quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Leituras Primeiras: Fabiano e Evandro

Continuo recebendo depoimentos de leitores contando das suas primeiras leituras, ou relatando o que leram na escola. O Fabiano respondeu de um jeito lindo, lá no Mais além:

Uma amiga minha, Luana, me escreveu uma mensagem com uma pergunta difícil. Ela quer saber quais foram os livros que marcaram minha adolescência. Não li muitos bons livros na adolescência. Infelizmente. Recordo-me, com horror, dos livros que fui obrigado a ler da quinta à oitava série, obras como A droga da obediência, O estudante, O gênio do crime, A marca de uma lágrima etc. Nada melhor meus professores escolhiam. A lista de sugestões que posso oferecer a Luana não é uma relação de livros que li, mas de livros que eu gostaria de ter lido.

Vão lá ver, está o máximo.

E o Evandro, outro amigo virtual, me escreveu também um depoimento bacana, que transcrevo aqui:

Estou me restringindo aos livros dos quais me lembro de memória, certamente
porque foram os mais marcantes, antes de meu ingresso na universidade. Como um
acontecimento importante com o qual me envolvi em minha adolescência foi a
campanha das diretas (1984), importante porque o considero como o marco da
minha "politização", resolvi dividir essas lembranças em dois grupos, dos 7 aos
13 anos e dos 13 aos 17.

As primeiras leituras marcantes para mim foram dos irmãos Grimm. Eu estava com 7
anos, acabara de me alfabetizar e fiquei fascinado com uns livrinhos de capa
azul, "Contos e Lendas dos Irmãos Grimm" (anos depois os perdi, mas
recentemente, em dez/06, os reencontrei na feira de livros da História – ed.
Jacomo, certamente extinta). Curiosamente, lembro-me que lia as estórias e as
achava muito esquisitas, conversava com minha mãe sobre elas, mas continuava a
ler uma após outra; relendo agora essas mesmas estórias, entendo o que sentia:
a estranheza devia-se à distância entre o meu vocabulário e o léxico utilizado
pelo tradutor, bem difícil para um garoto. Outras leituras também me marcaram
nesse primeiro periodo. Um dos meus irmãos ganhou o "Flicts", do Ziraldo, fez
propaganda do livro e também o li – lembro-me do livro ter tocado minhas
emoções... Depois, li, e me diverti com, "O Menino Maluquinho". Como tinha 2
irmãos pouco mais velhos, dividíamos várias HQ's (turma da Mônica, Zé Carioca,
Pato Donald, Pantera Cor de Rosa, Fantasma, etc). Ainda acabei passando por
alguns volumes da col. Vaga-lume, por "O Menino do Dedo Verde" e "O Pequeno
Príncipe".

Como disse, a campanha das diretas foi o acontecimento através do qual me
politizei. Isso aconteceu não só pelo clima da época, mas acredito que em
grande parte por ter me tornado um leitor assíduo da coluna que Cláudio Abramo
escrevia diariamente na Folha de São Paulo (bons tempos da Folha...). Minhas
leituras mudaram bastante nesse período. Uma leitura marcante foi "Admirável
Mundo Novo" (depois de ler Adorno, passei a me sentir meio constrangido em
admitir isso – no entanto, desse sentimento me senti libertado por um ensaio
que Michael Lowy recentemente escreveu abordando a recepção desse filósofo
àquele escritor, incompreensivelmente injusta). Lembro-me de ter lido também "O
Retrato de Dorian Gray" (fiquei tão impressionado, que reli o livro na seqüência
da primeira leitura), além de "O médico e o Monstro" (influenciado pelo uso que
as pessoas faziam dessa imagem). Dos brasileiros, lembro-me especialmente da
família Veríssimo; li "Ana Terra", "Um Certo Capitão Rodrigo" (certamente
influenciado pela mini-série que a Globo produziu nessa época) e, depois,
alguns "Analista de Bagé". Comecei a ler vários outros livros, sem ter fôlego
para terminar, como "O Crepúsculo dos Ídolos", "A Divina Comédia", "Cem anos de
Solidão", "O Nome da Rosa" etc... Na escola, lembro-me de ter lido "A Defesa de
Sócrates", por Platão, e "O Discurso do Método" – leituras muuuito
superficiais... Também alguns clássicos, como Jose de Alencar ("O Guarani",
"Iracema", "A Pata da Gazela"), Camilo Castelo Branco ("Amor de Perdição"),
Machado ("Dom Casmurro", "Memória Póstumas...", "Quincas Borba"), Eça ("Os
Maias", "O Primo Basílio"), Graciliano ("São Bernardo"), Lima Barreto ("Triste
Fim de Policarpo Quaresma"), entre outros.

