terça-feira, 6 de março de 2007

4)Livros inteligentes devem ser tratados com inteligência


Leituras: os direitos do aluno leitor e não leitor. (4-7)


Inspirada por um post do Rafael Galvão e outro do Alex, sobre a leitura na escola e os livros infanto-juvenis, decidi escrever um texto sobre o que penso sobre tudo isso, que acabou se transformando em uma espécie de manifesto, pelos direitos dos alunos leitores e não leitores. Ficou um texto longo, bastante pessoal, que publicarei aqui aos poucos, um por dia, em meio ao dia a dia do Diário da Lulu.

No total, os direitos são esses ( basta clicar em cada um, que o post aparece) :

1)O aluno não precisa gostar do livro lido.
Inclusive, é livre para odiá-lo.

2)Ao aluno deve ser oferecido sempre o que há de melhor na literatura universal, passando por todos os gêneros.
3)A literatura não é objeto santificado, sagrado nem de culto máximo.
4)Livros inteligentes devem ser tratados com inteligência.
5)Se o aluno não lê nada, mas nada mesmo, é porque, provavelmente, não sabe ler.
6)Os alunos têm direito a excelentes bibliotecas e a livros baratos.
7)Os alunos têm direito a professores ultra bem remunerados e com tempo para dedicarem-se a eles.

4)Livros inteligentes devem ser tratados com inteligência


Aí você pede para que os alunos leiam, vamos lá, As aventuras do Rei Artur. E marca uma data de prova. E na prova, faz perguntas do tipo: “qual era o tipo de armadura usada pelos cavaleiros quando foram em busca do cálice sagrado?” ou... “de que matéria era feito o cálice sagrado?” ou... “quantos anos tinha o Lancelote quando... ” Oh, pelas barbas brancas de Merlin!!

Genteee... literatura é para ser legal, divertida, bacana, engraçada, emocionante. Não é teste de memória, nem de saber enciclopédico. Vamos lá, conversemos sobre o livro, pensemos sobre as personagens, palpitemos, leiamos juntos os trechos mais legais, encenemos, façamos debates, sei lá. O julgamento da Capitu, “inocente ou culpada?”, já se tornou um clássico nas escolas. Essa nem é A questão do livro, mas os meninos se esbaldam defendendo ou condenando a pobrezinha. Ou discutir impressões sobre o livro, o que sentiu, o que achou, conversar sobre as personagens como quem fofoca: ah.. aquela é uma chata!! Ce viu o jeito como ela fala? E o outro? Eu acho que na verdade ele ama a mocinha, mas está sem coragem de saber... Ou dar questões mais cabeças mesmo, e ver o que sai.O fato é que, muitas vezes, livros inteligentes e alunos inteligentes, são tratados de maneira burra. Ou desconfiada.

Sabem como eu faço para saber quem leu? Pergunto. Quem leu? E olho bem nos olhos de todo mundo. Na quinta série acho que tenho cem por cento de sinceridade, na oitava oitenta, na verdade, acho que cem também. Os alunos são sinceros, especialmente se somos sinceros com eles. Não leu, não leu.

Uma vez na faculdade, um professor marcou uma prova de verificação de leitura sobre um livro lá, acho que era A Teogonia, do Hesíodo (chique, não?). Aí chegou no dia da prova, estávamos todos nervosos, as pessoas lendo e fazendo anotações de última hora, trocando informações, tal. O professor chegou, e disse:
- Gente, a prova, de verificação de leitura, foi marcada para que vocês lessem. Quem leu, ótimo, leu. Quem não leu, não leu. De qualquer jeito o propósito e o sentido da prova já aconteceu, ela não faz mais sentido, quem leu cumpriu o propósito, quem não leu, não leu e pronto. Vamos à aula.
Ficamos todos ali, meio bobos, demorou alguns minutos para percebermos que não haveria prova. É claro que não dá para fazer isso na escola, porque na vez seguinte ninguém lê, mas que a atitude do professor fez sentido, lá isso fez.

E mais: se o aluno não leu e está determinado a não ler, não há prova ou ameaça que o faça ler, vocês não lembram? Quando a gente tá determinado a enrolar, enrola... Fora que a figura do aluno que não leu o livro e vai bem na prova é clássica, todo mundo tem pelo menos um amigo que sempre fazia assim, e passou a escola inteira sem nunca ter lido um livro. Normal. Aliás, bem inteligente esse garoto, e merece mesmo passar.

Aliás, se o aluno não leu, há que se investigar o porquê. E aí sempre há surpresas. Muitas vezes o aluno não leu simplesmente porque não tem o livro. Seja porque o pai não pôde comprar, por falta absoluta de grana, seja porque o pai não quis comprar (mais um livro, para quê? – acontece muito, juro). Se o problema não é esse, na maioria das vezes, se o aluno não leu, mesmo, é porque não está sabendo ler o livro, e aí vamos para o assunto do próximo post: se o aluno não lê nada, é porque, provavelmente, não sabe ler.

5 comentários:

  1. Passei só pra deixar um beijo. Cansada. Amanhã eu leio. Beijo. Saudade.k

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  2. Cara Lulu.
    Parabéns pelo seu trabalho. A forma como você aborda a leitura parece ser parecida com a minha. A diferença é que sou professor do ensino médio (na verdade, 8ª ao 3º). Claro que tenho numa mesma turma os alunos leitores e os que resistem.
    Olha se estou no caminho certo:
    1º ano: Literatura, leitores e leitura (Marisa Lajolo); Como um romance (Daniel Pennac) e As mentiras que os homens contam (Veríssimo). Depois vou direto aos poetas brasileiros.
    2º ano: Os sofrimentos do jovem Wether (Goethe), alguma coisa do José de Alencar, poemas do romantismo...
    Fiquei anos sem exigir leituras "obrigatórias" e agora tem voltado atrás. Estou errado? Estou certo?
    Pelo amor de Deus! Uma luz para um colega inseguro.

    ps.: meus alunos de primeiro ano vão "invadir" seu blog. Pode?

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  3. Esqueci de dizer meu endereço:

    juvenalbernardes@uai.com.br

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  4. Caro Juvenal!!
    vou lhe escrever por e-mail para trocarmos experiências e dicas!! Muito, muito obrigada pelo apoio, vamos conversar!! e seus alunos são hiper ultra bem vindos aqui, ué!!! fala para eles comentarem!! seria super legal!!
    um grande abraço,
    Luana.

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  5. Ai, lu! uma vez passei por uma experiencia terrível, eu era coordenadora pedagógica do ensimo médio e fundamental... de repente vem um aviso que a professora de Português tava me chamando na sala da 7ª série... fui correndo, cheguei lá, a professora de chofre faz a seguinte pergunta:
    Fabíola, vc se consultaria com um dentista que estivesse usando uma máscara daquelas oculos, nariz e bigode? E eu respondi: Claro, por que não? A turma veio a baixo, rindo desbragadamente! E eu ali em pé na porta esperando uma explicação... E a professora: Puxa Fabíola vc acabou com meu argumento de interpretação... é claro que todo mundo ia achar que o dentista era louco! Eles estavam lendo um conto e ela queria que eles interpretassem igual a ela!!
    Ai ai!

    Ixe maria, quantas vezes me escondi atrás do meu colega da frente porque não tinha lido o livro, o texto e a pqp! hahahhahah

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