Definitivamente, as férias acabaram.
Quarta feira já dou minha primeira aula, sexta a tarde inteira e assim vai, ladeira abaixo.
Essas férias foram as melhores possíveis, períodos curtos de ótimas viagens, Rio e Curitiba. Principalmente, essas férias foram de fazer diariamente tudo o que eu gosto. Iniciei esse Diário aberto, o que significa uma escrita diária e disciplinada; li muita literatura, que é diferente de leitura de estudo, ou de leitura obrigatória; cozinhei, comi bem, vi e estive com muitos amigos queridos, namorei muito, cultivei minhas amizades epistolares atavés da internet, fiz outras novas, preciosas. É disso que é feita minha vida, agora, não preciso de muito mais, mesmo. Não fosse o detalhe da necessidade de ganhar algum dinheiro, vivia sempre assim, lendo, escrevendo, cozinhando, namorando e falando besteira e coisas sérias , com amigos e família. Incluiria uma ginástica ou aulas de dança bem legais nessa rotina, cinema, teatro dos bons, música e pronto.
Agora com a volta das aulas e do meu trabalho o desafio é permanecer fazendo tudo isso, e ainda trabalhar, nos tempos livres. Porque eu não quero que seja o contrário, mesmo se o relógio me desmentir.
Meus tempos de trabalho são sim maiores que meus tempos livres, mas gosto de pensar ao contrário. Ano passado trabalhei muito mesmo, somadas as atividades de casa, trabalhava no mínimo 45 horas semanais, nas semanas tranqüilas. Dei aulas da quinta série ao segundo colegial, o que é hiper cansativo, e odiei. No meio do ano ainda terminei minha dissertação de mestrado, e quase morri.
Ganhei relativamente bem mas não economizei nenhum tostão, e, principalmente, odiei a sensação de viver para trabalhar. Comer para trabalhar, dormir para trabalhar. Nas frestas, algum lazer, quando desse tempo. Vivia cansada, vivia pelo relógio, quase não vivia. Me senti emburrecendo, mesmo.
Adoro o que faço, sou louca pelos meus alunos e me divirto horrores dando redação e literatura para a garotada, mas na sexta feira, quando dava dez aulas no mesmo dia, não era mais ninguém. E aconteceu uma coisa muito ruim e séria: de tão cansada, fiquei meio indiferente. A aula deu certo? ótimo; não deu? dane-se. E a indiferença com o que a gente faz na vida é quase assim como uma pequena morte, não quero viver isso nunca mais.
E hoje, voltando da reunião de planejamento, estava pensando nisso tudo e nos tempos.
Porque nas férias todo o tempo era meu. Se quisesse ia dormir três da manhã, seis da manhã, acordava meio dia, três da tarde, qualquer tempo. Não havia quase nenhum controle externo. Tinha, o que é um tesouro para quem escreve ou precisa criar algo, tempo de ócio, tempo de nada, tempo de tédio, fui totalmente dona do meu tempo. E agora o trabalho de certa maneira regra e controla meu tempo, como acontece, no mais, com todo mundo ( e as pessoas que além do trabalho, têm seu tempo controlado e regrado pela tevê? O domingo termina junto com o fantástico, a hora da janta é antes da novela, o horário de dormir é depois da Grande Família... nada mais deprimente) .
E fiquei preocupada, hoje, pensando se ia conseguir manter-me minimamente eu mesma, autônoma, dona de meu tempo, em meio à rotina do trabalho. Se ia continuar a escrever com esse novo tempo que a vida adulta cada vez mais impõe: o tempo da rotina, o tempo que não é do seu corpo ou imaginação ou vontades, mas das horas do trampo, do almoço, do rush, da ginástica, da saída e da entrada. O calendário que não é o seu, onde todo dia podia virar sábado, mas o calendário de um ano regrado, pré estabelecido, de todos, dos pais, das mães, das crianças, da escola, das horas do dia, contadas, medidas, transformadas em produção e produtividade.
A resposta para isso é disciplina, organização, para que os tempos durem e sejam aproveitados. Principalmente, não perder a perspectiva do que é realmente importante para mim, mesmo no trabalho, que é um trabalho que escolhi e amo: que os alunos de alguma maneira se transformem pelo contato que tiveram comigo, que eu os respeite e possa ajudá-los a crescer e descobrir o mundo e a si próprios. Não perder a vista de mim mesma, que seja feliz e tenha, pelo menos no que der, o tempo nas minhas mãos, que é para não parar um dia, e ver que ele já passou.
Quarta feira já dou minha primeira aula, sexta a tarde inteira e assim vai, ladeira abaixo.
Essas férias foram as melhores possíveis, períodos curtos de ótimas viagens, Rio e Curitiba. Principalmente, essas férias foram de fazer diariamente tudo o que eu gosto. Iniciei esse Diário aberto, o que significa uma escrita diária e disciplinada; li muita literatura, que é diferente de leitura de estudo, ou de leitura obrigatória; cozinhei, comi bem, vi e estive com muitos amigos queridos, namorei muito, cultivei minhas amizades epistolares atavés da internet, fiz outras novas, preciosas. É disso que é feita minha vida, agora, não preciso de muito mais, mesmo. Não fosse o detalhe da necessidade de ganhar algum dinheiro, vivia sempre assim, lendo, escrevendo, cozinhando, namorando e falando besteira e coisas sérias , com amigos e família. Incluiria uma ginástica ou aulas de dança bem legais nessa rotina, cinema, teatro dos bons, música e pronto.
