver.

domingo, 11 de março de 2007

o homem sem qualidades



De tanto falarem, fui lá e comprei. O homem sem qualidades, do Robert Musil. Não sei mais nada, sei que é sobre um homem sem qualidades. Nenhuma. E que pessoas que eu gosto, gostam, muito e falaram preu ler. Me basta.

Mas assusta. Maior que O senhor dos anéis, em um único volume.

Assusta.

A mim, assusta especialmente, porque gosto de ler na cama e vivo dormindo com o livro na mão. Se isso acontece com esse, é capaz de me quebrar a clavícula.
E terei morrido por um homem sem qualidades.
hum.

sábado, 10 de março de 2007

no salão...

E lá estava eu, conversando com a manicure, toda animada, quando me lembro delas, as minhas sobrancelhas. Já que o sofrimento já havia sido medonho mesmo, axilas, virilhas e pernas depiladas, o que significava mais uns pelinhos a menos? E lá vou eu:
- Então, cê faz sobrancelha também?
- Não... quer dizer, eu até que faço, mas quem faz mesmo aqui é o Paulo.
- É? ele tira bem?
- Super! ele é... como chama?
- Tirador de sobrancelha?
- Não!! Sobrancelha designer!! Ele é designer de sobrancelha!!
- Ah sei...
Respondo, enquanto suspiro pensando o quanto a mais fazer a sobrancelha passou a custar agora que tem esse nome chique.

sexta-feira, 9 de março de 2007

-moça... perdi meu carro.

Shopping, fui almoçar com minha mãe, num japonês, delícia. Almoço gostoso, rimos, até fui extravagante e pedi um saquê, pleno almoço de quinta feira. Em cima da hora para o próximo compromisso, lá vou eu embora, rumo ao estacionamento. Primeiro pagar, com o mau humor de sempre, que é absurdo pagar para deixar o carro num lugar onde se vai para, basicamente, gastar mais dinheiro. Enfim...
-Hoje não precisa pagar, é dia das mulheres.
-Ok. Então tá. ( dia das mulheres o cacete, templo consumista, G%¨$#%$#@##$#$&*¨&*O, e continuo xingando...)

Segundo andar, rua P, tinha notado, tinha prestado atenção, ao lado das duas vagas para deficientes, tinha notado, tinha prestado atenção, não queria ocupar uma vaga que não me pertencia. Cheguei, chave na mão, bilhete de grátis que é meu dia, e é hoje só, vai acabar, já já...
...

Cadê o carro?

"Acho que perdi a referência, devo ter subido por outro elevador." Ando, ando, ando...
Da rua A, rua B... para a rua H... ando, ando ando.
Acabaram as ruas.

Não tem rua P? Não tem rua P.

Ando de volta, quem sabe a rua I, que era prá ser depois da H, se meu alfabeto não me engana, começa antes da rua A, em alguma lógica confusa. Atravesso tudo de volta, atravesso a Rua A, um muro. Olho bem, dou a volta, não. A Rua A é o começo e a H o fim de tudo. Não tem rua P. Começo a ficar dramática.

Mas eu me lembro, tenho certeza, vi um P ali na coluna. Paro. Olho as colunas. De repente, todas, mas todas elas, têm um P escrito. Em todas as ruas, de A a H. Ilumino-me: P de Parking. Por todos os lados. Americanos malditos.
1:40, compromisso às duas.

Acho as vagas de deficientes, meu carro deveria estar ao lado, certifico-me bem. A cor era diferente, o modelo diferente, até a marca era diferente. Não, não é meu carro. Meu carro não está lá. meu carro não está em lugar algum. Perdi meu carro.

Suspiro, entrego-me. Subo, volto ao caixa.

- Moça... perdi meu carro.
- o quê, bem?
- perdi meu carro. não acho, eu sei, já procurei....
- isso é com o segurança.
- eu não vi ninguém lá embaixo, só estava eu, só, à procura do meu carro...
- sempre tem alguém.
- não havia ninguém.

