domingo, 7 de janeiro de 2007

Bacana, mas...serve prá quê?

Na manicure, renovando e lixando as garrinhas vermelhas, tendo lido (?) já toda as Caras & Bundas disponíveis, compadecida pela sorte da Suzana Vieira mas sem novas fontes sobre os vexames e emoções do final de ano dos ricos e famosos, ou seja: sem saída nem opção, no caminho para a salinha dos horrores depilatórios, despenquei para a Veja, página de Comportamento...
A manchete:
"Com a ajuda dos meus amigos"
A chamada:
"Pesquisas mostram que amizade turbina carreiras, melhora a saúde e até prolonga a vida"

Pronto, tudo tem que servir para alguma coisa nesse mundo, não é mesmo? Então, ufa, ainda bem que descobriram que amizade serve para ganhar dinheiro, melhorar a saúde e, até mesmo, prolongar a vida.

Vambora fazer amigos, mas, olhem lá, eles têm que se alimentar direito, pois estava escrito lá que amigos com dietas saudáveis levam 50 por cento dos amigos deles a ter uma dieta saudável também.

E aí comecei a pensar no Afonso Augusto...

O Afonso Augusto, que leu essa matéria, lê avidamente todo esse tipo de matéria, porque ele é uma pessoa que não veio aqui a passeio
e tem grandes ambições em sua vida. Afonso está em sua jornada em busca de amigos, portanto carreira melhor, portanto saúde melhor (?), portanto vida mais comprida (? ... ), hum... principalmente, carreira melhor, ele não está aqui a passeio.

Afonso é prevenido e calcula sua jornada com método e formula objetivos e etapas para alcançá-los. Antes de iniciar o processo de enturmação e amizade, antes mesmo de convidar o pessoal do escritório para tomar algo em sua casa, Afonso Augusto matricula-se nas aulas de culinária da Lucinda Amaral, que é uma banqueteira de mão cheia e inclusive fez o buffet de casamento de Lili de Vasconcellos e Bragança.

Ali, Afonso aprende a fazer aperitivos fusion, que misturam a culinária Malásia com uma pitada de baianidad, e que certamente impressionarão qualquer amigo. Aprende também a se soltar um pouco mais, e aprende que precisa entender de bebidas...

O lance agora é servir vinho e tecer comentários inteligentes e sensíveis sobre seu aroma e personalidade. Afonso Augusto vacila... vinho? Além de ser bom para impressionar os tais amigos... será uma boa idéia?

Aliviado, A. A. lembra que também leu uma reportagem que discorre sobre todas as benesses do vinho: desentope artérias, afina o sangue e inclusive os franceses vivem mais e são mais magros que os americanos por causa desse remedinho sorvido em quantidades abundantes e diárias. Augusto pode tomar vinho, o vinho é bom pro Augusto - com moderação.

Afonso Augusto segue na sua jornada carreira-saúde-vidacomprida, aliviado e bastante disposto. Como ainda está meio sem amigos e portanto ainda não freqüenta a importantíssima instituição da happy hour ( hora feliz: das seis às oito, às quintas e quartas) onde negócios são feitos, redes estabelecidas e pessoas influenciadas, A. A. ainda tem algumas noites livres... Há um curso de degustação de vinhos naquela loja (ai... loja não.. desculpem-me... Emporium...) perto da casa de Afonso e ele se matricula ( etapa 2), todo animado e focado em seus objetivos.

Ali, inclusive, além de aprender a tomar vinho, Afonso sabe que poderá fazer ainda mais amigos, e de outros universos de trabalho, ou seja, dois benefícios cumulativos em um curso só, e sua carreira, saúde e vida já estão, certamente, alguns números na frente das do Zé, seu vizinho. Pois a reportagem da Veja também ensina que seus amigos não podem ser todos do mesmo ambiente, mas devem estar espalhados por vários eixos que vão se transformar em teias de relacionamento e redes de influência (tem um nome em inglês chiquérrimo pra isso, mas eu esqueci). Perfeito o curso de vinho.

No curso de vinho, Afonso se enturma e acaba conhecendo Raquel, que degusta um Chardonnay como ninguém. A essa altura, Afonso Augusto - que
naquela dia esquecera-se da moderação e exagerara na degustação - começa a esquecer também da amizade e lembrar do sexo. Hum... Será? Estará Afonso Augusto correndo perigo de esquecer seus goals e perder-se de seus objetivos?