Agora com a volta das aulas e do meu trabalho o desafio é permanecer fazendo tudo isso, e ainda trabalhar, nos tempos livres. Porque eu não quero que seja o contrário, mesmo se o relógio me desmentir.
Meus tempos de trabalho são sim maiores que meus tempos livres, mas gosto de pensar ao contrário. Ano passado trabalhei muito mesmo, somadas as atividades de casa, trabalhava no mínimo 45 horas semanais, nas semanas tranqüilas. Dei aulas da quinta série ao segundo colegial, o que é hiper cansativo, e odiei. No meio do ano ainda terminei minha dissertação de mestrado, e quase morri.
Ganhei relativamente bem mas não economizei nenhum tostão, e, principalmente, odiei a sensação de viver para trabalhar. Comer para trabalhar, dormir para trabalhar. Nas frestas, algum lazer, quando desse tempo. Vivia cansada, vivia pelo relógio, quase não vivia. Me senti emburrecendo, mesmo.
Adoro o que faço, sou louca pelos meus alunos e me divirto horrores dando redação e literatura para a garotada, mas na sexta feira, quando dava dez aulas no mesmo dia, não era mais ninguém. E aconteceu uma coisa muito ruim e séria: de tão cansada, fiquei meio indiferente. A aula deu certo? ótimo; não deu? dane-se. E a indiferença com o que a gente faz na vida é quase assim como uma pequena morte, não quero viver isso nunca mais.
E hoje, voltando da reunião de planejamento, estava pensando nisso tudo e nos tempos.
Porque nas férias todo o tempo era meu. Se quisesse ia dormir três da manhã, seis da manhã, acordava meio dia, três da tarde, qualquer tempo. Não havia quase nenhum controle externo. Tinha, o que é um tesouro para quem escreve ou precisa criar algo, tempo de ócio, tempo de nada, tempo de tédio, fui totalmente dona do meu tempo. E agora o trabalho de certa maneira regra e controla meu tempo, como acontece, no mais, com todo mundo ( e as pessoas que além do trabalho, têm seu tempo controlado e regrado pela tevê? O domingo termina junto com o fantástico, a hora da janta é antes da novela, o horário de dormir é depois da Grande Família... nada mais deprimente) .
E fiquei preocupada, hoje, pensando se ia conseguir manter-me minimamente eu mesma, autônoma, dona de meu tempo, em meio à rotina do trabalho. Se ia continuar a escrever com esse novo tempo que a vida adulta cada vez mais impõe: o tempo da rotina, o tempo que não é do seu corpo ou imaginação ou vontades, mas das horas do trampo, do almoço, do rush, da ginástica, da saída e da entrada. O calendário que não é o seu, onde todo dia podia virar sábado, mas o calendário de um ano regrado, pré estabelecido, de todos, dos pais, das mães, das crianças, da escola, das horas do dia, contadas, medidas, transformadas em produção e produtividade.
A resposta para isso é disciplina, organização, para que os tempos durem e sejam aproveitados. Principalmente, não perder a perspectiva do que é realmente importante para mim, mesmo no trabalho, que é um trabalho que escolhi e amo: que os alunos de alguma maneira se transformem pelo contato que tiveram comigo, que eu os respeite e possa ajudá-los a crescer e descobrir o mundo e a si próprios. Não perder a vista de mim mesma, que seja feliz e tenha, pelo menos no que der, o tempo nas minhas mãos, que é para não parar um dia, e ver que ele já passou.
Se um dia eu descobrir um modo de escravizar o tempo eu ensino pra você.
ResponderExcluirMas espero sinceramente que sempre encontre tempo para dedicar ao seu fascinante diário!
Eu pago pra saber como é que se trabalha. Eu não sei trabalhar. Já tive algumas experiências, mas não sabia se eu tava trabalhando direito. Não sei o que eu vou fazer qdo tiver 8 horas por dia. "Tà, tô aqui, e agora?". Eu definitivamente não sou viável na sociedade. k
ResponderExcluir(humor péssimo. Exame de sangue amanhã)
fiquei pensando em tudo que li e lembrei muito de alguem que sempre me avisou para eu desperdiçar meu tempo com tolices, para definir o que eu queria da vida e me dedicar a isso! Sei do que vc está falando pois durante, longos, cinco anos trabalhei no ensino médio! Era desgastante, apesar de termos alguma satisfação em relação aos alunos... Hoje. controlo meu tempo, tenho mais liberdade, e como não considero dar aulas um trabalho, vivo de férias! Mas sinto dificuldade imensa em priorizar isto ou aquilo! E muitas vezes me perco! E Perco tempo, muito tempo...
ResponderExcluir