sexta-feira, 9 de março de 2007

-moça... perdi meu carro.

Shopping, fui almoçar com minha mãe, num japonês, delícia. Almoço gostoso, rimos, até fui extravagante e pedi um saquê, pleno almoço de quinta feira. Em cima da hora para o próximo compromisso, lá vou eu embora, rumo ao estacionamento. Primeiro pagar, com o mau humor de sempre, que é absurdo pagar para deixar o carro num lugar onde se vai para, basicamente, gastar mais dinheiro. Enfim...
-Hoje não precisa pagar, é dia das mulheres.
-Ok. Então tá. ( dia das mulheres o cacete, templo consumista, G%¨$#%$#@##$#$&*¨&*O, e continuo xingando...)

Segundo andar, rua P, tinha notado, tinha prestado atenção, ao lado das duas vagas para deficientes, tinha notado, tinha prestado atenção, não queria ocupar uma vaga que não me pertencia. Cheguei, chave na mão, bilhete de grátis que é meu dia, e é hoje só, vai acabar, já já...
...

Cadê o carro?

"Acho que perdi a referência, devo ter subido por outro elevador." Ando, ando, ando...
Da rua A, rua B... para a rua H... ando, ando ando.
Acabaram as ruas.

Não tem rua P? Não tem rua P.

Ando de volta, quem sabe a rua I, que era prá ser depois da H, se meu alfabeto não me engana, começa antes da rua A, em alguma lógica confusa. Atravesso tudo de volta, atravesso a Rua A, um muro. Olho bem, dou a volta, não. A Rua A é o começo e a H o fim de tudo. Não tem rua P. Começo a ficar dramática.

Mas eu me lembro, tenho certeza, vi um P ali na coluna. Paro. Olho as colunas. De repente, todas, mas todas elas, têm um P escrito. Em todas as ruas, de A a H. Ilumino-me: P de Parking. Por todos os lados. Americanos malditos.
1:40, compromisso às duas.

Acho as vagas de deficientes, meu carro deveria estar ao lado, certifico-me bem. A cor era diferente, o modelo diferente, até a marca era diferente. Não, não é meu carro. Meu carro não está lá. meu carro não está em lugar algum. Perdi meu carro.

Suspiro, entrego-me. Subo, volto ao caixa.

- Moça... perdi meu carro.
- o quê, bem?
- perdi meu carro. não acho, eu sei, já procurei....
- isso é com o segurança.
- eu não vi ninguém lá embaixo, só estava eu, só, à procura do meu carro...
- sempre tem alguém.
- não havia ninguém.

(sim, estava dramática)

Ela me olha. Eu olho para ela. Sustento o olhar, eu ganho.
- Tá, vou chamar o segurança.
Do nada, surge um walkie talkie:
(a mocinha - sustento o olhar - perdeu o carro, vc encontra ela aqui no caixa? positivo. )
- Ele vai te encontrar, espere aqui.
- Tá, obrigada. que coisa né?
- ...
tento bater papo. Em vão. Estou, definitivamente, só e desmotorizada, na cidade de São Paulo.

As portas do estacionamento se abrem, sem querer, abordo duas pessoas, achando que são o tal segurança. Uma e quarenta e cinco, danou-se.
Não aguento, saio, vou esperar o moço lá no próprio estacionamento. Dez prás duas. Começo a imaginar se existe algum tipo de procedimento padrão para esses casos, uma rede de seguranças que sairão à procura de meu possante, sei lá. Na verdade mesmo, começo a visualizar esse post...

Mais uns minutos, ai... será que ele não vem? Eis que chega. Loiro, aparelho nos dentes, um olhar compreensivo e um riso simpático. Em cima de uma moto. É o Chips!!!! Óculos escuros e tudo. Quase morro de emoção.
- Algum problema moça?
- Siim... perdi meu carro.
-A senhora lembra a marca do seu carro?
ora essa!! pronto! agora todo mundo tá achando que sou uma louca maluca!! Num devia ter tomado o saquê... ai, ai... será que dá para notar????
- Sim, moço.
- A senhora lembra a placa?
- Sim, moço.
O mau humor voltara, todo, com força, já devia ser duas horas, sei lá. Chips de meia-tigela.

- Onde a senhora parou?
Descrevo o lugar. É exatamente atrás de onde estamos. Ele pergunta, juro que ele pergunta:
- A senhora verificou se não está lá mesmo?
E nessas horas, vou confessar, junto à raiva profunda, bate uma insegurança. Sou insegura, não confio muito nem em mim, nem nos meus sentidos. é um fato.

- Verifiquei , moço, mas sei lá... de repente eu olhei mas não vi... acontece... se o senhor quiser dar uma verificada no que já verifiquei...

Lá foi ele, verificar. Fui verificar também, por via das dúvidas. Era logo atrás de onde estávamos, duas vagas para deficientes, uma vaga, a minha, mas não, não era meu carro que estava lá, a não ser que o amarelo tivesse virado cinza. Olhei para o motoqueiro: pela cara dele, não era o caso.

( será que eu vou ter que subir na moto dele? e sair por aí à procura do meu carro? eu pensava tentando lembrar quando foi a última vez que andei de moto...)
- Moça, vou procurar o carro da senhora. Me aguarde aqui que já retorno.