Felizmente, logo ele lembra de uma outra reportagem lida que falava de todos os benefícios do ato sexual: melhora a pele, gasta calorias, fortifica o coração, e proporciona endorfinas suficientes para deixar qualquer um com o bom humor necessário ao impulsionamento da carreira e prolongamento da vida. Além disso, a coisa, ainda por cima, devido às endorfinas liberadas e à sensação de bem estar que gera, te libera do chocolate e todos os efeitos maléficos que ele traz (mas isso foi a Raquel quem pensou). A coisa serve super, substitui inclusive a esteira da academia, e Afonso Augusto e Raquel, completamente liberados, vão juntos para a casa de Afonso, tranqüilos e sem culpas. (Ufa!)

Na cama, Raquel, mostrando-se super desenvolta - porque afinal de contas ela tem amigas, ascendeu na carreira e é uma mulher moderna que vive bem com seus desejos - começa, em meio ao rala e rola, a explorar as regiões mais escuras e fechadas da anatomia de Afonso, ali onde o sol não bate nunca. Ele por um momento gela, mas logo se lembra que leu uma reportagem na New Yorker, por meio de um blog, falando que não só o negócio tá na moda como também a estimulação da próstata tem efeitos anti-cancerígenos
, e Afonso Augusto, ainda que com a mente um tanto turvada, lembra que aquilo que a Raquel tá querendo fazer serve também, e relaxa e entrega seu cuzinho aos cuidados da moça, feliz por diminuir suas chances de morrer precocemente por causa de uma próstata maltratada.

E então, pouco tempo depois, Afonso não só fez amigos como, na próxima reuniãozinha em sua casa, poderá até apresentar a Raquel (o que mostrará a todos que não só ele não é gay - apesar de entender e falar tanto de vinhos - como também é uma pessoa estável, que cultiva relacionamentos firmes) e servir manga com camarão apimentado enrolados em bijou de tapioca.

A.A. sorri consigo mesmo: sabe cozinhar, se alimenta bem, faz exercícios, bebe seu vinho diário, tem amigos, mulher e é uma pessoa bem informada portanto, está confiante em sua jornada rumo a uma vida de saúde, longa e com uma carreira em ascenção. Viva o Afonso!(àquela altura já estava emocionada e havia até me esquecido que tinha uma mulher arrancando meus pêlos da virilha com cera quente.)

Viram? queridos e queridas... Tô com vocês para melhorar minha saúde, turbinar minha carreira e, até mesmo, prolongar minha vida . Ainda bem que vocês são úteis! Ufa...

Como é instrutiva uma ida ao Salão...

8 comentários:

  1. Agora entendi por que sou um fracasso como "cerumano". Fiz depilação definitiva. A maioria das pessoa me irrita. Não leio Caras. Hm.
    k

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  2. Poderíamos estar diante de um paradoxo: segundo a reportagem, quanto mais amigos tivermos, mais sucesso teremos profissionalmente, melhor será nossa saúde e maior a longevidade.

    E também existe o ditado "Quem tem muitos amigos, na verdade não tem nenhum".

    Então, se nosso círculo de amizades tender ao infinito, nossas chances de vida longa e próspera devem tender a zero.

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  3. Segundo o especialista Paulo Silvino em entrevista para a Times Afonso Augusto é uma bichooooooona ( e Raquel com certeza não tem os dedos mais cheirosos do seu grupo de mulheres bem sucedidas na carreira e com alta expectativa de vida)

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  4. eu ri. estou feliz por Afonso Augusto. tenho que cortar o cabelo. acho que o salão em que vou só tem a Contigo, ou Tititi, ou algo assim. talvez aceite aquelas ofertas que não páram de chegar no meu email e assine a caras. talvez eu vá cuidar da minha próstata.

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  5. K,
    acho que vou te apresentar pro Afonso Augusto.

    Salvaterra,
    eu ri também.

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  7. De nada! ;)

    Achei o link do seu blog no LLL, e adorei seus textos. Realmente ta chiquérrima ;)

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  8. Thiago,
    esse Dr Silvino me pareceu meio suspeito também... e os dedinhos de Raquel .. .bem...

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