domingo, 21 de janeiro de 2007

"Sexo anal, uma novela marrom"



Conheci o romance do Biajoni, Sexo anal, uma novela marrom, por essas blogosferas daqui. Imitei meu avô, que sempre enviou cartas para escritores que admirava comentando seus escritos e fez muitas amizades assim. Preguiçosa que sou, no entanto, ao invés de escrever uma carta, escrevi logo um e-mail, comentando como havia gostado do livro e como a leitura tinha sido legal.

O romance me pegou de jeito, eu li de cabo a rabo (hihihi...) num só dia, os diálogos são ágeis, a trama feroz e rápida. O autor não só me respondeu, como me agradeceu, dizendo que uma carta dessas fazia a gente ganhar um fim de semana, e eu fiquei toda contente. Enquanto as editoras não acordam, o mundo internético dá um jeito de distribuir, entre tantas porcarias, o que é realmente bom.

A epígrafe do livro é linda:

Se é a razão que faz o homem
É o sentimento que o conduz.
Rousseau

E o sentimento aqui é o sentimento de gostar e gozar e amar sexo. E o sexo, esse sentimento, conduz, romantica e violentamente, a trama toda. E se você estava de cabelo em pé, piora mais ainda, porque do que a protagonista gosta mesmo é de dar o cu. Esse, afinal, é o grande sentimento que a conduz. E esse caminho é narrado sem cuidado e economia, tão diretamente que fica até romântico, nada de meias palavras bestas, a coisa como ela é, crua, nua e bela, como merece ser. Por entre esse caminho passam, deixando suas marcas, outros personagens que trazem consigo também os sentimentos que os conduzem, alguns nem românticos nem belos, mas fortes e verdadeiros como somente uma ficção pode ser. E essa é uma ficção das boas, sem medos e sem vergonha.

O romance começa com a protagonista falando pro namorado que quer operar o cu, porque está com hemorróidas e isso atrapalha. E ela vai ao médico e, de jaleco e sendo examinada, sente um tesão absurdo e acaba dando pro médico, ali mesmo, por trás. Culpada, ela conta tudo ao namorado, que não aceita o acontecido e termina tudo. Os dois ficam sozinhos, se amando ainda, e na tontura de uma solidão súbita, encontram confidentes e pessoas.

Tinha tudo para derrapar em cada esquina. Porque não somente é a história de uma mulher que gosta de dar o cu, e seus amores, e os amores dos seus amores, mas também essa mulher trabalha para um jornal sensacionalista da pequena e nem um pouco pacata cidade onde mora. E essa mulher, um dia, ganha uma espécie de súbita promoção do chefe (que quer comer-lhe a bunda) e ela fica encarregada de escrever, junto com o maior jornalista policial da cidade, sobre o caso recente de uma adolescente que fora estuprada e morta na mão de um homem negro e dois meninos. Sim, tinha tudo para derrapar, mas não derrapa; quando você acha que a história não pode descer mais, ela desce, em alta velocidade, sem perder o prumo. O autor fica bem junto ao Nelson Rodrigues, e não encolhe diante da comparação.

E por que o livro é tão bacana? Porque essa fusão de sexo, vontades e desejos flui sem moralismo, porque a protagonista fica sendo quase uma mulher revolucionária, que gosta de dar a bunda e acaba dona da sua vida e desejos. Porque as personagens do romance são personagens complexas, cheias de desejos, ciúmes, vontades e taras, que se revelam em toda sua verossimilhança e movem o mundo. Porque as sujeiras e mentiras e horrores que também movem o mundo são expostos sem hipocrisias e eufemismos. Porque, além disso tudo, o romance cria um retrato bem fiel e bom da mídia sensacionalista, da polícia, da nossa sociedade racista, machista, homofóbica. Porque é um romance sem um pingo de pretensão, sem literatices chatas, sem análises sociológicas, sem deslumbres com o mundo cão. Porque o romance não é baratamente pornográfico, aliás não tem nada de pornográfico, embora haja momentos sexy. Porque é bem escrito, mesmo nas suas imperfeições.

Biajoni escreveu uma grande história de encontros e perdas, onde amores e buscas e desejos e desgraças se entrelaçam e se desfazem e se descobrem e refazem. Histórias feitas de carnes e ossos. "Feito gente, feito fase", que se amam como podem.

E como essa doidera que é esse mundo editorial desse país não publica logo “Sexo Anal, uma novela marrom”, aproveitem que o autor quer mais é que o leiam e colocou o livro à disposição, aqui.