Um pouco frustrada - devo confessar que já me imaginara total na garupa do moço - só me restava responder:
- sim.
te espero.
aqui.

e lá foi ele, à procura do meu carro perdido.

e ele demorou, demorou, demorou. Pronto, pensei. Será que eu vim de carro mesmo? Sim, havia vindo, o bilhete do estacionamento, ou melhor, Parking, estava na minha mão. Isso era real.

Só restava uma alternativa plausível: meu carro havia sido roubado. Deparei-me durante alguns instantes com o inusitado da hipótese: meu carro, tão sem graça, do mais simples que tem, sem nem ar condicionado nem nada, carro de professora, classe média, logo ele... que mau gosto.
E de repente lembrei-me: o dinheiro do seguro!! Um sorriso iluminou meu rosto! Sim!! aquele computador novo! Sim, aquela reforma da cozinha!! Sim!! Quem precisa de carro? aquele sapato... "não lulu", minha consciência, sempre alerta, falou: "lulu, não pode comprar sapato com o dinheiro do seguro do carro." Tá... Sim!! aquele sofá novo!! E lá estava eu, escolhendo modelos e estampas, toda contente da vida, quando chega, o motoqueiro, ex Chips, Ex salvador.
- Moça, o carro da senhora tá no andar de cima, nesse mesmo lugar.

Indignada, e frustrada, só resta à lulu voltar para casa, e mais atrasada do que nunca, ainda pegar todas as saídas de escolas de São Paulo.
A temperatura?
mais de trinta graus...
e ainda por cima, àquela altura, o efeito do saquê já havia até passado.

ai, ai....

9 comentários:

  1. Lulu, rachei de rir com vc.
    Eu sempre perdia, ai descrevia o carrinho e dizia...'tem um wolverine colado atrás"...mas parei de dizer isso, porque ou o cara dizia "ah??" ou me olhava esquisito.
    Agora não perco, faço uma decorebinha assim, ó: se parei no 3 M, por exemplo....parei no "moreno maravilhoso manso" ou no 2 G "gato gostoso " e outras coisas assim.
    Parece anúncio de garoto de programa,aí eu acabo lembrando.
    Cada maluco com sua mania...ehheh

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  2. Hahahaha, eu já perdi meu carro dentro de um shopping pequeno(hahaha, mesmo) aqui. Fiquei 40 minutos rodando, rodando, achei mesmo que tinha rodado tudo. Mas não fui exatamente onde o carro tava. E a vergonha? Ai. Ah, e era no mesmo andar!

    Um amigo meu na Inglaterra estacionou o carro e, na hora de ir pra casa, achou que tinha sido roubado. Chamou polícia e tal. No dia seguinte, voltando do trabalho, avistou o carrinho dele bem estacionadinho. Na rua acima.

    Gente, Lu, minha bunda tá um espetáculo. Malhando muito por causa das coisas. Dá uma olhada no blog e vc vai entender. Vou estudar. Beijoca. k

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  3. Lulu, ri muito com o seu post, pois meu marido consegue perder o nosso carro ate em estacionamento de super mercado...e verdade o P e de parking, descobri da mesma forma que voce....agora somente e risos mas na hora da vontade de matar a todos estes seguranças que nos miram com carars de tonta.

    Beijinhos do outro lado dooceano

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  4. típico de Lulu! amei! eu não perco meu carro nuncaaaaaaa!!!
    beijos e mais beijos

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  5. Lulu,
    I'm back.
    Perder carro eu já perdi, mas nunca encontrei com um dos figuras do Chips no Chopecenter.
    Pois tinha o Poncerello (é assim que se escreve?), personagem do Erik Estrada, e outro, o loiro - pelo visto a versão de aparelho do seu gualdinha -, como era mesmo que se chamava?
    Bj.

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  6. Fique assim não, querida, que esse negócio de mulher perder carro é coisa que acontece demais. A minha, por exemplo, esqueceu que tinha ido de carro para o shopping e voltou de táxi para casa. Outra vez, foi de táxi para o shopping, procurou o carro, não achou e terminou a noite chorando no meio fio...

    Duas coisas ajudam a não perder o carro: um bloquinho de anotação (e disciplina para usar) ou um homem...;-)

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  7. Marcos,
    meu pai, que é meu pai, já até chamou poliça achando que tinham roubado o carro que estava estacionado duas ruas acima... em suma, fico com o bloquinho de anotações... que será usado para idéias de textos e de vez em quando, quando a memória ajudar, para esse negócio de anotar onde deixei o carro e, inclusive, se vim de carro. Minha total solidariedade a sua digníssima!!!

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  8. Lulu,

    que delícia esta história. Fez meu sábado... iluminou meu rosto, fez um riso na minha cara, não queria que acabasse nunca...

    tá hilária!Chips de meia tigela!ha!

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  9. Huuahuhauhaha!
    Adorei o blog!
    Vou te contar uma novidade...
    Tem uma invenção nova que cabe perfeitamente pra você. Achei outro dia na net
    Já sei o que vou te dar de presente no Natal.
    http://portaldasnovidades.blogspot.com/2008/05/chaveiro-que-localiza-seu-carro.html

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