(sim, estava dramática)

Ela me olha. Eu olho para ela. Sustento o olhar, eu ganho.
- Tá, vou chamar o segurança.
Do nada, surge um walkie talkie:
(a mocinha - sustento o olhar - perdeu o carro, vc encontra ela aqui no caixa? positivo. )
- Ele vai te encontrar, espere aqui.
- Tá, obrigada. que coisa né?
- ...
tento bater papo. Em vão. Estou, definitivamente, só e desmotorizada, na cidade de São Paulo.

As portas do estacionamento se abrem, sem querer, abordo duas pessoas, achando que são o tal segurança. Uma e quarenta e cinco, danou-se.
Não aguento, saio, vou esperar o moço lá no próprio estacionamento. Dez prás duas. Começo a imaginar se existe algum tipo de procedimento padrão para esses casos, uma rede de seguranças que sairão à procura de meu possante, sei lá. Na verdade mesmo, começo a visualizar esse post...

Mais uns minutos, ai... será que ele não vem? Eis que chega. Loiro, aparelho nos dentes, um olhar compreensivo e um riso simpático. Em cima de uma moto. É o Chips!!!! Óculos escuros e tudo. Quase morro de emoção.
- Algum problema moça?
- Siim... perdi meu carro.
-A senhora lembra a marca do seu carro?
ora essa!! pronto! agora todo mundo tá achando que sou uma louca maluca!! Num devia ter tomado o saquê... ai, ai... será que dá para notar????
- Sim, moço.
- A senhora lembra a placa?
- Sim, moço.
O mau humor voltara, todo, com força, já devia ser duas horas, sei lá. Chips de meia-tigela.

- Onde a senhora parou?
Descrevo o lugar. É exatamente atrás de onde estamos. Ele pergunta, juro que ele pergunta:
- A senhora verificou se não está lá mesmo?
E nessas horas, vou confessar, junto à raiva profunda, bate uma insegurança. Sou insegura, não confio muito nem em mim, nem nos meus sentidos. é um fato.

- Verifiquei , moço, mas sei lá... de repente eu olhei mas não vi... acontece... se o senhor quiser dar uma verificada no que já verifiquei...

Lá foi ele, verificar. Fui verificar também, por via das dúvidas. Era logo atrás de onde estávamos, duas vagas para deficientes, uma vaga, a minha, mas não, não era meu carro que estava lá, a não ser que o amarelo tivesse virado cinza. Olhei para o motoqueiro: pela cara dele, não era o caso.

( será que eu vou ter que subir na moto dele? e sair por aí à procura do meu carro? eu pensava tentando lembrar quando foi a última vez que andei de moto...)
- Moça, vou procurar o carro da senhora. Me aguarde aqui que já retorno.

Um pouco frustrada - devo confessar que já me imaginara total na garupa do moço - só me restava responder:
- sim.
te espero.
aqui.

e lá foi ele, à procura do meu carro perdido.

e ele demorou, demorou, demorou. Pronto, pensei. Será que eu vim de carro mesmo? Sim, havia vindo, o bilhete do estacionamento, ou melhor, Parking, estava na minha mão. Isso era real.

Só restava uma alternativa plausível: meu carro havia sido roubado. Deparei-me durante alguns instantes com o inusitado da hipótese: meu carro, tão sem graça, do mais simples que tem, sem nem ar condicionado nem nada, carro de professora, classe média, logo ele... que mau gosto.
E de repente lembrei-me: o dinheiro do seguro!! Um sorriso iluminou meu rosto! Sim!! aquele computador novo! Sim, aquela reforma da cozinha!! Sim!! Quem precisa de carro? aquele sapato... "não lulu", minha consciência, sempre alerta, falou: "lulu, não pode comprar sapato com o dinheiro do seguro do carro." Tá... Sim!! aquele sofá novo!! E lá estava eu, escolhendo modelos e estampas, toda contente da vida, quando chega, o motoqueiro, ex Chips, Ex salvador.
- Moça, o carro da senhora tá no andar de cima, nesse mesmo lugar.

Indignada, e frustrada, só resta à lulu voltar para casa, e mais atrasada do que nunca, ainda pegar todas as saídas de escolas de São Paulo.
A temperatura?
mais de trinta graus...
e ainda por cima, àquela altura, o efeito do saquê já havia até passado.

ai, ai....