(e atenção, editoras e editores: se for publicado, mesmo já tendo lido, é claro que eu compro e levo na bolsa, que é para guardar, colocar na estante, reler em forma de livro e, quando quiser fazer um tipo interessante, levar para um café, usar uma sainha florida e ler de pernas cruzadas)

Leiam, não percam,

E não precisa nem contar para ninguém.

;)

Lulu.

13 comentários:

  1. Lulu! Eu não sabia que dava(!) pra baixar o livro! Olha só... Já baixei e depois conto o que achei.

    Vou lê-lo no sofá vermelho e já volto pra contar.

    AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!! Hahahahaha....

    Baci! k

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  2. Pronto, terminei de ler. Ah, Luluzinha, sei lá. Eu não gostei dessa coisa de ligarem o sexo anal às páginas policiais. Me incomodou bigtime.

    Outra coisa:"sexo não convencional". Ai ai ai.

    E esse nome do livro, que dá a entender que todo mundo passa cheque?

    Depois de alguns erros de português e uns comentários machistas junto com fantasias óbvias de homens, digo que gostei da estória do médico. Talvez pq eu seja hipocondríaca. E depois tbem de conto uma coisa.

    Mas tá pra nascer ainda literatura erótica que me interesse atualmente.

    Achei altamente válido, mas não 100%...

    Beijoca! k

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  3. poxa, lulu, muito obrigado pela resenha, já estou LINKANDO-A-A no meu blog, na galeria de honra dos que leram meu humilde.
    obrigado mesmo, fiquei todo bobo.
    :>*
    o anônimo faz uma confusão bastante comum, de achar que o que é expresso num romance, dentro de situações, ou através de personagens, REFLETE o pensamento do autor. é como se THOMAS HARRIS fosse serial killer.
    :>/
    o livro não só tem erros de português como também de digitação, já que não é a versão final. é apenas uma versão BRUTA para amigos & interessados.
    :>)

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  4. K!
    altamente válido e bem engraçado!!!;)

    Bia,
    foi um prazer ler e escrever sobre teu livro. Mesmo.
    Lulu

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  5. Eu hein! Eu falei que achava que o autor era machista ou sei lá o quê? Onde? Me mostra? k

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  6. querido autor,

    em defesa de k, eu, que também sou outro k, devo dizer: nós que postamos como anônimos somos anônimos? o post reflete nosso desejo de ser completamente anônimo? não! e, no entanto, ninguém é obrigado a gostar completamente de quem posta como anônimo. mesmo que essa não seja essa nossa versão definitiva.

    falando em k, kisses! Küssen!

    ps: a propósito, quero ler o livro.

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  7. Gente, desde qdo eu sou anônima aqui? Hahahahhaha... Todo mundo aqui sabe quem eu sou. Tentei postar lá no blog dele com email e tudo, mas acho que não foi.

    E, amore, é só baixar. Tem online.

    Beijoca.

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  8. Geeentee!!

    Mais um K aqui pro diário da lulu?? Que legal!!!!!!:)
    Luluka!!!

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  9. opa, tem dois não-anônimos chamados k aqui. legal.
    :>)
    anônimo k 1, sim o machismo e as fantasias comuns estão ali pois o livro é uma tentativa de falar de gente comum. o único não-comum ali é o personagem alex.
    ...
    por favor, não me crucifiquem pela última frase no comentário acima.
    hahahahahahaha
    bijucas.
    :>*

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  10. Tá vendo, Lululinda, por que eu não tenho blog? Ia ficar querendo explicar tudo. E, realmente, o meu comentário no blog lá não foi. Hm. Explorer de merda.

    É o Cazarim ali em cima. HHAHAHAHAHA... k delatora.

    Estou morta. Ai. Preciso de férias. Beijo pra todo mundo que quiser, inclusive pro Equilibrista Bêbado. E quem é o Bolinha no texto acima?

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  11. oi lulu
    baixei e comecei a ler, mas ja gostei da nota do inicio onde o autor diz:
    "se voce é meu parente ou amigo, peço desculpas pelo constrangimento.
    (...)
    apesar de não parecer, eu tenho bom senso"

    ótimo!

    :)

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  12. Querida Lulu,
    Foi um prazer conhece-la e já de imediato elogiar a sua resenha sobre a mais antiga arte da humanidade, no sentido do seu esconderijo mais profundo (risos...) parabéns pela profundidade ( bem profunda) da sua análise

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  13. comentário do bolinha diante de tal profundidade:
    "tá tudo possuído"!

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