segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

A louca da casa

Li A louca da casa de Rosa Monteiro, que ela , toda querida, sempre, me emprestou. Nunca tinha ouvido falar, nem da autora nem do livro (porque sou desinformada mesmo, gente), o que também não quer dizer nada e na verdade é até legal, ver um filme e ler um livro sem saber o que a crítica e o mundo acharam. É uma mistura de biografia com ensaio sobre escritores e o que significa escrever. É bem bonito, a autora age como uma colecionadora de frases e causos de escritores e sua relação com a escrita em si. E o livro transborda então de histórias interessantes, e belas frases. Colecionei algumas, que achei tão lindas que vou partilhar com vocês, porque uma frase bem escrita tem uma força que poucas coisas têm:

Joseph Conrad, em seu diário, descreve seu pai assim:
"Mais que um homem doente, era um homem vencido."
(imagem triste, e linda)

E a narradora, a certa altura, depois de transar com um homem, escreve que ele foi dormir " E para minha desgraça, eu fiquei pensando".
(horrível, quando a gente fica pensando, para a nossa desgraça. )

Rudyard Kipling um vez estava na cidade do Cabo, e ouviu alguém falar a seguinte frase, sobre uma mulher da Nova Zelândia: " nunca se negava a ajudar um pato coxo nem a esmagar um escorpião com o pé." Ele lembrou-se então do rosto da voz de uma mulher que conhecera há dez anos, na Nova Zelândia e, ele conta, um conto pronto e inteiro "deslizou suavemente pelo meu cérebro".
( ai que inveja!!)

Depois de um encontro com seu pai, a narradora fala:
"Meu pai foi embora sem dizer nenhuma palavra mais, quase sem despedir-se, em direção aos vinte e cinco anos de vida que lhe restavam".

Rosa Monteiro coleciona frases sobre anões, e cita uma maravilhosa, de Augusto Monterroso:
"Os anões têm uma espécie de sexto sentido que lhes permitem se reconhecerem à primeira vista".

e sobre a escrita, uma historinha bacana:

A barata estava com inveja da elegância e das cem pernas da centopéia. E chegou para a centopéia e perguntou: "Como você consegue coordenar os movimentos de todas as suas cem pernas ao mesmo tempo?" A centopéia foi explicar como fazia para movimentar-se, e nunca mais conseguiu andar novamente.

e a autora, sobre escrever, escreve:

"Para mim, escrever é uma maneira de pensar; e deve ser o pensamento mais limpo, mais leve e mais rigoroso possível."
e cita uma frase maravilhosa dos irmãos Goncourt: "A literatura é uma facilidade inata e uma dificuldade adquirida."

Um belo livro.

Eu escrevo para poder dormir, para não ficar muito louca e pôr um pouco de ordem na bagunça lá de cima, escrevo porque me divirto, escrevo porque preciso, escrevo porque sim. Escrevo porque não poderia estar fazendo outra coisa, se pudesse, não escrevia. E só consigo escrever quando não ligo muito para mim mesma e lembro que tô passeando por aqui.

5 comentários:

  1. Bastante oportuno seu diário tratar de frases hoje, pois ouvi uma que é o oposto dos belos exemplos que citou...

    Acho que nem vou maculá-los, deixando a pérola para uma outra oportunidade...

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  2. Não! Conta! Conta! Contaaaaaaaa!!! k

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  3. Depois não vá dizer que eu não avisei...

    Estava entediado, no ônibus, sendo incomodado por um passageiro sentado do meu lado que conversava com outro, do outro lado do corredor, quando ouço o ruidoso interlocutor proferir:
    "Quanto mais pequeno, menor" ao se referir a uma "geladeira" (será que ele queria um frigobar?)
    Eu não sabia se liberava a gargalhada ou o choro (engoli ambos).

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  4. (k estalando os dedos)Bem, vamos lá. Eu já ouvi:"Diz pra mim o que é pra mim fazer". Na cama.

    Obviamente, não era o mocinho do msn.

    Obviamente, apesar de ser o maior pau ever, foi deletado da minha existência.

    Obviamente, meu relato ganhou o prêmio, não?

    k

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  5. Dada a circunstância, o prêmio vai para você.

    Tivesse eu sido a vítima, com certeza seria acometido por um "problema de ereção" no mesmo instante (OK, estou exagerando).

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