Bem, é isso. Depois que entrei na universidade, fiz outras leituras, retomei
algumas das que citei de uma outra maneira – aliás, como nós todos. Se lembrar
de algo mais, volto a escrever.

Abs, Evandro.


Tô achando que essa pesquisa tá ficando o máximo. Para quem começou a acompanhar agora, ela começou aqui,.
Depois desdobrou-se aqui
e aqui!!

2 comentários:

  1. Luana:

    A primeira recordação é de um livro que mexeu muito comigo, lá pelos dez anos: “Meu Pé de Laranja Lima”, do José Mauro Vasconcellos. Eu lembro até da edição! Eu contei para um amigo, do qual já nem lembro o nome, acho que Ricardo, como havia chorado com a morte de um personagem, um senhor português, e chorei copiosamente, e ele me olhou como se eu fosse um louco. Bom, logo percebi que o RIcardo era um bom amigo para criarmos préas e galinhas de codorna, mas nunca mais falamos sobre livros, e continuei a chorar, a rir, a sonhar, a passar noites em claro lendo livros que foram uma tábua de salvação de minha infância e boa parte da adolescência.
    Ainda no 1º grau (como a gente falava à época), lembro da Coleção Vaga-Lume. Era tudo para mim! E fiz amigos leitores, e com eles competia para saber quem lia mais títulos da coleção, cujas capas apareciam perfiladas no verso dos exemplares.Eu me diverti muito lendo as aventures do Xisto; lembro também de algo como “Assassinato no Hotel Cinco Estrelas” (em Taubaté só havia um hotel quatro estrelas, que ficava no caminho da escola, e tentama imaginar como seria um 5 estrelas, mas o 4 estrelas de minha cidade era meu cenário imaginário enquanto lia esse livro). Recordo-me também de “Cabra das Rocas”, “O Feijão e o Sonho”, “Éramos Seis”, “Açúcar Amargo”. Eu não pensava nesses livros há pelo menos um 15 anos...
    Eu devia ter uns 13 ou 14 anos quando descobri uma banca de jornais em uma praça em frente ao quartel onde levava meu cachorro para tomar vacinas. Fiz amizade com o dono (minha primeira amizade com um adulto que não fosse parente ou professor), e ele passou a me vender, por preço de custo ou fiado, os livros de uma coleção Agatha Christie, impressa em papel jornal. Eu mergulhava naquelas leituras quase que obsessivamente. Li todos. E guardo alguns até hoje. Foi minha primeira paixão. “Morte na Mesopotâmia”, “Punição para a Inocência”, “Noite sem Fim”, “Os Elefantes não Esquecem”, “Assassinato de Roger Akroyd”, “Convite para um Homicídio” (deste, eu descobri o assassino!!)...

    Já na 8ª Série, li “Capitães da Areia”. Foi um choque. O sexo, a miséria, a violência (os assassinatos da Agatha Christie pareciam uma espécie de jogo, o que atribuo, retrospectivamente, à estrutura do romance policial na linha “who’s done it”).

    Lembro ainda, na 8ª., de ter lido “Olhai os Lírios do Campo”, “O Ateneu” e o “Diário de Dany”, de Michel Quoist. Este último, eu gostaria de reler: lembro que gostei muito, mas não recordo nada da história, só que o protagonista tinha minha idade! Li também “Demian” do Hesse, mas não entendi muita coisa.

    Ah, nesse anos, nas minhas férias em São Paulo, eu lia os “livros adultos” da minha irmã mais velha: J.M. Simmel, Sidney Sheldon, Morris West, Irving Wallace. Lembro de ter ficado muito impressionado com “São Lucas: Médico de Homens e de Almas”, do West. Outro livro que me empolgou foi “Os Ricos são diferentes”, o maior livro li nessa época, uma calhamaço, mas não lembro mais a autora, acho que era Susan... O final ficou na minha cabeça por dias...

    Bom, até a 8ª série, acho que é isso. A lista do colegial fica para outro dia.

    Luana, foi super legal, emocionante, reviver essas leituras graças a seu pedido...

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